Ruin escrita por Cabbie


Capítulo 10
Nine


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Esse capítulo me deu um trabalho gigantesco. Capítulo dedicado à Glimmer Rambin. Obrigada mesmo pela recomendação maravilhosa



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Capítulo Nove

Eu era uma covarde, de fato. Se Tobias pudesse me ver agora, ele ficaria envergonhado da garota que ele, teoricamente, gostava. É sério, nem eu mesma estava conseguindo encarar o meu próprio reflexo no espelho... de tão envergonhada que eu estava.

Eu precisava falar com Zeke. No momento, aquela era a minha única opção. Havia a possibilidade de ele não deixar escapar nada enquanto estivesse sóbrio, mas eu tinha de tentar. Eu não poderia continuar presa naquele jogo com Tobias, caso ele gostasse de mim.

Aquilo ia contra todas as regras. Não era para ninguém se envolver. Além disso, eu ainda não entendia sequer como Tobias podia gostar de mim.

Joguei uma água no rosto, enterrando as mãos em meu rosto, pensativa. A janela do meu quarto permanecia fechada, impedindo qualquer contato que eu pudesse ter com Tobias Eaton. E eu sabia que, assim que chegasse a hora, eu não teria mais chances de evitá-lo, e eu queria estar pronta quando isso acontecesse.

Minha cabeça latejava pela noite de ontem. Desde a hora em que acordei, me amaldiçoei internamente por ter bebido mais do que meu próprio corpo permitia. Agora, eu estava com a pior dor de cabeça do século, e tudo o que eu queria era que as aulas acabassem o mais rápido possível para que eu pudesse voltar ao conforto do meu quarto.

Peguei o meu celular e minha mochila. Quase caí para trás por conta de uma tontura, mas permaneci firme. Assim que minha mãe me viu descendo as escadas, sua cara foi de espanto.

Tris! Você está com uma cara horrível – ela me lembrou o que eu já sabia.

– Obrigada, mãe. É tudo o que uma garota gosta de ouvir logo pela manhã – eu disse, resmungando.

Peguei minha chave e abri a porta.

– Você não quer uma carona? – Minha mãe perguntou, checando se eu estava mesmo bem.

– Não tem problema – e sorri, mesmo que, logo em seguida, minha carranca de antes tivesse voltado ao meu rosto – Preciso de um pouco de ar fresco.

Assim que saí de casa, me arrependi profundamente. Tobias Eaton andava alguns passos a minha frente, parecendo perdido em pensamentos.

Xinguei em voz baixa.

Fiz com que meus passos ficassem mais lentos, temendo que caminhássemos no mesmo ritmo e, consequentemente, eu me visse obrigada a falar com ele. No momento, aquilo era tudo o que eu menos queria.

Cada parte do meu corpo reclamava da distância que mantínhamos um do outro. Era pura tentação diminuir aquele espaço entre nós, mas permaneci firme. Comecei a andar cada vez mais devagar, orgulhosa por ele estar bem na minha frente.

Minha mochila, que já estava bem pesada, começou a ficar ainda mais incômoda. De soslaio, vi que a costura da alça havia começado a soltar. Grunhi, tentando arrumá-la, mas sem nenhum sucesso. Assim como eu já havia imaginado, a mochila caiu no chão, destruída.

O baque que ela fez ao colidir com o chão fora o suficiente para que Tobias ouvisse e virasse para trás, procurando o motivo do barulho.

– Tris? – Ele perguntou, fazendo-me contar até dez para manter a calma.

Ele correu até mim. Eu devia parecer mesmo desesperada, ainda mais, com a aparência horrível de ressaca. Por menos que seja, não irei ingerir mais álcool por uma vida inteira se isso significasse ficar sem aquela dor de cabeça insuportável.

– Vem – ele sussurrou, mais atencioso do que eu realmente merecia – Eu te ajudo com isso.

Tobias carregou minha mala. E, no meu estado, não reclamei nem um pouco. Ignorei a sensação horrível que acontecia meu estômago, ao que imaginei que estivesse muito próxima de ansiedade e euforia.

– Você está horrorosa – ele observou, assim como minha mãe fizera – Não sabia que o apocalipse zumbi já havia começado.

