Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 32
Evolução




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POV Fernando

Algumas pessoas me olhavam com curiosidade por causa do comportamento de Angélica. Ela estava assustada com tudo em sua volta, o barulho, com mania de perseguição, ela tem medo de que alguém a reconheça dentro do aeroporto, então resolvo acelerar os meus passos. Noto que ela olha para uma feira livre de livros da praça de convenções do aeroporto, então ela vai até uma pequena pilha de livros e retira um livro amarronzado de lá.

—Eu não entendo nada... —Fala me mostrando o conteúdo do livro.

—Está escrito em francês. —Falo presumindo que Angélica não seja de fato da França. —Você não nasceu aqui, Angélica. —Falo. Ela coloca a mão na cabeça ao sentir alguma dor, mas olha para os lados tentando procurar alguma explicação.—O que você tem?—Pergunto ao ver Angélica balançar o pé em sinal de nervosismo.

—Minha cabeça dói apenas do lado direito. —Ela responde e devolve o livro. —Eu sentia isso quando estava presa naquela maldita clínica...

Dores de cabeça. Amara sentia muitas dores de cabeça! Não pode ser... Ou pode? Angélica pode ter o mesmo problema de saúde que Amara? Eu não posso acreditar que elas podem dividir o mesmo problema de saúde.

—Consegue enfrentar uma viagem de quase três horas? —Pergunto preocupado.

—Mas é claro que enfrento. —Angélica responde me desafiando com o olhar. —Você por acaso pensa que eu sou fraca como Amara?

—Ela estava doente. —Falo bravo e ela sorri. Seu sorriso me faz ter temer a mulher que se encontra bem na minha frente.

—Amara foi fraca, Fernando. Pelo o que você me contou dela, ela foi fraca e estúpida. Estúpida por ter amado o tal de Leandro e mais estúpida ainda em ter "noivado" com você. —Angélica revela e não teme pela minha reação. —Você é fraco como ela. Tão fraco que está levando uma desconhecida para um pais que não tem absolutamente nada para oferecer...

—Você só pode estar louca. —Falo ao assimilar a loucura de Angélica com a sua prisão na clínica psiquiátrica. —Fala coisas absurdas de uma hora para outra!

—Você é o louco nessa história, meu querido. —Ela fala ao se aproximar de mim. —Você se apaixonou por uma garota que foi sequestrada por uma outra louca, mas agora que você encontrou a sósia da sua "noiva" morta, você quer me reeducar. O que você vai fazer agora? Pentear meus cabelos como os dela? —Ela pergunta gesticulando. —Me vestir com um suéter rosa e me dar algodão doce enquanto falamos sobre o seu quase casamento?

—O que você sabe sobre o amor, Angélica? —Pergunto jogando uma das malas no chão.

—Sei que existem idiotas como você que acredita que uma mulher pode noivar enquanto esta a beira da morte. —Angélica fala por entre os dentes. Mas o pior de tudo é que ela tem razão... —Entre você e Leandro, Amara escolheu o menos entediante.

—Você não tem a minima ideia de como ela é. —Falo e logo em seguida a risada plena de deboche é solta em meu rosto.

—Como ela é?—Angélica pergunta com ironia. —Querido Fernando, ela agora é aperitivo de...

—BASTA!—Interrompo o seu momento de loucura com um grito. Todos nos olham, e eu logo trato de me recompor.

—Meu jogo, minhas regras. —Angélica fala. —E você vai me levar para esse maldito país...

—Como pode ter tanta certeza? —Pergunto.

—Por que você quer me usar como troféu. Por quê você quer atormentar Leandro com a dúvida... —Ela fala ao colocar suas mãos em meus ombros. —Dúvida sobre a morte de Amara...

