Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 27
Capítulo 26 - Sally/Noah


Notas iniciais do capítulo

Somente feche seus olhos
O sol está se pondo
Você ficará bem
Ninguém pode te machucar agora
Venha luz da manhã
Nós ficaremos sãos e salvos
— Taylor Swift and The Civil Wars



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✿Sally✿

A manhã era como um véu macio sobre a pele de Sally. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo, até abrir seus olhos, e encontrar Noah deitado ao seu lado, com os cabelos ruivos despojados, olhos brilhantes abertos, bem acordados, e um sorriso lateral que a poderia fazer parar de respirar. Ele ainda estava nu, com a coberta por cima de seu corpo, como ela. Havia apenas um fino tecido por cima de seu corpo, e mesmo que sua cara estivesse pegando fogo por se encontrar naquelas condições, ela não podia fazer nada mais do que sorrir.

As mãos dele deslizaram por seu rosto, e nenhum dos dois estragou o momento falando. Os lábios dele selou o momento, sem precisar de muito, sem precisar de extravagancias. Ambos estavam absortos em um momento que dizia muito o quanto eles precisavam um do outro. Ela não tinha ideia de quão forte fora a queda que ela tivera por ele. O cheiro dele preenchia o quarto, os lábios dele eram as únicas coisas que ela queria, a não ser, por querer ele ao todo. Mas ela sabia que não o teria. Tudo tinha sido tão perfeito, que saber que tudo teria que ser encerrado lhe dava uma dor. Uma dor que a pessoa mal consegue respirar.

Ele parou de beijá-la, e seus olhos fitaram os dela. Ele tentou ficar sério, mas era como se houvesse algo em sua boca que o fizesse sorrir. Sally sentiu as lágrimas vindo, mas a única coisa que pode fazer fora segurar a respiração, e sorrir também. Um sorriso triste e alegre. Ela não queria estragar aquele momento perfeito. Eles já tinham drama demais, para ter que lidar com aquilo agora. Para ela ter que lidar com isso. Então, apenas fechou os olhos, e o beijou mais uma vez. Mais uma única vez para ter certeza de que aquele momento era real. De que a sua vida toda tinha sido real.

― Eu fiz café, e comprei algumas coisas para nós dois tomarmos café da manhã juntos. ― Ele sussurrou, parecia que estava com medo de que ela se assustasse e saísse correndo.

― Pensei que Noah não tomava café da manhã com as suas transas. ― Ela disse, e abriu um sorriso, fazendo uma risada despertar nos lábios dele.

― Ele não toma, mas você não é só uma transa pra ele. ― As palavras despertaram seu coração que começou a pulsar de verdade. Como ele sempre pulsava ao lado de Noah. Como ele costumava pulsar ao lado de Nate.

― Então, vamos lá tomar esse café da manhã. ― Ela se levantou segurando o fino tecido contra seu corpo.

― Então vamos. ― Noah se virou para pegar suas roupas, e ela fez o mesmo. ― Tenho que estar na delegacia daqui alguns minutos. Me ligaram, e tiveram novas informações. ― Ele virou-se para olhar para ela, e ela apenas afirmou com a cabeça. ― Quero me manter informado sobre tudo, Sally.

― Mas é ano novo.

― Eu sei, mas você sabe, quero me manter a parte disso tudo, e nem vai demorar tanto..

― Eu sei, eu sei, é só que… ― Ela soltou um suspiro enquanto abotoava o sutiã. ― Agora que eu contei para você, queria que tudo isso já tivesse terminado.

― Também queria. ― Ele foi até ela, agora vestido. ― Vamos dar um jeito nisso. Você vai ver.

― Bem, ao menos posso ir com você? ― Ela perguntou, pegando a camiseta dele.

― Bem, você não pode ir, instruções foram claras sobre somente eu poder ir, e parar de carregar minha parceira misteriosa, que nem mesmo é policial, e que poderia ter sido ferida por conta das minhas imprudências. ― Ele disse, envolvendo a cintura dela com suas mãos. ― Mas, você pode ficar aqui, e pensar em alguma coisa que a gente pode fazer quando eu voltar.

― Tenho várias ideias. ― Ela passou as mãos pelos ombros dele.

― E a propósito, ― ele sussurrou em seu ouvido, ― essa camiseta ficou muito melhor em você, do que em mim.

― Concordo plenamente. ― Ela sussurrou de volta.

