Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 28
Lieben - PARTE 1


Notas iniciais do capítulo

E ai, galera? Tudo bem?



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POV Letícia

Se me perguntarem o que houve comigo enquanto eu dirigia até a delegacia, não irei responder. Eram mil ideias se passando pela minha cabeça enquanto eu chorava ao volante e me lembrava de Fabiana. A decepção de saber que minha tia era um monstro me deixa em pedaços, e agora que sei que ela morreu não imagino o mundo sem ela. Como uma mulher ao exuberante e sofisticada como ela conseguiu ser um monstro desalmado e sem amor? Ela não conseguia entender a dor de Maite e Maria quando tiveram seus filhos arrancados de seus braços? Mas é claro que não! Fabiana nunca foi mãe para saber o quanto dói ter um filho separado de si mesma. Por um lado fico aliviada e desejo que ela queime no inferno e pague por todas as crueldades que ela fez em vida, mas por outro lado desejo descontar a raiva que sinto por tê-la perdido. Fabiana me tratava como filha dela, me olhava como tal coisa.

—O que vai fazer daqui para frente?—Dalila pergunta enquanto me oferece um café. —Sei que está abalada.

—Vou embora daqui. —Falo ríspida e ela me olha incrédula e sem esperança. —Vou embora desse pais.

—E seu filho? O pai dele não voltou?—Dalila pergunta enquanto vejo Rafael e Lúcia de mãos dadas pelo corredor.—Falando nele.—Dalila fala e o casal passa despercebido por mim.

—Eu odeio Rafael, Dalila. Mas se meu filho quiser ficar no país para conhecer mais o pai...—Falo pensando no meu futuro sem Henrique.—Tive uma vida monotoma por muito tempo.

—Se quiser Fernando te arruma um cargo fora do país, Letícia.—Dalila fala me dando apoio.—Afinal, você precisa exercer sua profissão.

—Eu sou um fracasso. Fernando e Lúcia conseguiram em cinco anos o que eu não consegui em quase vinte.—Falo colocando o café fora.

—Fala do caso de Amara e Leandro.—Dalila fala e morde os lábios receosa.—Eu sei. É deprimente.—Fala e eu a olho convicta de que ela tem razão.

—Nem filha de Maite e Lorenzo eu sou...—Falo e ela me olha com calma.—Estou no lugar que não me pertence, Dalila.

—E é por isso que vai embora? Seus problemas vão atrás de você aonde você for, sua estúpida.—Dalila me xinga e sorri com ironia.

—Eu sei que vão. Mas eu não quero descontar a minha raiva nas pessoas que me viram crescer e passar minha vida toda em uma mentira.—Falo e Dalila me olha confusa.—Aquilo que eu costumava chamar de família.

—Pelo menos você tem uma.

—Não me venha com coitadismo agora, por favor. Sou péssima em dar conselhos e ser um ombro para chorar.—Falo e vejo Fernando correr até mim e Dalila.

—Preciso que você tome conta daqui. Aconteceu algo com Amara e Estrella me pediu para ir até o hospital.—Fernando fala ofegante e eu o olho preocupada.

—Pode deixar.—Dalila fala e Fernando desaparece das nossas vistas.—Esse daí vive atrás do seu anjo de cristal.

—Pelo o que eu sei Amara está doente. —Falo curiosa e Dalila revira os olhos. —Será que ela morreu?—Pergunto desconfiada.

—Quer saber a verdade?—Dalila pergunta com ironia.—Espero que ela não morra. Fernando ama ela, e ama até demais.

—O amor me fez ser assim. O amor faz loucuras nas nossas cabeças.—Falo pensativa e Dalila aplaude com sarcasmo e eu a repreendo com um tapa no braço.

POV Maria

Faz muito tempo que Amara foi lavada para ser examinada e até agora não recebi nenhuma noticia dela. Não consigo ter calma e muito menos paciência, é quase impossível eu ficar sentada esperando por noticias dela. Ana Rita e Estevão conversam próximos ao elevador, na verdade eles estão esperando por Francisco e Daniela. Enquanto isso Estrella e Heitor ficam abraçados e sentados no sofá na sala de espera, enquanto eu fico andando de um lado para o outro. Não gosto de hospitais, eles me dão medo e me fazem pensar que a hora de morrer chegou.

