Capítulo 081

Elfos (Parte 4)

— Não foi nada fácil encontrá-los, sabia? – disse Rantred com um sorriso no rosto. – Primeiro tivemos que chegar no local onde minha corrente do julgamento foi ativada. Depois tivemos que seguir o rastro de aura, mas como vocês a ocultaram fomos obrigados a utilizar técnicas mundanas de rastreamento.

— Você pode sentir quando seu feitiço se ativa? – indagou Kayan, sério, tentando obter a maior quantidade de informação que conseguisse.

— Como mago negro isso deve lhe interessar, não é mesmo, Atreius?  – e o sorriso tornou-se ainda maior. – Na verdade essa foi uma propriedade que eu adicionei ao feitiço. Muito útil, embora tenha sua limitação de distância.

Apesar da limitação mencionada, Kayan pode imaginar que ele poderia cobrir algo superior a uma dezena de quilômetros, caso contrário eles teriam sido encontrados muito mais rápido. Na verdade, pela velocidade que aqueles dois demonstraram, eles teriam sido alcançados muito antes se Rantred já estivesse tão próximo, então Kayan julgou que ele poderia sentir a ativação das correntes do julgamento numa distância de uns 20 ou 30 quilômetros.

— O que vocês querem aqui em nossa floresta? – Indagou Illya em um tom de voz irritado. – Aquelas duas se recusam a dizer qualquer coisa.

— Sinal de que elas são fiéis à nossa causa – respondeu-lhe Sellene. – Devemos recompensá-las pelo bom serviço prestado.

— O que eu quero é você – respondeu-lhe o Eisen enquanto apontava para a elfa. – Quer dizer, não precisava ser você, qualquer mago ancião serviria.

Naquele momento os patrulheiros surgiram sobre as árvores, assim que eles apareceram Illya atacou com um visgoon, criando dezenas de raízes contra Rantred Eisen. O mago negro conjurou um durhan crisis e as chamas negras consumiram todos os ramos, carbonizando-os instantaneamente.

Ao mesmo tempo, dezenas de flechas avançaram contra Sellene, que conjurou um aurus pinn e formou um escudo de energia em forma de cúpula. Os projéteis chocaram-se contra a barreira, causando um grande impacto devido a aura empregada nas flechas durante seu disparo. Mesmo com a energia utilizada pelos elfos, as setas se romperam sem sequer forçar a barreira da maga negra.

A represália veio em forma de uma forte ventania conjurada com um jinn que derrubou vários dos elfos que estavam do lado direito da Rovkraz. Após isso ela conjurou um durhan tangrea contra os demais. O raio negro dividiu-se para buscar cada um dos elfos e alcançou alguns deles enquanto outros conseguiram se esquivar.

Para poupar os demais patrulheiros, Illya avançou contra ela enquanto conjurava uma rajada de gelo através de um ryado. Sellene defendeu-se com um escudo de energia que suportou completamente a agressão sem afetar em nada a maga negra.

Rantred Eisen agiu em prol de sua companheira conjurando um tangrea contra a anciã, que seria obrigada a cessar seu ataque para se defender. Para evitar que isso acontecesse, Kayan e Thays uniram-se na frente da elfa e bloquearam a descarga elétrica com um aurus pinn conjurado em conjunto.

— Oh! Então vocês dois querem me enfrentar. Isso vai ser interessante.

Kayan e Thays seriam obrigados a enfrentar o mago mais perigoso de Wesmeroth, não havia alternativa.

* * *

Sellene defendia-se do feitiço de Illya com muito mais facilidade do que a elfa gostaria de admitir. Ela era forte. Se não bastasse aquela situação, ela tinha a preocupação de Kayan e Thays para comprovar como aquilo tudo era desfavorável para eles.

Enquanto a maga negra protegia-se pela frente, entretanto, estaria vulnerável pelas costas e foi por aquele ângulo que os oito patrulheiros ainda em pé tentaram atacá-la.

