A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 64
A Mais Profunda Escuridão - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Importantes decisões precisam ser tomadas pela Ordem de Drugstrein. Serão seus granmestres e mestres de elite capazes de fazer a escolha certa?



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Capítulo 063

A Mais Profunda Escuridão

 (Parte 1)

A manhã após o ataque foi extremamente tumultuada. Após verificar a segurança do castelo, os mestres de elite e o granmestre Grendolow resolveram se retirar para um breve repouso, uma vez que uma reunião teria início logo à primeira luz.

Uma grande mesa em formato elíptico ficava ao centro do salão de reuniões especiais. Em seus lados menores havia quatro acentos, dois de cada lado, mas apenas um estava ocupado pelo granmestre Grendolow, uma vez que os demais estavam fora do castelo. Aquelas eram magníficas cadeiras de carvalho, que elevavam seus ocupantes um pouco acima dos demais.

As outras doze cadeiras também eram de belíssima constituição, fabricadas pelos melhores carpinteiros. De um lado encontrava-se Ashtar Asford, Ayla Gunver, Arthuro Magnum e Spaak Firyn. Do outro havia uma mulher de aparência austera com seus cabelos esbranquiçados presos em uma longa trança. Sua idade era quase tão avançada quanto a de Grendolow. Seu nome era Gallia Maxwell, a irmã do granmestre. Ao seu lado havia um homem, também de idade um tanto quanto avançada, sua cabeça era totalmente desprovida de cabelos e um bigode castanho se evidenciava em seu rosto. Este era Glarion Asford, tio de Ashtar. E o último mestre de elite ali presente era Afonso Willis, o pai de Aghata, com seus cabelos castanhos e encaracolados avolumando-se sobre sua cabeça.

— Todos nós lutamos bravamente esta noite em uma batalha inesperada e catastrófica – o granmestre iniciou a reunião. – Primeiro gostaria que a mestre Ayla nos informasse das percas que sofremos.

— Sim, granmestre. Perdemos dezoito de nossos magos e três de nossos mestres, dentre eles o mestre de elite Luen Winggly.

As perdas matérias não foram mencionadas, uma vez que foram poucas e facilmente repostas com os recursos da ordem.

— Um funeral esta sendo realizado neste momento. O corpo da maior parte dos magos será cremado esta tarde e seus ossos conduzidos até o mausoléu do castelo. Sarah Harppon e Angus Winn, entretanto, possuem uma família fora de Drugstrein e seus restos mortais serão entregues à estas famílias.

Após o pronunciamento do granmestre, Spaak tomou a palavra.

— Sarah Harppon estava em um relacionamento com Kayan Atreius. Ele foi consultado sobre o destino do corpo? – o mestre ainda não havia conversado com o amigo após aquele ocorrido.

— Temo que o rapaz não esteja em condições de opinar sobre este assunto.

A resposta do granmestre deixou Spaak preocupado. Muitas coisas haviam acontecido e nem todos estavam a par de todos os acorridos.

— O segundo assunto a ser tratado é a nomeação oficial de Spaak Firyn como mestre de elite. Como ele já integrou este grupo há dois anos, tomei a liberdade de incluí-lo nesta reunião. Alguém se opõe à esta nomeação para preencher a cadeira que infelizmente ficou livre esta noite?

Como esperado, não houve objeções. Além disso, Grendolow possuía absoluta certeza de que Aikos Fixue concordaria com a renomeação de seu antigo discípulo para a função, então, com a maioria de aprovação garantida, o granmestre decidiu pular toda a burocracia e cerimônia para que pudessem se concentrar em assuntos mais urgentes.

— Agora precisamos que todos fiquem a par do que aconteceu esta noite. A mestre de elite Gallia Maxwell providenciou-nos um relatório sobre as principais informações que dispomos sobre o ataque.

A irmã de Grendolow tomou a palavra com uma voz um tanto quanto rouca.

— Todos vocês tem uma copia do relatório e outra será enviada aos granmestres e mestres de elite ausentes juntamente com o relatório do que for decidido nesta reunião.

Alguns dos presentes começaram a verificar os documentos, mas para que aquilo não se estendesse demais a mestre decidiu verbalizar os pontos mais importantes.

— Esta noite o granmestre Mikael Kolluvan III, da Ordem de Zeneth, atacou, juntamente com três outros mestres de elite, nosso castelo de maneira furtiva. A contagem do inimigo era de estimados vinte e cinco mestres e três centenas de magos.

