O Coveiro de Santa Edwirges e outros contos. escrita por Luccius


Capítulo 6
A noite das estrelas cadentes




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Era uma noite peculiar. Lembro que as estrelas pareciam dançar acima de nós, como um grande tapete de nebulosas e explosões cósmicas.
Olhando pra mata, havia uma névoa cobrindo a parte baixa, sendo dissipada quando se aproximava de nosso círculo. As pedras e o sal tremiam como se lutassem a cada segundo para continuarem ali. O cheiro do incenso, eu lembro, me embriagava, como uma nuvem de pureza e sonho. Vagalumes sobrevoando os riscos no chão apenas confirmavam o encanto. Iniciei os trabalhos. Meu manto negro, já surrado com suas marcas de guerra, cobria o frio dos ventos, que uivavam sussurros infernais. Ordenei que as moças se organizassem em uma roda. Seus vestidos, brancos como a neve, balançavam durante sua dança, e seu ritmo me carregava para outro mundo, perfeitamente observável nas dobras e contornos dos tecidos, que haviam tornado um só, contando uma macabra história sobre um falso Deus que odiava sua criação.

A pureza dos incensos, conforme o ritual continuava, dava lugar ao enxofre, e ao cheiro de podridão. A cada passo, a cada girar da roda do universo, as histórias foram dando lugar a cantos de blasfêmia, imagens infernais que tentavam se formar da névoa eram rapidamente banidas ao se aproximarem do círculo. Estávamos seguros, eu pensava. Ilusão da qual acordei rapidamente, levado por um grito de horror. Uma das moças havia cortado o círculo, dizendo que sua falecida irmã estava do lado de fora. Pobre alma, devorada em segundos pelos cães de guarda do inferno.

Eu não poderia me preocupar menos. Eram sacrifícios necessários para se chegar na verdade. Tudo pela verdade.

O ritual continuou por mais horas, danças, bebidas, orações mais escuras que meu coração. Até que Ele fez sua presença. Finalmente, o convidado principal da cerimônia. Convidei para que entrasse, e ofereci-me como veículo. Seria uma honra servir ao verdadeiro Deus, aquele que toma seus servos e os presenteia com a tão sonhada luz do esclarecimento!

Meu corpo ardia, como se meu sangue fervesse. Lágrimas da cor da morte escorriam de meus olhos, já cegos pela dor. O resto, é inútil contar, vocês perderiam a sanidade com tamanha perversão. Estava selado, com o sangue das sete virgens. Suas entranhas desenhavam os mistérios do cosmos pelo chão, que durante a manhã, após Ele me deixar, anotei e guardei a sete chaves pelo resto de minha vida.


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