As flechas avançaram com grande velocidade enquanto emitiam um brilho azulado devido a aura nelas aplicada. Aquela habilidade dos elfos se comparava a dos centauros, que criavam flechas com a própria energia mágica. A diferença era que os elfos imbuíam uma flecha já existente com a sua aura e isso a capacitava para perfurar as defesas mágicas da maioria dos magos. Apesar disso, quando elas atingiram as costas da Rovkraz foram repelidas apenas pela proteção de aura que ela mantinha sobre o próprio corpo.

— Ai! Isso dói um pouco sabia? Quase como uma picada de inseto – zombou ela.

Ela, então, manteve sua defesa com apenas um braço enquanto apontava o outro para os patrulheiros. Illya sabia que eles morreriam se fossem atingidos pelo durhan tangrea então se viu obrigada a cessar seu feitiço de gelo para tentar outra coisa. Correu na direção de sua inimiga enquanto conjurava um visgoon e dezenas de raízes surgiram do solo, dirigindo-se contra a maga negra numa tentativa de empalá-la.

Sellene começou a se esquivar das ofensivas com grande velocidade, movimentando-se muito durante o processo. Lâminas de ar conjuradas por ela cortavam os ramos vez ou outra e um escudo de energia aparava as flechas que eram disparadas pelos patrulheiros.

Cansada de se defender, conjurou um clayn e fez com que a terra começasse a se abrir e avançar contra a elfa anciã. Estava claro que ela não queria matar Illya por acidente e por isso evitaria utilizar sua própria esfera.

A elfa tentou contra-atacar com o mesmo feitiço e fechar a rachadura na terra. Um embate de forças se iniciou e Illya parecia estar vencendo devido à sua familiaridade com a esfera da terra e da natureza.

Percebendo que não venceria aquele embate daquela maneira, a Rovkraz apenas desistiu enquanto se esquivava de mais uma rajada de flechas que almejavam a lateral de seu corpo.

Sua nova ofensiva foi na forma de uma lâmina de vento completamente na vertical. Illya aproveitou que estava conjurando um clayn e fez com que a terra se elevasse na forma de uma barreira para conter a agressão, mas quando a lâmina de ar atingiu a barreira a mesma se partiu em duas como se fosse feita de papel. O feitiço ainda avançou até ela e a empurrou uns três metros para trás.

Devido à colisão com a parede de terra e rocha, o ar havia perdido um pouco de sua forma e não chegou exatamente como uma lâmina, apesar disso, foi um impacto muito forte no corpo da elfa, como se ela tivesse sido atingida por um grande machado sem gume. Aquilo deixou seus hematomas mesmo com a forte aura que a protegia.

Mais uma lâmina de vento foi conjurada por Sellene. Illya não pretendia se arriscar de novo e tentou uma esquiva para a direita. Apesar disso, a velocidade do ar era tão grande que ela ainda foi atingida no antebraço esquerdo.

Sangue jorrou enquanto a elfa abafava um gemido de dor. Ela saltou alguns metros para trás enquanto conjurava um ressin apenas para parar o sangramento. Ofegava enquanto via sua mão e um pedaço de seu braço caídos no chão da floresta.

Sellene se aproximou mais rápido do que a elfa poderia imaginar que ela era capaz. Parou onde jazia a parte faltante do corpo da elfa e a pegou displicentemente.

— Ops, acho que você deixou isso cair – disse enquanto ria.

— Maldita – sussurrou a elfa entre dentes.

— Não importa o quão poderoso um mago branco seja, fazer membros inteiros se regenerarem é impossível. Um dedo, uma orelha, um nariz. Tudo isso pode ser curado, mas membros inteiros... acho que não. Entretanto, ouvi dizer que é possível religar membros perdidos com um ressinjar se o conjurador for habilidoso o suficiente. Quero ver isso de perto só porque sou curiosa.