✿Noah✿

A risada dela provocava a minha. Simples assim.

Nunca havia me sentido tão estúpido na vida, até estar apaixonado por aquela garota. Despertar a risada dela me tirava os pés do chão, logo eu, que sempre tinha sido uma pessoa que tentava me manter atado ao chão o máximo possível. Logo eu, fui me apaixonar por Sally.

Ela estava sentada ao meu lado, prestes a tomar o seu café, enquanto eu contava para ela sobre uma vez na faculdade em que no trote me desafiaram a correr nu pelo campus. A risada dela ecoou tão alto pelo apartamento que se Cely e Will tivessem no apartamento, eles correriam imediatamente para ali, para serem informados do que estava acontecendo. Mas eles não estavam, e eu queria que estivessem. Estávamos ali, em pleno ano novo, festejando juntos, sem o resto da nossa pequena família, e mesmo que tudo estivesse maravilhoso, eu queria que todos estivessem ali.

Havia um brilho nos olhos de Sally que era um tanto desconhecido para mim. Era como se algo dentro dela tivesse sido renovado. Com ela experimentando as coisas, e principalmente deixando alguém a amar. Todos aqueles sentimentos que haviam entre nós finalmente podiam ser liberados, não havia necessidade de se esconder. Não havia precisão de ter que se regular, porque agora nós tinhamos dado um passo para frente, e eu não estava nenhum pouco disposto a ser empurrado para trás.

― Tudo bem, mocinha, eu tenho que ir, e você fica aqui enquanto isso…

― Pensando nas coisas que vamos fazer quando você chegar. ― Ela deu um sorriso malicioso. Um sorriso novo. ― Se você demorar, eu vou ter que começar sozinha...

O meu sorriso fora tão obvio que ela me olhou sem entender, e logo quando entendeu, ela soltou uma risada e balançou a cabeça.

― Pervertido, quando você chegar nós vamos assistir alguma série, não acredito, Noah... ― Ela me empurrou de leve, e eu soltei uma gargalhada.

― Você não pode brincar com a minha imaginação desse jeito, ele é obscura, ela não consegue ver o mundo dessa forma pura que você consegue. ― Eu sorri e a trouxe para perto, lhe dando um beijo.

― Tudo bem, não vou brincar com a sua imaginação desse jeito.. ― Ela sorriu novamente com malicia.

― Você é uma namorada terrível. ― Ela congelou, senti isso.

Em um momento ela estava grudada em mim, no outro ela se afastou, e levantou, indo até a onde a garrafa de café estava e colocando mais um pouco em sua xícara. Ela se virou, ficando de costas para mim, me fazendo sentir como se eu tivesse cometido o maior erro de todos, e já era um pouco tarde para consertar o que eu tinha falado.

― Podemos conversar sobre isso quando eu voltar, o que você acha? ― Eu fui até ela, mas mantive uma certa distancia. ― Sabe que eu não quero forçar entre nós, certo?

Ela se virou lentamente, e afirmou com a cabeça, me olhando indiferente.

― Só não vamos apressar as coisas, eu ainda.. ― Ela disse sutilmente.

― Eu sei… ― Eu peguei sua mão, e ela deu um passo, me envolvendo em um abraço.

Mesmo por um momento termos tido esse momento estranho, eu ficava grato por tê-la comigo.

― Vejo você depois? ― Eu sussurrei, mas ela apenas continuou me abraçando, me soltando segundos depois, para me dar um beijo.

― Não demore. ― Ela sorriu, beijando meu pescoço, e se afastando para eu pegar a chave do carro e ir embora.

Dirigir me fazia pensar. Me fazia pensar em como eu pude deixar uma falha daquelas acontecer. Ela tinha me contado há poucos dias sobre Nate, e logo em seguida e vou, após uma noite, e afirmo que ela é minha namorada. Deveria tomar cuidado nas palavras, só que agora já era um tanto tarde demais.

Seu olhar ainda queimava em mim. Aquele último olhar em que ela afirmou com a cabeça. Fora um olhar normal, mas eu não sabia o que pensar. Eu não queria ficar cogitando coisas na minha cabeça. Sabia que ela considerava aquilo um grande passo, como eu fazia. Mas, não queria ficar pensando naquilo. Só me deixaria mais nervoso do que eu já estava.

