Capítulo 062

Invasão (Parte 2)

A dor impedia que Kayan se movesse dali mesmo com todo o combate que acontecia a poucos metros de distância.

Ele havia sido ingênuo em pensar que ela estaria segura enquanto eles lutavam. Havia apenas quinze metros de distância e ele devia ter imaginado que aquele homem seria sujo o suficiente para fazer algo como aquilo. Ele devia ter se preparado melhor. Mas agora era tarde.

Mesmo com todo o pesar as lagrimas se recusavam a sair. Tudo o que Kayan era capaz de fazer era permanecer ali, abraçando o corpo já sem vida de sua amada.

Por sua cabeça se passou o momento em que eles se conheceram há três anos. Uma breve conversa, mas, naquele momento, ele já sabia que ela era especial.

O primeiro beijo dos dois, sobre uma sacada em uma das torres do castelo.

O momento em que eles ficaram sozinhos em uma caverna escura e arriscando suas vidas em meio a quase uma centena de inimigos e, apesar disso tinham um ao outro.

A primeira vez que fizeram amor, os dois desajeitados e timidamente descobrindo um ao outro. Descobrindo onde tocar e onde acariciar. Se abraçando, exaustos, depois de tanto se amarem.

Os planos para o futuro compartilhados, há menos de uma hora. Tudo aquilo havia sido tirado dele. Não havia maneira de voltar no tempo.

Lenta e carinhosamente, Kayan deitou o corpo de Sarah no chão e se levantou. Quando o fez, olhou para Mikael, que ainda enfrentava Arthuro em um duelo.

Todo o pesar que sentia começou a se transformar. A raiva que sentia ao ver aquele homem não podia ser descrita. Naquele momento, sua aura se expandiu como nunca havia acontecido antes. Colocou sua mão esquerda sobre o antebraço direito e conjurou um giudecca. A lâmina negra surgiu. Cinquenta centímetros, repleta de runas e emanando uma energia assassina. Naquele momento, não se importava mais em ocultar sua verdadeira esfera, com seu futuro ou mesmo com sua própria vida. Naquele momento, apenas uma coisa lhe importava.

— Mikael!

Gritou enquanto corria em direção ao granmestre. Ele queria mata-lo. Era tudo o que mais desejava. E queria que Mikael sofresse como ele estava sofrendo.

O granmestre conjurou suas lâminas de vento para parar o rapaz. Violentas e letais, elas avançaram contra Kayan, que não se defendeu, apenas se esquivou.

Ombro direito, braço esquerdo, coxa esquerda, lateral direita do abdômen. As esquivas não eram perfeitas e o corpo do mago negro foi castigado pelos feitiços do oponente. Mas ele não parava. Kayan não estava mais inteiramente lúcido. Havia algum tipo de loucura naquele rapaz. Sua fúria era incontida.

Percebendo que aquela estratégia não pararia seu adversário, Mikael conjurou uma poderosa rajada elétrica que seguiu rente ao chão contra Kayan. O Atreius estava cego pelo ódio e não pretendia parar. Percebendo isso, Arthuro agiu e conjurou uma barreira de pedras para amparar o tangrea de Mikael. A parede rochosa cumpriu seu intento e a eletricidade sumiu inofensivamente ao se chocar contra ela.

Com a mão esquerda, Kayan conjurou um crisis katris que destruiu aquela barreira completamente e continuou avançando. Ele estava frente a frente naquele momento e Mikael uniu ambas as mãos na frente de seu corpo, formando um escudo de energia que repeliu o giudecca que vinha em forma de uma estocada.

Kayan gritou até sua garganta doer enquanto queimava toda sua aura na tentativa de atravessar aquela barreira, mas o granmestre era poderoso demais e sua ofensiva não conseguia alcança-lo.

— Você não pode fazer nada contra meu poder, garoto!

O rosto de Kayan estava irreconhecível, tamanha era sua ira e, por puro instinto, ele passou o antebraço esquerdo sob a mão direita e outra lâmina negra se formou. Sua aura tornou-se ainda mais agressiva, a magia negra evidenciando-se em meio a sua fúria.