POV Daniela

Eu poderia dizer que a morte de Amara só trouxe desgraça para a familia San Román, mas a morte dela não tem culpa disso. Começo a acreditar que o que caiu sobre aquela família foi uma maldição, porque castigo não pode ser. Desde que Fabiana levou Amara e Leandro para longe dos pais, desde que ela atentou contra a vida de Maite, desde sempre...
Talvez a vida de Amara seja apenas um passa tempo ao qual todos nós precisávamos saber e sentir como é. Talvez a morte dela sirva como lição para todos nós darmos valor a vida.

—No que está pensando? —Minha mãe pergunta enquanto coloca o livro sobre a mesa.

—Até isso a senhora quer saber?—Pergunto, todavia me arrependo ao ver a reação dela. —Me desculpe. Eu não quis ser rude.

—Eu pensei isso. —Ela fala me olhando com certa curiosidade. —Esta aborrecida com o que?

—Eu estou magoada o suficiente para me tornar uma pessoa amargurada. —Falo me levantando da poltrona. Vou até o bar e sirvo vinho para nós duas.

—Temos visita. —Meu pai fala com um semblante sério. —Não se descontrole...

—Por que? —Pergunto ao beber todo o vinho da minha taça de uma só vez. Meus olhos se deparam com a presença de Leandro, imediatamente a taça em minha mão vai de encontro ao rosto dele.

—DANIELA! —Minha mãe grita assustada ao ver a taça que a taça se espatifou em pequenos pedaços cristalinos no chão.

—Desculpe, mamãe. Lamento por ter quebrado uma taça tão valiosa. —Falo irônica ao ver o sangue de Leandro ser derramado em seu rosto. Um pequeno corte feito acima de sua sobrancelha. — Prometo comprar outra melhor. —Falo ao me aproximar das outras taças.

—É emocionante a maneira como você recebe uma visita, Daniela. —Leandro fala sendo amparado por minha mãe.

—Eu tenho mais quinze taças aqui, bem na frente. Por tanto, não me subestime. —Falo ao erguer uma taça.

—Teatral como sempre. —Leandro fala.

—Covarde para sempre. —Falo para ele que no mesmo instante avança em minha direção, mas meu pai o segura pelo braço. —Aceite os fatos! —Exclamo ao mirar a taça em seu rosto, mas minha mãe segura a minha mão.

—Meu sobrinho vai se casar com uma louca.

—Ele não é seu sobrinho, Leandro! Coloca isso na cabeça! —Exclamo farta da mentira e ilusão que é o parentesco entre Henrique e Leandro.

—Amara também não é sua irmã. —Ele fala com pompa.

—Muito menos sua. —Revido com raiva. —A verdade dói, não é? Mas do que uma taça estilhaçada na sua face, meu querido irmão. —Falo me aproximando dele. —Seja lá qual for o seu motivo para vir aqui, saiba que esse seu motivo para mim nada é.

—Além de mal educada virou hipócrita. —Leandro fala sendo obrigado a se sentar.

—Isso é irônico até por que tivemos a mesma educação. —Falo com a mão na cintura. —Oh, você adotou o sistema educacional da sua familia biológica. —Falo provocativa e o tiro do sério.

—Calma, Leandro. —Meu pai pede e o segura pelo braço. —Não perca a compostura.

—O senhor ainda está dando razão para ele? O senhor não consegue sentir nojo dele? —Pergunto incrédula.

—Filha! —Minha mãe exclama brava.

—Ele deu as costas para nós e agora vocês o aceitam como se nada tivesse acontecido?—Pergunto. A cada palavra dita me entristeço com as expressões de meus pais. Eles sabem que Leandro errou, mas eles o amam.

—Vamos esquecer Isso, Daniela. Todos nós erramos. —Leandro tenta me convencer, mas eu acabo suspirando de cansaço. —Por quê não consegue ser a mesma de antes?

—E você consegue ser o mesmo de antes? —Pergunto, todavia recebo o silêncio como resposta. —Quem cala consente.

