A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 65
A Mais Profunda Escuridão - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Finalmente começa o julgamento de Kayan. E um granmestre de Zeneth visita Drugstrein para explicar as ações de sua ordem.



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Capítulo 064

A Mais Profunda Escuridão (Parte 2)

Kayan encarava os presentes de cabeça erguida e alguns minutos se passaram daquela maneira até que o granmestre Grendolow se manifestou

— Kayan Atreius, você sabe por que está aqui?

— Sim, granmestre Grendolow Maxwell. Os senhores suspeitam que eu possa representar um perigo para a Ordem de Drugstrein.

— Precisamente. Primeiro gostaria de saber o motivo pelo qual escondeu sua verdadeira esfera por todo este tempo.

— Eu nunca a escondi, granmestre. Até onde sei, não há nenhum regulamento em Drugstrein que nos obrigue a expor nossa esfera e em nenhum momento afirmei ser de qualquer outra delas.

Após ouvir a resposta de Kayan, o mestre Glarion Ashford demonstrou certa irritação em sua voz.

— Não seja tão audacioso, Kayan Atreius. Tenha respeito ao se dirigir a um granmestre.

O rapaz não respondeu ao mestre de elite. Grendolow, entretanto, falou por ele.

— Na verdade, Kayan não disse nada de errado. Mas diga-me o motivo pelo qual não quis expor sua esfera desde o inicio.

— O motivo é que eu sempre soube que havia certo preconceito contra a esfera da destruição aqui em Drugstrein.

— Isto é uma afronta, Kayan Atreius. Você sabe que acolhemos todos os magos em nossa academia, desde os mais humildes até o de melhores famílias e nossos testes para entrada da ordem são justos e balanceados – irritada, Ayla chegou a levantar-se de seu assento para questionar o rapaz.

— O Atreius está certo – contradisse Arthuro. – Eu mesmo posso afirmar que sofri certo preconceito quando iniciei meus estudos em Drugstrein. Mais tarde, o líder de minha equipe sempre me manteve sobre suspeitas e levou um grande tempo até conquistar a devida confiança dentro desta ordem.

— Indiferente do motivo, não é correto ocultar uma esfera perigosa como esta de todos dentro desta ordem – protestou Glarion.

Com aquele argumento, Spaak decidiu que era o momento certo para intervir.

— Acontece que Kayan Atreius não ocultou sua esfera de todos. Ela era de meu conhecimento, que fui seu mestre referencial em Drugstrein.

— Eu também conhecia este fato – acrescentou Arthuro. – Inclusive ensinei-o sobre a magia das trevas e as melhores técnicas para controlá-la e evitar que ela fique fora de controle. Além disso, o granmestre Sakuro Cyren também estava ciente da situação do jovem.

— Vocês todos sabiam disso e deixaram a informação oculta? – exasperou-se Grendolow.

— Com todo respeito, granmestre, mas o próprio granmestre Sakuro considerou que essa informação era irrelevante para qualquer julgamento de caráter ou mérito do jovem Kayan Atreius – defendeu-se Arthuro.

Kayan assistia a toda aquela discussão calado. Não queria e nem pretendia falar mais do que o necessário ou o que lhe fosse perguntado.

— Podemos considerar esta questão resolvida? O que importa a verdadeira esfera de Kayan Atreius? – disse Afonso Willis. – Até onde sabemos Kayan nunca sequer precisou de sua esfera para cumprir a maioria das missões em conjunto com os outros magos de nossa ordem. Também nunca foi relatado que ele a utilizou para testes ou duelos contra nossos próprios magos. Não vejo nenhum sentido em julgá-lo com base nisto.

Algumas opiniões se dividiam neste ponto, mas no final todos concordaram que a esfera de magia não podia determinar a índole de um mago.

— A próxima questão é: foi mesmo necessária toda aquela violência para silenciar o granmestre Mikael Kolluvan III? – perguntou Grendolow.

