A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 70
Sraths - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Os magos de Drugstrein encontram um breve momento de paz em Girval. Apesar disso, muitas coisas podem acontecer entre eles nesse meio tempo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/589040/chapter/70

Capítulo 069

Sraths (Parte 3)

Atrás do salão do trono do castelo de Girval havia uma sala utilizada para as reuniões privadas do rei. Era naquele ambiente ricamente decorado com tapeçarias, castiçais, ornamentos e quadros que os três mestres se encontravam com o rei daquele reino logo após o almoço.

— Já ordenei aos meus servos para preparar acomodações individuais para cada um de vocês. Espero que aproveitem a hospitalidade de meu castelo.

O rei era bem jovem, menos de trinta anos, mas uma vida de confortos, banquetes e luxurias havia cobrado seu preço e, apesar de alto, ele estava bem acima do peso ideal.

— Vocês me disseram que retomaram o castelo de Linoa, posso dispensar o duque e sua comitiva de volta para lá?

— Isso não é muito aconselhado. Todos os magos vieram conosco, então o castelo está vulnerável. Se os sraths resolverem atacá-lo novamente vocês não terão nenhuma defesa.

O rei não demonstrou uma expressão muito boa ao ouvir a explicação de Thays, apesar disso, acatou a sugestão.

— Tudo bem, deixarei os nobres permanecerem em meu castelo e seus soldados acampados próximo às nossas muralhas por enquanto. E quando pretendem retomar o castelo de Lirbet, amanhã?

— Na verdade não pretendemos atacá-los.

Após ouvir a afirmação de Gorgar o rei ficou vermelho de raiva e quase gritou sua resposta.

— Como não pretendem atacá-los? Eu contratei a Ordem de Drugstrein para que vocês se livrem dos meus inimigos e não para que fiquem aqui escondidos em meu castelo como covardes.

Kayan absteve-se de qualquer comentário, apenas observou a reação de Gorgar ao ouvir o rei gritando com ele.

— Acreditamos que a intenção dos sraths seja apenas de matar nossos magos e não tomar castelos. Quando souberem que estamos aqui é possível que venham nos atacar. Uma batalha em campo aberto e sabendo a quantidade de inimigos será muito mais vantajosa para nós.

— Enquanto isso meus castelos ficam em posse do inimigo, assim como nossos campos e minas. Nossa economia está sendo arruinada. Nosso povo passará fome.

— Vocês têm comida o suficiente para pelo menos mais seis luas e tempo o suficiente para novos plantios antes do próximo inverno. Não iremos arriscar a vida de nossos magos por causa de um monte de ferro e cobre. Se não estiver satisfeito, podemos devolver seu ouro e voltar para Drugstrein. Terá que contratar outra ordem ou guilda e ficará desprotegido neste tempo.

Aquelas palavras assustaram o rei. Não seria bom não ter seus castelos de volta, mas ficar desprotegido seria ainda pior.

— Pois bem, façam como acharem melhor. Só espero que isso não custe mais vidas de meu povo.

Após aquelas palavras o rei retirou-se, deixando os magos sozinhos na sala.

— Você está bem mudado, Gorgar, manteve a calma mesmo com aquele rei gritando com você. Acho que a Nathie está te fazendo bem – comentou Kayan.

— Isso é verdade, mas eu não era assim tão mal humorado antes, era?

— Percebi que alguns magos tinham medo de você durante as batalhas contra os povos bárbaros. Agora você está bem mais sociável.

A expressão que Gorgar fez ao ouvir aqueles comentários fez com que a Thays risse.

— Não te conhecia antes, Gorgar, mas que a Nathie está feliz com você, isso ela está.

— Falando nisso, acho que irei encontrar-me com ela agora.

— Não vai não – disse Thays. – Combinamos de ir até o vilarejo que fica dentro das fortificações do castelo para ver o que o comercio tem a nos oferecer.

Após aquelas palavras a Cyren retirou-se da sala, deixando os dois magos negros sozinhos.

— Parece que você ficará sem sua namorada esta tarde.

— Acho que sim. Quer aproveitar para treinar um pouco da esfera da destruição?

— Por mim tudo bem. Vamos ver se o mestre Arthuro tem nos ensinado as mesmas coisas.

* * *

Mathen, Karzus e Lair reuniam-se na base de uma das torres da muralha do castelo de Girval onde jogavam um jogo de cartas contra três dos soldados que se encontravam em seu horário de folga após a patrulha.