E aquela nova lâmina ele cravou no abdômen de Mikael, que gritou com a dor e fraquejou em sua defesa. Aproveitando aquela oportunidade, Kayan forçou sua mão direita e perfurou a barreira, cravando sua lâmina negra no ombro do granmestre.

A degeneração celular havia começado e se continuasse com aquilo em breve a vida de Mikael começaria a se esvair. Ele não podia permitir aquilo. Tinha seu orgulho como um granmestre de Zeneth para preservar. Não podia ser derrotado por um simples mago. Reuniu suas últimas forças em sua mão direita para um poderoso tangrea que certamente acabaria com a vida daquele garoto insolente.

Dor. Tudo o que Mikael pode sentir foi mais dor quando Kayan retirou a lâmina de suas entranhas e decepou seu antebraço direito. O Atreius, mesmo em sua insanidade, havia percebido a concentração de aura e impedido o ataque.

— Diga-me, Mikael – disse Kayan, com uma aparente calma. – Como é sentir-se impotente diante de uma situação?

Cravou lentamente a lâmina esquerda no outro ombro do granmestre que gritava de dor enquanto se ajoelhava, perdendo suas forças.

— Você foi corajoso para ataca-la de surpresa mesmo sem que ela tivesse feito nada contra você.

Forçou a lâmina do braço direito até cortar toda a carne e sair sobre o ombro, deixando o braço de Mikael pendurado até que a degeneração fizesse seu trabalho corroendo a carne e desligando o membro do restante do corpo.

— Tudo o que ela fazia era curar e proteger. Essa luta tinha que ser entre você e eu. Dois assassinos. Duas pessoas que só servem para destruir. Ela era uma garota pura e boa, que só pensava em proteger o que ela amava. Não devia ter sido envolvida.

Com aquelas palavras, Kayan trespassou o coração de Mikael com sua lâmina da mão direita. Apesar disso, sua fúria não foi aplacada e o rapaz começou a golpear o corpo do granmestre com suas lâminas enquanto gritava sem parar.

— Já chega, Kayan. Não tem mais nada para você golpear aí – era a voz de Arthuro, calma e cadenciada. – Acalme-se, por favor.

Kayan ouviu um pouco da voz do mestre e desfez seu feitiço, deixando o corpo de Mikael cair no chão, desfigurado. O giudecca ainda agia no cadáver e iria consumi-lo até que apenas restasse pó.

O Atreius não disse mais palavra alguma, apenas caminhou até o corpo de Sarah e o pegou delicadamente em seus braços. Após isso, utilizou o que restava de sua aura para saltar sobre a batalha e se dirigir de volta para o castelo, abandonando, assim, o conflito.

* * *

Ellien e Fedrick recuavam em meio ao caos da batalha. O casal estava sendo cuidado para evitar os núcleos do conflito e chegar até próximo do castelo onde poderia prestar assistência aos magos feridos do combate. Mas nem tudo é assim tão simples e eles foram interceptados no meio do caminho.

Um mago de cabelos longos e desgrenhados, com a barba por fazer e um corte no braço surpreendeu-os em seu percurso. Ele havia conjurado um tangrea, que foi defendido a muito custo por Fedrick.

— Veja só o que temos aqui. Dois pombinhos para serem estraçalhados por mim – sua aparência e voz eram a de um psicopata. – Hoje é o meu dia de sorte, já estraçalhei aquela ali, agora tem vocês dois.

Para o horror do casal eles viram o corpo de uma garota caído a alguns metros de distância. Eles não se lembravam do nome dela, mas sabiam que havia estudado magia com eles há mais de dois anos. Agora ela estava morta, vitima daquela batalha sem sentido.

Poderosas chamas foram conjuradas contra o casal, que uniu-se para uma defesa. O fogo atingiu a barreira e se espalhou, mas seu conjurador não desistiu do feitiço e continuou a pressionar.

— O que faremos, Fedrick? Fugimos dele?

— Não podemos. Eu vou te proteger, Ellien.

Com aquelas palavras, o rapaz saiu detrás da barreira de energia e conjurou uma onda de terra contra seu agressor, que simplesmente conjurou um contra feitiço e parou o avanço da agressão.

