Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 5
Todo Mundo Odeia Apartamento de Solteiro


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, seus bonitos... ^^
Mais um cap saindo quentinho do forno...
Acho que desviei um pouco do título do episódio, mas não tive muito o que fazer sobre isso. Precisei fazer isso para os próximos darem certo com o correr da história.
Espero que gostem e me deixem saber quando lerem...
Enjoy...



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POV. CHRIS (Brooklyn -­ 1985)

Aprendi desde cedo que, quando se mora com os pais mais o bônus de dois irmãos menores, privacidade é uma palavra que não existe na sua vida. Como o filho mais velho, assim que entrei na adolescência, eu senti necessidade de um espaço meu, mas nunca deu. Quando eu queria ficar sozinho eu ia dar umas voltas no parque; esse era o máximo de privacidade que eu conseguia. Cheguei a pensar em morar sozinho, mas onde eu iria morar? Como eu iria me manter? Problemas demais para um desejo muito pequeno, então resolvi guardar ele só para mim.

A primeira vez que cheguei perto de morar sozinho foi quando minha família toda ficou doente. A maldita gripe tinha voltado e pegado todo mundo, menos eu. Eu também tinha minhas dúvidas se a Tonya estava realmente doente, mas eu é que não ia lá para confirmar.

Quando cheguei em casa da escola com a Lizzy, encontrei a sala de jantar e a cozinha isoladas com um plástico gigante.

“Mãe, o que é isso?”

Ela estava do outro lado do plástico e se virou para olhar para nós.

“Oi, Lizzy.” Lizzy acenou e minha mãe virou para mim. “Meu filho, todo mundo está doente. Você não pode entrar.” Ok, eu agradeço por se preocupar, mas… onde eu vou ficar?

“E eu vou para onde?” Ela suspirou e acabou tossindo.

“Não sei.”

Nesse momento, meu pai saiu da cozinha e entrou na conversa.

“Pensamos em mandar você para a casa da sua avó, mas acabei de ligar para ela e parece que ela está doente também.”

“Dona Rochelle, eu posso perguntar para os meus pais se o Chris pode ficar lá em casa.” Meus pais se olharam um pouco apreensivos e fizeram aquela cara de quem não queria recusar, mas iria. Porém a Lizzy conhecia todas aquelas caras tão bem quanto eu e falou antes que eles recusassem. “É a melhor solução e tenho certeza que eles não vão se importar.”

Com um último olhar, eles assentiram.

“Obrigada, querida. Agradeça aos seus pais por nós.”

“Não precisa.” Ela virou para mim: “Você vai pegar alguma coisa?” Minha mãe respondeu por mim.

“Separei algumas roupas para você,” e mostrou uma mochila cheia. “Vou colocar do lado de fora da porta e você deem a volta para pegar. Chris, comporte-se. Não dê trabalho para o Arthur e a Hellen ou vai se ver comigo.”

Fiz minha melhor cara de santo e gesticulei uma auréola sobre a minha cabeça. Minha mãe bufou em descrença e me deu um último olhar. Gesticulei para a Lizzy e saímos. Peguei a mochila e toquei de leve seu ombro com o meu; ela me olhou e sorriu com o agradecimento explícito no meu rosto.

Mas meu dia louco acabava de começar e dormir na casa da Lizzy era o de menos. Quando saímos para a calçada e íamos entrar na casa dela, eu escutei uma voz me chamar. Virei e dei de cara com o sr. Omar.

“Chris, que bom que eu te encontrei.” Ergui uma sobrancelha e troquei um olhar rápido com a Lizzy. Não podia vir coisa boa daquilo.

“Oi, sr. Omar. Algum problema?”

“Soube que seus pais estão doentes.”

“É. Estão com gripe. Por quê?”

“A verdade é que eu tenho um problema e gostaria que você me ajudasse.” Eu vou me arrepender…

“O quê?”

“É o seguinte: eu vou ter que fazer uma viagem e não quero deixar minha casa sozinha. Gostaria de saber se você não ficaria lá para mim.” Eu disse que ia me arrepender…

“Sr. Omar, até daria se eu não tivesse dito aos meus pais que ficaria na casa da Lizzy enquanto eles estão doentes.”