— Não é possível, nós perdemos pela quarta vez pra esses garotos que acabaram de aprender o jogo – reclamou o mais jovem dos guardas.

— Como vocês acham que um mago aprende magia? Acham que é só bater palmas e as coisas pegam fogo? Nós estudamos muito e não é só magia. Uma de nossas disciplinas é estratégia, então podemos dominar muitos tipos de jogos facilmente.

O mais velho dos guardas riu enquanto Karzus explicava o que estava acontecendo.

— Os garotos são inteligentes. Não burros igual a velhos soldados como nós – disse ele.

— Mas tem uma coisa que nós sabemos mais que eles, tenho certeza – brincou o terceiro.

— E o que é? – perguntou Lair inocentemente.

— Agradar uma mulher na cama – respondeu-lhe o soldado, rindo.

Os dois rapazes ficaram levemente encabulados com a resposta que homem lhes deu.

— Fale por esses dois menininhos. Eu já sou bem experiente neste assunto – afirmou Mathen, entrando na brincadeira.

— Será mesmo? – indagou o soldado.

Naquele momento uma garota alta, magra e de cabelos longos e castanhos entrou no recinto, mesmo que apenas uma parte dela houvesse passado timidamente pela porta.

— Mathen, será que podemos conversar?

— Claro, Ellien, pode falar.

— É um assunto particular.

— Tudo bem então.

Mathen levantou-se e deixou as cartas sobre a mesa para acompanhá-la. Antes de deixar a base da torre, porém, virou-se para o guarda.

— Sobre aquele assunto. Tirem suas próprias conclusões.

Mathen e Ellien caminhavam sobre a muralha enquanto conversavam. O sol já começava a alcançar o horizonte, indicando o final da tarde.

— Sobre o que você gostaria de falar?

— Você deve ter ficado sabendo que eu e o Fedrick terminamos nosso relacionamento há pouco mais de uma lua.

— Sim, eu soube. Ele e eu conversamos um pouco após isso. Nossa amizade já não mais a mesma que foi um dia, mas nos falamos de vez em quando.

— Acho que ele nem ficou triste quando terminamos.

O Muscort pensou bem no que deveria dizer, mas decidiu evitar rodeios e falar-lhe a verdade.

— Na verdade não. Acho que ele não te amava de verdade, Ellien. Sinto muito.

— Eu sei disso. Acho que ele só ficou comigo pra sentir que estava ganhando de você de alguma maneira, já que você é um mago melhor que ele.

Ele nunca havia pensando naquela possibilidade, mas Ellien lhe dizendo aquilo o fazia pensar que era verdade, já que os dois sempre tiveram certa rivalidade.

— Se for verdade, foi muita infantilidade dele.

— Não importa, depois de um tempo eu percebi que também não gostava dele tanto assim.

Os dois magos caminharam em silêncio por mais de um minuto até que Ellien parou de andar subitamente. Quando Mathen fez o mesmo e virou-se para ela soube sobre o que ela realmente queria conversar.

— Mathen... eu quero que nós dois tenhamos uma nova chance.

— Sinto muito Ellien, mas não daria certo.

— Por quê? Só porque eu ainda sou virgem e você andou se envolvendo com um monte de magas e até mesmo servas da ordem? O primeiro problema você pode resolver facilmente e o segundo também. Seu irmão era igualzinho você e agora ele só se encontra com a Anita.

— Espere um pouco. Você ainda é virgem. Coitado do Fedrick, ficou só passando vontade esse tempo todo.

Aquele comentário rendeu à Mathen um beliscão no braço enquanto Ellien ficava com o rosto todo vermelho de vergonha.

— Você tem razão, Ellien, nenhum deles é o problema. Mas eu descobri que eu não te amava de verdade e você também não me amava de verdade. Sentíamos certa atração e carinho um pelo outro e era só isso.

— Mas nossos sentimentos podem mudar. Eu preciso de você, Mathen. Tenho estado tão sozinha.

O Muscort certamente não queria estar tendo aquela conversa. Apesar de não amar Ellien do jeito que ela desejaria, ele sentia um grande carinho por ela e não queria magoá-la.

— Não é de mim que você precisa. Você só quer companhia. Alias, você não deveria estar se sentindo sozinha, você tem um monte de amigos e alguns deles estão conosco neste castelo.

— Mathen eu...

— Desculpe-me Ellien. Eu não quero te magoar e sei que se nós ficarmos juntos novamente é exatamente isso que vai acontecer.