Fedrick, em sequência, conjurou um golem de terra e raízes para enfrentar seu oponente. Ele manipulou o constructo para avançar enquanto concentrava-se em manipular dezenas de rochas que ele pretendia disparar contra seu adversário.

O golem durou menos de um segundo, pois um crisis katris o destruiu completamente. As rochas foram bloqueadas por uma barreira de energia. Elas se chocaram contra a defesa do mago de Zeneth e caíram no chão inutilmente.

O homem, então, conjurou um tangrea que atingiu Fedrick em cheio. O raio elétrico fez com que o rapaz fosse lançado para trás e caísse no chão com algumas queimaduras.

— Fedrick!

Ellien correu para ajudá-lo, mas não teria tempo para usar um ressin, uma vez que viu-se obrigada a conjurar um aurus pinn para bloquear mais um tangrea. Fechou os olhos na certeza de que não teria força suficiente para suportar a ofensiva.

O raio nunca a atingiu. Quando ela abriu os olhos, tudo o que viu foi as costas fortes de um rapaz de cabelos loiros enquanto ele conjurava um pilar de rochas para amparar o feitiço elétrico.

— Quem você pensa que é para ameaçar meus amigos? Nunca vou deixar você sair impune por matar um de nossos magos.

— Cuidado, Mathen, ele é muito forte – disse ela, preocupada.

Tudo o que ele fez em resposta foi olhar para ela e sorrir.

— Eu também sou. E trate de curar o Fedrick que ele está um caco.

Depois dessas palavras, Mathen conjurou três golens de pouco mais de um metro. Aqueles constructos não tinham tanta força, mas eram rápidos e avançaram em disparada contra o adversário.

O mago de Zeneth viu-se obrigado a conjurar um crisis katris para destruir os três inimigos. Quando o fez, porém, Mathen já estava muito próximo dele, que tentou recuar para um novo tangrea. Quando saltou para trás, porém, viu-se bloqueado por uma barreira de rochas. Impulsionou-se nela e saltou para cima da mesma enquanto conjurava seu feitiço.

O raio avançava contra Mathen, mas o mesmo não se desesperou. Utilizou o feitiço clayn para desfazer a muralha que ele mesmo havia criado e, enquanto caia, o feitiço de seu oponente se perdeu no ar. O Muscort, então, manipulou a terra para formar uma espécie de cúpula sobre seu oponente. Sua cartada final foi um crisis katris, que destruiu o domo e atingiu o mago dentro dele, deixando-o inconsciente.

Ellien e Fedrick olharam para o amigo impressionados. Quando foi que Mathen havia se tornado um mago tão bom? Fedrick lembrava-se de quando os dois possuíam o mesmo nível, mas aquilo havia sido há muito tempo.

— Vocês estão bem? – perguntou ele, mas não esperou resposta. – Venham comigo, temos magos feridos aqui. A Ellien cura eles e o Fedrick e eu cuidamos dos inimigos.

Sem muitas opções o casal decidiu seguir o Muscort, certo de que ele sabia o que estava fazendo.

* * *

Após o Wigg se defender do crisis que Thays havia lançado contra ele, o próximo movimento foi de Nathie, que conjurou um enorme golem com mais de seis metros de altura para atacar Karion. O rapaz avançou na intenção de destruir a criação da garota rapidamente, mas o que encontrou foi uma nova rajada de fogo, que obrigou-o a recuar.

Nathie manipulou sua criação para avançar de maneira desenfreada e seu enorme punho quase atingiu o inimigo das garotas, que esquivou-se no último momento.

Um crisis katris abalou a estrutura do constructo de rocha, mas não foi o suficiente para derrubá-lo, uma vez que a Durgan utilizava muito de sua aura para dar-lhe resistência. Thays não perdoou o erro do oponente e avançou com um ryado, ao invés do fogo.

Karion defendeu-se das partículas de gelo que espalharam-se pelo ambiente. Thays, então, manipulou-as para o chão na tentativa de congelar as pernas do rapaz. A aura do Wigg era muito forte e ele foi capaz de repelir o gelo que ameaçava-o, mas aquilo atrasou-o o suficiente para ser golpeado pela enorme mão do golem de Nathie.