—A senhora se chama Maria San Román?—Um homem alto pergunta e eu presumo que seja o medico.—Eu sou o doutor Garcia, agora sou responsável pelo quadro de saúde de sua filha Amara.—Ele fala com calma e atenção.

—E como ela está?—Pergunto e ele suspira.

—Preciso que a senhora e seu marido venham comigo até a minha sala.—Garcia fala com calma, com tanta que calma que fico mais calma.—O estado de sua filha é grave, senhora.

(...)

—Ela foi submetida á uma cirurgia.—Garcia fala para mim e Estevão. Os três permanecem calados e eu fico abismada.—Amara perdeu muito sangue quando a artéria cerebral se rompeu, mas graças a eficiência de quem viu ela desmaiar, o sangramento não foi mais fatal como poderia ter sido.

—E como ela está?—Estevão pergunta nervoso.

—Tínhamos sangue do mesmo tipo sanguíneo que o de Amara, e com isso conseguimos fazer uma transfusão.—Garcia fala.—Mas ela está muito debilitada, está sem forças para falar e se alimentar.

—Meu Deus.—É a única coisa que consigo falar ao escutar o que o doutor fala.

—Vocês precisam estar pronto para quando a hora chegar.—Garcia fala tentando nos confortar.—É lamentável ver uma garota de dezessete anos definhar em uma cama de hospital. Mas eu fiz tudo o que podia, senhor e senhora San Román. Não sou Deus como as pessoas pensam, não tenho o poder de curar.

—E existe algum medico que cure a minha filha?—Estevão pergunta com esperança.

—Sim. Existe um, mas ele mora muito longe de nós e não tem contato.—Garcia fala me deixando confusa.—Deus. Ele é o médico dos médicos, e só ele pode acabar com a dor que Amara sente.

Eu e Estevão nos olhamos amedrontados e temendo que Amara morra sem estarmos perto dela. Não falamos nada, apenas nos abraçamos emocionados e com a esperança de que esse abraço nos conforte e nos faça esquecer de que Amara irá morrer jovem. A minha princesa Amara irá morrer e eu não poderei fazer mais nada para salvar ela.

POV Fernando

Corri por todos os corredores do hospital procurando por Estrella, não encontro ela e muito menos Maria. Talvez eu tenha passado por elas e não me dei conta por causa do nervosismo, talvez seja isso. Eu preciso saber onde a minha Amara está! Preciso saber se ela está viva ou se está morta. O que será que aconteceu? Estrella não me contou ao certo o que aconteceu com Amara.

Montenegro!—Estrella exclama e eu volto as minhas atenções para a loira com o homem alto sentados.—Ainda bem que você chegou.

—Onde ela está?—Pergunto procurando por Maria e Estevão.

—Nossos pais foram falar com o novo medico que cuidara do caso de Amara.—Heitor fala olhando para o outro corredor.

—Novo médico?—Pergunto assustado e Estrella começa a chorar.—Tente se acalmar, Estrella. Amara é forte.

—Ela é humana, Fernando. Ela é frágil!—Estrella adverte e o clima fica tenso. Estrella vê que estou de luto e me olha intrigada.

—Certamente ainda não souberam da pior noticia.—Falo e os dois irmãos se olham com medo.—Fabiana morreu.

—Morreu?—Heitor e Estrella perguntam no mesmo instante.

—Ela fez de uma faca a sua arma para o crime. Cravou o coração.—Falo e Estrella sorri debochada.

—Ela tinha um coração por acaso?—Estrella pergunta e Heitor a repreende com um tapa no braço.—Menti?

—Fica quieta, Estrella. Lembre-se que Amara está internada.—Heitor fala e em questão de segundos Maria e Estevão aparecem abraçados.—E então?

—Fernando?—Estevão pergunta para si mesmo e se assusta.

—Estrella me chamou.—Falo e Estrella sorri.

—Sabiam que Fabiana morreu?—Heitor pergunta para o casal que rapidamente se assusta.—Pelo o que vejo não sabiam.

—Morreu?—Maria pergunta ainda em choque.—Precisamos avisar á Leandro que Amara está internada, Estevão.

—E como ela está?—Ana Rita pergunta ao aparecer com Francisco.Ela pergunta sobre Amara e eu olho para Estevão.—Falem alguma coisa!