Fez uma pausa para tomar um gole da água que estava em uma caneca à sua frente.

— Nossas forças neste castelo eram de nosso granmestre Grendolow Maxwell e sete mestres de elite, além de exatos outros trinta e três mestres e quinhentos e vinte e oito magos. Apesar da vantagem numérica, a surpresa do ataque impediu que toda nossa força fosse colocada em campo no início do combate. Além disso, muitos desses magos eram inexperientes.

Outra breve pausa para dar um descanso a sua voz. Em seguida, ela prosseguiu com seu relato.

— No combate que se seguiu, foram mortos quatro mestres e vinte e sete dos magos do inimigo, além do granmestre Mikael, que surpreendemente foi derrotado por um simples mago embora tenha duelado contra o granmestre Grendolow Maxwell e o mestre de elite Arthuro Magnum.

— Este ataque pode significar o início de uma guerra entre nossa ordem e a Ordem de Zeneth. No cenário atual de Wesmeroth isso poderia ser catastrófico para a raça humana. Apesar disso, nossa ordem não poderá ficar quieta perante tal afronta. Precisamos de um plano de ação imediata – concluiu ela.

— Sugiro que estabeleçamos postos de vigilância avançados num raio de dez quilômetros do castelo. Desta maneira nenhum outro ataque surpresa será feito contra nós.

— A sugestão do mestre de elite Ashtar Asford é muito importante – afirmou o granmestre. – Alguém discorda ou tem outra ideia neste aspecto?

Como ninguém se manifestou, Grendolow voltou a tomar a palavra.

— Mestre de elite Glarion e Ashtar Asford, vocês ficarão incumbidos de organizar os magos e os locais para esta vigilância. O início desta operação deve ser imediato.

Naquele ponto a reunião já havia se alastrado por algum tempo a alguns dos servos do castelo serviram uma breve refeição aos presentes, com pães, queijos, carne e vinho. Após isso, a reunião foi reiniciada.

— A sugestão da vigilância foi muito importante, mas de nada nos servirá se não tivermos magos o suficiente para nos defendermos – Arthuro expôs sua opinião.

— O que o mestre Arthuro Magnum disse é importante – complementou Spaak. – Tomei a liberdade de levantar as missões que estão pendentes e sugiro que repassemos metade das de rank C e B para as outras ordens. As de rank E e D podem manter os magos menos experientes fora do castelo e evitar que eles sejam pegos em uma guerra que apenas tirará a vida de nossa futura geração. As missões de rank A geralmente garantem a segurança das nações humanas e não podem ser negligenciadas.

Com as considerações de Spaak, algumas discussões se iniciaram e, por fim, foi definido um número menor de repasse, em torno de 40%.

— Da maneira que foi sugerido, dentro de no máximo quinze dias teremos dois terços de nossos melhores magos dentro do castelo – observou Ashtar. – Existe a possibilidade de algum dos granmestres voltarem para Drugstrein?

— O granmestre Sakuro Cyren esta contendo uma invasão de sraths e o granmestre Aikos Fixue esta combatendo os povos bárbaros. O único que poderia voltar seria o granmestre Radamanthys, que esta procurando por Hantred Eisen desde que ele invadiu Kallamite para libertar o mago negro Dougan Kirrel.

— Se me permite a liberdade, granmestre, devo dizer que pelo conheço do granmestre Radamanthys ele irá voltar para o castelo assim que souber que fomos atacados.

Em resposta ao comentário de Arthuro, Afonso Willis colocou suas próprias convicções.

— Na verdade, pelo que conheço do granmestre, ele irá desejar uma represália contra a Ordem de Zeneth.

— Isso não pode acontecer – disse Grendolow, convicto. – Ainda não nos recuperamos completamente da Rebelião Negra, uma nova guerra agora poderia acabar com nossa posição na planície de Daran e abrir ainda mais espaço para os povos bárbaros.

— Sugiro uma ação diplomática. Podemos enviar uma carta à Ordem de Zeneth exigindo explicações para essas ações. Devemos lembrá-los que temos três de seus mestres e quatorze de seus magos sobre nossa custódia.

— Concordo com a mestre Gallia, mas acho que não podemos ser tão passivos. No mínimo devemos exigir que um de seus granmestres venha pessoalmente explicar seus motivos. Além disso, devemos reafirmar nossas alianças com as demais ordens e verificar de que lado eles ficarão caso uma guerra venha a acontecer.