“Ora, mas isso pode ser um segredo nosso. O que me diz? Não quer um pouco de privacidade?”

Vou admitir que aquela palavra mexeu comigo. Muito. Achei melhor não olhar para Lizzy por enquanto. O toque no ombro foi quase uma promessa de que ficaríamos juntos naquele tempo e eu não queria deixar ela na mão. Por outro lado, o sr. Omar me oferecia algo que talvez eu nunca mais tivesse antes de realmente me mudar da casa dos meus pais ao me casar. Se eu me casar um dia… Respirei fundo e considerei.

“Quanto tempo o senhor vai passar fora?”

“Duas noites. Nada muito demorado.” É razoável…

Senti um leve puxão na parte de trás da minha camisa, mas resolvi ignorar o aviso da Lizzy por enquanto. Não se preocupe. Eu não estou fazendo nada de errado…

“Ok, sr. Omar, eu fico lá. Mas só vou depois que o senhor tiver saído.” Ele sorriu.

“Ótimo. Saio daqui a pouco, então você pode deixar suas coisas lá.”

“Ok.” Senti outro puxão na minha camisa e pus uma mão para trás a fim de segurar a dela. Apertei-a de leve, um pedido mudo para que ela esperasse. “Boa viagem, sr. Omar.”

“Obrigado. Espero que nada trágico aconteça.”

Ele entrou em casa, me deixando sozinho com a Lizzy. Virei para ela, já esperando a cara de interrogação que ela com certeza me daria.

“Será que dá para explicar?” Sorri, divertido com a irritação dela.

“Claro, madame. Antes que você decida me matar, não, eu não vou ficar na casa dele. Vou lá algumas vezes durante o dia, para ver se está tudo bem.” A expressão dela suavizou-se e ela ficou sem graça.

“Ok. Vamos subir?” Assenti e a segui nas escadas da sua casa.

Na sala, encontramos os pais dela sentados no sofá. O sr. Jackson estava sentado normalmente e a sra. Jackson sentava de lado com as pernas sobre o colo do marido. A TV estava desligada; ele lia o jornal e ela resolvia a folha das palavras cruzadas. Quando entramos, eles sorriram para nós.

“Oi, filho.”

“Oi, sr. Jackson, sra. Jackson.”

“Oi, Chris.”

Como tínhamos um assunto a tratar, a Lizzy se adiantou.

“Pai, mãe, os pais do Chris estão doentes e então perguntaram se ele pode ficar aqui enquanto eles melhoram.”

Eles se olharam, deram de ombros e sorriram. A sra. Jackson se levantou e, fazendo um gesto para que a seguíssemos, foi em direção à porta.

“Tudo bem. Pode ficar aqui, sim, Chris.” Subimos as escadas e ela nos levou para um quarto que eu nunca tinha visto antes. Logo ela esclareceu. “Este é o quarto de hóspedes. Pode ficar aqui. Lizzy sabe onde está tudo, então o que precisar é só pedir.”

“Obrigado, sra. Jackson.” Ela sorriu, pondo a mão no meu ombro, e depois saiu, me deixando sozinho com a Lizzy. Após alguns segundos parado, olhando para o quarto, eu falei. “Ainda me surpreende a mudança dela.” Lizzy assentiu.

“Com certeza. Mas vem, vamos arrumar suas coisas.”

Como eram poucos dias e não um mês, a arrumação foi rápida e nós descemos para almoçar. Até que eu ia ajudar com a louça, mas a Lizzy e a sra. Jackson praticamente me chutaram da cozinha porque eu ia me atrasar para o Doc’s. Dei ‘tchau’ para os três e fui trabalhar. Mas… surpresas acontecem. E aquele dia estava cheio.

Mal cheguei na calçada e vi a Tasha sentada no peitoril da janela. Ela acenou para mim e eu fui falar com ela.

“Oi, Chris.”

“Oi, Tasha. Tudo bem?” Ela fez uma leve careta.

“Na verdade, não. Minha avó está com gripe.”

