Odisséia Cosmopolitana escrita por Lucas Raphael


Capítulo 8
Tenente


Notas iniciais do capítulo

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A morte era uma piada para Nicolas. Eu seu ramo, não podia se dar o luxo de temer o inimigo, ou então, de vacilar em algum momento crítico. Havia passado por diversos momentos em sua vida em que seus nervos foram levados a prova e, em breve, seria posto a provo uma vez mais.

Sua amada esposa, Anaís não tinha um bom relacionamento com a profissão do marido. Eles se mudavam com muita frequência, e isso a incomodava muito, pois já fazia alguns anos que haviam deixada sua cidade natal e ela sentia falta do abraço de seus pais, de beber com seus amigos mais íntimos, e acima de tudo, de ter que procurar emprego.

Claro que esses eram apenas algumas inconveniências que incomodava o casal. A estabilidade financeira que eles tinham compensava tudo isso, e os deixava cada vez mais seguros para ter um filho. “Se vamos ter um filho, temos que ancorar em uma cidade, por definitivo.”, ela disse. Nicolas não discordava, mas achava que talvez fosse cedo para isso. Ele estava na casa dos trinta anos e no auge de sua saúde, ainda tinha muito com o que contribuir.

Ele nunca havia posto uma gota de álcool na boca, e isso era o principal motivo para o circulo de amizades dele ser tão pequeno. Claro que ele não se incomodava que seus amigos bebessem ou coisas do tipo, mas com frequência ele era convidado para festas. Dificilmente ia, mas se fosse, não iria beber.

Não tinha nenhum problema com álcool, mas seu pai, sim. Ter um alcoólatra na família definitivamente tinha sido um fator chave para que o impedisse de beber. Alguns especialistas podem concordar quando se diz que uma criança de oito anos e seu amigo da escola são surpreendidos, enquanto brincam no quintal, por um carro desgovernado dirigido pelo seu pai bêbado destrói o portão da garagem, causaria um grande trauma. Não que Nicolas tivesse grandes problemas por isso, mas agora ele não está mais na posição de filho, e sim de futuro pai.

Sua esposa estava grávida de sete meses e ele estava se preparando para o que esperava ser sua última mudança, mesmo sabendo que no Exército brasileiro, nada é definitivo. Conhecido como Tenente Carvalho, Nicolas iria se tornar parte efetiva do novo quartel que iria ser inaugurado na cidade onde nasceu. “Esse é o momento”.

Ele tinha aproximadamente quinze anos de exército. Havia servido no Tiro de Guerra aos dezoito anos e descobriu lá que gostaria de passar a sua vida a serviço do Brasil. Logo, foi atrás de uma escola de formação militar e alguns anos depois se formou como Oficial. Foi também no exército que Nicolas se transformara como homem.

Havia uma história em particular, que lhe fora gravada na mente e costumava contar com frequência. “Prestem atenção, muitas lições podem ser tiradas disso.”

Certa vez, quando ainda era um recruta no quartel, ele havia recebido a notícia de que um General iria fazer uma visita, nas instalações. E o sargento que estava comandando a tropa a que ele pertencia, havia lhes avisado: “Atenção! Amanhã iremos receber a presença ilustre do General e como sabem, o Capitão quer nos dividir em algumas oficinas. Terá a oficina da pista de progressão, e o do treinamento físico militar. ”

Nicolas foi selecionado para a pista de progressão. Resumidamente, ele iria rolar na lama, correr, nadar, pular, rolar na lama de novo, engatinhar na pedra, e ele tinha um grande ódio a isso. Ele passou o dia inteiro tentando convencer alguém a trocar de local com ele, até que conseguiu.

No dia seguinte, durante a visita do general, ele havia feito o treinamento físico, que era coisa pouco comparado ao que lhe havia sido reservado antes da troca. E depois de terminar a sessão com sucesso, sua tropa fora levada para saborear o almoço, tudo isso na presença do General.

“Ah, se eu tivesse feito qualquer coisa diferente, nada disso teria acontecido!”. Durante a refeição, Nicolas havia furado fila. Ele abominava esse tipo de coisa, mas o havia feito de qualquer maneira, sua barriga doía de tanta fome que estava sentindo. Como era por ordem, ele havia se sentado na mesa em frente a um outro recruta, que começara a dar risada, sem um motivo aparente. Nicolas começou a rir também.

Estava rindo, até o General e seu Capitão entrarem no refeitório, deixando todos com um rosto, no mínimo, sério. Mas ele não conteve a risada. Claro que nada aconteceu, naquela hora. Mas no dia seguinte ele foi obrigado a passar pela pista de progressão, com o uniforme do treinamento físico, sozinho. Havia levado vários arranhões e hematomas por causa disso.

“E se eu tivesse simplesmente, passado na pista, na primeira vez que eu fui chamado? Eu estaria devidamente protegido. Ou então, se eu não tivesse furado fila posteriormente eu não sentaria junto aquele bisonho e com certeza não teria uma crise de riso a toa. Ah, se eu tivesse feito qualquer coisa diferente, nada disso teria acontecido! Eu agi de má fé, admito, tentei brigar com minhas responsabilidades e acabei tomando uma surra.”

Nicolas havia dito isso para os atiradores do Tiro de Guerra em que fora instrutor, alguns anos atrás. Havia sido instrutor de lá pois sua especialidade eram os rifles de longa distância, praticava com muita frequência. Ele era o que erroneamente chamam de “sniper”.

Ainda mantinha contato com alguns dos antigos instrutores, e planejava uma reunião, agora que voltara para a cidade.

“A cidade mudou”, sua esposa dissera, quando finalmente retornaram. E ele tinha de concordar, depois de passar quase cinco anos fora, não tinha como reconhecer aquele estranho centro urbano que triplicara de tamanho. A insanidade das coisas parecia ter se agravado também, afinal, que tipo de cidade brasileira tem bares destruídos por helicópteros militares?

Havia uma história circulando em seu ramo de que uma aeronave militar havia destruído um popular bar da região, mesmo a mídia divulgando que se tratava de apenas um acidente isolado envolvendo uma tempestade e um helicóptero da televisão. E Nicolas já tinha experiência suficiente para saber quando uma história é crível ou não.

Tinha vontade de ir atrás disso, investigar e saber a verdade, mas não era hora pra isso, ainda. Afinal, isso nem lhe dizia respeito, ou lhe afetava de qualquer forma possível. Agora, era hora de rever velhos amigos.


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Notas finais do capítulo

Obrigado aos que leram até aqui.



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