A delegacia parecia uma paisagem totalmente nova para mim. Havia poucas viaturas em frente ao prédio, o que me pareceu um tanto estranho, se era uma reunião que eles haviam organizado, qual era o motivo de terem chamado só alguns policiais? Esse era um caso sério, que requeria todos os nossos policiais. Todos.

Desci do carro, e adentrei o espaço tão conhecido, e me deixei visualizar apenas duas pessoas. Primeiramente João, que era o policial mais novo, o que havia me contatado pelo telefone para ir ali, e o outro eu não sabia quem era, só o via mexendo com alguns arquivos. Olhei meio perdido, tentando entender onde estavam as outras pessoas, e o olhar do João me fitou como se ele estivesse mais perdido do que eu.

― Precisa de alguma coisa?

― Você me ligou essa manhã, e disse para nos encontrarmos aqui, que haveria uma reunião, algo assim? ― Eu perguntei.

― Não, eu não liguei hoje de manhã. ― Ele me olhou como se me achasse louco. ― É Ano – Novo, eu já estou indo para a minha casa, e o Wesley também, só passamos aqui para dar uma averiguada, logo, logo trocarão de turno com a gente.

― Mas, eu tenho certeza, me ligaram essa manhã.

― Cara, olha envolta, não tem ninguém aqui, com certeza foi só uma brincadeira com você. Agora se me da licença, antes de ir, eu tenho que arrumar alguns arquivos.. ― Ele disse e se virou, me deixando ali, perdido.

Fui até a minha sala, e resolvi pegar algumas coisas para analisar o caso, já que estava ali. Comecei indo até a minha gaveta, mas ela estava toda bagunçada. Como se alguém tivesse entrado ali, e estivesse procurando por alguma coisa. E realmente estava. Meus arquivos pessoais, como endereço, telefone, e tudo mais, haviam desaparecido, além de que, a pasta do caso, da família de Sally também havia desaparecido. Tentei procurar mais afundo, mas meu telefone tocou revelando uma ligação da Cely.

― Ei, o que há? ― Eu disse, apoiando o celular entre a cabeça e o ombro para poder continuar procurando.

― To ligando pra avisar que só vamos voltar a noite, o Will se empolgou um pouco ontem a noite com os primos dele, e agora ele tá meio que…

― De ressaca. ― Eu sorri, ainda procurando pelas coisas.

― Isso mesmo. ― Cely soltou uma risada, e depois um grito, mandando um tal de Augusto soltar a Mandy. ― Mas, e as coisas entre você e a Sally?

― Ah, estão boas. ― Eu disse não muito concentrado, não queria conversar sobre aquilo.

― Você transou com ela! ― Cely disse incriminativamente.

― O que? ― Eu me fiz de vítima. ― Nunca que eu faria isso, Sally é como uma irmã, ― pensar nisso me fez rir no meio do meu argumento, ― nós dois nunca faríamos isso. Ela nunca faria isso.

― Noah. ― Ela fez o tom. O tom que não me deixava mentir. ― Eu sei que sim. Você disse “estão boas”, você não é um homem de poucas palavras. É como a minha babá.

― O que tem sua babá?

― Lembra? A primeira? ― Ela me fez recordar da loira com peitos gigantes. ― Aquela que da manhã seguinte que encontrei você cuidando da Mandy, ao invés dela, e perguntei o que estava acontecendo, e você simplesmente fez seu ah, tá tudo bem. Mas não, não estava. Ainda não te perdoo, eu adorava aquela roupa de cama.

― Tudo bem, foi logo após os fogos do ano novo, ela me contou umas coisas, a gente conversou e rolou, foi isso.

― Só isso? Foi bom? Vocês gostaram? Vão se casar? ― Ela disparou o tiroteio de perguntas.

― Sim, foi ótimo, a gente adorou, e não, porque hoje de manhã quando eu insinuei que ela era minha namorada, foi como se o mundo tivesse acabado. ― Eu fechei a gaveta, vendo que não encontraria nada.

― Ela só está confusa… ― Ela disse sem concentração.

― Eu não sei, ela me contou umas coisas...― Eu passei a mão nos cabelos. ― Só tenho medo, Cely, eu gosto muito dela.

― Ei, ela também gosta, eu sei disso, conheço mulheres, e sei que você vão resolver isso, mas, Noah, vou indo, antes que eles matem minha filha, nos vemos no jantar, se der.

― Tudo bem. ― Eu disse.

