Odisséia Cosmopolitana escrita por Lucas Raphael


Capítulo 7
In


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo, apresentando Carolina.



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— Tá doendo?

— Hã, não.

— Que pena.

Sussurrou Carolina, suficientemente alto para que seu novo paciente ouvisse. Estava fazendo o curativo no machucado recém-adquirido de Luiz enquanto pensava em todas as vezes em que esse restrito grupo de amigos já lhe haviam acordado de madrugada com supostas situações de vida ou morte, e também nas prováveis próximas vezes que viriam.

— Ele vai sobreviver? - Perguntou Raphael, numa tentativa de quebrar o clima pesado que cobria o lugar.

Foi respondido com uma encarada furiosa de Carolina. Não era pra menos, odiava levar sustos, e havia sido acordada bruscamente. Sua cabeça estava latejando de dor devido a sono interrompido e apesar de tudo não podia dar as costas para um amigo.

— O que houve? - Ela perguntou.

Luiz encarou Raphael, que o encarou de volta. Raphael balançou a cabeça negativamente, e o amigo retribuiu um olhar que significa “é no meu machucado que ela está mexendo” ou algo do tipo.

Raphael suspirou, tomou fôlego, e disse sem respirar:

— Nós invadimos um ferro velho e um guardinha deu um tiro no Luiz enquanto fugíamos. - E para sua surpresa, ela não pareceu ter ficado chocada ou com raiva. Quer dizer, não mais do que já estava.

— O que os gênios estavam fazendo? Quer saber? Vocês se superam a cada dia. Não pensei que depois da fase “Kick-Ass”, vocês voltariam a fazer algo tão estúpido assim. - Ela estava certa. Raphael esboçou um sorriso quando lembrou-se de quando ele e seus amigos, no auge dos dezoito anos, decidiram caçar bandidos a noite, no melhor (ou pior) estilo Justiceiro. Eles acabaram tomando uma surra de um bando de viciados e o sonho de vigilantes noturnos acabara na mesma noite.

— Você não acreditaria se eu dissesse, Carol. - Disse Raphael.

— Vai, conta logo. - Ela pediu. - Vocês não estão numa posição muito favorável para recusar algo pra mim.

— Há, certo. Você não vai acreditar mas eu vou contar mesmo assim. O meu carro criou vida, ele consegue falar, e se lembra do helicóptero que destruiu o Guadalupe? De alguma maneira, isso está relacionado ao carro ter ganho vontade própria. E nós estávamos tentando descobrir como isso aconteceu.

— Claro que sim. E o que o ferro-velho tem a ver com isso? - Carolina não estava gostando do rumo daquela conversa.

— Eu disse que você não acreditaria. Bem, a carcaça do helicóptero está lá. - Ele terminou.

— Não acredito que vocês estão fazendo isso comigo. Além de me perturbarem de madrugada, não se dão a moral de sequer explicar pra mim o que está rolando. Mas, é isso que os amigos fazem, não é? - Ela agora estava enfaixando a perna do Luiz.

Luiz ficou olhando o rosto da amiga enquanto ela terminava o trabalho.

Uma batida da porta o tirou do transe. Raphael abriu a porta e Pedro entrou carregando um balde, um pano e um rodo. A agua no balde estava vermelha e escura.

— O chão tá brilhando. Não se preocupe, não deixei nenhuma gota de sangue para trás. - Disse o jovem, indo guardar as coisas da faxina.

— Ótimo. Eu terminei aqui, Luiz. - Ela levantou-se, segurando sua caixa de equipamentos e todo o lixo que fizera. - Raphael, você limpa esse piso aqui, já volto.

Ele esperou ela sair para ir buscar um pano molhado, que passou no chão.

— Ai caralho, tá ardendo pra caralho! - Revelou Luiz.

— Relaxa, agora você vai ter uma cicatriz bem foda. - Disse Pedro. E era verdade.

Luiz tentou ficar de pé, e conseguiu mesmo com dificuldade.

— Ela fez um bom trabalho.

— Claro que fiz, não foi profundo. - Carolina havia retornado e jogou-se no sofá. - Vocês não iam fazer uma viagem estúpida de carro? - Ela perguntou.

Luiz reparou que a garota estava menos tensa e um pouco mais descontraída e amigável com eles.

— Sim. A partida foi ontem, mas quando saímos o carro criou vida e tivemos que voltar. - Ele revelou.

— Entendi. Então, vocês criaram essa história por medo de viajar? Arrependimento? - Ela retrucou.

— Não, Carolina... Nós íamos mesmo fazer a viagem, mas isso aconteceu, não é tão difícil de entender. - A paciência de Luiz estava indo embora.

— Não vai dizer que você fez isso de propósito para não ter que ir viajar! Se vocês não queriam ir, era só não ir ué. - Ela zombou dando uma risada provocativa. Raphael e Pedro acharam engraçado, mas não queriam que Luiz percebesse isso.

— Qual é Carolina. Você não teria capacidade para entender o que está acontecendo, você foi avisada desde o começo que não iria acreditar. Obrigado pela hospitalidade, se quiser nos visitar sabe onde moramos. Apesar de que, hã, ainda pretendemos continuar a viagem. - Luiz levantou-se e deu um rápido abraço nela, que havia ido até a porta despedir-se do grupo.

Pedro aproximou-se da garota e também a abraçou.

— Fazia tempo que eu não o via, Pedro. Cuidado com esses dois, eles são más influencias. - Carolina disse, e Pedro retribuiu um sorriso.

— Manda um abraço pro seu carro. - Raphael riu quando ouviu isso de Carolina.

— Eu mando sim. Hã, obrigado pela ajuda. Você foi a única pessoa que o Luiz aceitou confiar para remendar aquele rasgo. Na verdade, ele só parou de falar de você quando chegamos.

Carolina deu uma olhada rápida por cima dos ombros de Raphael e notou que Luiz e Pedro já haviam descido as escadas, eles não estavam mais ali.

— Olha, sinceramente eu não acredito que tenha sido um tiro. Mesmo se fosse, e bala não estava alojada na perna dele.

Raphael fez uma cara pensativa, mas não estava entendendo o raciocínio dela.

— Pelo amor de Deus! Quero dizer que vocês não precisavam ter vindo aqui, entende? Se fossem em um hospital não precisariam dizer que foi um tiro. Um acidente com um facão ou uma queda alta poderia enganar o povo do hospital sem precisar alegar que foi um tiro, se bem que realmente não foi um tiro... mas enfim.

— Ah, acho que entendi o que você quer dizer (era mentira). Vou indo. - Virou-se de costa para ela e afastou-se, com um aceno.

— Até! - Carolina fechou a porta, apagou as luzes, e deitou-se na sua confortável cama. Demorou alguns minutos antes de conseguir dormir, havia um turbilhão de pensamentos que lhe passavam pela sua ativa mente. Sentiu seu fiel gato acomodar-se entre suas pernas. Passou as mãos em seus cabelos ruivos e fechou os olhos.

A apenas alguns metros dali, três amigos conversavam com um carro.

— Tudo bem, eu espero? - Perguntou Jorge, o veículo vivo.

— Tá doendo bastante, mas eu tô legal. Agora, é a sua vez de abrir o jogo. - Falou Luiz, espreguiçando-se.

 


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem!



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