Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 26
Capítulo 25 - Noah


Notas iniciais do capítulo

Sou alvo pros teus olhos claros parecidos
Com essa estação
E adoro os efeitos sonoros de quando você sussura
Absurdos no ouvido do meu coração
— A banda mais bonita da cidade.



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Em toda a minha vida, eu só tive apenas poucas certezas. A primeira era algo óbvio: Eu morreria. De qualquer forma, e sem previsão. Contudo, por algum motivo que vai além da minha imaginação, não seria aquele dia. Os grandes enigmas do universo não decidiram me levar aquele dia, e por isso eu estava deitado naquela cama passando os canais, vários canais, que não pareciam nada com o que eu queria. Essa era a segunda certeza, hospital, por mais confortável, ou por mais canais que possa haver na televisão estranha, eles nunca, nunca mesmo, irão te satisfazer. Acho que o propósito delas é exatamente este, te entediar.

Sally ou Sarah, ainda não tinha entendido, tinha saído do quarto há mais de dez horas, e não havia voltado. Eu tinha escutado algumas partes de sua história, enquanto estava naquele estado. Aquele quando você fecha os olhos e pensa ter desligado, mas, na verdade, você consegue escutar e entender tudo o que está a sua volta. E eu escutei, e ao mesmo tempo queria poder falar com ela, mas fora muito complicado. Toda a situação era. Eu a escutava chorando, e não podia fazer nada. Era como se eu estivesse em um sonho sem sadia, e agora tivesse obrigada a ficar para sempre ali.

Era véspera de ano novo, eu só teria alta mais a tarde, e estava desesperado por não te-la visto ainda, mesmo que por alguns minutos. Queria poder falar com ela sobre toda aquelas coisas que ela havia me contado, mas desde então, ela estava me evitando, e isso me deixava louco. Eu entendia seu motivo, tinha sido algo bem complicado, mas não se conta uma coisa destas, e finge que nada esta acontecendo.

As enfermeiras transitavam pelo quarto com uma paciência inusitada em me tirar dali. Elas percorriam o caminho lentamente, me deixando cada vez mais afobado com vontade de retirar todos aqueles equipamentos, soros e tudo mais de mim eu mesmo. Não aguentava mais me deixar levar pelas correntes do tédio. Precisava do meu apartamento. Do meu sofá. Da minha vida. De colocar esse assassino bostinha atrás das grades.

Tudo chegava a fazer mais sentido. Sally tinha me obrigada a leva-la junto, e fazia muito mais sentido ela querer ir atrás desse assassino, do que querer acompanhar um amigo que na época ela conhecia por poucos meses.

Cely e Will tinham acabado de sair do meu quarto, após me trazerem um bolinho recheado de chocolate, para me dar algum tipo de férias da comida do hospital. Não que ela fosse ruim. Não era. Na verdade, como eu nem cozinhava, aquilo estava sendo ótimo para mim. O problema é que era tudo muito controlado, tudo muito regrado. Aquilo estava me deixado a mercê da loucura. Precisava quebrar um pouco essas regras, precisava muito comer uma pizza.

Cely tinha sido a pessoa que mais parecia preocupada comigo. Eu nunca tinha percebido isso, mas ela me lembrava muito uma figura materna que eu nunca tive. Minha mãe ficou os dois primeiros dias, depois afirmou que teria que voltar para Uberaba, já que ela teria uma “reunião” na outra manhã, mas eu sabia que ela queria ir embora para arrumar as coisas do ano novo, agora que ela sabia que eu estava bem. Não que ela fosse a pior mãe do mundo, ela só não se importava tanto. Não tinha todas aquelas preocupações. Cely tinha. Celeste que me conhecia a tão pouco tempo.

Will era outro tipo de cara. Ele tentava a todos os momentos me fazer rir. Ele entrou no quarto pela primeira vez, quando eu já tinha acordado, e fez piada. O cabelo dele tinha sido recentemente cortado, e não havia mais nenhum resquício de barba em seu rosto. Ele estava com uma postura muito mais focada do que sempre, mesmo que estivesse fazendo graça. Ele também conseguiu convencer Cely a trazer Amanda para me visitar uma vez, e aquilo foi o suficiente para eu me sentir muito melhor.