O mago do ar foi lançado para o alto e, antes mesmo de cair foi golpeado novamente, sendo lançado no chão com grande força. Um mago normal estaria fora de combate depois de punições tão severas à seu corpo, mas Karion não era um mago comum e levantou-se com um mínimo de escoriações. Um novo crisis katris colocou um fim à criação de Nathie.

Thays não ficou parada neste meio tempo e conjurou suas próprias explosões de fogo. Karion utilizou um feitiço jinn para dissipar as chamas e perigosas explosões ocorrem próximas ao seu corpo, castigando-o com a elevada temperatura.

Em retaliação, Karion conjurou um poderoso tangrea que obrigou a Cyren a assumir uma postura defensiva, conjurando um aurus pinn para se defender. A força do oponente era tanta que a garota tinha certeza que perderia o combate naquele momento caso estivesse sozinha. Mas ela não estava e Nathie agiu conjurando um clayn. Uma poderosa onda de terra foi dirigida contra Karion, que passou a manter sua ofensiva contra Thays apenas com sua mão direta para contra-atacar o feitiço da Durgan com o seu próprio, impedindo a onda de terra de chegar até seu corpo.

Ao perceber que a força do feitiço adversário diminuiu, Thays aproveitou-se para liberar uma de suas mãos do escudo de energia e conjurar uma dezena de labaredas de fogo. A seguir, lançou todas elas contra Karion em um trajeto em formato de meio circulo para cima.

O Wigg esbravejou enquanto encerrava seu feitiço e saltava para trás na intenção de evitar os projéteis de fogo lançados por sua adversária. Nathie viu nisso uma boa oportunidade e forçou tudo o que tinha de aura em seu feitiço, conseguindo fechar uma cúpula de terra sobre Karion.

Julgando que o inimigo estava vulnerável agora que se encontrava preso, Thays não perdeu tempo e conjurou o mais poderoso crisis katris que conseguiu. A explosão foi gigantesca e destruiu completamente a cúpula de terra, deixando uma pequena cratera em seu lugar.

Para a surpresa das garotas, porém, Karion permanecia em pé após a explosão. Era visível que havia sofrido alguns ferimentos, mas o mestre de Zeneth previra tal atitude e utilizou um aurus pinn para se proteger de um possível ataque que realmente ocorreu.

A represália foi contra Nathie. Aquela disputa estava sendo mais problemática do que o rapaz previra e lidar com duas oponentes estava cobrando seu preço, por isso ele decidiu eliminar a mais fraca primeiro.

Dezenas de lâminas de vento foram lançadas em uma velocidade muito curta e Nathie não viu alternativa senão conjurar uma barreira de pedras para se proteger. O vento destruidor, porém, trespassou seu bloqueio e a atingiu em diversos locais, causando dolorosos cortes. Por sorte a velocidade do vento havia sido reduzida, caso contrário certamente seria o fim da garota.

Sem perder tempo, Thays avançou tendo a velocidade ampliada por sua aura. Um novo e poderoso tangrea surgiu das mãos de Karion e foi dirigido contra ela. A Cyren sabia que não tinha nenhuma chance de vencer caso ficasse na defensiva novamente, então arriscou-se me uma esquiva que lhe custou uma descarga elétrica forte o suficiente para lhe paralisar o braço esquerdo.

Enquanto gritava devido a dor, a maga conjurou uma dezena de labaredas de fogo contra Karion, que defendeu-se com um aurus pinn.

Um raio de eletricidade, lançado por Nathie, surpreendeu o rapaz, atingindo-o na lateral do peito, que estava desprotegido pelo escudo. Sua poderosa aura evitou maiores danos, mas aquilo o irritou profundamente. Reuniu uma grande quantidade de chamas em sua mão direita e lançou-a contra Nathie que sangrava dos diversos cortes e esforçou-se para saltar para o lado, evitando, assim, a morte certa.

Karion não desistiu e remanejou as chamas contra a garota, que agora encontrava-se caída e indefesa. Sua ira, porém, foi sua ruína, pois, enquanto focava a garota de cabelos castanhos, Thays uniu ambas as mãos a menos de um metro do rapaz e conjurou um poderoso crisis katris.