— Para silenciá-lo? – Kayan deixou um meio sorriso escapar, divertindo-se com a maneira com que o granmestre tentava suavizar o seu ato. – Na verdade não. Ele estava morto no momento em que eu cravei meu giudecca em seu coração. Mas espero que entendam pelo que eu estava passando no momento – o Atreius fechou os punhos com força, sentindo um pouco da raiva voltando. – Aquele homem havia matado a minha namorada. Ela não estava no combate direto, apenas prestava-nos suporte.

— Entendo a tristeza de sua perda, Kayan Atreius, mas aquele era um momento de combate e o suporte dela estava alongando o combate e dificultando as coisas para o nosso inimigo. Era natural que ele fizesse algo contra isso – disse Ayla, apenas na intenção de analisar as reações de Kayan.

O rapaz fechou os olhos e respirou fundo na tentativa de abrandar sua aura. Ele não gostava daquela mulher por sua arrogância desde a primeira vez que a tinha visto e ouvir aquelas palavras vindo dela deixava-o ainda mais enojado.

— Diga-me, mestre de elite Ayla Gunver, quantas vezes você já derrubou um mago sem precisar matá-lo? – ela iria responder, mas ele interrompeu-a. – Espere, esqueci-me que você não faz o tipo que luta na frente do combate então vou reformular a pergunta. Quantas vezes você já viu nossos magos derrubarem um adversário sem a necessidade de matá-lo? Eu mesmo, com a minha tão odiada esfera da destruição, já fiz isso várias vezes. A meu ver, o que o mestre Mikael fez foi assassinato.

— Escute aqui rapaz, sua situação não é das melhores para me insultar!

— Foi você, mestre de elite Ayla Gunver, quem me provocou. Se achar que estou insultando-a, podemos resolver isto em um duelo e você pode provar sua força – sorriu ao final da frase.

Com aquelas palavras a mulher perdeu sua calma de vez, batendo na mesa com força antes de proferir suas próximas palavras.

— Por que duelaria contra você? Sou uma mestre de elite e você um simples mago, não teria chances contra mim!

— Não se esqueça que ele derrotou um granmestre, mestre Ayla. Teve a minha ajuda, mas foi ele quem derrubou as defesas do granmestre Mikael Kolluvan sozinho.

— Eu apostaria minhas fichas no Kayan – deixou escapar Spaak, pensando um pouco alto demais.

— Mestres Ayla Gunver, Arthuro Magnum e Spaak Firyn, não percam o foco – chamou-lhes a atenção Grendolow. – Kayan Atreius, você se arrepende de ter utilizado tamanha violência contra o granmestre Mikael Kolluvan III?

— Não me arrependo de nada quanto a isto. Alias, me arrependo de não ter utilizado o giudecca antes. Se eu e o mestre Arthuro Magnum lutássemos com nossas esferas, possivelmente teríamos eliminado a ameaça e a Sarah ainda estaria aqui comigo. Eu não teria sido tão violento e este julgamento não estaria acontecendo.

Ao dizer aquelas palavras ele sentiu-se extremamente entristecido ao ponto de não conseguir manter-se encarando o granmestre e desviar seu olhar para o chão. Posição na qual permaneceu por alguns segundos.

— Vou lhes dizer o que penso sobre isso – ao ouvir a voz austera do tio, Kayan levantou a cabeça para encarar Radamanthys. – O que Kayan Atreius fez foi o que qualquer mago desta ordem com poder suficiente deveria ter feito. Mikael ordenou o ataque ao nosso castelo e meu sobrinho não deveria estar aqui sendo julgado por ter matado em combate aquele que ousou desafiar nossa soberania dentre as ordens de Wesmeroth, ele devia estar sendo tratado como um herói de Drugstrein.

Aquilo surpreendeu a todos, principalmente a Kayan. Com aquelas palavras, Radamanthys não só o reconhecia como seu sobrinho como também o defendia de todas as acusações.