― Beijinhos. ― Ela disse, e desligou.

Senti um arrepio por todo meu corpo, e resolvi ir embora, mas antes passei em um restaurante, onde pegaria comida para mim e para Sally, mal sabendo o que me aguardava em casa.


✿Sally✿

O corpo dela estava enrolado na espessa toalha azul. Ela passou as mãos nos cabelos levemente, deixando a textura e o preto vibrante presente naquelas mechas, serem consumidos pelos seus olhos verdes, e logo após ela os locomoveu para o espelho, onde encontrou uma menina de lábios grossos, e com maçãs do rosto ressaltadas. Era a primeira vez em anos que ela se sentia bem consigo mesma.

A noite anterior tinha sido a melhor de sua vida. Sentia-se culpada de pensar assim, e deixar todas as noites com Nate de lado, mas Noah, a fazia sentir mais viva do que ela se sentira em anos. Depois de todo o trauma que ela tinha passado, tudo fora um grande caos. Tinha alguns amigos que eram a mesma coisa que nada, já que nenhum deles nunca entenderia o que se passava na sua cabeça, mas agora, Noah sabia de tudo. Sabia do seu passado totalmente desordenado, e mesmo assim, ainda nutria os melhores sentimentos por ela.

Ele tinha se demonstrado de um jeito que ela nunca esperava que ele fosse ser. Havia acabado de insinuar a palavra namoro que realmente havia assustado-a. Não porque ela não queria, mas sim, porque havia muita coisa acontecendo. Muita coisa entre os dois. Entre ela. E ela realmente queria que tudo parasse para ela poder aproveitar, mas nada parava. E nada realmente seria como antes.

Ela não queria contar para ele. Já podia ver o olhar em seu rosto, e as palavras que sairiam de sua boca ao tentar fazer ela repensar em tudo aquilo. Ela já tinha repensado, mil vezes. Principalmente enquanto ele estava no hospital, e essa era a razão do porque ela estava adiando tanto para contar. Ela sabia o que viria a seguir.

Deslizou a porta do box que fora silenciosa, e escutou a porta se abrindo no andar debaixo. Sorriu ao pensar que Noah não tinha demorado o tanto que ele havia dito, mas logo que escutou os passos sendo meticulosamente dado, algo dentro dela se arrepiou. Se esgueirou lentamente até a borda da escada, onde conseguiu ver um vulto que ela tinha certeza, não ser o Noah, ou qualquer uma das pessoas que ela conhecia.

Sentiu seu coração disparar e entrou novamente dentro do banheiro. Lentamente. Quase sem respirar, não queria ser denunciada para aquela pessoa que ela conhecia bem as intenções.

― Sally? ― A pessoa cantarolou seu nome, enquanto ela ouvia os passos dele na escada. ― Vamos conversar, querida. ― A voz era familiar, mas ela não se lembrava aonde já havia escutado. ― Sally, eu sei que você está ai.

Ela prendeu a respiração, atrás do cesto de roupa suja que havia no banheiro, tentando se esconder o melhor que podia, mas sabia que não adiantaria. O máximo que podia fazer, era ligar para Noah. Pegou o celular que estava encima do cesto, enquanto conseguia escutar os passos se aproximando, e tentou localizar o número, porém, suas mãos tremiam demais, e sua pele estava toda arrepiada de medo. Tinha certeza absoluta ele a localizaria, não por ser um bom localizador, mas sim, pelas batidas altas de seu coração.

Ela não conseguia escutar os passos, o que a fez deduzir de que ele já estava um pouco distante. Tentou manter-se calma e digitar com mais precisão, mas suas mãos não entendiam o que ela deveria fazer. Estavam muito trêmulas. Ela respirou fundo, e conseguiu discar o número correto.

― Atende, atende. ― Ela rezou baixinho, com o coração na mão.

O toque ao fundo do telefone só servia para deixá-la mais tensa, do que ela já estava. Aquele toque cismava em continuar, e ela nem percebeu quando o cesto ao seu lado se locomovera, revelando um sorriso carismático no rosto da pessoa que ali se encontrava.

Mais do que um arrepio surgiu na pele de Sally, sua respiração também se foi. Todo seu corpo ficou trêmulo, e ela teve vontade de gritar, mas era se como a sua voz tivesse fugido, e só deixasse uma menina atônita.