Sally não tinha me visitado tanto. Ela ficava no quarto algumas vezes, e evitava todo o assunto que rodasse envolta ao assassinato de seus pais e de Nate. Ela não me dava nenhuma resposta. E quando eu tentava mencionar o assunto ela pegava um livro, virava o rosto, e esboçava o que ela achava ser um sorriso. Aquilo me matava.

A médica veio bem a tarde para me liberar, e por mais incrível que pareça quando Sally apareceu na porta, eu não pude conter um sorriso. Mesmo estando incrivelmente bravo com ela. Estava usando um vestido verde, e tinha prendido o cabelo em um rabo de cavalo baixo. Os olhos se destacavam tanto de seu rosto, por conta do vestido verde, que eu tive que me conter para não beijá-la naquele exato momento.

Não tínhamos tido tempo nenhum para conversar sobre nós novamente, então até agora, ainda éramos apenas dois bons amigos. E mesmo que eu quisesse, não estava disposto a mencionar nada disso depois que ela havia me contado sobre Nate. Ela havia aberto a ferida, e eu precisava me controlar e apenas, por enquanto, ajudá-la a cicatrizar.

A médica tirou todos os equipamentos que estavam ligados em mim, e eu me senti livre quando ela terminou. Ainda sentia uma leve dor no abdômen, e esperava que isso fosse passar logo.

― Bem, Noah, é isso, preciso que continue tomando os medicamentos, e que não se esforce muito, ainda estamos trabalhando com a cicatrização. Gostaria que ficasse aqui por mais algumas noites, mas é ano novo, e tenho certeza que respeitara a regra de que você não pode se esforçar...

― Resumindo, nada de sexo, Noah. ― Sally disse, como um dos primeiros vestígios de sua voz, depois de dias.

― Nada de sexo? ― Eu olhei desesperado para a medica, caçoando-a.

― Bem, será um pouco doloroso para você se você tentar fazer, contudo, se for de sua vontade, e também de sua namorada, ― ela apontou para Sally, ― acredito que vocês dois podem tentar posições que serão mais agradáveis.

― Ela não é minha...

― Nós não somos... ― Sally ficou vermelha, o que me deixou sorridente por saber que ela ainda se sentia daquela forma por mim.

Todas as vezes que eu pensava sobre ela. Sobre nosso beijo. Sobre nós dois juntos, o pacote Nate agora vinha junto. Não conseguia tirá-lo da cabeça, mesmo sem saber como ele era. Ela havia ficado noiva, estava totalmente apaixonada por ele. Não conseguia ver como poderia competir com aquilo.

A médica olhou para nós envergonhada por ter sugerido aquilo, e deu uma pigarreada com a garganta.

― Bem, me desculpem então.. ― Ela disse, sem graça.

― Sem problemas. ― Sally disse, sorridente. ― Não é como se fosse a primeira vez que fizessem isso.

― É só que, você passava a maior parte dos dias com ele, e ficou aqui o tempo todo segurando a mão dele até que ele acordasse, eu presumi que vocês fossem algo mais do que amigos.

― Estamos trabalhando nisso. ― Eu sugeri sutilmente, e Sally ergueu as sobrancelhas surpreendida.

― É, nós estamos. ― Ela afirmou.

― Bem, acredito que você já pode se levantar, você o ajudaria? ― Ela sorriu para Sally, que afirmou, e me deu um aperto de mão breve. ― Espero não precisar ver o senhor deitado nessa maca novamente.

― E eu espero o mesmo, doutora. ― Eu disse, e a observei caminhar até a porta e sair.

― Bem, senhor, nós estamos trabalhando nisso, acho melhor você se levantar levemente, para não sentir tanta dor. ― Ela sugeriu.

― Sally, eu sou um homem, eu sou forte, eu consigo me levantar, faz quatro ou cinco dias, sei lá, eu perdi a conta que eu estou aqui, eu já estou muito melhor.

Ela olhou para mim nem um pouco convencida, e eu tentei fazer força para levantar, mas uma leve pontada de desconforto fez com que eu desistisse, e olhasse para Sally com cara de piedade, posso ter perdido um pouco de dignidade, mas ao menos eu a fiz rir.