Mathen sabia que a garota tentaria argumentar e ele não queria mais aquela conversa por isso saltou de cima da muralha e deixou-a sozinha torcendo para que ela superasse rapidamente aquela conversa.

* * *

Nathie e Thays caminhavam alegremente pelo calçamento de pedras que conduzia ao castelo. Presas por uma alça de cordas trançadas, pesadas bolsas de couro pendiam na lateral de seus corpos, indicando que muitas moedas de prata foram deixadas no vilarejo do castelo.

Assim que se aproximaram da entrada principal da edificação perceberam que Kayan e Gorgar faziam algo que se parecia com um treinamento. Os mestres encaravam-se seriamente a uma distância de dois metros um do outro. Permeando o ambiente ao redor dos dois havia uma infinidade de pequenas esferas de fogo negro flutuando. Assim como seus conjuradores, cada uma delas parecia encarar uma a outra, uma vez que elas eram criadas uma ao lado da outra.

A concentração era visível em seus rostos e o esforço no suor que descia de suas testas e umedecia suas túnicas.

— Mais uma – disse o mestre mais velho enquanto sorria de maneira desafiadora.

Ao mesmo tempo em que falava, Gorgar fazia com que outra pequena esfera surgisse em um espaço vazio.

Kayan concentrou-se e se esforçou muito para que uma pequena chama surgisse próximo de onde o outro mestre havia conjurado a sua. Antes de ela tomar a forma esférica, porém, desfez-se no ar, desaparecendo lentamente. As outras começaram a seguir o mesmo exemplo quando Kayan não conseguiu mais mantê-las.

— Muito bem – disse ofegante – você venceu.

Em um último esforço, Gorgar fez com que mais uma esfera surgisse, e mais uma, e mais uma, até que todas começassem a sumir conforme ele esgotou sua capacidade de sustentá-las.

— Legal! – exclamou Thays. – Algum dia eu quero treinar isso com vocês, mas usarei as chamas normais.

— Ah, olá garotas – cumprimentou-as Kayan, ainda recuperando o fôlego. – Divertiram-se na cidade pelo visto.

— Sim, até nos cansamos de andar – respondeu-lhe Nathie.

— E compramos bastante coisa também. Alias, encontrei um vinho diferente aqui nesta cidade e acabei comprando. Se você quiser, Kayan, venha para os meus aposentos após o jantar que podemos dividi-lo enquanto conversamos como costumávamos fazer antigamente.

Gorgar e Nathie permaneceram em silêncio enquanto seus olhares iam de Kayan para Thays e de Thays de volta para Kayan.

O Atreius tentou interpretar exatamente o que aquele convite poderia significar, receoso de aceitar. Por fim, concluiu que era apenas um convite de uma amiga para dividir um bom vinho, uma vez que ele já havia deixado seus sentimentos bem claros para Thays no passado.

— Claro, podemos discutir novas descobertas que fizemos ou como tem sido nossas missões como costumávamos fazer. Se esse vinho for mesmo bom, comprarei uma barrica para levar para Drugstrein.

— Também comprei uma ânfora do mesmo vinho, Gorgar, então venha para meus aposentos mais a noite que lhe prepararei uma bebida especial.

Antes de sair, Nathie piscou para o namorado enquanto sorria de uma maneira nem um pouco casta. Thays acompanhou-a para dentro do castelo.

— Esta havendo algo entre você e a Thays? – indagou Gorgar assim que as garotas deixaram o ambiente.

— Já tivemos uma relação no passado, mas, como lhe disse, no passado. Atualmente Thays é uma grande amiga.

— Parece que não é só isso que ela quer com você. Talvez só esteja esperando o tempo passar, já que você perdeu sua companheira há pouco tempo.

Kayan ficou em silêncio por alguns segundos enquanto refletia sobre o que o Magnum havia lhe dito.

— Eu já deixei bem claro para ela que não teremos nada mais do que amizade.

— Sei que não conheço vocês dois muito bem, mas se me permite um conselho, afaste-a de você. Pelo próprio bem dela. Sei bem o que é ter os sentimentos não correspondidos e agora entendo o porquê da Aghata ter me repelido por tanto tempo.

Aquelas palavras fizeram com que Kayan pensasse sobre o que estava fazendo. Ele estava sendo um pouco egoísta com Thays. A queria por perto, pois ela sempre o apoiava quando ele precisava, mas seria muito injusto para com a garota se aquilo lhe desse esperanças que não seriam correspondidas.

