Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 25
Capítulo 24 - Sally


Notas iniciais do capítulo

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
— Legião Urbana.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/600503/chapter/25

― Tudo bem, então, acha que seus pais vão me deixar passar a noite aqui? ― Nate me perguntou tirando as nossas tralhas do carro, ele tinha um ar mais confiante.

― Sim, você e eu estamos casados agora, eles tem que deixar. ― Ela disse, sem acreditar ainda.

Depois da pequena distração que eles tiveram no carro, eles resolveram ir em uma dessas capelinhas e se casarem. Eles nem ao menos trocaram de roupa. Estavam todos sujos, mas mesmo assim, ela se casara, usando a blusa de frio de Nate, que depois de alguns quilometros, ela tinha percebido que ele tinha trago. Ela ainda não acreditava que estava casada. Usava um anel de mentira no dedo. Pelo menos, Nate, jurava que não era de ouro mesmo, mas Sarah tinha quase certeza que ela e não entendia o porque dele estar com aquilo, mas de qualquer forma estava feliz de estar usando.

Ela estava encostada no carro, sorrindo para ele, com os labios desejaveis, fazendo Nate caminhar até ela, e lhe dar um beijo firme que lhe fizesse arrepiar por inteira. Aquele seria o homem da sua vida, ela sabia disso. Nunca amaria alguém do tanto que o amava. Ele tinha tudo que ela precisava. Havia desistido de sua vida ali para ir com ela para uma cidade que ambos mal conheciam. A vida deles estavam entrelaçadas, e ela mal podia esperar para isso começar.

A casa estava tão silenciosa, que ela tinha quase certeza que seus pais estariam na cozinha que ficaba separada de toda a casa. Ela nunca entendera o porque, mas seus pais diziam que era porque ela ficaria bem maior, e mais facil, além de fazer muito menos bagunça; e Sarah nunca questionara. Não precisava.

Ela tinha a melhor ligação do mundo com sua, e ela se orgulhava disso. Ela era a mediadora da casa, todo o tipo de briga era resolvido por ela. Quando Nate, e ela haviam passado algumas semanas discutindo por conta da faculdade, sua mãe tinha sido otima em ajudar, enquanto preparava o seu famoso bolo por dispersar brigas. Já seu pai, era o contrario. Ele e Sarah não tinham tão boa ligação, brigavam demais, as coisas costuavam ser melhores quando ela era criança, mas ninguém permanece assim para sempre.

Nate e ela andaram pelo quintal rindo, e conversando, praticamente enquanto tentavam sussurrar. Não eram muito bons nisso, mas mesmo assim tentavam, mas as risadas de Sarah eram um tanto altas, então eles não tiveram tanto exito.

― Eu vou na cozinha, procurar pela minha mãe, para contar a novidade maravilhosa e você, coloca essas coisas la dentro. ― Ela disse, e ele assentiu, lhe dando um beijo.

O caminho para cozinha não era tão longo pois não tinham um quintal tão grande. A casa em si, também não era muito grande, por isso ela não entendia o fato deles terem feito uma cozinha separada e que era quase duas vezes maior que o seu quarto e o quarto de seus pais juntos.

Sentiu um cheiro de queimado vindo da cozinha, e disparou. Tinha certeza que sua mãe tinha esquecido o forno ligado, e agora estava conversando ao telefone com alguma de suas amigas, aqueles assuntos interminaveis. Sarah não tinha tias, somente por parte de pai, que nem no Brasil moravam. Não tinha família, suas avós e avôs já haviam morrido, tudo que ela tinha estava ali naquela casa. Contudo, não tinha ninguém ali. Pelo menos, não na cozinha. O forno estava ligado, por isso Sarah o desligou, mas não havia ninguém ali. Tudo estava tão calmo. Tão sereno que ela resolveu voltar para casa.

Entrou dentro de casa, e seguiu até a sala onde viu a televisão ligada e seu pai imovel assistindo-a sem nenhuma preocupação, o que por dedução, a levava imaginar que ele estaria dormindo já que estava tão calmo.

― Pai, o senhor viu a mamãe? ― Ela disse impassiva, indo para desligar a TV.

Apertou o botão, e se virou para olhar a figura, mas sua bile voltou pela garganta, a fazendo vomitar de imediato. Seus olhos se encheram de lagrimas, e ela não conseguia fazer nada a não ser petrificada naquela cena de filme de terror.

Seu pai estava sentado normalmente. Usava a camiseta verde que tinha uma mancha branca por conta da água sanitaria em que sua mãe havia deixado de molho; a bermuda jeans acompanhava a blusa manchada, e ele não usava sapatos. O controle remoto estava em sua mão, o que dizia que ele estava trocando de canal. Fazia sentido, já que quando ela desligara, estava passando canal de compras, e seu pai poderia ser fã de tudo, menos do canal de comporas. Ele estava impassivo, normalmente, ele estava como sempre esteve, contudo, havia uma faca em sua testa que deixava sangue escuro escorrendo por toda a sua face e pingando na camiseta manchada, de água sanitária e de sangue.