Sorri, sabendo que ele estava tentando me animar.

– Se já tivesse começado, você teria de ter fugido há muito tempo, considerando que eu poderia muito bem morder você.

– Vou correr o risco – ele sorriu, não parecendo nem um pouco incomodado em carregar minha mochila nos seus braços –, mas só porque você não está bem.

– Isso é verdade. Eu fui estúpida o suficiente para beber sem estar acostumada.

– Mais uma vez, tão puritana – e depois virou-se para mim – Estou orgulhoso que tenha feito, ao menos, algo de insano nos seus padrões.

Fiz uma careta.

– Não sou tão puritana assim – eu o lembrei – Eu falo com você, não? Só pela sua loucura, eu acabo ficando um pouquinho menos certinha.

– Você não fala comigo – ele retrucou, abrindo um sorriso malicioso.

Chegamos na escola, e eu já parecia um pouco melhor só pelo fato de ter falado com Tobias. Por mais que eu estivesse determinada a ignorá-lo, eu gostava de quando nos falávamos. Era uma sensação boa. Libertadora, até.

– Te vejo na sala de aula? – Perguntei, tirando a mochila de seus braços.

– Sim – ele sorriu -, a menos, é claro, que você esteja pensando em matar alguma aula, aluna certinha.

– Argh, cale a boca.

Passei por ele rapidamente, esquecendo-me de agradecê-lo por ter carregado minha mochila o caminho todo. Eu precisava falar com Zeke, e desesperadamente. E só tinha uma maneira de achá-lo antes de Tobias.

~ x ~

– Por que você quer saber onde meu irmão está? – Perguntou Uriah, meio chocado.

Uriah estava com uma expressão desconfiada no rosto. Suspirei e, bem baixo, falei:

– Preciso falar com ele para descobrir uma coisa sobre Tobias Eaton.

– Juro, Tris, não sei o que anda acontecendo com você esses dias, mas coisa boa não parece ser – e suspirou, encostando na parede atrás dele.

– Por favor, Uriah! – Fiz beicinho, sabendo que ele não resistiria – Onde está o seu irmão?

– Ah, está bem – ele fez um sinal de rendição, levantando os braços – Provavelmente, ele está no segundo andar, conversando com alguns amigos dele.

– Você é um amigo maravilhoso! – Dei um beijo em sua bochecha, antes de correr o mais rápido possível até o segundo andar.

Assim como Uriah tinha dito, Zeke estava rodeado de um grupo de amigos que eu não tive tempo de reconhecer logo de cara. Meio constrangida, aproximei-me deles.

– Zeke – eu o chamei, sentindo-me corar -, posso falar com você?

Os amigos dele o olharam com dúvida, assim como ele próprio. Relutantemente, ele concordou.

– Vejo vocês mais tarde – disse Zeke, levando-me pelo braço até um canto mais afastado dos olhares curiosos.

Zeke esperou com que eu falasse, mal contendo sua própria curiosidade. Aproximei-me dele, sussurrando para que ninguém que estivesse passando pelo corredor pudesse escutar:

– Zeke, não sei se você se lembra, mas, na festa de ontem, você...

– Que porra! – Ele gritou, levando as mãos na cabeça e parecendo extremamente angustiado - Não me diga que eu transei com a garota do Tobias?

Arregalei os olhos, chocada. Me apressei em falar, antes que ele pudesse tomar outras conclusões precipitadas:

– Você não transou comigo – eu o assegurei, sentindo-me estranha por saber que ele estava se referindo a mim – Eu só vim até você para arrancar algumas informações sobre Tobias.

Ele sorriu, mais calmo:

– Que seriam...?

Respirei fundo antes de falar.

Olha, sei que parece estranho estar falando isso, mas, naquela festa, você acabou falando algo que não consegui tirar da minha cabeça até agora, e eu preciso saber se tudo o que você disse era mesmo verdade – suspirei, falando cada vez mais baixo – Você... Er... que droga, como é que eu vou perguntar isso?!

– Tris, você pode me perguntar o que quiser, só não prometo que vou poder dar a resposta que você estiver procurando.