— Granmestre Radamanthys Atreius, Kayan abandonou a batalha depois de violentamente assassinar o granmestre Mikael. Eu mesma o encontrei agarrado ao corpo de Sarah Harppon.

— Sim, eu fiz isso, mestre Ayla Gunver. Vou confessar que não queria acreditar que ela havia partido e que a qualquer momento eu a veria sorrir novamente. Se alguém aqui nesta sala já amou realmente alguém e perdeu esta pessoa vai ter alguma ideia do que eu sentia naquele momento.

Ao dizer aquelas palavras, Kayan olhou diretamente para Spaak, como se pedisse desculpas silenciosamente pelas palavras ásperas que havia dito ao mestre dias atrás.

— O que Kayan Atreius fez não foi assassinato – afirmou Radamanthys. – Volto a lhes dizer que foi a atitude certa a ser tomada. Violentamente ou de forma limpa, o granmestre Mikael Kolluvan tinha que ser morto em batalha para que o inimigo perdesse seu maior poder de batalha e sua moral.

— Concordo com o granmestre Radamanthys. E quanto deixar ao campo de batalha, eu mesmo vi que o mago Kayan Atreius já havia esgotado toda a sua força após o embate contra o inimigo e era natural que se retirasse do combate após aquilo.

Após as palavras de Radamanthys e Arthuro, não restava nenhum outro mestre que pudesse desacreditar as ações de Kayan como certas durante o combate, com violência exagerada ou não. Desta maneira, Grendolow partiu para a parte final do julgamento.

— Mestre de elite Gallia Maxwell, pode fazer o favor nos resumir os relatórios deixados pelos magos que acompanharam as ações de Kayan Atreius nesses últimos quinze dias.

— Segundo os relatórios, durante os dois primeiros dias Kayan Atreius recebeu a visita de alguns de seus amigos mais próximos, entretanto, era pouco receptivo para com eles e recusava-se a comer, chegando a preocupar um dos magos quanto ao estado de sua saúde.

— A partir do terceiro dia, entretanto, Kayan Atreius voltou a se alimentar normalmente e apesar de se abster de novas visitas ou atividades recreativas, frequentou nossa biblioteca todos os dias. Nos registros de suas leituras estão livros sobre o estudo de runas e da história de Wesmeroth e da magia como a maior parte dos títulos.

Apesar de serem relatórios extensos, Gallia conseguiu extrair apenas o mais fundamental dentre todos eles.

— Até onde sabemos Kayan Atreius sempre foi um mago dedicado, mas nunca foi tão comum que ele passasse tanto tempo na biblioteca – afirmou Ashtar Asford. – A que se deve tamanha dedicação à leitura nestes últimos dias?

— Os senhores não querem que eu utilize minha magia, então o treinamento que eu costumava fazer diariamente não era possível. Ainda estou meio deprimido devido a morte da mulher que eu amava e não sentia nenhuma vontade de me divertir. O que me restava além de ficar enfurnado em meus aposentos era ampliar meus conhecimentos como mago.

— Em algum momento o mago Kayan Atreius foi violento ou demonstrou sinais de perda de sanidade? – Grendolow perguntou à irmã.

— Segundo os relatórios, nenhum sinal de violência. Ele foi um pouco rude ao conversar com as pessoas durante esses dias, mas é uma atitude compreensível devido ao que ele esta passando.

— Apenas nos resta declarar que Kayan Atreius está completamente lúcido de suas ações. Suas atitudes durante a invasão de Drugstrein foram julgadas corretas em sua maior parte, então afirmo na presença de todos que Kayan Atreius está absolvido de todas as acusações e livre para voltar à sua vida normal e às atividades dentro da ordem.

— Obrigado, granmestre. Então acho que esse inibidor de aura não é mais necessário.