Após dizer aquilo, Sellene jogou o braço amputado para Illya, que o agarrou ainda no ar. Ela não tinha certeza se aquilo era apenas um blefe, mas teria que aproveitar a chance que tivesse, então limpou bem o ferimento e colocou o membro no lugar enquanto conjurava sua melhor magia de cura.

— E vocês, fiquem quietinhos aí – disse a maga negra para os patrulheiros.

Illya deu um sinal para que os elfos obedecessem. Ainda levaria uns dois minutos para que ela conseguisse recolocar seu braço no lugar e aquilo consumiria uma boa parte de suas energias. Tinha que usar aquele tempo para pensar em uma maneira de escapar ou torcer para que os magos de Drugstrein vencessem seu próprio combate e viessem em seu auxilio.

* * *

Kayan pensava rapidamente em suas possibilidades. Em uma situação como aquela ele geralmente conjuraria seu giudecca e avançaria contra seu oponente para um combate corpo a corpo. Daquela vez, porém, manter a distância seria a escolha mais sensata, pois enfrentavam outro mago negro.

Aquilo tornou-se ainda mais verdade quando o próprio Rantred Eisen fez com que uma lâmina negra de aproximadamente cinquenta centímetros surgisse de seu antebraço esquerdo. O rapaz percebeu quando Thays sobressaltou-se ao seu lado. Ela estava tão nervosa quanto ele, uma vez que suas chances de vencer eram muito diminutas. Por sua cabeça tudo o que se passava era sobreviver por tempo suficiente para que Illya vencesse sua adversária e se unisse a eles.

Apesar da postura agressiva, o Eisen não iniciou o combate, mantendo-se em pé com um meio sorriso no rosto. Parecia desafiá-los.

Kayan afastou-se um pouco de Thays e conjurou um durhan tangrea contra seu oponente, que defendeu-se com um aurus pinn. Aquilo era esperado e o mago negro mais jovem manteve seu feitiço enquanto a Cyren se preparava.

Thays conjurou seu crisis sapris e dezenas de esferas de fogo surgiram às suas costas. Após isso, reuniu uma grande quantidade de aura em suas mãos e um poderoso turbilhão de chamas avançou contra Rantred. Assim que o fogo o alcançou houve uma grande explosão que devastou o solo e derrubou árvores. Os elfos podiam não gostar de ver sua floresta danificada, mas a moça não se importava nem um pouco com aquilo naquele momento.

Quando as chamas se apagaram, Rantred Eisen mantinha-se em pé no mesmo local. Ele estava totalmente ileso, tal como uma faixa da vegetação às suas costas. Sua mão esquerda ainda estava estendida e o aurus pinn ainda ativo.

Na verdade aquilo já era esperado, mas não passava de um ardil para que Kayan desse a volta e ataca-se o pelo lado oposto ao que Thays havia feito. As chamas negras avançaram contra o mago negro, que virou-se com seu escudo de energia para amparar a ofensiva. Ele foi veloz, mas o Atreius também foi para manipular suas chamas para que elas se dividissem em duas. Assim que ele levantou seu braço direito uma parte delas subiu e a outra parte foi para a sua esquerda acompanhando o movimento de sua mão correlata.

Sua intenção era que uma delas atingisse-o por cima e a outra parte do feitiço o atingisse pelos lados. Ao perceber a intenção de seu oponente, Rantred ampliou seu escudo de energia para que ele formasse uma cúpula. Aquilo livrou-o da agressão das duas direções em uma única vez. Kayan, então, começou a forçar seu feitiço na tentativa de penetrar as defesas do adversário.

Para Thays estava bem claro que o namorado não conseguiria superar as defesas do Eisen facilmente. Ela, então, uniu-se à ele e fez com que poderosas chamas avançassem contra o inimigo do casal em linha reta. Elas atingiram a barreira com grande força, mas daquela vez sua intenção não era causar uma explosão e sim forçar a passagem junto com o feitiço de Kayan.