— Pode ser que você tenha razão. Depois dessa noite tentarei me afastar um pouco dela. Acho que essa pode ser mesmo a decisão certa.

* * *

Após treinar com Gorgar, Kayan tomou um banho em seus aposentos utilizando um warhi para encher a banheira e um crisis para aquecer a água. Uma breve refeição foi servida, mas a maioria dos magos decidiu não compartilhá-la com o restante da corte.

O jovem mago negro achou aquela uma decisão muito boa, pois os nobres encheram-no de perguntas que ele não queria responder. Retirou-se da mesa rapidamente, mesmo sabendo que aquilo era uma grande falta de cortesia de sua parte.

Subiu as escadas até chegar aos aposentos que foram concedidos para Thays e bateu na porta para que a garota o atendesse.

— Boa noite, Kayan. Entre e fique a vontade.

A garota estava com os cabelos soltos e descalça. Sobre seu corpo havia apenas um simples vestido de linho que acentuavam bem suas curvas, mesmo não sendo vulgar. A parte da frente era presa por cordões de algodão entrelaçados e deixavam que um pequeno decote revelasse a parte superior dos seios da garota.

Kayan tirou o sobretudo e descalçou suas botas enquanto ficava imaginando se não fora um erro ter aceitado aquele convite. Se ela tentasse se declarar para ele novamente, teria que recusá-la e a última coisa que o Atreius queria era magoá-la.

— Os seus aposentos são bem mais luxuosos que os meus – observou ele.

— Só perdem para os do rei, segundo uma camareira. Acho que é porque sou uma garota. Ele até me enviou um convite para jantar com ele essa noite. Eu recusei, é claro.

Enquanto conversavam, caminharam até uma mesa baixa onde a garota já havia deixado a ânfora de vinho e as taças de prata. Não havia cadeiras e eles apreciariam a bebida sentados sobre macias almofadas dispostas no chão.

— Você e o Gorgar parecem estar se tornando amigos – comentou ela enquanto servia o vinho.

— Acho que ele me vê meio que como seu igual. Não temos muitos magos negros em Drugstrein.

— Tem razão. Cinco com você incluso. E o mestre Jean Bearn e sua mãe não são muito poderosos.

— Ele é uma boa pessoa, mas um pouco solitário. Fico feliz que tenha encontrado a Nathie.

— Ele está fazendo muito bem para ela também. Os dois realmente se completam.

A conversa seguiu por vários assuntos triviais enquanto o vinho era consumido. Quando a ânfora já tinha menos da metade, Thays levou suas mãos até os cordões de algodão que prendiam o decote de seu vestido e os desatou, deixando os seios quase completamente expostos.

— Hei, Thays, o que você está fazendo?

Surpreso, Kayan tentou evitar olhar para ela, mas seu corpo parecia agir por conta própria e seu olhar foi atraído para a parte exposta do corpo da garota. Sendo ele um jovem saudável, aquela visão fez com que seu corpo reagisse rapidamente em resposta.

Ela estava agindo estranho. Primeiramente Kayan cogitou ser a bebida, mas eles não haviam bebido tanto assim. Ele também se sentia estranho, mas aquilo não era embriaguês. Sentia um súbito desejo pela garota à sua frente. Estava sóbrio e sabia que aquilo era errado e que não a amava daquela maneira. Chegou à conclusão que o desejo que sentia era puramente sexual.

— Quero você para mim esta noite, Kayan. Mesmo que seja apenas por esta noite.

Inesperadamente, Thays afastou as taças e a ânfora de vinho e avançou sobre a mesa para alcançar Kayan. Aquele movimento fez com que o vestido deslizasse por seus ombros, expondo totalmente a parte superior de seu corpo. Seus cabelos de tonalidades azuladas haviam se tornado bem longos e caiam para frente, formando uma cascata. Por mais que tentasse, o Atreius não conseguia desviar seu olhar da garota que transpirava sensualidade.

Ela avançou lentamente sobre a mesa. Sem saber o que fazer, Kayan fixou seu olhar no rosto da garota. Isso não o ajudou a afastar os pensamentos que lhe invadiam a mente. Aquele sorriso, aqueles olhos. Ele sempre a achara muito bonita e agora essa sensação se intensificava.