— Isso não seria muito agressivo, mestre Glarion?

— Certamente que sim, mestre Ayla, mas necessário. Não podemos demonstrar nenhuma fraqueza neste momento, caso contrário eles pensarão que tem a vantagem e podem nos atacar novamente.

Após as considerações de Grendolow aquele assunto estava encerrado pelo momento. Algumas respostas seriam necessárias antes que novas decisões fossem tomadas.

— Agora que a pauta mais importante foi decidida, devemos discutir o que será feito do mago Kayan Atreius.

Spaak sobressaltou-se ao ouvir aquelas palavras vindas de Grendolow. Ele não havia conversado com seu amigo ainda, mas sabia que ele devia estar péssimo devido a morte de Sarah. Além disso, ele devia ser tratado como um herói naquela batalha, uma vez que havia sido ele quem derrotou o granmestre Mikael. Antes que ele tivesse a chance de expor suas opiniões, porém, Ayla o fez.

— Como sabemos o rapaz escondeu sua verdadeira esfera por todo esse tempo. Além disso, muitos presenciaram a maneira extremamente violenta com a qual assassinou o granmestre Mikael Kolluvan III. Mas o problema maior foi a maneira com o qual ele foi encontrado após abandonar a batalha. Ele estava abraçado ao corpo de Sarah Harppon e foi muito difícil convencê-lo a deixar que levássemos o corpo para junto dos demais.

— Aquilo não foi assassinato, mestre Ayla. Estávamos no meio de uma batalha. Não nego que a violência tenha sido um pouco além do necessário, mas Kayan havia acabado de ver aquele homem matar a mulher que ele amava – Arthuro defendeu o amigo e discípulo.

— Não devemos nos esquecer de que o último mago negro dos Atreius nos últimos duzentos anos foi Zeffirs. Esse rapaz é poderoso demais para um mago de dezesseis anos, se sua sanidade foi comprometida pelo trauma que sofreu esta noite poderemos ter um grande problema no futuro – expressou-se Glarion.

— Acho que devemos ouvi-lo e avaliá-lo – disse Grendolow. – Onde ele está, mestre Ayla Gunver?

— Provavelmente em seus aposentos. Quando o encontrei após a batalha coloquei um inibidor de aura em seu pescoço.

— Ele resistiu a isso? – perguntou-lhe Spaak, temendo a resposta.

— Inesperadamente, não. Apenas disse que não se importava com o inibidor. A ele também foi dado liberdade de castelo e deixei um mago para vigiar seus aposentos.

— Isso tudo é realmente necessário? – questionou Arthuro.

— Temo que sim, mestre Arthuro Magnum. Um mago negro insano pode ser muito perigoso. Mas acho que não devemos ouvi-lo agora. Reuniremos-nos novamente em quinze dias, após obtermos as respostas para nossas cartas, e o ouviremos na mesma ocasião. Acho importante que ele tenha este tempo para refletir.

Com essas definições a reunião se encerrou.

* * *

Assim que a reunião se encerrou, Spaak dirigiu-se até a torre dos mestres, mas seu objetivo não era seus aposentos e sim os de Aghata.

Ela atendeu-o assim que ele bateu na porta. A moça vestia-se com um simples vestido de linho, que deixava boa parte dos seios expostos pelo decote e suas belas pernas a mostra.

Spaak retirou suas botas e seu sobretudo vermelho com detalhes prateados e sentou-se no grande sofá que havia no cômodo. Aghata sentou-se ao seu lado e recebeu um carinhoso beijo enquanto era abraçada pelo namorado.

— Como foi a reunião?

— Muito tensa, como era de se esperar. O pior é que a maioria dos mestres acredita que Kayan possa ter se tornado perigoso.

— O fato dele ser um mago negro causa alguma desconfiança na maioria das pessoas, mas acreditar que ele possa ser perigoso é um pouco demais.

— O problema foi o relato de Ayla Gunver sobre como ela o encontrou, além do modo como ele matou o granmestre Mikael, que foi considerado um tanto quanto insano.

— Você já conversou com ele?

— Ainda não. Pretendo dar um tempo para ele ficar sozinho e ir até lá mais no final da tarde.

— Acho que o seu apoio será muito importante neste momento. De todas as mortes de hoje, para mim, a mais triste foi a de Sarah.