—Eu vim para a sua casa em busca de perdão. —Leandro fala. Suas palavras me deixam sem voz, sem reação, sem chão... Mas logo a minha revolta me faz lembrar quem sou e por quê sou o que sou.

—Você veio até a minha casa me pedir perdão. Mas não o merece. —Respondo o olhando nos olhos. —Portanto, saia o mais rápido possível da minha casa. Você não é bem visto aqui.

—Sua casa? —Leandro pergunta bravo.

—Ela não é sua, Leandro. Nada aqui é seu. —Respondo. —Adeus. —Falo quase sem voz, mas não demonstro o meu medo de nunca mais ver ele novamente.

Ele sai da sala em passos lentos porém firmes, nada fala, nada faz. Leandro apenas se retira da sala e me deixa sozinha com meus pais. Sinto o olhar reprovador da minha mãe sobre mim, mas não me deixo intimidar.

Leandro e eu nunca mais seremos o que um dia fomos. Todas as vezes que vejo nossas fotos em momentos de familia, sinto falta. Mas tudo acabou no dia em que Amara morreu.Nós três morremos naquele dia. Leandro deu as costas para nós e Amara morreu. E eu... Eu estou morta em vida.

POV Henrique

É impressionante a capacidade que minha avó tem em mudar de comportamento com todas as pessoas. Ela mudou muito depois da morte de Fabiana, ela agora vive subjulgando todos nós. Não parece mais ser a Maite doce e simpática que um dia foi. As vezes penso que ela devia ter permanecido em coma até a morte...

Talvez seu aborrecimento seja consequência de uma viagem repentina que Leandro falou que faria hoje. Mas ele precisa ir, negócios são negócios.

—As vezes eu me admiro com tamanha semelhança entre você e Fabiana. —Falo sem pensar. Ela se vira rapidamente para me olhar, mas eu não me deixo intimidar por ela.

—Aquela sua noiva te influência, Henrique. Você nem deveria se aproximar dela! —Ela exclama. —Ela odeia o seu tio...—Ela fala com a voz mansa. Eu me aproximo aos poucos e ela afasta o rosto assim que sente a minha respiração.

—Ele não é meu tio. —Falo pausadamente. —E você não é minha avó. —Enfrento-a pela primeira vez em toda a minha vida.

—Então saia da minha casa. —Ela fala me deixando surpreso. —Vá para onde sua mãe está, ou para o doce lar do seu pai, vá para o inferno se assim desejar. Mas suma da minha frente, garoto.

—Você não consegue manipular os outros como consegue manipular Leandro, não é mesmo? —Pergunto por entre os dentes. —O que esperar de uma mulher que não sabe amar o filho, não sabe amar o marido que tem e muito menos esconder a inveja que sente por Maria? —A minha pergunta faz ela arregalar os olhos. —Por que você sempre invejou ela. Mas se você invejou até Fabiana, por que não invejar Maria?

—De onde tira esses absurdos? —Ela pergunta com um sorriso no rosto. —Se deixa levar pelos devaneios de Daniela, meu querido Henrique? —Ela pergunta pausadamente.

—Se isso são devaneios então todos nós estamos loucos...

Andei rapidamente ate a porta da casa, mas ao abrir me deparei com uma mulher. Cabelo longo, olhos verdes, alta, mas com uma cara para poucos amigos.

—Em que posso ajudar?—Pergunta ao notar o olhar curioso da mulher.

—Você deve ser Henrique. —Ela fala e sorri. —Sou Zara. —Ela revela seu nome. O impacto ao saber o nome da mulher me deixa sem voz. Zara! Zara é prima distante de Maite. Pouco sei dela... A ultima vez que vi Zara eu tinha apenas doze anos. —Você está enorme, rapaz.

—Eu mal reconheci você. —Falo assustado. —Quanto tempo...

—Muito tempo. —Ela fala observando a casa novamente. —Mas desta vez eu vim para ficar.