Individualmente eles não podiam competir em poder contra Rantred Eisen. Combinando suas forças, porém, eles perceberam que poderiam romper as defesas do adversário se continuassem forçando daquela maneira. Colocaram ainda mais aura em seus feitiços. Aquilo os deixaria bem cansados, mas se conseguissem ferir seu inimigo valeria a pena, uma vez que teriam uma grande vantagem.

De repente as chamas negras voaram para cima como se fosse um mini vulcão em erupção. Aquilo fora causado por uma rajada de ar conjurada por Rantred, que saltou pelo vão deixado pelo seu feitiço jinn.

As chamas negras se espalharam por todos os lados e Kayan encerrou seu feitiço assim que percebeu que seu alvo havia escapado ileso. As chamas de Thays, livres de seu impedimento, avançaram contra ele em grande velocidade, mas ela possuía perfeito controle sobre seu feitiço crisis e fez com que elas fizessem uma curva rápida e se voltassem novamente contra o Eisen, que havia se estabilizado sobre um galho de uma árvore a uns três metros de altura.

Rantred movimentou sua mão esquerda de maneira a transcrever um meio circulo à sua frente. Durante este movimento ele conjurou um warhi que criou uma grande onda d’água para contra-atacar as chamas.

Muito vapor preencheu o ambiente quando os dois feitiços se encontraram. Thays viu-se obrigada a encerrar sua ofensiva uma vez que não conseguiria superar o de seu oponente e o vapor poderia começar a se tornar perigoso.

— Vocês estão indo muito bem – disse o mago negro. – Devo confessar que não esperava um poder desses nem uma coordenação tão boa vindo de vocês. Até parece que são um casal. Agora se preparem, pois é a minha vez de atacar.

Apesar de Kayan e Thays estarem mantendo a luta contra Rantred, suas esperanças estavam cada vez menores devido ao fato deles poderem sentir a aura de Illya diminuir drasticamente. Eles não podiam vê-la lutando devido às árvores, mas podiam imaginar que ela estava tendo dificuldades em enfrentar Sellene.

* * *

A Rovkraz apenas aguardava enquanto a elfa utilizava um resinjar para reatar seu braço. Nesse meio tempo, dispensava-lhe um sorriso debochado que deixava sua oponente ainda mais irritada.

— Estive pensando. Talvez fosse melhor se você tivesse deixado seu braço de lado e se focasse na luta. Um braço não faz assim tanta diferença para um mago e você deve ter utilizado mais de um terço de sua aura nesse feitiço aí.

Illya não sabia se Sellene falava aquilo apenas para provocá-la ou se tinha algum problema na cabeça. A maga negra sequer parecia estar levando aquilo a sério. Quase como se fosse um treinamento e não um combate com vidas em jogo.

Decidiu ignorar o que ela dizia e concentrar-se no que tinha planejado fazer. Seu braço já estava reatado. Ossos, nervos, veias e músculos praticamente curados. Ainda havia um corte circular nos tecidos mais externos, mas ela ignorou aquilo em prol de um ataque surpresa.

Rapidamente converteu a aura reunida do resinjar para um ryado e apontou ambos os braços na direção de Sellene. O corte em formato circular em seu braço vertia sangue que pingava no chão da floresta, mas ela ignorou a dor enquanto uma massiva quantidade de gelo avançava contra a Rovkraz, que reagiu muito rápido apesar da expressão de surpresa e conjurou um aurus pinn para evitar ser congelada pelo feitiço da elfa.

— Agora, todos vocês fujam e avisem Elfelian!

Illya gritou a ordem para seus patrulheiros e patrulheiras. Ela pretendia manter a inimiga ocupada até que eles fugissem. Era possível que tanto ela quanto os magos humanos morressem ali, mas seu povo precisava saber o tamanho do poder daqueles que invadiam suas florestas.

Os elfos não hesitaram um segundo sequer. Alguns deles gostavam de Illya como uma amiga, mas o senso de dever para com a raça era muito maior do que sentimentos pessoais e eles obedeciam as ordens de sua superior cegamente. Apesar disso, assim que eles deixaram suas posições numa tentativa de fuga, uma grande explosão arrasou as árvores onde estavam, destruindo completamente o corpos de alguns enquanto lançava outros para longe dali. Nenhum deles escapou.