As sardas em seu corpo deixavam a pele branca bem mais em destaque do que ela costumava ser. O cabelo loiro trazia memórias de alguns meses atrás, e seus olhos, aquele tom que a fazia sentir tão familiarizada, mas ao mesmo tempo, tão assustada, fazia com que ela quisesse apenas ficar ali. Encolhida. Fingindo que nada daquilo era real. As roupas que antes eram cafonas, haviam sido substituídas por um moletom preto, e calças pretas do mesmo tom. Roupas bem sutis.

― Sally, você está bem? ― Ele perguntou, tentando ajudá-la, a se levantar.

A toalha se encontrava frouxa ao redor de seu corpo. Ela desligou a tela do celular, sabendo que estava em ligação com Noah, e ainda não confiando na figura ali. Não confiava nenhum pouco. Estava mais desconfiada do que antes. Mas queria entender antes, como tudo aquilo podia mesmo estar acontecendo.

― O que? ― Ela se afastou um pouco dos braços dele. ― O que… ― Ela não conseguia achar as palavras corretas. Você estava…

― Morto? ― Ele perguntou, e Sally se lembrou daquela noite, ao ver seu corpo. ― Sim, eu estava, ― ele a trouxe para mais perto de novo, ― igual você vai estar daqui alguns minutos. ― Ele a empurrou com força, fazendo com que sua cabeça colidisse contra a parede.

Suas vistas ficaram todas embaçadas, e sua cabeça começou a fazer um som que ela não conseguia entender, enquanto a mesma pulsava uma dor desconhecida. Os braços dele enroscaram seu corpo novamente, ela quis gritar para ele se afastar, mas tudo ainda estava muito confuso. Pela primeira vez, naquele dia, sentiu tanto medo, que estava prestes a chorar. Nunca imaginaria que Elliot, a pessoa que Noah mais confiava no mundo, poderia ser o responsável por toda aquela bagunça. Por toda aquela desgraça que havia acontecido em sua vida, e na das demais pessoas.

― Como pode fazer isso? ― Ela gritou, ainda meio confusa, enquanto ele ria dela. ― Ele ficou triste por você, realmente achou que você estava morto.

Ele a empurrou de novo contra a parede, onde dessa vez, ela conseguiu apenas tampar o rosto com os braços, conseguindo aliviar um pouco da dor, mas não toda. Seu corpo encontrou o chão, e ela tentou fugir se arrastando, mas ela conseguia escutar a risada dele, e os passos que a seguiam.

― Sabe, Sally, sua família fora a primeira que meu pai resolvera se vingar. ― Ele soltou uma risada. ― E eu nem sei o porquê. Seu pai nem ao menos era um homem importante naquela indústria, mas com certeza ele devia ter pisado no calo do meu pai.

― Sobre o que você está falando? ― Ela tentou gritar, mas com certeza apenas soara como um grito abafado.

Ele a chutou lentamente na barriga, e ela sentiu as lágrimas queimando em seus olhos. O corpo dele se inclinou para perto do dela que estava jogado na escada, e que a qualquer momento poderia ser impulsionado para uma queda, mas ao invés disso, ele chegou perto de seu rosto, pegou uma arma que carregava no bolso do moletom e colocou contra sua cabeça, enquanto sussurrava.

― Eu não sou muito a fim de ficar contando historiazinhas, e explicando como tudo aconteceu, mas depois de todos esses anos, acho que você merece saber porque toda a sua família, e aquele seu namoradinho foi morto, certo? ― Ele passou as mãos lentamente pelas coxas dela, e ela sentiu nojo de ter seu corpo invadido por ele.

Ela tentou sucumbir o nojo que estava sentindo, não queria apanhar mais, nem mesmo ser morta, mesmo sabendo que aquela altura não tinha mais opções. Agora a única coisa que ela precisava era pensar em como dar o bote nele, mas tudo doía. Cada músculo do seu corpo doía depois de ter sido arremessada contra a parede a força, não sabia se poderia lutar mais uma vez. Ela não sabia se estaria realmente disposta. Talvez se ela apenas ignorasse tudo terminasse rápido, e assim, ela poderia se juntar aos seus pais e Nate.