Quando alcançou Kayan, Thays utilizou sua aura para ter força suficiente para rasgar a túnica do rapaz. O Atreius pensou em afastá-la, mas antes disso sentiu os lábios da garota tocando os seus, os seios se pressionando suavemente contra seu peito e as mãos de Thays deslizando pelo seu corpo até entrarem em seus calções para acariciá-lo.

Eles tinham que parar. A mente de Kayan dizia-lhe para não continuar com aquilo, mas seu corpo ansiava por continuar. E, naquele momento, seu corpo parecia estar no controle da situação, como se Kayan não pudesse controlá-lo. Não, não era verdade, ele podia controlá-lo, mas apenas se fosse para continuar com o que faziam.

Por fim, o desejo foi mais forte e Kayan acabou cedendo e tomando o controle da situação. Enquanto sua mão direita acariciava um dos seios de Thays, sua esquerda se livrava do vestido já meio removido da garota. Em meio a um beijo ainda mais intenso, puxou-a para si e seus corpos se encaixaram como se tivessem sido feitos um para o outro.

* * *

Kayan acordou completamente nu na confortável cama daquele quarto. Em sua mente repassava o que havia acontecido  durante o início da noite. Havia sido três ou quatro vezes? Ele não tinha certeza. Tudo ainda era muito confuso.

Levantou-se e percebeu que Thays ainda dormia profundamente. Seus seios subindo e descendo conforme ela respirava. Permaneceu alguns segundos observando-a dormir. Quando percebeu que aquilo estava causando reações indesejadas em seu corpo agitou a cabeça numa tentativa de tirar aquela bela cena de sua mente e utilizou um cobertor para esconder o corpo despido da garota.

Em seguida, vestiu apenas as calças e o sobretudo, uma vez que sua túnica havia sido irremediavelmente rasgada. Calçou as botas e saiu dali rapidamente. Não tinha certeza de como poderia encarar a Cyren novamente.

Em seus aposentos temporários, Kayan sentou-se sobre a cama e permaneceu repousando por algumas horas enquanto tentava evitar pensar no que havia acontecido. Já era de manhã quando ouviu algumas batidas em sua porta.

— Kayan, está aí? Queria conversar com você.

Aquilo era muito conveniente, pois Kayan também queria conversar com alguém e Mathen seria sua primeira escolha.

— Pode entrar. Esta destrancada.

O rapaz entrou no recinto e adiantou-se para sentar-se na cama, ao lado do amigo.

— O que é isso? Nova moda, usar apenas o sobretudo e as calças? As mestres poderiam aderir à ela também – a brincadeira de Mathen não forçou nenhum sorriso no amigo e ele percebeu que algo não estava certo. – Está tudo bem, Kayan?

— Essa noite... a Thays e eu dormimos juntos.

— Por dormir você quer dizer que... – Kayan confirmou com um aceno com a cabeça antes do final da frase. – Isso reduz o que eu iria lhe falar a algo quase sem importância. Isso quer dizer que vocês dois estão juntos novamente?

— Não. Mesmo que eu tivesse alguma intenção de tentar mais uma vez um relacionamento com ela não seria agora. Ainda sinto muito a falta da Sarah. É muito cedo para um novo relacionamento. Até me sinto um pouco culpado por ter feito isso. É como se eu estivesse traindo as memórias que tenho dela.

— Até parece que você foi forçado a fazer isso.

— Aí é que está a parte confusa da coisa toda. Eu não queria me deitar com ela por vários motivos que você já conhece, mas ela soltou a parte de cima do vestido e veio pra cima de mim e, por mais que eu quisesse afastá-la eu simplesmente não consegui. Era como se fosse algo tão tentador que eu não conseguisse resistir. Não consigo explicar melhor do que isso.

Mathen levantou-se repentinamente e virou-se para o amigo, encarando-o surpreso, como se tivesse feito uma grande descoberta.

— Vocês tomaram alguma coisa?

— Vinho, mas não o suficiente para não sabermos o que fazíamos.

— Meu amigo, acho que você foi vítima da pouco conhecida poção do amor.

— Você bateu a cabeça, Mathen? Não existe poção do amor. Nem nenhuma magia capaz de mudar os sentimentos de uma pessoa. Além disso, não é como se eu estivesse fazendo aquilo por amar a Thays. Era mais como um desejo por sexo incontrolável.

— A poção da qual estou falando não é uma poção do amor de verdade. É mais como um afrodisíaco muito forte. Ela geralmente é misturada com bebida alcoólica e causa exatamente esse efeito que você descreveu. Aposto que fizeram sexo várias vezes até ficarem exaustos – Mathen bateu com o punho na palma da própria mão enquanto concluía tudo aquilo. – Por isso você está com essa cara de cansado.