Daquela vez a explosão foi certeira, sem chances para esquivas ou defesas. O corpo do rapaz foi lançado a alguns metros de distância, sendo arrastado pelo chão ao impactar-se com o mesmo. Ele ainda tentou se levantar, mas estava esgotado e ferido demais para continuar e apenas pode sentir o gosto da terra quando caiu novamente, já inconsciente.

— Você está bem, Nathie? – perguntou-lhe Thays enquanto segurava seu braço esquerdo que estava extremamente dolorido.

— Já tive dias melhores.

Em seguida, as garotas caminharam até o rapaz caído no chão. A batalha havia sido tão intensa que não havia outros magos em um raio de trinta metros. Ao verificar que o rapaz realmente estava desacordado, Nathie chutou seu rosto com toda a força que ainda lhe restava.

— Agora você teve o que mereceu, seu canalha!

Mas o momento da vitória logo deu lugar a certa preocupação quando ambas sentiram uma aura aumentando de maneira inconsistente no meio do campo de batalha. Foi então que elas perceberam que, apesar de muitos combates continuarem, muitos dos magos de ambos os lados haviam parado para ver Kayan avançando de maneira descontrolada e inconseqüente contra Mikael Kolluvan. O mais impressionante é que havia certo desespero na maneira como o granmestre conjurava seus feitiços que não atingiam seu alvo de maneira precisa.

* * *

A esfera da água não é considerada uma esfera de magia muito ofensiva. Tanto é que os magos que a têm como sua esfera primordial tendem a utilizar muito mais a esfera do gelo do que ela própria. Kibaou Durch, porém, era famoso em Wesmeroth por ter dominado esta esfera de maneira a tornar seus feitiços extremamente versáteis e poderosos tanto na defesa quanto no ataque. E era com essa habilidade que o mestre de elite pressionava seus adversários.

Poderosos e destruidores chicotes de água ameaçavam a vida de Spaak e Aghata. Devido a velocidade do feitiço, era mais fácil esquivar-se que utilizar o aurus pinn para se proteger. Apesar disso, não havia sido apenas uma ou duas as vezes em que eles foram atingidos.

Aquela maneira de utilizar a água visava ataques rápidos e destruidores, mas, apesar disso, não possuíam tanto poder destrutivo quanto o de outras esferas. Desta maneira, quando enfrentava magos poderosos como aqueles, Kibaou utilizava o feitiço warhi para manter os adversários na defensiva enquanto minava suas forças aos poucos.

Apesar da grande pressão que estava sofrendo, Spaak sabia que teria que agir rápido se quisesse vencer aquele oponente. Mesmo alvejado pelos chicotes de água ele avançou e conjurou um crisis katris contra Kibaou.

O mestre de Zeneth simplesmente redirecionou seu feitiço contra o de Spaak e anulou as chamas antes mesmo que elas pudessem explodir. Entretanto, aquilo já era esperado e consistia-se apenas de um recurso para que Aghata conseguisse conjurar seu próprio feitiço.

Um poderoso raio de energia elétrica saltou no ar das mãos unidas da mestre e dirigiu-se de maneira fulminante contra o inimigo, que, calmamente, fez com que uma parede de água surgisse a sua frente e se congelasse quase que instantaneamente.

O feitiço atingiu a barreira e tornou-se completamente inútil. Subitamente, uma dezena de jatos d’água subiram em direção ao céu para cair em direção à Aghata com uma força e velocidade destrutivas. Em defesa da Willis, Spaak interpôs-se entre ela e o feitiço e, com um esforço titânico, suportou a ofensiva com um escudo de energia.

Aghata agiu rapidamente e conjurou seu aim flux para sugar toda a água do ambiente e, por um momento, teve sucesso em seu intento. Um poderoso vórtice de vento surgiu e puxou a água que oprimia Spaak, liberando o mestre para avançar para o ataque.

A primeira coisa que o Firyn fez foi destruir a barreira de gelo para poder atacar seu inimigo. No instante seguinte, porém, a terra começou a tremer e uma dúzia de jatos de água foram lançados do solo para o céu.