Kayan levou ambas as mãos até a coleira metálica em seu pescoço e concentrou-se até que uma aura azulada surgiu em suas mãos, segundos mais tarde, com um clique, o objeto se soltou e o mago deixou que ele caísse no chão, deixando os presentes no mínimo impressionados.

— Espere – pediu o mestre Arthuro. – Kayan, quando aprendeu a se livrar de um inibidor de aura?

— Há menos de uma lua. Vi a necessidade de aprender isto após ter sido mantido cativo por Sellene Rovkraz.

— Antes de encerrarmos, gostaria de solicitar uma coisa aos granmestres. Visto que, devido a este julgamento, Kayan Atreius perdeu o exame para mestre que se iniciou há três dias, acho que podemos atribuir a ele este título mesmo sem prestar o exame.

— O que o mestre Arthuro Magnum propõe é plausível. Em seu último exame Kayan reprovou na última etapa, que comprova a capacidade de ação de um mago. Como as demais etapas já foram comprovadas e suas ações durante a invasão de Drugstrein comprovam suas capacidades, acho justo atribuirmos a ele este título.

Dentre os presentes, apenas Ayla e Glarion discordaram da opinião de Arthuro e de Spaak.

— Então está decidido – disse Grendolow. – Amanhã mesmo emitirei um documento assinado por mim e pelo granmestre Radamanthys reconhecendo Kayan Atreius como mestre. Desta maneira, mesmo sem o exame, todas as ordens e guildas reconhecerão o seu título.

Kayan surpreendeu-se com o resultado daquele julgamento. Além de ser totalmente inocentado, ainda saiu da sala como um mestre. Apesar disso, ele se retirou do recinto sem dizer mais nenhuma palavra, como se aquele título não lhe significasse nada.

Terminado o julgamento de Kayan, os mestres fizeram uma pausa para uma breve refeição e, após isso, seguiram para a próxima etapa da reunião.

Um homem de cabelos cinzentos e trajando um sobretudo negro com detalhes dourados entrou no grande salão assim que a pausa foi encerrada.

 – Boa tarde senhores granmestres e mestres de elite de Drugstrein. Para aqueles que não me conhecem, sou Kibaou Durch, recém nomeado granmestre da Ordem de Zeneth.

— Muito bem, granmestre Kibaou Durch, ficamos satisfeito que o senhor tenha atendido nossa convocação para prestar esclarecimentos sobre a invasão de nosso castelo.

Grendolow recebeu o homem de maneira muito mais cordial do que a maioria ali presente teria feito.

— Antes de mais nada, gostaria de parabenizar o mestre Spaak Firyn pela sua nova posição dentro desta ordem. A moça que se uniu a você em nosso duelo está bem? Temo tê-la ferido gravemente em nosso conflito.

A maneira como ele falava surpreendeu os presentes. Kibaou agia como se nada houvesse acontecido e seu tom de voz transmitia sinceridade e não algum tipo de sarcasmo como poderia ser esperado.

— A mestre Aghata Willis está bem. Ela mesma parou o sangramento após a batalha e foi tratada por uma maga branca posteriormente.

— Fico feliz em ouvir isso. Peço a todos aqui presente minhas mais sinceras desculpas por aqueles que foram feridos ou tiveram suas vidas ceifadas em nossa batalha.

— Pedidos de desculpas de nada nos adianta, granmestre Kibaou. Queremos ouvir o motivo que levou a Ordem de Zeneth a atacar a Ordem de Drugstrein.

— Muito bem, granmestre Radamanthys, irei explicar-lhes o que aconteceu. Todos nós fomos enganados pelo falecido granmestre Mikael Kolluvan III.

As palavras que Kibaou proferia não faziam muito sentido e todos aguardaram por maiores detalhes.

— Recentemente nossa ordem também tem estado com poucos granmestres presentes. Na ocasião, apenas o granmestre Mikael se encontrava em nosso castelo. Houve um incidente em que uma de nossas equipes de magos foi aniquilada durante uma missão. As investigações mal haviam começado quando o granmestre forjou alguns documentos acusando a Ordem de Drugstrein de ter cometido estes três assassinatos.