“Meus pais também. Para não ficar doente, vou ficar na casa da Lizzy.” Ela me olhou de um jeito estranho, mas logo voltou ao normal.

“Que bom que você pode ficar lá.” Estranhei o tom de voz dela, mas não comentei. Ela deve estar preocupada e sem saco por ter que cuidar da avó sozinha…

“Pois é. Mas eu estou entre a cruz e a espada. O sr. Omar pediu para que eu olhasse a casa dele enquanto ele viaja, mas eu já tinha prometido à Lizzy que ficaria na casa dela. Agora tenho que ficar em dois lugares ao mesmo tempo.”

“Nossa, que barra. Eu tenho que ficar sempre em casa para ajudar minha avó. Ela não me deixa sair para lugar nenhum. Eu só queria um pouco de privacidade.” Ergui uma sobrancelha. Ela pensa como eu…

“Eu também. Sou louco para morar sozinho.”

“Pelo menos agora você pode ter um pouco de espaço se ficar na casa do sr. Omar.”

“É. Vai ser uma boa folga. Mas… eu tenho que ir agora. Doc’s.” Falei, meio decepcionado por não poder ficar conversando com ela. Mas para a minha surpresa, ela sorriu.

“Espera só um instante?” Assenti e ela desceu da janela para dentro de casa. Alguns segundos depois ela saiu pela porta, sorrindo. Pela minha cara de interrogação ela explicou. “Disse a minha avó que ia comprar as coisas que faltam no Doc’s.” Sorri. Esperta… “Vamos?”

“Vamos.”

Começamos a descer a rua em relativo silêncio enquanto mil coisas passavam pela minha cabeça. Será que ela ainda se lembra de quando a gente saiu? Toda vez que vejo ela, eu lembro daquele dia. Sempre quis falar a respeito, mas nunca mais tive coragem. E ainda mais começar o assunto do nada… Pode parecer meio idiota… Ela entendeu o que eu quis dizer com aquilo, não é? Eu realmente quero sair com ela…

Olhei para ela pelo canto dos olhos quando estávamos quase chegando no Doc’s. Ela andava com as mãos entrelaçadas nas costas e tinha um leve sorriso no rosto. Sorri, meio idiota. Bonita… Ela percebeu minha atenção e me olhou.

“O que foi, Chris?” Tentei disfarçar.

“Nada. É que… acho que não vou poder te ajudar com as sacolas hoje.” Ela sorriu.

“Tudo bem. É pouca coisa.”

Entramos no Doc’s, ela fez as compras e foi embora, me dando um sorriso e um aceno no final. Me encostei em uma das prateleiras, olhando ela subir a rua pelo vidro da porta. Considerei minhas possibilidades e percebi que estavam maiores do que jamais foram. Fui interrompido nos meus pensamentos pela risada do Doc.

“Você está tão bem assim, Chris?”

“Não sei, mas parece que sim. Ou talvez seja só coisa da minha cabeça.” Ele riu de novo e fez um gesto para eu me aproximar.

“Aproveita enquanto ela não volta para o Robert.” No mesmo instante meu corpo ficou tenso.

“Ela ainda está com ele?” Ele deu de ombros.

“Parece que sim, mas brigam toda semana. As amigas dela vem comprar na loja e eu escuto partes das conversas. Aparentemente, ela gosta muito dele, mas ele não valoriza o que tem.” Outro cliente chegou e ele voltou ao serviço, me deixando mais pensativo ainda com o que ele me falou.

Se ela gosta tanto assim do Robert e está magoada com ele, provavelmente ela quer dar o troco. Imediatamente me lembrei da semana do jogo de beisebol. Ela estava com olhos de choro e eu tinha ficado me perguntando o porquê. Três dias depois, Lizzy tinha comentado que os dois tinham voltado. Algo relacionado a ciúmes da parte dele por ter visto ela com outro cara. Idiota! O cara era você! Ela me usou como peão para pegar o namorado de volta… Eu sou muito burro mesmo! A raiva ferveu em mim e eu passei a tarde toda remoendo aquilo.