— Para mim também. Perdi outros amigos esta noite, mas aquela garota esteve em minha equipe por um bom tempo e podia considerá-la quase como uma irmã mais nova. Além disso, ela tinha muito potencial como maga branca. Kayan deve estar completamente arrasado.

— Estou preocupada com o que vai acontecer daqui para frente.

— Tudo vai dar certo. Nossos magos são fortes e daremos um jeito nesta situação.

As palavras de Spaak não traziam tanto conforto, mas estar ao seu lado sim e Aghata abraçou-o e assim o casal permaneceu por algumas horas enquanto conversavam numa tentativa de se esquecerem um pouco da dor da perca e dos problemas que teriam para resolver.

* * *

O local estava com as janelas de madeira fechadas e mal iluminado. No chão, algumas roupas e livros esparramados. Na cama, Kayan permanecia deitado com o rosto voltado para a parede e os olhos fechados. O rapaz havia se banhado apenas para livrar-se do sangue da batalha, mas vestia-se apenas com seus calções e a coleira inibidora de aura.

— Kayan, eu lhe trouxe alguma comida, já que você não quer sair deste quarto.

Mathen havia acabado de entrar no recinto. Trazia consigo uma bandeja de prata com pães, queijo, carne e vinho. Deixou-a sobre uma pequena mesa ao lado da cama.

— Não estou com fome – murmurou o amigo.

— Você não pode se deixar abater, senão estará com uma aparência horrível quando forem te ouvir e vão te julgar louco.

— Eu não me importo.

O Muscort soltou um suspiro de resignação e sentou-se ao seu lado.

— Sei que está deprimido, Kayan. Também estou muito triste com a morte dela. Ela era uma de minhas amigas mais queridas.

— Ela não era só uma amiga para mim. Não tente comparar a sua perda com a minha.

Apesar de uma entonação calma, certa raiva era transmitida pela voz de Kayan.

— Eu não quero comparar, Kayan. Só acho que ela não iria querer que você agisse dessa forma.

— E o que você quer que eu faça? Comece a agir como se ela nunca tivesse existido e siga com a minha vida normalmente?

Novamente uma pontada de raiva podia ser percebida na voz de Kayan e Mathen não sabia exatamente como responder àquela pergunta. Ele estava muito triste com a morte de Sarah, mas o que mais lhe afligia era ver o amigo se autodestruindo daquela maneira sem que ele pudesse fazer nada para animá-lo.

Ele fora um dos primeiros a saber da morte de Sarah. Assim que a batalha terminou, ele soube que Kayan havia derrotado Mikael e o procurou apenas para encontrá-lo abraçado ao corpo de Sarah. Fora ele quem convencera o amigo de deixá-la ser levada pelos servos que estavam tratando dos corpos dos magos que pereceram na batalha. Mathen também o havia convencido a tomar um banho, mas a partir dali Kayan havia se enfiado naquele quarto e se recusava a se levantar da cama.

— Posso entrar?

Perguntou Spaak ao empurrar a porta que o Muscort havia deixado entreaberta.

— Ah, Spaak, que bom que você veio. Vou deixar você conversar um pouco com Kayan. Tente convencê-lo a se alimentar.

Mathen optou por deixar o quarto na esperança de que a conversa pudesse ser mais produtiva se estivessem ali só os dois. Fechou a porta ao sair.

— Kayan, fiquei sabendo que você não quer se levantar daí. Nem sequer ao funeral você foi.

— Prefiro me lembrar de Sarah como a garota alegre e vívida que ela era – respondeu simplesmente,

— Sei exatamente a dor que você está sentindo, Kayan, mas você não pode se deixar abater por ela.

— Não tem como você saber o que estou sentindo.

— Saiba que já passei pela mesma perda que você esta passando agora.

Ao ouvir as palavras de Spaak, Kayan virou-se para o amigo esperando que ele contasse mais sobre aquilo.

— Eu era ainda mais jovem que você havia acabado de me tornar um mago quando a Rebelião Negra começou. Na minha equipe havia uma garota chamada Allina Winggly. Ela era linda, cabelos dourados cortados na altura dos ombros e tinha o sorriso mais bonito que eu já tinha visto.

Spaak fez uma pausa enquanto se sentava na cama, de frente para o Atreius.