― É, garotão, você consegue mesmo. ― Ela ficou ao meu lado, e eu passei meu braço por cima de seus ombros. Doeu um pouco ao tentar ficar em pé, mas não tanto quanto eu pensei de doeria.

― Vamos para casa? ― Meu rosto estava próximo ao dela, e só de pensar em estar de volta em casa, algo dentro de mim se animava. Precisava muito daquilo. Precisava do meu espaço.

― Vamos. ― Ela sorriu.

✿ ✿ ✿

Chegar em casa foi como entrar em um mundo mágico. Minha pele toda se arrepiou, meus olhos brilharam, e eu quis me jogar no chão enquanto eu o abraçava. Minha bagunça estava bem-arrumada, o que me fez deduzir que Sally tinha me feito uma visita e arrumado minha casa. Ou melhor, que ela estava ficando ali.

Eu não sabia agora se onde ela ficava era a casa de seus avós, ou dos avós de Nate. Tudo era uma grande bagunça para mim, mas não iria pressioná-la agora. Tínhamos acabado de chegar em casa, não queria estragar tudo isso.

No caminho nós tinhamos feito duas paradas, somente duas, as duas paradas mais longas da minha vida, e acredito que só havia demorado tanto por causa da minha vontade de chegar em casa. Primeiro tínhamos passado em uma farmácia para comprar os remedi-os, contudo não havia um, então tivemos que ir em outra para achar o remédio, e somente com essas duas paradas, parecia que o tempo tinha distorcido e ficado mais lento.

― Acho melhor você ficar aqui no sofá, não está pronto para fazer esforços para subir as escadas, e depois fazer todo o mesmo percurso, então você me diz o que você quer usar para essa noite, e eu te trago.

― Vai mexer na minha gaveta de cuecas? ― Eu levantei as sobrancelhas, me insinuando.

― Como se eu nunca tivesse mexido. ― Ela fez o mesmo jogo de sobrancelhas. ― Melhor, como se eu nunca tivesse o visto usando-as.

― Então se for assim, você não ligaria de… ― Eu terminaria, mas Cely abriu a porta do apartamento, e se jogou em mim. Não literalmente. Ela apenas me abraçou.

― Como está se sentindo? ― Ela começou a rede de perguntas, e foi aumentando a velocidade das falas. ― Vocês compraram os remédios? Por que eles não te mandaram em uma cadeira de rodas? Não seria melhor? Você quer um cobertor? Eu comprei um para Amanda que é superconfortável, e acho que faria você se sentir melhor. Will disse para não comprar um para você porque você é um adulto crescido, então concordei, mas se quiser eu ligo lá e peço...

― Ei, Celeste, você quer se acalmar? ― Eu dei uma risada. ― Eu estou ótimo, Sally está me ajudando com tudo, e sim, nós compramos todos os remédios, o que me lembra de que bem no ano novo, eu não vou poder beber.

― Acho que um copo de champanhe a meia-noite não vai fazer mal, não é? ― Sally disse, pegando uma mochila/mala, que parecia ter grande parte de suas roupas. Precisava mesmo conversar com ela sobre tudo.

― Não sei, acho melhor não arriscarmos. ― Cely disse, e eu olhei bravo para ela.

― Uma taça, e você está pior do que a minha mãe, Celeste. ― Eu resolvi me sentar por alguns instantes, quando a dor começou a me incomodar.

― Me desculpe, é só que, por mais irritante que você seja Noah, e saiba que você é muito, nós somos uma família, e quero que você saiba que estamos aqui por você. Sempre estaremos. ― Ela sorriu, e eu me senti amado. ― Não vamos passar a virada com vocês porque estamos indo ver os pais do Will, mas amanhã voltamos só para passar o ano novo com vocês.

― Sem problemas. ― Sally disse, e se sentou ao meu lado.