— Isto é uma calúnia. Nenhum de nossos magos cometeu tal ato contra qualquer mago humano nós últimos anos – exasperou-se Grendolow.

— Sim, nestes últimos dias pudemos investigar melhor e constatamos que aquilo fora forjado. Também foi forjado uma declaração de guerra de Drugstrein contra nossa ordem.

Aquela declaração de Kibaou causou ainda mais alvoroço entre os mestres de elite ali presentes.

— Infelizmente, muitos de nós confiávamos cegamente em nossos granmestres, assim como acredito que vocês confiam nos granmestres de Drugstrein. O ataque mal foi planejado, apenas foi ordenado pelo granmestre Mikael e executado da maneira mais rápida possível. Devo dizer que ele foi bem convincente expondo argumentos que comprovavam que era melhor atacarmos antes que nossa ordem fosse invadida e dizimada pela Ordem de Drugstrein.

— A verdade é que sempre houve rivalidades entre nossas ordens, mas chegar ao ponto de uma guerra? – questionou-lhe Grendolow.

— Nos reunimos recentemente para discutirmos o assunto – retomou Kibaou. – A Ordem de Zeneth deseja a retomada da paz com a Ordem de Drugstrein. Trouxe comigo dez mil moedas de ouro para reparar o estrago que foi feito. Sei que isto não é nada perto das vidas perdidas, mas nós também tivemos nossas baixas. A única coisa que desejamos além da paz é a liberdade de nossos magos e mestres cativos neste castelo.

— Espero que entenda que precisamos discutir esses termos antes de tomarmos uma decisão – respondeu-lhe Radamanthys.

— Iremos discutir esse assunto, mas antecipo que a Ordem de Drugstrein nunca desejou guerra alguma e a paz será muito bem vinda.

Após aquelas palavras, o granmestre Grendolow dispensou Kibaou e pediu para que alguns magos conduzissem-no até um aposento temporário e para que os servos do castelo servissem-lhe algum alimento.

* * *

Assim que saiu da torre dos granmestres, Kayan deparou-se com algumas pessoas que aguardavam o resultado do julgamento.

— Como foi lá, Kayan? – indagou-lhe Mathen.

Além do rapaz, encontravam-se Ellien, Fedrick, Allef e Nathie. Thays e Anita gostariam de ter comparecido, mas elas ainda estavam prestando o exame para mestre.

— Acho que bem. Eles me deram o título de mestre.

— Sério? Meus parabéns, Kayan.

— Vou pedir para arranjarem-nos mais um mago para nossa equipe, Mathen. E voltaremos para as missões.

— Você quer voltar para as missões? Se quiser podemos esperar mais algum tempo – respondeu-lhe o amigo.

— Não, está tudo bem, será bom para termos alguma distração. Agora voltarei para a biblioteca.

— Tem certeza, Kayan? Estávamos pensando em ir para a taverna bebermos alguma coisa, não quer ir conosco? – convidou-o Nathie.

— Irei para a biblioteca.

Dizendo aquelas palavras, Kayan deixou os amigos para trás e dirigiu-se para a ampla biblioteca de Drugstrein. Os que ficaram trocaram olhares entre si, um tanto quanto entristecidos.

* * *

Na manhã seguinte, os granmestres e mestres de elite reuniram-se novamente com Kibaou Durch.

— Granmestre Kibaou Durch, resolvemos aceitar sua proposta única e exclusivamente pelo motivo de também desejarmos a paz em Wesmeroth. Entretanto, espero que estejam cientes de que a Ordem de Drugstrein manterá sua vigilância constante e atentamente.

— Além disso, desejamos que deixe muito claro que, apesar de aceitarmos em libertá-lo, consideramos o mestre Karion Wigg como um traidor de Drugstrein e a única coisa que me impede de matá-lo pessoalmente é a afiliação que ele tem com a Ordem de Zeneth.