Nenhum dos dois foi ferido, mas aquela maneira totalmente surpreendente de se utilizar um feitiço foi o suficiente para deixar ambos confusos e criar uma abertura para mais um ataque devastador de Kibaou.

Seu alvo foi Aghata. Ele avançou em grande velocidade contra ela, que tentou alvejá-lo com algumas lâminas de vento, que o mestre evitou ou defendeu sem grandes dificuldades. Já a menos de dez metros de distância ele conjurou um jato de água incrivelmente veloz e devastador, que atingiu a moça na lateral esquerda de seu abdômen. Aghata foi empurrada para trás enquanto uma grande quantidade de sangue era expelida através de sua boca, indicando que seus órgãos internos haviam sido seriamente feridos.

 – Aghata!

Spaak gritou em desespero ao ver que a água estava sendo congelada em uma velocidade surpreendente. Se aquilo continuasse, Aghata não conseguiria resistir ao congelamento, não fragilizada do jeito que estava.

Ele agiu rápido e atacou com suas correntes de fogo, que foram evitadas habilmente pelo mestre de Zeneth, que reiniciou seu ataques com chicotes d’água.

Daquele momento em diante Spaak teria que continuar sozinho enquanto Aghata conjurava um ressin na tentativa de parar sua hemorragia. Uma troca de feitiços frenética teve inicio. Muitas vezes as correntes de Spaak foram destruídas pela água e ele teve que reconstituí-las. Apesar de ter atingido o adversário algumas vezes, todos os seus ataques passaram de raspão ou foram neutralizados pela aura do oponente. O mestre do fogo, por sua vez, estava sendo terrivelmente castigado pelos feitiços que lhe atingiam. Mesmo sua poderosa aura não conseguia evitar os hematomas e dor que os impactos causavam.

Cedo ou tarde Spaak acabaria derrotado pelo cansaço, mas, de repente, uma expressão de surpresa surgiu no rosto de Kibaou e ele saltou para trás, ficando fora do alcança do mestre de Drugstrein.

— Sinto muito, mas nosso embate se encerrará aqui – foi o que ele disse pouco antes de gritar o mais alto que pode. – Retirada! Peguem os companheiros que puderem e saiam daqui!

Só então Spaak percebeu o que havia acontecido. A poderosa aura do granmestre Mikael havia desaparecido. Ele havia sido morto por alguém de Drugstrein e isso fez com que o mestre de elite Kibaou decidisse por uma retirada, uma vez que a ordem de Zeneth já estava em desvantagem e perder sua maior força de combate certamente significava a derrota.

— Aghata, você está bem?

— Acho que consegui parar o sangramento, mas ainda preciso de um mago branco para me curar completamente.

Sem conseguir segurar suas emoções o mestre correu até ela e verificou sua barriga, passando a mão sobre ela gentilmente. Em seguida, abraçou a moça com força.

— Spaak... esta tudo bem?

— Eu... por um momento eu pensei que fosse te perder, Aghata. Eu fiquei com muito medo disso acontecer.

Sem pensar duas vezes, apenas conduzido por suas emoções, Spaak beijou-a intensamente. A moça simplesmente retribuiu ao carinho do homem que ela amava.

— Pensei que você tinha rompido comigo porque não queria se envolver.

Depois do beijo e percebendo que a batalha realmente havia se encerrado, o casal permaneceu se encarando, suas testas tocando uma na outra.

— Acho que já é tarde demais para isso – sorriu. – Você já me conquistou, minha baixinha, e agora não tem mais o direito de deixar a minha vida de maneira alguma.

— Essa declaração meio sangrenta não é das mais românticas, mas acho que combina bem com você. Isso quer dizer que agora somos oficialmente namorados?

— Acho que sim, mas teremos que deixar para consumar nosso relacionamento mais tarde, pois teremos muita bagunça para arrumar agora.

— Fala como se já não tivéssemos feito isso um monte de vezes.

Por fim, os magos da Ordem de Zeneth se retiraram da batalha e para os da Ordem de Drugstrein restou apenas aprisionar os inimigos que ficaram para trás e chorar por seus mortos.

No dia seguinte, porém, importantes decisões teriam que ser tomadas. Decisões que poderiam mudar para sempre o equilíbrio de poder de Wesmeroth.