— Maldita!

A anciã gritou enquanto intensificava ainda mais a aura que enviava com seu ryado. Para conjurar aquele crisis katris, Sellene foi obrigada a manter seu escudo de energia apenas com um braço enquanto utilizava o outro na conjuração do feitiço. O preço disso foi ter alguns sinais de congelamento em seu braço esquerdo.

— Acho que eu estava errada. Dois braços são importantes para um mago.

Ao dizer aquilo, Sellene uniu seu outro braço ao escudo de energia. Enquanto continha toda a energia do feitiço de sua adversária, fazia com que sua aura começasse a descongelar o braço que havia sofrido um pouco com o ryado.

Illya ainda tentou forçar aquele embate por mais algum tempo. Sua adversária era forte, mas ela havia percebido que ela não poderia sair daquela situação sem correr algum risco.

Apesar de todo o esforço, a anciã logo percebeu que sua aura estava diminuindo ainda mais e não havia qualquer sinal de que sua oponente iria ceder ou sequer estivesse sendo muito afetada pela baixa temperatura.

Decidiu encerrar seu feitiço antes que ficasse sem forças para continuar aquele embate. No momento em que viu aquela oportunidade, Sellene conjurou um poderoso jinn que arremessou a elfa para trás com grande força, fazendo com que ela se chocasse contra uma árvore, quebrando-a no processo.

Ofegante, Illya tentou levantar-se, mas foi surpreendida pela Rovkraz, que já estava puxando-a pelas vestes de seda. A maga negra encarou-a enquanto a puxava pela gola de sua túnica.

— Acho que você não tem mais chances de vencer, não é mesmo?

Apesar das palavras de Sellene, Illya ainda tentou conjurar um visgoon para criar dezenas de raízes vindas do solo para empalar sua adversária pelas costas.

A Rovkraz, por sua vez, apontou uma de suas mãos para trás e conjurou suas chamas negras para destruir todos os ramos que tentavam lhe agredir. Após isso, jogou a elfa para o lado e conjurou outro jinn contra ela. Mais um forte choque contra outra árvore e, daquela vez, Illya caiu inconsciente.

* * *

Ainda sobre o galho da árvore, Rantred apontou sua mão na direção de Kayan e conjurou uma poderosa descarga elétrica. O mago negro, por sua vez, defendeu-se com um escudo de energia que suportou a agressão por muito pouco.

Thays observava-o apreensiva enquanto preparava-se para atacar. Estava certa de que se fizesse isso poderia aliviar a pressão sobre seu namorado. Surpreendeu-se quando virou seu olhar na direção do inimigo e percebeu que ele havia utilizado a mão livre para conjurar um jinn no formato de lâmina de vento ao mesmo tempo em que mantinha o tangrea ativo.

A lâmina de ar tinha quase três metros de altura e vinha na vertical em grande velocidade. Ela percebeu tarde demais aquela aproximação e certamente não teria tempo de se defender ou se esquivar. Seu feitiço crisis sapris foi o que a salvou, uma vez que as esferas de fogo avançaram contra o feitiço adversário sem o comando da Cyren.

Uma dezena de explosões foram necessárias para que o ar se desestabilizasse o suficiente ao ponto da lâmina tornar-se inofensiva e ser defendida pela aura da maga de fogo. Apesar do susto, Thays tratou de conjurar novas esferas para totalizar as trinta que ela era capaz de manter naquele momento.

— Um feitiço muito interessante este que você criou, Cyren – disse o Eisen enquanto liberava Kayan de sua opressão. – Você também tem algo para me mostrar, Atreius?