As palavras de Radamanthys foram frias e sombrias, mas Kibaou não se deixou intimidar.

— Não se preocupe, granmestre, avisarei à ele para que não se aproxime mais de Drugstrein e qualquer um de seus magos. Fico muito satisfeito em ouvir que nosso acordo foi satisfatório para ambos os lados. Se me permitirem, desejaria partir hoje mesmo na companhia dos magos de minha ordem.

— Isso será providenciado.

Com uma reverencia, Kibaou deixou o grande salão.

— Acreditam mesmo em tudo o que ele falou? – indagou Ayla.

— Não completamente – afirmou o granmestre Grendolow. – Mas para nós será vantajoso adiar qualquer conflito.

— O fato é que a lealdade de Zeneth sempre foi questionável – complementou Arthuro. – Devemos nos manter sempre atentos.

— Num futuro próximo, devemos avaliar a possibilidade de confrontarmos e destruirmos a Ordem de Zeneth. Toda a soberania humana está centrada em Drugstrein e não podemos ser desafiados impunemente.

Relutantemente, alguns dos mestres ali presente concordaram com a opinião de Radamanthys. Naquele momento, porém, eles deviam apenas aceitar a paz temporária.

* * *

Alguns dias haviam se passado após o julgamento de Kayan. Após muita insistência, ele acabou indo até a taverna na ordem com seus amigos. Todos notaram como o rapaz estava mudado. Kayan não demonstrava mais a mesma alegria de sempre. Não evitava as pessoas ao seu redor, mas raramente falava alguma coisa caso não fosse algo direcionado para ele.

Apesar da estranheza inicial, todos consideraram que aquilo se devia ao fato da morte de Sarah ser algo ainda recente e o rapaz voltaria a agir normalmente com o tempo. Seu hábito de passar longos períodos na biblioteca, porém, não se alterou mesmo ele podendo sair do castelo e utilizar sua magia livremente.

O sol já imperava no céu há quase três horas quando Kayan entrou na pequena sala de reuniões acompanhado de um rapaz baixo e magro. O garoto possuía os cabelos castanhos e olhos claros. Seu rosto era tão delicado que por um momento Mathen achou que ele fosse uma garota.

— Desculpe-me pelo atraso – disse Kayan. Ele trajava suas roupas de costume, mas, sobre elas, um sobretudo negro que dava um ar ainda mais imponente ao jovem. – Este é Karzus Mirl, nosso novo integrante da equipe.

Após a breve apresentação, Kayan caminhou até próximo a janela e sentou-se na poltrona que lá havia. O rapaz, por sua vez, começou a se apresentar devidamente. Sua voz era mais grave do que Mathen esperava.

— Prazer em conhecê-lo, Mathen. Tenho quinze anos e terminei meus estudos no ano passado. Tenho um ano de experiência e pedi para sair de minha equipe para entrar em uma com um mestre – após aquelas palavras olhou fixamente para o líder da equipe. – Fico honrado em ter você como mestre, Kayan. Não lutei na invasão de Drugstrein, mas me contaram como você conseguiu superar o granmestre do inimigo.

— As pessoas tendem a fantasiar demais essa história. Tive ajuda do mestre Arthuro e as coisas foram bem mais feias do que contam por aí. Além do que, a maneira com a qual eu avancei contra ele foi impetuosa e arriscada. Havia muito mais chances de eu ser morto em minha investida do que conseguir atravessá-lo com meu giudecca.

— Acostume-se com isso, Karzus. O Kayan altera entre falsa modéstia e arrogância sem limites. Mal de Atreius, a segunda característica.

O olhar que Kayan dispensou ao amigo indicou que ele brincava em terreno perigoso.

— E então, qual será nossa missão? – indagou o novo integrante da equipe.

— Uma rank C – respondeu Kayan enquanto jogava um pergaminho sobre a mesa.