Sarah começou a se esgueirar, arrastando-se no chão, procurando por Noah. Ele precisava estar bem, tinha certeza que estava, ela só precisava se acalmar. Arrastava seu corpo pelo chão, sem querer ver nada, tentando não olhar para aquela cena horrivel, tentando não lembrar do seu pai, mas ao mesmo tempo que tentava fazer isso, sua mão encontrou a poça de sangue que vinha de sua mãe que estava jogada ao chão, com um corte profundo em seu pescoço. Ao seu lado, estava Ellen, a menininha que ela deveria cuidar, com uma faca bem no rumo, onde seu pequeno coraçãozinho deveria estar. Ela não conseguia imaginar que tipo de monsntro poderia fazer aquilo.

As lagrimas acumulavam cada vez mais em seus olhos, e ela se deitou em sua mãe, mesmo que soubesse que ia ficar cheia de sangue. Mesmo que soubesse que ela soubesse que a vida não reinava mais no corpo de sua mãe. Ela não conseguia. Não conseguia se mover. Aquela era a sua família. Toda ela. E todos eles, estavam mortos. A única pessoa que restava era Noah, e ela nem ao menos sabia se ele estava bem. Ela nem mesmo queria se mover. Queria ficar jogada ali no chão, junto a sua mãe. A pessoa mais sabia que ela conhecia. A pesssoa que mais tinha a amado em toda vida. E ela estava morta. A deriva em sangue.

Ela não conseguia sentir nada além de dor.

Ela queria morrer.

Escutou um ruido vindo de seu quarto, e por mais nojento e estranho que fosse, pegou a faca do coração da pequena menina, e andou lentamente até lá. Seus passos eram contados, e silenciosos. O chão ajudava muito nisso, por se cerâmica, e ela agradeceu em silencio seu pai. Se esgueirou lentamente para a parede ao lado da porta, e contou até cinco, antes de se jogar no quarto, e encontrar Nate de costas. Ele estava parado olhando retamente, e ela sentiu aquele frio na barriga tomar conta dela.

Caminhou rapidamente até ele, e ele se virou subitamente, relevando a facada que ele tinha levado bem ali. Bem no torax, bem onde ela sabia pelas inexplicaveis aulas que o professor de corrida Nate, a explicara. Pneumotórax. Pulmão furado. Em poucos minutos, ele estaria morto. Como toda a sua família.

Ele começara a tombar, o sangue enchendo sua roupa, fazendo com que seus labios também se concentrassem com sangue. Ela puxou a faca e ficou pressionando o ferimento com a sua roupa, tentando diminuir. Tentou pegar o celular, mas ambos os celulares tinham ficado na casa de Nate antes deles sairem, então era um caso perdido. Até que a ambulancia chegasse, ele já estaria morto há muito tempo.

― Preciso que ligue para a policia, e depois fuja. Eles vão te sufocar, e sua vida vai virar um inferno. Vá para a casa dos meus avós em Uberlandia. Eles são as pessoas mais desantenadas, conte o que aconteceu eles vão te ajudar. ― Ele respirou com dor, deu para ver pelo seu rosto, ele tentando esconder. ― Ele ainda está aqui, então se esconda. Pegue o dinheiro na minha mochila, e se mande, entendeu?

― Nate... ― Ela dizia deixando as lagrimas pingarem em seu rosto.

― Você entendeu, Sarah? ― Ele perguntou firme, tentando ainda não demonstrar dor.

― Eu te amo tanto, eu preciso tanto de você, não vai... ― Ela disse brava. ― Eu vou pegar um telefone, ainda temos tempo, você vai conseguir se recuperar...

― Ei, não pode sair daqui, ele tá lá, pela sua casa, procurando alguma coisa, preciso que você se esconda. E eu não vou estar mais aqui com você, mas como toda coisa clichê, eu vou tá no seu coração. Você vai encontrar outra pessoa, uma que vai te fazer muito feliz, mesmo que eu odeie pensar nesse fato... ― Ele começava a perder a consciência, enquanto ela só negava. ― Eu te amo demais também, e sempre vou, e se tiver outra vida eu também vou te amar. Não pudemos ser aquilo que queriamos tanto. Não pudemos ter a vida maravilhosa que imaginavamos, mas você ainda pode. Nunca deixe de lutar, Sarah. Nunca. Promete para mim. Por mim ― A voz falhava.

― Prometo. ― Ela disse chorando.

― Não chora, vai ficar tudo bem, calma. ― Ele disse cada vez mais sonolento, e ela sabia que nada ia ficar bem, mas fora o que ela ficara repetindo para ele, enquanto ele ficava ali, deitado, perdendo o ar. Sofrendo.