O tom debochado com que o Eisen falava irritava Kayan, mas ele manteve-se calmo mesmo após ver o perigo que Thays havia corrido há pouco. Ao invés de responder, ele conjurou um durhan tangrea contra seu oponente, que defendeu o raio de energia negra com certa facilidade. O feitiço impactou de maneira estrondosa contra o escudo de energia de Rantred e espalhou-se para os lados, danificando a árvore sobre a qual o mago negro se encontrava.

— É, parece que não.

Após aquelas palavras, o Eisen expandiu seu escudo de energia para afastar o feitiço de Kayan. Assim que o fez, saltou do galho em que estava e avançou em direção à Thays. A Cyren observou enquanto todas as suas esferas do crisis sapris avançaram contra seu oponente. Ela sabia que se todas elas atingissem seu adversário ao mesmo tempo, nem mesmo sua poderosa aura seria capaz de protegê-lo.

Rantred Eisen, porém, já imaginava como o feitiço de sua oponente funcionava e, assim que viu as esferas vindo em sua direção, encerrou a ofensiva e afastou-se um pouco para defender-se com uma aurus pinn. A barreira criada por ele foi em formato de cúpula e conseguiu suportar toda a força das explosões de fogo.

Thays não perdeu tempo e começou a conjurar o crisis sapris novamente. Aquele feitiço podia ser usado tanto de maneira ofensiva quanto defensiva e, naquela situação, era sua principal defesa. Apesar disso, ela havia criado apenas oito esferas quando o Eisen avançou novamente contra ela. As esferas de fogo se lançaram contra o mago negro, que continuou avançando como se nada tivesse acontecido.

As pequenas explosões atingiram seu corpo com força, mas sua aura protegeu-o da maior parte do dano, deixando apenas alguns incômodos hematomas, devido aos impactos, sob suas roupas. A lâmina negra desceu em forma de arco diagonal contra a maga do fogo, que esquivou-se rapidamente enquanto se abaixava.

O próximo ataque veio na forma de uma estocada, mas esta foi interceptada por Kayan. Fagulhas enegrecidas saltaram ao ar quando as duas lâminas negras chocaram-se uma contra a outra.

Quando viu que sua amada seria o alvo do giudecca de Eisen, Kayan não havia pensado duas vezes antes de conjurar o seu próprio feitiço para formar sua lâmina negra. Ele havia abandonado toda a sua prudência anterior e avançou em direção à Thays ao mesmo tempo em que seu inimigo o fazia.

A partir daquele momento, o combate com magia passou a ser algo semelhante ao duelo entre dois espadachins. Kayan passou apara a ofensiva assim que percebeu a oportunidade. Sua expressão séria contrastava com o sorriso debochado que o Eisen exibia em seu rosto.

O Atreius conseguiu atacar algumas vezes, mas suas ofensivas sempre eram amparadas pela lâmina de seu oponente ou esquivadas com certa facilidade.

A Cyren apenas podia assistir. Se tentasse lançar um feitiço poderia atingir Kayan. Cogitou a hipótese de conjurar seu crisis sapris, mas aquele feitiço provou-se quase inútil contra o Eisen e seria apenas aura jogada fora.

Rantred mudou sua postura assim que viu uma oportunidade. Após defender-se de um golpe na vertical, deslizou seu giudecca pela lâmina de seu oponente e tentou uma estocada. Kayan conseguiu esquivar-se, mas passou de agressor para a defensiva.

Vários golpes foram desferidos pelo mago mais velho e o jovem mago negro sentia cada vez mais dificuldade em manter aquele duelo. Percebeu que os impactos da lâmina de seu adversário estavam enfraquecendo seu feitiço, mas não pode fazer nada para evitar que seu giudecca fosse estilhaçado em centenas de partículas enegrecidas quando o Eisen aplicou-lhe um golpe mais forte.

Kayan recuou instintivamente quando percebeu que sua lâmina negra havia sido destruída pela de Rantred. Pensou na possibilidade de conjurar um novo giudecca, mas a oportunidade nunca apareceu porque o Eisen já havia apontado a palma de sua mão para sua direção e conjurado um crisi katris.

