Era uma velha escrivaninha
Onde comecei.
Usada, me cusou apenas alguns reais.
Ela tinha algumas marcas, rabiscos, já tinha servido muito a nós, humanos.
E minhas observações sobre ela eram sempre mais interessantes que meu trabalho.
Sua história, suas marcas, seus arranhões, cada um deles pode ter tido uma grande história por trás.
Comecei a escrever, minhas imaginações sobre ela. Era uma bela madrugada, e perguntei:
Estou fazendo certo?
Ela me respondeu, para minha surpresa
Sim. As histórias que lhe conto, tu me ouves.
Espantado, perguntei:
E por quê nunca falou comigo?
Ela, mais uma vez, direta:
Mas sempre falei. Tu que não notastes. Estava demasiadamente ocupado anotando, e acreditou que eram pensamentos. Tu, nem vistes o mundo a tua volta, meu caro.
Olhei para os lados, e meu escritório estava igual. Resolvi me levantar, pois faziam horas que não esticava as pernas.
Ao abrir minha porta, fui recebido pela escuridão. Me assustei e voltei para a velha escrivaninha.
Onde estou?
Perguntei.
Qual o teu nome, meu caro?
A voz me respondeu com outra pergunta.
R.. P.. Pa... Paulo... Rafael... Letícia? Eu não sei!
Gaguejei.
Tu és agora um com minha história. Apenas mais um arranhão no canto da escrivaninha, que mais alguém comprará, e tentará conhecer minha história. E daí, me servirá.