—Morrendo.—Maria fala e eu percebo que Estevão está tremendo.—Ela passou por uma cirurgia,passou por uma transfusão de sangue...—Maria para de falar ao ver Ana Rita segurar o choro.—Mas não existe chance alguma dela viver, Ana.

—O que vamos fazer,Maria?—Francisco pergunta assustado.—Estevão?—Ele espera uma resposta de Estevão, mas só recebe o silêncio.

—Teremos dois funerais.—Estrella fala e Heitor se aborrece.

—Estrella, você está descompensada!—Heitor se exalta e Maria olha para Estevão.

—Dois funerais? Desculpa, não entendi.—Ana Rita fala.

—Fabiana se matou.—Falo e Ana Rita olha para Francisco com medo.—Ela morreu.

—Lorenzo deve estar péssimo.—Maria fala e eu concordo.—Mas mais péssima estou eu...

—Senhora San Román?—Um homem alto chama por Maria.—Amara está pedindo para ver Fernando Montenegro.—O homem fala e Maria olha para mim.

—Por que ela quer ver você primeiro que nós que somos os pais dela?—Maria pergunta e Ana Rita me encara esperando uma resposta.

—Amara tem sentimentos amorosos para com Fernando.—Estevão fala e o medico sorri.—E Leandro ama Amara.

—O que?—Todos , inclusive eu, perguntamos para Estevão.

—Está me dizendo que Amara e Leandro se relacionaram?—Ana Rita pergunta com uma expressão de nojo.—Agora eu vejo o lado bom deles não serem irmãos.

—Mas eles se afastaram quando achavam que nunca daria certo.—Estevão fala abraçado á Maria. Maria precisa de segurança, e Estevão sabe fazer isso. È lindo a forma como ele protege a esposa, é lindo o amor deles.

—E Amara também sente alguma coisa por Fernando?—Heitor pergunta e me olha interesseiro.—Estou te observando, Fernando.

—Eu não fiz nada. Eu amo Amara! Conheci ela sem mesmo saber que ela era a verdadeira Amara!—Falo abrindo os braços.—Daniela está de prova!

—Daniela?—Francisco pergunta incrédulo.—Você se infiltrou na minha família?

—Faz parte do meu trabalho, mas foi muita coincidência eu conhecer Amara.—Tento me explicar enquanto todos me olham.—Por que me olham assim?

—Isso não importa. O que importa é que ela quer ver você.—O médico fala e eu suspiro.—Você deve ser especial para ela, Montenegro. Vá enquanto é tempo.

—Eu vou. Mas eu prometo ser rápido para que vocês vejam ela.—Falo olhando para Maria e Estevão.—Eu vou ser rápido, juro.—Falo agora olhando para Ana Rita e Francisco.

Fui com o medico até o quarto onde Amara está internada, e ao caminhar com passos largos e pesados, senti uma energia muito pesada sobre mim. È como se o frio e o medo estivessem rasgando o meu rosto, como se meus olhos não piscassem para que eu não perdesse nenhuma informação. Amara não pode morrer, os pais delas não podem perde-la.

—Seja paciente,Montenegro. Ela está debilitada.—O médico fala dando passagem para que eu entre no quarto. Assim que entro, vejo Amara sorrir ao me ver.

—Você já estava aqui.—Amara fala com a voz rouca e eu sorrio. Me aproximo dela aos poucos até estar ao lado dela.—Pensei que não iria vir me ver.

—Estrella me chamou.—Falo com medo ao ver que Amara está pálida.—Está fraca não está?

—Muito.—Fala e começa a tossir.—Eu nem sei se vou conseguir viver...

—Mas é claro que vai, menina. Você vai por quê você quer.—Falo segurando as mãos de Amara. Ela sorri ao sentir as minhas mãos e eu começo a tremer ao sentir o quanto fria as mãos dela está.

—Estou mais fria que um iceberg.—Amara fala fazendo piada de si mesma.—Sempre amei o frio.

—Não gosto do frio. Ele me dá medo... Prefiro o calor.—Falo fazendo desfeita e ela dá um risada calma e serena.

—Calor? Lembre-se de que o inferno é quente.—Amara fala e passamos a rir juntos.—Você já fez aquele texto que sempre fazem em funerais?