Me senti feliz por celebrar um novo ano, com Will que era mais do que um dos meus melhores amigos, praticamente um irmão. Com Celeste por sempre se preocupar comigo, por sempre brigar comigo, por sempre estar ali por mim. Com Mandy, a pequenininha que sempre vinha me mimar. E com Sally. A doce Sally que havia sido tão grossa comigo a primeiro momento, e depois se revelou ser uma das minhas melhores amigas, além de ser a menina por quem eu estava apaixonado. Aquele seria nosso ano. Tentaria fazer tudo certo, mas antes, haviam várias coisas que nós dois precisávamos conversar, e esclarecer.

― Bem, amores, feliz ano novo antecipadamente para vocês, mas, eu preciso terminar de arrumar algumas coisas, nós vemos amanhã? ― Ela perguntou indo até a porta.

― Com certeza. ― Eu disse, e olhei para Sally ao ouvir o som da porta fechando. ― Então, nós dois precisamos muito conversar.

― O que você acha de uma pizza? ― Ela se levantou, ― posso pedir duas, nós comemos e mais tarde subimos até a sacada para ver os fogos?

― Achei que tinha dito que eu não podia subir as escadas.

― É por uma boa causa, não acha? ― Ela foi até a geladeira, e me mostrou o champanhe que ela havia comprado para nós.

― Por uma otima causa, mas, você sabe...

― Sim, eu sei, eu juro que vamos conversar, mas, é ano novo, e você foi baleado, e estamos aqui juntos… ― Ela cruzou os braços e passou as mãos neles. ― Por favor. ― Ela me olhou suplicante.

― Tudo bem. ― Eu bufei, mas logo sorri ao vê-la sorrindo.

― Vou buscar suas coisas, o que quer usar? ― Ela me disse, com um sorriso malicioso.

― Me surpreenda. ― Eu disse, e ela sorriu novamente, indo em direção as escadas.

Liguei a televisão, e coloquei no jornal local. Fazia alguns dias que não ficava ciente das coisas na delegacia. Alguns colegas vieram me visitar, o que me fez sentir muita falta de Elliot, mas apenas tive que aceitar, e ouvir as notícias mal contadas de alguns deles. Contudo, agora poderia ficar bem mais atualizado em tudo que estava acontecendo para quando voltar não ficar totalmente perdido.

A notícia era sobre exatamente o que eu queria, mas tive que abaixar o som para Sally não escutar. Estavam passando algumas fotos reprisadas de alguns corpos que tinham sido encontrados perto de uma indústria abandonada anos atrás, enquanto a voz de alguma repórter informava novas informações sobre o caso. Escutei tudo atentamente, sentindo minha pele toda arrepiar, e quando o delegado, que era meu chefe, apareceu dando uma entrevista, meu coração quis sair pela boca.

Bem, não temos nenhuma novidade grave sobre o caso dos assassinatos. Recentemente, um dos nossos melhores policiais que estava no caso foi baleado pelo assassino, então cremos que nossas informações estão se aproximando, o que está o assustando. Também soubemos que o assassino tem sim um foco nas vítimas. Está matando os antigos trabalhadores da indústria de ferramentas que pertencia a família Magalhães, que no caso, foi uma das primeiras famílias a serem assassinada. Estamos investigando, e vendo se nossa hipótese tem mesmo coerência. Obrigada.

― Bem, eu não sei se você gosta dessa camiseta branca, mas achei que a gente precisa de um pouco de paz esse ano, então eu… ― Ela disse descendo as escadas, o que fez meu coração palpitar muito rápido, e desligar a TV numa velocidade que nem eu tive fé. ― Por que desligou a TV?

― Estava vendo as notícias, mas não tem nada novo, só uma mulher falando sobre as usinas, e uma tal de greve. ― Embromei com uma notícia que tinha visto no hospital.

― É, nunca tem uma programação muito boa na televisão na véspera do ano novo. ― Ela riu. ― Eu me lembro de quando era menor, e toda a família juntava para assistir aqueles filmes repetidos que passavam na globo toda vez, a gente ria muito, e até repetia as falas. A minha mãe fazia uns biscoitos, sentávamos todos envolta da TV, até chegar a hora da contagem regressiva, ai a gente ia até o terreno baldio, assistia os fogos, e era assim que a gente… ― Ela percebeu que pela primeira vez estava falando sobre seu passado comigo, e abaixou a cabeça.. ― Passava o Ano Novo.