POV. LIZZY

Observei da janela quando ele desceu a rua com ela na direção do Doc e suspirei, sentindo um aperto no peito. Agora que ela e o Robert terminaram é que eu não tenho a mínima chance mesmo… Me afastei da janela, e observei meu pai ajudar minha mãe a limpar a mesa depois de toda a louça do almoço lavada e sorri. O relacionamento deles tinha melhorado muito depois da mudança da minha mãe e eu estava feliz por eles.

De repente um pensamento me ocorreu e eu fiquei curiosa. Esperei eles terminarem e virem se sentar no sofá para perguntar.

“Pai, Mãe, como você se conheceram?” Eles me olharam surpresos, mas sorriram. Meu pai olhou minha mãe com um olhar cômico.

“Posso contar para ela?” Estranhei, mas minha mãe riu e assentiu. “Ok. A verdade é que ela me detestava.”

“O QUÊ??!!” Eles riram ainda mais da minha surpresa. “É sério isso?” Minha mãe assentiu.

“Muito sério, minha filha. Seu pai foi o adolescente mais metido que eu já conheci em toda a minha vida. Ele se achava o máximo e vivia flertando comigo, mas eu não dava a mínima.” Meu pai fez uma careta de resignação.

“Era verdade. Eu tentava de tudo para impressionar ela, mas nada funcionava. Ela sempre me olhava com cara de desprezo e saía com as amigas.” Ri dos dois. Parece que não sou só eu que tenho dificuldades, eles também tiveram. Mas como…?

“Mas o que aconteceu? Como vocês se entenderam e se casaram?” Minha mãe sorriu.

“Foi por meio de algo que muitas pessoas usam para o propósito errado.”

“O quê?”

“Ciúmes.” Ergui uma sobrancelha.

“Sério?” Eles assentiram.

“Muito. Eu fiquei arrasado quando soube que sua mãe estava namorando com outro cara. Ela passou a nem mesmo olhar para mim e eu desisti.” Minha boca se abriu pelo choque.

“Desistiu?” Ele assentiu. “Mas e a história do ciúme?”

“Foi quando eu arranjei uma namorada. Segunda a explicação da sua mãe, ela própria era uma adolescente estúpida que ficou ciumenta depois que o cara de dava atenção para ela arranjou outra que dava atenção a ele.”

“Verdade. Eu tinha tanto ciúme, minha filha, que eu não me reconhecia. Nós tínhamos os mesmos amigos e frequentávamos os mesmos lugares, então eu sempre o via com ela. Sorrindo do jeito que ele só sorria para mim. Depois de pelo menos um mês me martirizando, eu terminei com meu namorado. Não gostava dele. Mas mesmo solteira, eu não consegui ir atrás do seu pai. Ele parecia feliz com a outra garota e eu não tinha o direito de estragar o que era dele. Nessa época eu me isolei e fiquei bastante tempo em casa. Não queria falar com ninguém e toda vez que alguém falava o nome do seu pai eu sentia vontade de chorar. Até que minha melhor amiga, Denise, veio falar comigo. Ela me disse algo que me mudou: ‘Pare de ficar só chorando e lamentando e lute por ele. Se você não tiver coragem para fazer isso, você não vale o que ele já fez por você.’ Nesse dia eu resolvi lutar por ele e uma semana depois anunciamos que estávamos juntos.”

Continuei encarando os dois, maravilhada com a história de amor deles. Eles passaram por tanta coisa… É como eu e o Chris. Somos amigos, mas eu gosto dele de um jeito diferente. Ele não percebe porque gosta da Tasha e eu não achei que devesse lutar por ele para não tirá-lo do caminho dela. Mas… ela gosta do Robert e eu sei que ela só está dando chances para o Chris para fazer ciúmes no outro. As palavras da amiga da minha mãe dançaram no meu cérebro. ‘Pare de ficar só chorando e lamentando e lute por ele. Se você não tiver coragem para fazer isso, você não vale o que ele já fez por você.’ Ele já fez muito por mim e mesmo magoando meus sentimentos por não saber deles, ele se importa comigo. Não vou deixar que ninguém pise nele. Nunca deixei, e não vou começar agora.