—Zara? —Maite pergunta assustada. —O que faz aqui? Por que não avisou? —Seu interrogatório me faz pensar no quanto Maite detesta a presença de Zara.

—Para onde foi os seus modos, Maite? —Zara pergunta com ironia na voz. —Por que não começamos a relembrar tudo o que já vivemos?

—Por que eu não gosto de lembrar?—Maite pergunta enquanto permaneço calado.

—Por favor, Maite. Ótimos tempos. —Zara fala ao se acomodar no enorme sofá da sala de estar. —Você poderia começar a me contar sobre a morte de Fabiana. —Ela fala. A reação de Maite foi de total espanto, mas ela não recua. —Por que eu não entendi a morte dela até hoje.

—Não tem o que entender. Ela morreu e pronto. —Maite responde nervosa.

—Fabiana sempre foi uma mulher de muitos encantos . É deprimente saber que ela foi morta. —Zara fala.

—Morta? —Pergunto assustado. —O que quer dizer com isso?

—Vocês são cegos? —Zara pergunta ao levantar repentinamente do sofá. —Você não percebeu até hoje que sua cunhada foi morta, Maite?

A reação de Maite foi duvidosa, assustadora e até mesmo surpreendente. Ela olhou para o nada como se desejasse sumir, ou ela quer ter uma resposta para a morte de Fabiana?

POV Fernando

Angélica não sabe se comportar em locais movimentados e o aeroporto internacional do México é extremamente movimentado. Ela me olhava um pouco assustada com a quantidade de pessoas que se movimentavam, mas ela tem razão em relação a isso.

—O México está em guerra? —Ela pergunta assustada. —Por quê todos eles andam tão depressa?

—Estão com pressa, Angélica. —Falo. Ela resolve acelerar os seus passos enquanto eu fico para trás.

—Vamos! —Ela exclama assustada.

—São apenas pessoas, assim como nós. —Falo sendo totalmente ignorado. Ela me puxa pelo braço com força e eu sigo andando com ela. —Tem medo?

—Minha cabeça dói. —Ela fala. Na mesma intensidade que sua cabeça dói, Angélica crava suas unhas em meu braço. —Será por causa do clima? —Angélica pergunta.

—Você vai se acostumar.—Respondo.

—Eu não quis ser grossa com você. —Angélica fala com a voz mansa. —Não vou te pedir desculpas, Fernando. Fique ciente de que eu não sou uma pessoa de pedir desculpa. —Ela fala e eu sorrio com ironia.—Mas você merece um choque de realidade.

—Fala a mulher que fugiu de uma clínica psiquiátrica e agora veio ao México para se proteger. —Falo pleno de sarcasmo. Angélica para de andar e me segura pelo braço com mais força. —Angélica? —Chamo por ela, mas ela nada fala. Ela apenas olhava para a sua frente, então resolvo olhar para a mesma direção que ela olha.

Leandro. Leandro estava na nossa frente sem expressar absoluta mente nada. Ele olhava para Angélica como se estivesse hipnotizado! Angélica e Leandro permaneceram se olhando como se já se conhecessem. Leandro descobriu que estou com a sósia de Amara, mas deve estar pensando se sósia não é Amara de fato. Mil pensamentos devem estar se passando na cabeça de Leandro, mas e Angélica? Por que ela olha para ele dessa forma?

—De onde você o conhece? —Pergunto assim que Leandro se aproxima.

—Amara?—É a primeira coisa que Leandro pergunta ao se aproximar de nós. Eu tento intervir, mas Angélica é mais rápida. Seu punho fechado vai de encontro ao rosto de Leandro.

—Maldita hora que eu nasci idêntica a sua noiva. —Angélica responde enquanto Leandro coloca a mão no próprio nariz. —Muito prazer, me chamo Angélica. —Ela fala e Leandro me olha procurando uma explicação. Então eu crio coragem e me manifesto na conversa.

—Temos que conversar.


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