Sarah ouviu um barulho vindo em direção ao quarto, e entrou na parte debaixo da sua sapateira. Ela era funda, o que a deixava bem escondida, e impossivel de ser achada. Seu pai tinha pensado em faze-la funda, mas não pode ser tão funda, então a solução fora por uma sapateira normal. Assim quando Sarah era criança, ela entrava naquele fundo que não dera certo, e se sentia uma espiã, ao se esconder. Contudo, agora, a única coisa que ela sentia, era um buraco na sua vida.

Esperou o portão da sua casa ser fechado, e escutar o tipico barulho para sair. Ela deu de cara com um Nate morto. Com os olhos abertos. Os lindos olhos azuis. Aquilo fez com que todo o sentido de sua vida acabasse, mas tinha que continuar. Por ele.

Pegou a mochila que estava ao lado dele, pegou sua carteira, seu cofre, e algumas roupas, jogando as todas dentro da bolsa. Fechou os olhos dele, deu-lhe um beijo lentamente na testa, e trocou de roupa. Não podia sair de casa toda ensanguentada. Procurou algum telefone, mas pensou que seria burrisse ligar dali, então apenas apenas saiu pelos fundos, até o orelhão mais próximo e chamou a policia, mas no momento em que se virou ele estava ali.

Seu coração começou a martelar mais forte, ela deu um passo para trás, e olhou para ele. Não conseguiu ve-lo direito. Ele usava uma mascara que tampava todo seu rosto. Havia um carro, com uma pessoa dentro gritando para ele entrar e a deixar para lá, contudo ele não conseguia. Apenas me fitava pegando a faca no bolso.

O que ela fizera a seguir ela tinha certeza que nunca mais faria na vida. A faca veio na sua exata direção, e então ela lembrou de seu pai, da sua mãe, da pequena Ellen, e finalmente de Nate, e jogou a bolsa dele enfrente a si. A faca que grudou ali, ela retirara, e não sabendo como, arremessou-a exatamente na perna da pessoa. Ele gritara de dor, e ela apenas fizera uma cara de sinica, e saira correndo, disparada. Tentando correr as três quadras que precisaria para chegar na rodoviária. Contudo, ela conseguira escutar. Ela ouvira claramente o que ele dissera para ela.

― A próxima é você, morena.

Aquela frase deixou uma marca na sua vida. Ela vivera sua vida toda, com aquele eco. Tendo pesadelos sobre aquela frase. Mas o que ele não sabia, é que ela se prepararia para quando ele chegasse.

Com com o coração na boca, ela se infiltrou no meio de tantas pessoas, e chegou ao guincho bem a tempo de comprar sua passagem. Ela ficou fitando o quadro com o nome Uberlandia. Uma cidade que ela não conhecia. Um mundo novo que ela iria se infiltrar.

― Uma para Uberlândia. ― Ela disse sussurando.

A moça com o dente torto, apenas escrevera algo em um papel, pegara um bloquinho, escrevera outra coisa e lhe entregara um papel meio vermelho, e outro em branco, que ela precisaria completar. A primeira lacuna que ela vira, fora para colocar seu nome. Ela ficara fitando aquele espaço em branco. Sem saber o que fazer, ou o que colocar. Tudo aquilo doía demais.

Ela escrevera no espaço seu nome, o seu verdeiro nome, mas logo após mudou de ideia, e assim entregando a passagem para o velho estranho que a fitava no onibus, ela entrou. Como se sua vida fosse otimo. Sem nem saber como localizar os avos de Nate. Sem nem saber que haveria outro menino. Um menino que a impediria de se jogar de um prédio. Porque naquela noite, ela ia sim. Ela iria desistir de tudo. Ela estava desistindo da sua promessa a Nate, mas Noah, o garoto ruivo dos olhos cinzas. Da boca carnuda. O menino que agora continha seu coração, a impediria. E ela nem conseguia pensar, em quantas maneiras deveria agradecer a ele, por lhe dar uma vida.

Sarah Bardini Moreira.

Sally Barbini Medeiros.


✿ ✿ ✿

― Ele teve a mesma coisa que você, contudo, ele não pode se recuperar. ― Ela limpou as lagrimas. ― Eu preciso tanto de você, Noah, e meu Deus, se eu tivesse te perdido, como eu perdi ele, como perdi toda a minha família, eu teria morrido. ― Ela fungou. ― Eu sei que devia ter te contado isso. Sei que não deveria ter escondido que a minha família foi uma das primeiras a sofrer com esses assassinatos, mas eu não podia, eu nunca estive pronta para falar sobre isso com a policia, e agora que eu estou, não sei como fazer isso. ― Ela soltou um suspiro. ― Mas, o que eu to fazendo, você nem consegue me escutar..

Ela soltou a mão nele, e de repente sua mão se moveu sentindo falta da mão dela. Ela soltou um sorriso rápido, mesmo sentindo aquela dor profunda de ter acabado de desabafar. Mas da mesma forma. Ele estava consciente. Ele de alguma forma escutara o que ela dissera. Ele sabia, que ela estava ali. E que nunca. Nunca mesmo. Iria o abandonar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colorful" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.