― Podemos fazer biscoitos se você quiser. ― Eu disse, me levantando. ― Sou um ótimo fazedor de cookies… ― Eu sorri, e ela levantou a cabeça, com os olhos mergulhados em lágrimas, e me deu um sorriso. O sorriso mais bonito que ela me dera em todos os dias que eu havia passado com ela. Um sorriso tão sincero, que fazer cookies com ela aquela noite até a pizza chegar, fora uma das nossas melhores noites. Aliás, aquele fora o nosso melhor dia. Mas em equilíbrio, o ano novo, não começara tão bem.

A noite, enquanto ela tomava banho, e ficava pronta, tomei liberdade para subir os degraus um por um. Doeu bastante, mas quando cheguei lá, a vista da sacada foi totalmente merecida.

― Espero que saiba que eu vou te matar. ― Ela gritou quando me viu sentado ao chão em uma toalha de piquenique, com as taças, a pizza, e o champanhe.

― Eu sei. ― Eu olhei de relance para ela, mas meus olhos não conseguiram desfocar da vista que tive. Ela estava usando uma saia vermelha, bem rodada, e uma blusa branca de cetim. Ela não tinha passado maquiagem, e seu cabelo estava em um rabo de cavalo. Simples, e linda. Simples, e maravilhosa. Simples, e meu Deus, como eu estava apaixonado. ― Olá. ― Eu sussurrei quando ela se sentou ao meu lado.

― Olá. ― Ela disse e sorriu.

Depois disso nós ficamos sentados conversando sobre nada, e ao mesmo tempo. Até chegarmos ao momento constrangedor em que ambos ficamos em silêncio. Ela lambeu os lábios tentando os umedecer, mas conseguia ver sua perna que ficava em constante movimento. Ela estava nervosa, e eu sabia o que estava prestes a acontecer, por isso me mantive em silencio e esperei.

― Meu nome é Sarah Bardini Barbosa. Usei Sally, que era como meu pai costumava me chamar, me sinto em casa quando me chamam assim. Bardini eu quis manter, mas troquei o Barbosa por Medeiros, porque era o nome do Nate. ― Ela murmurou. ― Tenho vinte e um anos. Termino minha faculdade de design nesse ano que está vindo. Não tenho mãe, nem pai, nem irmãos. Meu namorado morreu faz quatro anos, e eu só tinha dezessete anos. Eu vim para Uberlândia, e fiquei na casa dos avós dele. Mas, eles praticamente só me aceitaram por conta do Nate, e tudo mais que eu contei. Ele basicamente me odeiam, mas concordaram fingir que eu não existo, e que nunca tive nada a ver com nada que aconteceu. A polícia arrumou alguma confusão em que Ellen, a garotinha que de algum modo sumiu com o corpo era eu, e não sei o que virou... Eu não superei tudo isso ainda, mas estou tentando. Principalmente depois que te conheci e senti que podia confiar em você. Eu estou tentando, Noah, mas é tudo muito difícil. ― Ela disse, deixando as lágrimas deslizarem pelo seu rosto. ― Eu prefiro ficar aqui, porque eu não aguento lá. Não aguento ter que entrar naquela casa e achar retratos do Nate por todos os lugares. Ele não me abandona, mesmo que ele tenha dito para eu seguir em frente, ele ainda está me rondando, e eu preciso que ele me deixe. Gosto de ficar aqui, porque quando eu estou com você, eu esqueço disso. Esqueço que minha vida é uma bosta. Que eu não tenho ninguém. Eles me odeiam lá. Acham que a culpa dele estar morto é minha, e talvez seja mesmo...

― Ei, Ei. ― Eu peguei a mão dela, e envolvi na minha. ― E eu vou te ajudar a superar isso, nós vamos superar isso. Você tem a mim, Sally. E não importa o que, ou quando, eu sempre vou estar aqui. Você é bem vinda para ficar aqui o tempo que precisar. Você pode morar aqui se quiser. Se pudesse te sequestrava. ― Eu disse, e ela riu em meio as lágrimas. ― Estamos juntos nessa, entende? A culpa não é sua, e tenho certeza que o Nate, onde quer que ele esteja, ele está muito orgulhoso de você, e tenho certeza que ele não acha que a culpa é sua.