Agradeci aos meus pais pela história e disse que ia ficar na calçada um pouco. Eu precisava de ar. Saí e acabei encontrando a Tasha lendo no peitoril da janela.

“Oi, Tasha.” Ela ergueu os olhos e me cumprimentou.

“Oi, Lizzy. Tudo bem?”

“Tudo.” Me aproximei e me encostei na parede próxima à janela. Antes que eu pudesse segurar minha língua, eu perguntei: “Como está com Robert?” Vi a angústia passar pelo rosto dela.

“Ela deve ter saído… com a Janiny.”

“Vocês ainda estão brigando?”

“Terminamos.” Ela deu um suspiro cansado. “Eu vou seguir em frente, sabe, Lizzy? Ser feliz com outra pessoa.” Senti meu sangue correr gelado sem querer realmente saber a resposta da minha próxima pergunta.

“Quem?” Ela me olhou e sorriu.

“Vai dizer que você não sabe? O Chris, é claro. Ele sempre gostou de mim e acho que vou dar uma chance a ele.” O formigamento se espalhou por todo o meu corpo e eu encarei o chão. “Desculpe, Lizzy. Sei que gosta dele.” Ergui os olhos, surpresa que ela tivesse percebido. “Ah, não me olhe assim. Qualquer cego vê que você gosta dele.”

Essa frase rodou na minha cabeça por alguns minutos e eu finalmente percebi o que ela significava. Então não é justo que eu, que gosto dele, o perca para alguém que gosta de outra pessoa.

“Tem razão. Só ele não vê. Ele só olha para você.” Ela deu de ombros com um sorriso de desculpas, mas eu não tinha terminado. “Mas não é justo que eu abra mão dele assim. Seria fácil demais para você.” Ela riu.

“Já é fácil. Precisava ver o jeito que ele me olhou mais cedo. Eu só preciso chamar e ele virá.” Senti meu sangue ferver com a raiva.

“É esse tipo de comportamento que eu não gosto, Tasha. O Chris realmente gosta de você, ele não é um objeto para você controlar.”

“Eu sei, mas você não pode negar que ele faria qualquer coisa que eu pedisse sem hesitar.” O jeito que ela falava dele me enojava. Me aproximei dela deixando nossos rostos bem próximos.

“Eu sei disso e é por isso que não vou deixar as coisas fáceis para você. Como já disse, não vou abrir mão dele tão fácil. No final ele vai decidir com quem quer ficar. Mas espero que saiba que, acima de tudo, ele é meu melhor amigo. Sei que você tem mais chances que eu, por isso vou deixar um aviso. Se você fizer ele sofrer por capricho seu, vai se arrepender… amargamente.” Deixei a ameaça pairando no ar e me afastei um pouco. Logo ela se recompôs e sorriu vacilante.

“Muito bem. Que vença a melhor.” Ela estendeu a mão e eu a apertei.

“Que vença a melhor.”

POV. CHRIS

Quando o expediente acabou, minha cabeça doía e eu precisava ficar sozinho. Me despedi do Doc e subi a rua, o ar frio da noite sendo um alívio no meu rosto. Eu sinceramente não sabia de quem eu tinha raiva: de mim, da Tasha ou do imbecil que tinha feito ela sofrer. Talvez fossem as três opções. Mas depois de todo aquele tempo pensando, eu tinha chegado a uma conclusão: eu não iria ser usado por ninguém, nem pela Tasha, por mais que eu gostasse dela.

Decidi dar uma passada rápida na casa do sr. Omar; eu não podia demorar ou os pais da Lizzy ficariam preocupados. Subi as escadas da minha casa e fui para o último andar. Dei uma volta na casa e estava tudo em ordem. Vistoria de hoje: ok.

Mas, para a minha surpresa, a Tasha me esperava na porta do apartamento. Como ela…? Ah, não importa. Respirei fundo, tentando me controlar. Eu não posso explodir agora. Preciso conversar de forma civilizada…

“Oi, Tasha.” Ela sorriu e minha determinação de agir normalmente falhou um pouco.