— Isso é injusto, já concluímos várias desse rank quando você ainda era um mago – protestou Mathen.

— Tentei argumentar isto, mas parece que é um novo protocolo da ordem impondo algumas restrições para missões iniciais das equipes para evitar a morte de magos.

— Também já cheguei a fazer duas rank C – afirmou Karzus. – Do que esta se trata?

— Um mago resolveu se apoderar de um castelo de um pequeno senhor de terras. Ele era um mago da extinta guilda Garforden. Parece que tem trabalhado para nobres desde então, mas deve ter se cansado de servir e pensado que ninguém notaria seu pequeno golpe. Acontece que o filho do nobre que ele usurpou estava sobre os cuidados de um rei como seu escudeiro. Ele juntou tudo o que tinha em posses e contratou nossa ordem para reaver o castelo que fora de seu pai.

— Então ele vai reaver seu castelo e este mago passará um tempinho em Kallamite – afirmou Mathen, despreocupadamente.

Já no pátio do castelo, enquanto aguardavam seus cavalos, a equipe de Kayan avistou duas conhecidas passando pela ponte levadiça.

Thays, cujos cabelos em tom azulado estavam crescendo e já haviam passado do meio de suas costas, trajava um sobretudo no tom azul escuro. Anita, por sua vez, vinha com suas roupas e sobretudo imaculadamente brancos, tal como sua irmã mais velha costumava vestir.

Elas cavalgaram até onde os rapazes estavam e ali pararam antes de desmontar.

— Meus parabéns para as duas, o exame para mestre foi muito difícil? – perguntou-lhes Mathen.

— Nem um pouco, foi tudo muito fácil.

— Fale por você mesma, garota gênio – retrucou Anita. – Quase não passei na última parte, mas no final eu consegui o título.

— Kayan, meus parabéns para você também – disse Thays, aproximando-se do rapaz. – Ficamos sabendo do resultado de seu julgamento no caminho para cá. Fico feliz que tudo tenha sido melhor que o esperado e você ainda tenha recebido o título de mestre.

— Realmente esta última parte foi inesperada – disse em um tom um tanto quanto desanimado. – De qualquer maneira, parabéns para vocês duas, sei bem o quanto se esforçaram por esta conquista.

— E quem é este rapaz? O membro novo da equipe?

— Sim – respondeu ele. – Sou Karzus Mirl. É um prazer lhes conhecer, Thays Cyren e Anita Sttiken. Em pensar que um dia eu estaria entre a elite de Drugstrein.

— Não é para tanto – respondeu-lhe Anita, um pouco sem graça.

— Pessoal, sem querer interromper, mas temos uma missão para cumprir.

Dizendo aquelas palavras, Kayan montou seu cavalo, que havia acabado de lhe ser entregue, e galopou para fora do castelo. As garotas olharam para Mathen de maneira assustada devido as atitudes do Atreius. O Muscort apenas deu de ombros e imitou o amigo despedindo-se das garotas.

Mathen seguiu Kayan de maneira silenciosa, em sua cabeça tudo o que se passava era como seu amigo havia mudado com a morte de Sarah. Era triste notar que não restara quase nada do Kayan alegre e comunicativo que havia ali outrora.


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Notas finais do capítulo

Cara, ao reler este capítulo para revisão percebi como o Kayan está chato. Será que ele ficará assim para sempre? O que acharam do julgamento. Surpreenderam-se com os três novos mestres de Drugstrein?

E quanto às explicações de Kibaou Durch. Será mesmo que essa paz irá durar?

Uma curiosidade. Karzus Mirl é um primo dos irmãos Mirl que acompanhavam Spaak lá nos primeiros capítulos da história. Ayla Gunyer acompanhava os reforços com Radamanthys durante o final da guerra contra os bárbaros, caso alguém não se lembre.

Não se esqueçam de comentar o que acharam do capítulo.



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