Meu rosto estava pegando fogo. Respirei fundo mais uma vez, olhando para os meus sapatos.

– Você disse que Tobias gostava de mim – eu sussurrei, mas eu sabia que Zeke tinha escutado cada palavra – Você... você disse que Tobias, ele...

Agora, Zeke estava com uma expressão de compreensão total no rosto. Ele sorriu, mesmo que eu estivesse extremamente tensa ao seu lado. Zeke ficou em silêncio por um tempo, deixando-me ainda mais nervosa e ansiosa por uma resposta. Sem dúvida, esse acontecimento estaria no ranking dos meus dez momentos mais constrangedores na vida.

– Ah, entendi – Zeke riu – Eu não acredito nisso! Você notou isso agora? Quero dizer, é tão malditamente óbvio. Não consigo nem entender como é que você não viu isso antes.

Enterrei minha cabeça nas mãos, sentindo as sequelas da dor de cabeça de antes. Vendo minha expressão angustiada, Zeke colocou uma mão em meu ombro, tentando me confortar. No entanto, não era isso o que eu queria.

Eu queria que ele dissesse que era mentira, ou que Tobias nunca sequer poderia gostar de alguém.... Bem, alguém como eu. Subitamente, minhas pernas ficaram fracas, e eu me perguntei como eu poderia ficar em pé agora que Zeke havia confirmado o que eu mais temia.

– Ei, Tris – será que eu tinha comido algo essa manhã? Minha cabeça está girando! – Vai ficar tudo bem, é sério. Não é nada demais. Além disso, é bem óbvio que você também gosta dele. É só você falar isso para ele e ...

É bem óbvio que você também gosta dele.

Saí correndo dali, grata pelo sinal que tocou, acabando com o meu tormento. Fui até minha sala de aula, inquieta por saber que, mesmo fugindo, eu e Tobias tínhamos os mesmos horários. De qualquer jeito, eu não podia evitar olhar para ele, falar com ele e...

É bem óbvio que você também gosta dele.

Esperei que Christina chegasse, mas não tive nenhum sinal dela. No momento em que eu mais precisava da minha melhor amiga, ela sumia. E, como eu e Uriah estávamos em turmas diferentes, eu não podia sequer pensar na possibilidade de pedir sua ajuda agora.

Zeke e Tobias entraram na sala de aula. Tobias deu-me um sorriso discreto, acenando minimamente em minha direção. Fingi que não o vi, incapaz de olhar para ele.

É bem óbvio que você também gosta dele.

Achei que Tobias entenderia o recado para ficar afastado de mim, mas ele não fez isso. Tobias ocupou o lugar vago de Christina, parecendo preocupado comigo. No fundo da sala, Zeke me lançou um olhar culpado.

– Ei, Tris, está tudo bem? – Ele perguntou, bem baixinho.

Eu me virei para ele, já sabendo o que eu tinha de fazer. Havia um modo de evitar toda aquela situação, e eu sabia como fazer com que nenhum de nós dois se machucasse durante o percurso. E, por mais que eu fosse contra aquilo, pois significaria que eu ficaria sem os beijos de Tobias e o seu toque, eu o faria, porque era a escolha mais sensata.

– Preciso falar com você – eu falei –, mas não agora.

Tobias fez que sim com a cabeça. Durante as aulas, eu não consegui olhar em sua direção, embora eu sentisse seu olhar em mim o tempo inteiro. Como eu queria que Christina estivesse ali para poder me ajudar. Ela sempre sabia quando eu precisava dela.

Assim que tocou o sinal para anunciar o intervalo, saí em disparada até a porta, sabendo que Tobias já me seguia. Passamos por vários alunos, atravessamos o corredor principal e fomos até o segundo andar, procurando por uma sala vazia.

– E então? – Perguntou Tobias, cruzando os braços –Vai me dizer o motivo para você estar agindo feito uma louca?

Não havia nem como evitar o seu olhar, porque eu era impulsionada a olhar para ele.

– Olha, Tobias – eu o encarei de volta, sentindo a necessidade de fugir o mais rápido possível dali – Não posso mais fazer isso. Não podemos mais fazer isso, está bem?