— Eu já havia beijado e até mesmo avançado um pouco mais que isso com outras garotas, mas por algum motivo eu não conseguia me aproximar dela, mesmo apenas a desejando desde que a conheci. Nós fizemos algumas missões juntos e cada vez ficávamos mais próximos e eu ficava mais apaixonado, até que um certo dia eu tomei coragem e a beijei. Naquele dia eu descobri que ela sentia algo parecido por mim. Eu estava muito feliz.

“Naquele mesmo dia, a equipe que eu liderava e outras duas foram designadas para uma missão de reconhecimento. Nós sofremos um ataque surpresa por parte dos magos de Zeffirs e quatro dos nossos morreram, inclusive Allina. Eu fui incapaz de protegê-la, Kayan, e um dos dias mais felizes da minha vida tornou-se um dos mais tristes.”

“Eu fiquei mal por dias e quando finalmente me recuperei daquela perda decidi que nunca mais me deixaria envolver com outra pessoa. Aquela foi uma decisão bem estúpida, agora percebo.”

“O que quero que você entenda, Kayan, é que não será tão fácil superar esta dor, mas não deve se deixar abater por ela, pois existem mais pessoas ao seu redor. Amigos que se importam com você. Amigos que também estão sofrendo, mas que estão aqui do seu lado.”

— Você não sabe pelo que estou passando. A sua história com essa garota não pode nem se comparar com o que a Sarah e eu tínhamos – dito isso, Kayan voltou a se virar para o lado da parede.

Aquela indiferença toda surpreendeu Spaak, que sentiu uma pontada de raiva pelo pouco caso que Kayan fez de seu sentimento para com Allina. Apesar disso, tentou compreender pelo que o amigo estava passando e percebeu que o melhor para ele seria deixá-lo sozinho por uns dias.

— Você é forte, Kayan, e sei que vai superar isto. A propósito, voltei para os mestres de elite e vou ajudar a defendê-lo em seu julgamento.

Dito isto, o mestre saiu do quarto, deixando Kayan sozinho na escuridão, certo de que apenas ele mesmo poderia superar aquilo.

* * *

O sol despejava sua última luz sobre os jardins de Drugstrein. Sobre um banco de madeira Thays sentava-se ao lado de Nathie. As garotas observavam o por do sol enquanto conversavam.

— Você já conversou com o Kayan depois... depois do que aconteceu com a Sarah? – perguntou Nathie.

— Ainda não. Não acho que ele queira me ver tão logo.

— Hum... achei que você iria consolar ele depois disso.

— Você acha mesmo que eu teria alguma chance com ele agora?

— Não me entenda mal, Thays. Também fiquei triste com a morte da Sarah, ela era minha amiga também. Mas Kayan não ficará sozinho para sempre. E você ainda sente alguma coisa por ele. Não estou dizendo que vai ser agora, mas quando ele superar essa perda.

— Acho que agora nunca terei chance de ficar com ele – concluiu Thays. – Ele sempre terá as memórias boas do amor que ele sentia por Sarah e saberá que o que ele sente por mim não é a mesma coisa.

— Então você já aceitou a derrota – afirmou Nathie de maneira triste.

— E você não aceitou a sua com o Karion?

— Depois que ele nos traiu, com certeza. Mas houve algo bom nisso tudo: o Spaak e a Aghata estão juntos de novo. Dessa vez oficialmente e definitivamente.

— Fico feliz por ela. Agora restamos apenas nós duas na pior.

Enquanto conversavam, as duas garotas encaravam-se olhos nos olhos. De repente, sem que Thays tivesse tempo para qualquer reação, Nathie a puxou para si e selou seus lábios em um beijo. Sem saber como reagir àquela atitude impetuosa, Thays acabou deixou-se levar, sem repelir a amiga. Apesar disso, foi algo rápido de pouco mais que um segundo.

— O que significou isso? – indagou a Cyren, assustada.

— Sei lá. Achei que se não sabemos escolher homens talvez devêssemos partir para outro lado.

— Não tenho nada contra você, Nathie, mas achei esse beijo bem desconfortável. Acho que vou preferir ficar com homens mesmo.

— Concordo com você – respondeu a outra garota, recostando-se no banco e colocando as mãos atrás da cabeça. – Foi bem estranho sentir os seus seios se esfregando nos meus. Prefiro algo menos volumoso.

O comentário fez com que Thays corasse levemente. Percebendo aquilo, Nathie decidiu que seria divertido provocá-la um pouco mais.

— Você não ficou totalmente sozinha depois que você e o Kayan terminaram o relacionamento, não é?