― Bem, tudo começou quando há muitos anos, meu pai fora expulso de uma indústria, onde lá trabalhava muitos homens que acreditam ser por essa bosta de impressa, serem honestos. Mas, o meu pai, fora demitido por um motivo que não faz muito sentido. ― Ele se afastou um pouco do rosto dela, e continuou passando suas mãos pervertidas sobre seu corpo. ― Ele pediu um aumento no salário. Enquanto isso acontecia, minha mãe dependia de máquinas para sobreviver, máquinas que eram muito caras e que o meu pai pagava com o dinheiro que ele ganhava trabalhando.

Sally soltou um suspiro de dor ao sentir as mãos dele encontrando seus seios. Ela quis gritar, mas a única coisa que acontecia eram as lágrimas que deslizavam pelo seu rosto ao sentir o cano da arma ainda pressionado contra sua cabeça.

― Bem, ele teve que se envolver em outro tipo de negocio, que era com uns caras estranhos. Sabe? Muitos homens que tem indústrias, a maioria deles são bem ricos e importantes, e por isso, são odiados também. Muito odiados. E tem muitas pessoas querendo os destruir, e esses mesmos homens que odiavam essa indústria, contrataram meu pai, oferecendo muito mais do que ele ganhava naquela pechincha. E advinha qual era o primeiro nome na lista? O do seu pai. Meu pai ficou um tanto relutante naquela época, mas ele precisava do dinheiro, minha mãe estava no hospital. ― Ele deu uma pausa, e começou a dançar com a arma redirecionando para trás da sua cabeça. ― Então ele matou, mas ele não tinha percebido que tinha deixado uma vermezinha escapar, então, adivinha o que aconteceu? ― Ele soltou uma risada. ― Eles mataram o meu pai, e meses depois a minha mãe fora junto com ele. Você deve saber muito bem que não importa a idade, não somos os mesmos sem os nossos pais. ― Ele enfiou a mão por dentro da toalha, encontrando mesmo seus seios,. ― Bem, eu resolvi me vingar. Reuni minha própria turma, e matei esses mafiosos, ou seja, o que eles eram. E continuo matando, e não vou parar até matar cada um.

Sally sentiu as lágrimas secas em seus olhos, e ousou levantar os olhos para o olhar dele, as mãos dele brincavam com uma parte dela que a fazia se sentir impura, culpada, mas ele apenas sorria, um sorriso malicioso, um sorriso sem alma. Ele apenas continuava focando em seus olhos, mas acabou tirando a mão de seus peitos, pegando um canivete, e deslizando-o pelo braço da garota, que acabou lhe tirando sangue, e novamente as lágrimas.

― E quando eu descobri que meu melhor amigo, estava apaixonadinho pela garota que propiciou a morte do meu pai, nossa, nem sei como explicar, o quanto foi difícil não te matar aquele dia na festa de despedida. ― Ele pegou a pelo cabelo, fazendo a cabeça doer, e colocou a arma embaixo de seu queixo. ― Mas, agora que você já sabe toda a história, o que achou? Não é uma bela história de vida?

― Não sei o que ela achou, mas eu, particularmente não vi tanta graça. ― A voz de Noah surgiu, e lhe dera um soco bem no centro do seu rosto, fazendo com que ele caísse alguns metros longe de Sally, que ainda estava encolhida sobre o chão.

Noah passou despercebido por ela, e foi até Elliot que já estava pronto para devolver o soco que ele havia tão gentilmente ganhado.

― É assim que diz que sentiu falta do seu melhor amigo? ― Ele disse, em um sorriso sínico.

― Não sei, é assim que diz que sentiu falta de Sally?

― Ah, só estávamos pondo a conversa em dia. ― Elliot se jogou em Noah, e ambos começaram a se golpear sem fim.

Sally observou a luta, e temeu por Noah. Elliot era muito mais ágil, contudo Noah era muito mais forte. Elliot conseguia desviar dos golpes de Noah, mas geralmente quando este era acertado por Noah, perdia totalmente o centro de direção, e só voltava a tê-lo depois de alguns segundos. Ao contrário de Elliot, quando Noah era acertado por um de seus golpes, não era tão afetado, ele continuava brigando da mesma forma. Sally se arrastou lentamente até a onde a arma de Elliot havia aterrissado. Ela não sabia o que estava fazendo, mas seria bom ter uma ameaça a fazer, contudo, antes que ela colocasse a mão no objeto, ambos se envolveram num desequilíbrio que fizera ambos deslizarem pela escada.