– Não podemos fazer mais o quê? – Ele perguntou, confuso.

– Isso! – Eu apontei para a gente – Nós. Isso nem sequer existe! Esse relacionamento doentio que nós temos.... Isso não vai funcionar. Olha só para a gente, Tobias. Por mais que você negue, eu negue, nós estamos agindo como se fôssemos namorados, e isso tem que parar.

Ele deu um longo suspiro. Seus olhos não desviaram sua atenção dos meus.

– Tris – ele começou -, eu entendo o seu ponto, mas isso não prova nada. Você está agindo de maneira estranha desde aquela festa, e eu adoraria saber o que está acontecendo com você para mudar de ideia assim, tão de repente.

– Zeke me disse. Ele deixou bem claro que você gosta de mim!

Ele grunhiu, claramente irritado. Tobias ficou um tempo em silêncio. Achei que ele ficaria envergonhado, exposto até, mas tudo o que ele fez foi procurar uma solução para escapar daquela situação. E, então, ele começou a rir, mesmo que seus olhos permanecessem sem nenhum humor o tempo inteiro.

– E você acreditou no que ele disse? – Ele perguntou, ainda rindo – Tris, o Zeke faz insinuações sobre nós o tempo inteiro! É claro que ele ia te dizer que eu gosto de você. Na cabeça dele, isso é verdade. Eu gosto de você, Tris, mas não desse jeito.

Eu poderia, de fato, sentir o peso da rejeição. Entretanto, eu estava aliviada demais para ficar preocupada com as palavras de Tobias. Ele não gostava de mim! Aquilo facilitaria muita coisa.

– Ainda assim – eu continuei -, quero me assegurar de uma coisa.

– Estou te ouvindo.

– Mesmo que não dê certo ou isso acabe, quero que sejamos amigos. Eu estava pensando nisso durante a aula toda. Essa era a minha primeira opção para, você sabe, no caso de você gostar de mim. E eu gosto.... Eu gosto dessa ideia de sermos amigos.

Tobias concordou, parecendo pensar nessa possibilidade. E a verdade é que eu gostava mesmo dessa ideia.

– E como ficamos...? – Ele perguntou, aparentando estar um pouco confuso.

– Continuaremos com a mesma coisa de sempre, mas sem restrições, lembra? E também seremos amigos agora.

Tobias sorriu.

– Isso é tão bizarro – ele riu e eu o acompanhei – Então, no final das contas, eu sou amigo de Tris Prior?

– Exatamente – eu concordei – E você é meu amigo.

Ele concordou. Para continuar com o clima leve entre nós, eu o abracei desajeitadamente. Ele colocou os braços em minha cintura enquanto me abraçava, fazendo-me estremecer. Antes que eu pudesse impedir a mim mesma, encostei seus lábios nos meus. Que droga, eu não conseguia me controlar.

– Agora eu que estou dizendo, isso é totalmente esquisito – retruquei, enquanto Tobias me beijava de volta, mas muito mais breve do que eu gostaria.

– Vamos – ele me puxou pela mão -, você deve estar com fome. Além disso, sua cara continua péssima.

– Obrigada, idiota.

Saímos da sala, fechando suavemente a porta. Atravessamos o corredor mais curto que dava direto ao refeitório. Quase caí quando, de repente, Tobias parou abruptamente, levando-me junto. Ele olhou para algum ponto em especial, mas eu não entendi o motivo de ele parecer tão chocado. O corredor deveria estar deserto, já que todos os alunos estavam no refeitório.

– Ai, merda – eu sussurrei, vendo Christina, minha melhor amiga, agarrada ao Will, que parecia beijá-la como se o mundo pudesse acabar agora.

Quando notaram que não estavam sozinhos, Christina olhou para mim, empurrando Will para longe. Ambos estavam ofegantes o suficiente para parecer que correram uma maratona.

– Tris! – Ela tentou, forçando um sorriso – Tudo bem?

Agora, eu exigia uma explicação. E eu não sairia dali sem uma.

– Comece a falar, Christina.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo domingo, como sempre. E vemos Tris e Christina em uma situação complicada agora, não é?
Beijos, gente