― Mas ela é.

― Claro que não. ― Eu passei a mão pelos seus cabelos. ― A culpa é desse louco psicopata que está por ai, calma, é só você ter calma, e você vai ver que não tem nada a ver com você.

Ela me fitou e deixou a cabeça encostar em meu peito.

― Preciso te contar mais uma coisa, tem a ver com a …. ― Uma explosão de fogos surgiu do céu, e nós dois nos surpreendemos, deixando tudo que estávamos falando para trás.

Ela me ajudou a levantar e nós dois ficamos focalizando o céu. As minhas mãos procuraram pelas dela, e no momento em que se encontraram não se separaram. Eu a puxei lentamente para perto de mim e deixei que nossos corpos ficassem grudados. A sua respiração estava acelerada, e seus olhos olhavam para baixo, envergonhados. Eu beijei lentamente sua testa, tentando transpassar segurança para ela. Sabia como tudo aquilo estava sendo difícil. Seu olhar encontrou o meu, cuidadoso, e firme. Ela tentava demonstrar segurança, mas eu sabia que ela não se sentia assim.

― Eu sei que talvez seja se esforçar demais, mas quero que passe a noite comigo, Noah. ― Ela chegou perto de meu ouvido. ― Quero que passe a noite comigo. ― Ela repetiu, e eu senti meu corpo todo arrepiar em resposta ao dela.

Deixei meus lábios deslizaram suavemente sobre os dela. A sua pele toda se arrepiou, e me recordei como o gosto da sua boca era bom. Ela fechou os olhos e deixou os cílios encontrarem sua bochecha. Redirecionado seus pensamentos para aquele único momento. As minhas mãos percorreram, primeiramente, o seu rosto. Ela deslizou lentamente por suas bochechas e passou por sua nuca, bem na raiz do cabelo. Ela já tinha perdido o chão. Estava totalmente largada para mim. Queria somente ser minha. Nossos passos foram controlados e lentos para não me causar nenhuma dor. Deslizamos sorrateiramente até meu quarto, onde minhas mãos encontraram a alça de sua blusa vermelha.

― Diz o ditado que vermelho no ano novo traz o amor. ― Eu disse, separando nossas bocas por milímetros.

― Acredito que está certo, então.. ― Ela respondeu, e voltou a me beijar.

Meu corpo só respondia a ela naquele momento. Minha dor, mesmo que presente, não me afetava. Não de um modo significativo. Eu precisava dela. Fazia meses que queria aquilo, e de repente estava acontecendo. O cheiro dela. O cheiro agridoce com menta ao fundo, deixava tudo tão calmo. Tudo tão diferente. A maior parte das mulheres com quem eu tinha transado era apenas por diversão, daquela vez era sério. Daquela vez era muito sério.

Minha mão escorregou para a sua cintura, onde eu tirei a blusa de dentro da saia, e também do corpo de Sally. Parei de beijá-la para observá-la. Ela era tão linda. Meus movimentos começaram a ser nas suas costas, onde eu deslizei as mãos, até que ela me desse permissão para desabotoar o fecho do seu sutiã. Depois disso, tudo aconteceu rapidamente. Sua saia estava no chão, junto com toda a minha roupa que ela tirou assim que nos deitamos na cama. Seu corpo nu entrou em contato com o meu, e nós nos beijamos, enquanto tudo acontecia, os nossos lábios continuavam juntos tentando abafar os gemidos um do outro. E quando tudo teve fim, eu não fui embora, nem fiz a outra pessoa ir embora. Nós apenas dormimos. Juntos.

Tudo sempre se tratou de um momento físico, mas naquele momento eu entendi o que significava transar, e o que significava o tão famoso fazer amor. E não tem como comparar as duas sensações.

Aquela noite fora uma das melhores da minha vida. Mas, horas mais tarde. Algumas horas mais tarde, tudo que tínhamos acreditado. Tudo que tinha acontecido naquela noite ficaria esquecido e lembrado somente por um acontecimento.


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Notas finais do capítulo

MIL DESCULPAS PELA DEMORA



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