— Na verdade não. Como sou uma Cyren, sou bem popular entre os magos e até mesmo mestres da ordem.

— Perdoe minha curiosidade, mas você ainda é virgem?

A pergunta da amiga fez com que Thays corasse violentamente. A garota virou o rosto e respondeu de maneira constrangida enquanto mexia em uma mecha de seus cabelos com o dedo indicador.

— Nã... não.

— Sério! Vamos lá, me conte esta história direito.

Nathie puxou Thays pelos ombros de maneira animada. O clima entre as duas estava meio tenso e a Durgan sabia que aquele assunto às vezes podia render boas risadas.

— Você tem que me prometer que não vai contar isso pra ninguém. Eu e o Allef combinamos que ficaria apenas entre nós dois.

— O Allef Muscort? Nunca iria imaginar. Vocês não têm muito em comum.

— Aconteceu meio que sem querer. Eu o conheci no exame para mestre e nós conversamos de vez em quando. Eu estava deprimida logo depois que Kayan partiu para a guerra contra os povos bárbaros e ele estava meio chateado porque havia sido rejeitado por uma mulher.

— Sim, eu sei quem o rejeitou. Ele tem estado atrás da Anita há algum tempo já. Quer dizer, acho que agora ele já deve ter desistido.

— Então você já sabia?

— Sim, ela me contou, mas não tente mudar de assunto.

— Nós bebemos muito vinho aquela noite e acabamos nos beijando. Depois que saímos de lá, ele me convenceu a ir até seus aposentos e as coisas meio que saíram do controle.

— Como assim? Ele meio que te forçou?

— Não! O Allef é mulherengo igual ao Mathen, mas é uma boa pessoa. Eu estava curiosa sobre esse assunto e como havíamos bebido bastante as coisas simplesmente aconteceram. Não vou dizer que foi ruim ou que me arrependo, já que nunca tive aquela mentalidade que algumas magas têm de se guardar para uma pessoa especial e tudo mais. Mas foi só aquela noite mesmo, já que nem eu nem ele sentíamos nada um pelo outro.

— E você gostou?

A garota voltou a corar com a pergunta, mas o assunto já estava ficando mais natural.

— Não me lembro muito bem de como foi, mas acho que gostei sim. Ele foi bem carinhoso comigo porque era a minha primeira vez.

— Hum... acho que preciso ter uma conversinha com o Allef. Acho que ele pode me ajudar a esquecer o Karion – disse Nathie, enquanto mantinha uma expressão nada casta em seu rosto.

— Você não tem jeito mesmo.

O que restou para as duas amigas foi cair na risada e, após isso, caminhar até a taverna do castelo.

* * *

Dias mais tarde, os sete mestres de elite reuniam-se novamente no grande salão de reuniões da torre dos granmestres. Naquela ocasião Radamanthys Atreius havia se unido aos demais para discutir as importantes decisões que deveriam ser tomadas.

— Acho que podemos iniciar nossa reunião com o julgamento do mago Kayan Atreius – disse Grendolow.

— Concordo com isso, este pode ser o assunto mais rápido embora não o mais importante – disse Radamanthys em seu tom austero. – Peçam para que ele entre.

Kayan foi conduzido para a sala por um dos servos do castelo. Ele permaneceria em pé de frente para a mesa contendo o alto escalão da ordem.

Suas roupas já estavam bem arrumadas e ele trajava seu costumeiro conjunto em tonalidades escuras, incluindo calças, botas e uma túnica nova. No entanto, os poucos fios de barba que o jovem possuía estavam por fazer. Isso unido as olheiras davam um ar desleixado ao jovem. Apesar disso, ele encarou as pessoas presentes naquela sala com coragem e determinação.


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Notas finais do capítulo

Falai pessoal, como prometido, capítulo extra neste sábado. Aguardem pelo próximo no primeiro sábado de agosto.

Espero que a primeira parte não tenha ficado chato, porque gostei muito de escreve-la e detalhar essa importante reunião. Também apresentei mais alguns mestres de elite, mas não tentem memorizar seus nomes que teremos novas descrições quando eles forem mais importantes.

E quem curtiu o fanservice com a Thays e a Nathie? Apesar de ser um pouco de fanservice tem seu propósito e informações relativamente importantes sobre as personagens ali.

E agora o julgamento do Kayan. O que será que Radamanthys irá fazer com seu sobrinho, já que ele parece bem irritado. Se bem que ele sempre é mal humorado mesmo, não é?



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