Uma grande explosão de fogo atingiu o Atreius de maneira certeira. Ele não teve tempo de conjurar qualquer defesa e apenas pôde contar com sua aura para se proteger. A força do impacto foi tão grande que ele foi arremessado uns quinze metros para trás, derrubando árvores e danificando o solo no processo.

Apesar de estar preocupada com o namorado, tudo o que Thays podia fazer naquele momento era aproveitar aquela oportunidade para atacar seu oponente. E ela o fez da mesma maneira que o Eisen havia feito com Kayan.

Uma grande explosão de fogo atingiu Rantred quando a Cyren uniu ambas as mãos na frente do corpo e conjurou um crisis katris. Eles ainda estava perto um do outro devido a última investida do mago negro e isso garantiu-lhe um feitiço certeiro e com a maior força que a moça conseguiu reunir.

Thays sentiu algum alivio quando percebeu que Kayan ainda estava consciente e levantava-se após o último feitiço que recebera. Apesar disso, era impossível saber ao certo como ele estava, principalmente porque ela mantinha-se atenta ao inimigo à sua frente.

Repentinamente, uma grande lâmina de vendo avançou em sua direção. Daquela vez ela estava preparada para aquilo e utilizou sua aura para impulsioná-la para o lado em um salto. Apoiou uma das mãos no solo e girou o corpo em meio a uma acrobacia para escapar da agressão e ficar em pé rapidamente.

A seguir, intensas chamas avançaram contra ela, que bem sabia que aquele era um crisis katris e saltou para trás enquanto conjurava um aurus pinn.

Thays evitou o pior da explosão, mas foi atingida da mesma maneira e lançada para trás, onde caiu no chão com um baque abafado.

Tossindo ela se levantou lentamente enquanto via o Eisen caminhando tranquilamente em sua direção. O crisis katris que ela havia conjurado anteriormente parecia não ter feito praticamente nenhum mal ao mago negro.

Nesse meio tempo, Kayan esforçava-se para voltar ao combate. Ele sabia que não havia fraturado nenhum osso e mesmo as queimaduras eram superficiais devido a aura que o protegia. O impacto da explosão, porém, havia o atordoado o suficiente para que ele mal conseguisse se levantar e se manter em pé. Voltar para o combate parecia praticamente impossível a não ser que ele se recuperasse por alguns segundos.

Ele viu o Eisen caminhando em direção à Thays de maneira lenta e cadenciada. De repente ele avançou em uma velocidade muito maior do que ele ou mesmo a Cyren conseguiam alcançar. Apesar disso, a maga da esfera do fogo conseguiu saltar para o lado com velocidade suficiente para escapar da estocada feita com o giudecca.

Apesar da esquiva perfeita, Rantred esticou sua mão esquerda e agarrou-lhe a cabeça. Ele tinha quase um metro e noventa centímetros de altura e foi muito fácil para levantar a moça de apenas um e sessenta puxando-a pelos cabelos.

Kayan pode ouvi-la abafar um gemido de dor enquanto concentrava a aura em suas mãos. Ele sabia que ela pretendia fazer o mesmo que havia feito quando confrontou o sumo sacerdote dos sraths chamado Kil-el-mih há mais de um ano.

O Atreius forçou seu corpo para colocar-se em movimento e ajudá-la. Antes que ele pudesse avançar muito ou que a moça de cabelos azulados pudesse terminar sua conjuração, porém, o Eisen golpeou-a com o punho que continha a lâmina do giudecca.

Ele havia atingido-a na barriga e Kayan viu quando as costas de sua amada se curvaram para trás ao receber o golpe, uma vez que, devido ao ângulo que ele a mantinha, era tudo o que ele podia ver dela.

Naquele instante os braços de Thays perderam as forças e penderam de maneira inerte ao lado de seu corpo, sua aura se esvaindo antes de completar o feitiço. Um sorriso sádico curvava os lábios do Eisen enquanto Kayan paralisava seus movimentos perante a cena que era obrigado a presenciar.