—Eu fiz um. Fiz quando minha mãe morreu.—Falo lembrando de quando minha mãe morreu.—Mas Lúcia falou por mim, eu era muito pequeno e sentia medo das pessoas.

—Faça um para mim.—Amara fala com tristeza, todavia sorri.—Não demore, Fernando.

—Você vai levantar, Amara. E vai fazer todos nós felizes.—Falo deixando uma lágrima cair.—Vamos fazer uma aposta...

—Qual?—Amara pergunta com curiosidade.

—Se você morrer...—Falo esperando uma atitude inesperada dela.—Eu nunca irei me casar. Nunca irei olhar para outra mulher.

—Você só pode ter enlouquecido.—Amara fala tocando na sonda que incomoda o seu nariz.—Está louco.—Fala olhando para nossas mãos.—Então...

—Então?—Pergunto desafiador e ela me olha receosa.

—Se eu sair daqui viva...—Amara fala com medo e eu sorrio curioso.—Eu me caso com você.—Amara fala e eu começo a rir descontroladamente e ela me olha amedrontada.

—Amara San Román, está me pedindo em casamento?—Pergunto rindo e ela força um sorriso.—Me desculpe.

—É uma posta, não é?—Pergunta séria, logo em seguida passa a tossir fortemente e eu tento aliviar a sua tosse.—Ou você prefere chamar o juiz para cá e casar comigo? E logo em seguida ficar viúvo?

—Amara, acho que você está louca.—Falo fazendo careta e ela me olha assustada.—Ou irão falar isso, ou dirão que está sendo forçada a se casar comigo.

—Deixe a opinião dos outros de lado, Fernando. Você me ama, não ama?—Amara pergunta e eu concordo.—Então, o que está esperando?—Assim que Amara pergunta, a enfermeira chega com uma bandeja repleta de frutas e a deixa em cima da mesa, próximo á Amara.

—Vou esperar você melhorar.—Falo ajustando a cama fria de hospital de Amara.

—O que vai fazer?—Amara pergunta assustada enquanto eu pego um cacho de uvas mediano e mostro para ela.—São verdes.

—Isso não importa agora.—Falo colocando uma uva na boca dela.—Prometi aos seus pais que não iria demorar, Amara.

—Quando vai me dar o anel de noivado?—Amara pergunta mudando de assunto e eu não consigo esconder o riso.Coloco o cacho de uvas na bandeja e monstro meu anel para Amara.—Será que vai caber em meu dedo?—Ela pergunta e eu olho a fina corrente em seu pescoço.

—Se não couber, colocaremos na sua corrente.—Falo retirando o anel.—Tem certeza?—Pergunto segurando a mão dela.

—Eu não aposto para perder.—Amara fala convicta e eu sorrio enquanto coloco o anel em seu dedo anelar.—Coube...

—O anel é um pouco maior.—Falo olhando o anel.—É meu anel de formatura.

—Agora é de noivado.—Fala rindo e eu beijo o topo da sua cabeça.—Já vai?—Ela pergunta desanimada.

—Seus pais precisam te ver.—Falo.

‘’ E Leandro ama Amara.’’

‘’Está me dizendo que Amara e Leandro se relacionaram?’’

Me lembro da revelação de Estevão e da pergunta de Ana Rita. Não consigo evitar a minha curiosidade e decido questionar Amara. Preciso saber se estou sendo um intruso...

—Você ainda ama Leandro?—Pergunto de repente e ela se assusta comigo.—Eu já sei de tudo.—Falo calma enquanto Amara me observa por segundos.

—Quem te contou?—Amara pergunta e eu me aproximo mais dela.—Já passou.

—Eu acho que ainda não passou, Amara.—Falo seguro, esperando por uma resposta que me conforte.

—Eu te juro, Fernando. Não amo Leandro como antes amei.—Amara fala se sentando na cama bruscamente e eu me assusto com sua agilidade.

—Eu te amo, Amara San Román.—Falo ao sentir suas mãos em meu rosto.

—Eu também te amo, Fernando Montenegro.—Amara fala e em seguida começa a tossir novamente.

—Amara?—A chamo enquanto ela coloca a mão na boca por causa da tosse seca. Amara mostra a sua mão com sangue e me olha assustada.—Meu Deus...


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