— Não acredito que a Thays me enganou dessa maneira. E eu confiava completamente nela.

— Não é bem assim não – repreendeu-o Mathen. – Você não fez nada que não queria. A poção do amor apenas te deixa muito excitado, mas não faz você querer fazer sexo com qualquer uma. Se você fez isso com ela, é porque ela te atraí de alguma maneira.

Kayan ficou pensativo por alguns segundos. O que Mathen dizia era verdade. Ele sempre achara Thays uma garota muito bonita e até mesmo já teve ocasiões em que ficou admirando o corpo da garota. Parte da culpa daquilo também poderia ser considerada dele.

— Mesmo assim, ela me enganou. Traiu minha confiança.

— Não diga besteiras. Ela ainda te ama e você sabe disso. E não é como se ela tivesse te envenenado ou coisa parecida. Aposto que você deve ter aproveitado quase tanto quanto ela.

Apesar das palavras de Mathen serem verdade, Kayan não pode deixar de ficar um pouco chateado com aquilo. Apesar disso, sentia-se um pouco melhor por saber exatamente o que havia acontecido. Decidiu esquecer o assunto por hora. O que estava feito estava feito.

— Mas, espere um pouco, como você sabe tanto sobre essa poção?

— Tem uma mestre em Drugstrein que gosta muito de garotos mais novos e ela conhece muitos truques como esse.

— Uma mestre. E devo presumir que você se encontra com ela frequentemente.

— Não mais. Ela se cansou de mim. E também me pediu para guardar segredo sobre o nome dela.

Curioso, Kayan ficou imaginando qual das mestres de Drugstrein poderia ser. Como a ordem tinha mais do que cinquenta mestres do sexo feminino seria difícil descobrir sem mais pistas.

— Deixa isso pra lá. Sobre o que você queria falar?

— Ah! Quase me esqueci. Ontem a Ellien veio falar comigo. Ela queria uma segunda chance para nós dois.

— E você deve ter dado um fora na garota.

— Sim. Não sinto mais nada especial por ela. Mas estou me sentindo meio culpado. Ela me parece tão solitária.

— Ela tem um monte de amigos.

— Sim, mas ninguém assim tão próximo. A amiga mais próxima que ela tinha era a Sarah. A Thays parece não estar se dando assim tão bem com ela ultimamente, sabe-se lá por qual motivo.

— Pare com isso, Mathen.

— Parar com o que?

— Você está com pena dela e pensando se não deveria tentar ficar com ela por causa disso. Acho que se você não sente nada especial por ela, só a faria sofrer mais.

Mathen começou a rir com o comentário de Kayan, que ficou sem entender nada até que o amigo se explicasse.

— Acho que isso era tudo o que eu precisava ouvir para tirar minhas dúvidas. Que bom que você pensa igual a mim. É uma pena que não podemos ajudá-la. Acho que a Ellien terá que procurar sua própria felicidade.

— Sim. Aposto que ela irá encontrar um novo namorado rapidinho. Apresentaremos o Karzus para ela. Agora vamos procurar algum lugar para comer que estou morrendo de fome.

Kayan vestiu uma túnica nova e desceu as escadas com Mathen, que explicou-lhe que o melhor lugar no castelo para comer era numa pequena sala ao lado das cozinhas onde os servos costumavam se alimentar. Ali eles não teriam que aturar a chata companhia dos nobres.

Os dois amigos conversaram durante o trajeto até a sala e quando entraram na mesma surpreenderam-se com a presença de Nathie e Thays, que já se serviam ali. O olhar da Cyren foi diretamente na direção de Kayan, cujo o olhar se encontrou com o dela imediatamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aposto que isso foi inesperado para todo mundo não? Thays dando uma poçãozinha pro Kayan e se aproveitando dele. Se bem que ele também aproveitou bem a situação. E como vocês acham que vai ser a interação entre esses dois a partir de agora?

Alias, cade meus comentários? Além do Ricardo que sempre está comentando, os outros vem e vão. Eu só queria saber o que vocês estão achando, se estão gostando ou não, se estão sendo surpreendidos. O que esperam da história. Não sejam tímidos e deixem suas opiniões. Podem ser bem breves, mas deixem um comentário.

Então é isso, até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Ordem de Drugstrein" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.