O grito que escapara de sua boca fora tão alto que ao chegar na borda da escada e ver ambos desacordado, Sally não sabia o que imaginar. Ela segurou a arma e desceu as escadas tentando enrolar a toalha envolta de si com mais firmeza. Seu coração pulsava rápido, e ela vira a dezena de machucados que haviam em Noah, e também a quantidade infinita que haviam em Elliot. Ela tentou se esgueirar para mais perto de Noah, mas a mão de Elliot se fundiu em seu tornozelo, e ela tentou o chutar, contudo, ele apenas soltara ela por alguns segundos, dando tempo para ela correr para uma distancia plausível dele.

― O que vai fazer agora? ― Ele sorrira sorrateiramente para ela. ― Vai fugir para onde? Vai chamar quem?

Ela não disse nada, apenas ergueu a arma para ele, tirando um sorriso debochado de seu rosto.

― Ambos sabemos que não é capaz disso. Nós dois sabemos muito bem. ― Ele deu um passo para perto dela, e ela redirecionou a arma para o peito dele. Uma mira exata de seu coração. ― Vamos lá, Sally. Ambos sabemos que a pequena Sally não pode fazer isso. ― Ele riu, e deu mais um passo.

O coração dela pulsou. Um, dois, três. E seu corpo fora redirecionado, para dentro de sua casa. Onde ela viu o pai sentado no sofá com a garganta toda ensanguentada. A mãe deitada ao chão, junto ao lado de Ellen, ambas tão calma, tão pacificas. Sua mãe não teria lutado. Ela sabia que não. Ela viu Nate. Seu amado Nate, seu recém-marido. O homem com quem ganhara seu primeiro beijo. Com quem passaram sua primeira noite. Com quem selou sua vida. Com quem tinha decidido passar o resto da sua vida, mas que tinha sido tudo destruído por um cara com quem nunca nem havia tido contato. Mas no fundo do coração ela sabia que eles a amavam, e que não importa onde eles estivessem, ela também os amava. Demais.

Sally puxou o ar firme, e viu o prédio onde tinha conhecido Noah. O prédio que teria decidido sua vida, se não fosse aquele menino estúpido a puxar e estragar seus planos. O garoto por quem estava completamente apaixonada. O garoto que estava completamente apaixonado por ela.

― Você está certo. ― Ela abaixou a arma como já tinha visto tantas vezes em filme, e deixou seus olhos lerem os dele. Queria olhar para aqueles olhos sem vida, queria olhar para eles uma ultima vez. Sentiu na mão ao desativar a trava de segurança. A corrediça sismou em parecer relutante, mas em segundos ela conseguiu, e bem assim, ela soltou um sorriso.

― Eu disse para você, agora me de essa arma.

― Não, espera um pouco. ― Ela levantou a arma. ― Eu disse que você está certo, mas não disse em qual parte.

Ele olhou confuso.

― Você tem toda razão, Elliot, Sally nunca faria isso. ― Ela pressionou com força o gatilho, sentindo o som, e a força que a empurrou, mas, mesmo assim, ela permaneceu parada, observando a bala atravessar exatamente o ponto que ela queria. ― Mas não garanto nada sobre a Sarah. ― E o barulho foi estrondoso, junto com os gemidos de dor, que logo se dissiparam.

Ela soltou a respiração que estava presa na sua garganta, e deixou se desabar no chão, junto com todas as lágrimas, todas as magoas, todas as dores. Ela sentiu todo o remorso dentro de si, toda aquela agonia, aquela dor que estava dentro de si. Ela esteve machucada por tantos anos que nem percebeu o tanto que finalizar aquilo faria maravilhas para a sua vida. Tiraria um peso de suas costas. Limparia todo aquele histórico. Aquilo lhe traria o recomeço que tanto almejava.

Limpou as lágrimas, e se encaminhou para perto de Noah, que estava caído ao chão, recuperando sua consciência aos poucos. Ela sorriu para ele, e passou as mãos em seus cabelos, só percebendo minutos depois o sangue que começava a encharcar a camiseta. Pegou o telefone correndo e discou para a ambulância, relembrando a noite em que esteve com ele em seus braços quando a bala o havia perfurado. Pegou um pano e pressionou sobre os pontos que haviam sido danificados depois da queda.

― Acabou? ― Ele disse, sentindo muita dor.

― Acabou. ― Ela disse, e beijou os lábios dele lentamente.


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Notas finais do capítulo

:3



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