“Oi, Chris. Pode conversar um pouco?” Ótimo. Era exatamente o que eu queria. Me aproximei dela, ficando a uma distância segura.

“Claro. Eu também queria conversar com você.”

“Ah é? Sobre o quê?” Vi seus olhos brilharem e tive ainda mais dificuldade de controlar meu corpo e não beijá-la.

“Tasha… eu não gosto de ser usado.” A expressão de surpresa dela me disse que eu fui diretamente no ponto. “Eu sei que você está magoada com o Robert; ele é um idiota, com certeza. Mas você não precisa desse tipo de coisa.” Os olhos dela estavam no chão e eu aproveitei para falar antes que ela decidisse que era melhor ir embora. “Quando nós fomos ao cinema eu disse que realmente queria sair com você, e eu não menti. Ainda quero. Muito.” Ela me olhou e sorriu de leve. “Mas só quando você não tiver mais nada com ele.”

“Mas nós terminamos, Chris.”

“Eu sei. Mas isso não significa que você tenha deixado de gostar dele.” Ela ficou em silêncio e aquela foi minha confirmação. Gesticulei para que ela me acompanhasse e tranquei a porta do apartamento; eu precisava sair dali. Descemos as escadas e quando chegamos na calçada, me virei para ela. Senti um nó na minha garganta, mas respirei fundo. “Eu te esperei por muito tempo sem saber se você gostava de mim. Acho que posso esperar mais um pouco. Sabe onde me encontrar.” Sorri para ela e entrei na casa da Lizzy antes que eu acabasse voltando lá e dizendo para ela que a queria agora.

Fechei a porta do quarto de hóspedes atrás de mim e escorreguei nela até o chão. O que foi que eu fiz? Repeti isso mentalmente algumas vezes, me chutando por minha atitude, mas logo a razão invadiu meu cérebro. Não daria certo com ela gostando de outro. Você fez o certo.

Me arrastei até a cama e fiquei deitado olhando para o teto até que ouvi duas batidas na porta. A luz ainda estava apagada (não tinha me dado o trabalho de acendê-la) e eu apenas disse que a pessoa entrasse. A cabeça da Lizzy apareceu, iluminada pela luz do corredor.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Sim. Vem cá que eu te conto.” Ela entrou, fechando a porta e, após acender o abajur, sentou ao meu lado.

Contei tudo para ela. Era minha única maneira de não explodir de tanta frustração. Ela me ouviu em silêncio enquanto acariciava meu cabelo. A luz era fraca, mas eu pude ver sua expressão neutra e controlada. Ela estava tentando não sair dali e ir bater na Tasha, eu sabia disso. O pensamento me deixou um pouco mais leve. Ela sempre esteve ali comigo, não importava o problema. Meu coração sempre foi remendado por ela.

“Acha que eu fiz certo?”

“Era o melhor para você. Nenhum relacionamento funciona se os dois não se gostam. Seu sentimento por ela ia aguentar algum tempo, mas vocês acabariam brigando do mesmo jeito que ela vive brigando com o Robert. Não funciona quando um gosta ou se dedica mais que o outro.” Assenti, mais aliviado. Ela concordou comigo, então eu não fiz nenhuma besteira muito grande… Acho… “É melhor a gente descer para jantar. Meus pais já devem estar esperando. E melhora essa cara. Não quero que eles perguntem nada.”

Sorri de leve e me ergui beijando seu rosto. Senti seu corpo ficar tenso quando sussurrei em seu ouvido: “Obrigado. Por tudo.”

Vi seu rosto vermelho quando saímos do quarto e descemos para a cozinha e de algum modo minha realidade ficou mais feliz. Meu mundo podia estar de cabeça para baixo, mas estar com a Lizzy era familiar.

POV. LIZZY

Depois de tudo o que ele me contou, eu sei que ela já começou a agir e vai lutar com tudo. Olhei para ele rindo ao ouvir as piadas bobas do meu pai no jantar e sorri, maquiavélica. Ótimo, Tasha. Eu também vou lutar com tudo o que tenho. Então teremos guerra…


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Notas finais do capítulo

Saudades dos reviews de vocês...
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