A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 28
Feiticeiro - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Kayan persegue o algoz de Bren e tem que fazer uma difícil e importante escolha.



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Capítulo 027

Feiticeiro (Parte 2)

Uma forte chuva caía, deixando ainda mais frio o inverno, que não era tão rigoroso na região central da planície de Daran. Em meio àquela tempestade, um viajante atravessava a noite protegido por uma grossa capa de viagem que lhe cobria a cabeça com um capuz. Quando finalmente encontrou uma estalagem de beira de estrada, não pensou duas vezes antes de entrar.

O ambiente era agradável, principalmente graças à grande lareira que aquecia o ambiente. O jovem viajante aproximou-se do balcão, onde sentou-se em um banco de madeira e puxou o capuz para trás, revelando seus cabelos negros e rebeldes.

— Uma garrafa de run – pediu ao taberneiro para poder se aquecer.

— A chuva tem se mantido forte estes dias – comentou o homem enquanto servia-lhe a bebida. Sua barriga era protuberante e a face rosada devido à ingestão da bebida alcoólica que comercializava.

— O que é bem estranho para o inverno – comentou o rapaz, simplesmente.

— E o que faz alguém tão jovem quanto você viajar sozinho neste frio e neste tempo?

— Eu procuro uma pessoa. Um certo homem.

— Um rapaz jovem como você deveria estar atrás de uma mulher para aquecer sua cama, não de um homem.

Aquela foi a tentativa de fazer uma piada, mas Kayan não estava em clima para piadas e apenas dispensou um olhar carregado de frieza para o homem atrás do balcão

— Já ouviu falar de um tal de Justen?

— Não – respondeu rapidamente, rápido demais na opinião de Kayan. – E lhe aconselho a esquecer este nome.

— Então eu lhe aconselho a me dizer tudo o que sabe sobre esse sujeito.

Assim que lançou sua intimação, o Atreius afastou sua capa para o lado, revelando o pingente de prata preso contendo o brasão de Drugstrein.

— Oh! Então você é um mago – disse enquanto abaixava seu tom de voz para que as outras pessoas não conseguisse escutar sobre o que conversavam. – Mas falar sobre esse feiticeiro pode ser muito perigoso. Eu precisaria de alguma garantia.

Kayan ficou ainda mais mal humorado por aquele homem tentar ganhar algumas moedas a troco das informações. Tomou um grande gole do rum que havia pedido e colocou o copo vazio sobre o balcão. Em seguida, deixou sua mão direita com a palma para cima e conjurou uma pequena esfera de fogo.

— O que posso garantir é que se eu não descobrir o que preciso, estes viajantes poderão acabar ficando sem um lugar para passar a noite.

— Entendi o recado – disse o taberneiro enquanto ficava bem mais sério do que estava. – O que deseja saber?

— Apenas onde posso encontra-lo – respondeu enquanto desfazia o feitiço.

* * *

Um raio partiu uma árvore próximo a uma velha torre em ruínas, mas isto não diminuiu a determinação do mago que avançava sob a forte chuva.

A construção estava abandonada há mais de um século e boa parte da estrutura superior já havia desmoronado devido a falta de manutenção ou alguma guerra do passado.

O que restara do andar térreo daquela torre estava sendo utilizado como um templo dedicado a algum deus qualquer pouco conhecido e cultuado pelos humanos. Um homem alto e de cabelos castanhos permanecia ajoelhado em meio a uma prece silenciosa. Sobre o altar de mármore havia uma oferenda: um jarro cheio de sangue, provavelmente humano.

— Rezar para um falso deus não irá apagar seus pecados.

A voz soara severa e um clarão seguido de uma trovoada deixava aquele rapaz de cabelos escuros com uma aparência tenebrosa.

Justen levantou em meio a um susto. Como ele não havia percebido aquele rapaz ali dentro? Aquilo não importava mais, pois o sangue dele serviria como oferenda do próximo dia.

— Como ousa profanar este local sagrado com tais mentiras? Este é o único deus que já existiu neste mundo.

— Justen – disse Kayan em um tom calmo. – Este é o deus mais falso que já vi e você é o maior tolo por dedicar-se à ele.

— Herege! – gritou o homem em meio a fúria. – Pagará por estas palavras!

A provocação havia surtido o efeito esperado e o homem avançava com grande fúria. As pedras do chão da torre começaram a se moverem e uma grande onda de terra e pedras se ergueu para enterrar o jovem mago vivo. Kayan, por sua vez, elevou sua mão direita e concentrou-se em formar um escudo de aura conjurando um aurus pinn.

A barreira era forte e a terra se chocou contra ela se dividindo ao meio. Cada uma das duas ondas de terra passaram inofensivamente pelas laterais do corpo do Atreius.

O contra-ataque foi feito com um feitiço crisis, que foi utilizado por Kayan para conjurar uma dezena de labaredas de fogo que avançaram contra seu alvo em um percurso levemente curvado para fora.

Para se defender, Justen utilizou o clayn mais uma vez e fez com que barreiras de rocha se formassem em ambas as laterais de seu corpo, que seriam os locais em que as chamas atingiriam. O choque conta a rocha fez com que o fogo se espalhasse e um olhar de medo surgiu no rosto do feiticeiro quando ele sentiu o enorme calor lambendo-lhe a pele.

Kayan sorriu ao ver aquilo. Um sorriso cruel. Ele sentia ódio daquele homem, desejava ver seu sofrimento. Mais do que isso, desejava ele próprio ser o causador daquela angústia.

Utilizando uma variação do durhan crisis ensinada por Arthuro, Kayan conjurou as chamas negras contra as barreiras de pedra, forçando-as para que se infiltrasse na rocha, destroçando-as por dentro. Aquela variação do feitiço servia para forçar barreiras mágicas, mas também conseguia perfurar objetos sólidos.

— Co... como você fez isso? – perguntou o feiticeiro, assustado.

O Atreius não respondeu àquela indagação, apenas utilizou sua aura para acelerar sua velocidade a ponto se aproximar de Justen em uma fração de segundos. Uma vez que estava bem perto, expulsou sua aura em forma de um pulso de energia concussiva que arremessou o adversário de encontro com a parede da torre. Ele se protegeu com sua aura, mas a pancada foi forte o suficiente para fazer com que ele cuspisse um pouco de sangue após o impacto.

Sem desistir, o feiticeiro tentou um novo clayn para enterrar o oponente vivo, como ele gostava de fazer. Uma nova onda de terra surgiu e avançou contra o Atreius, que limitou-se a estender sua mão direita e conjurar um crisis katris para explodir aquela quantidade massiva de terra. Sua estratégia foi satisfatória e várias rochas voaram de encontro à Justen, ferindo-o ainda mais.

Em meio a poeira Kayan avançou até chegar próximo ao feiticeiro, que já havia desistido de lutar. Kayan agarrou-o pelo pescoço e, reforçando seu punho com sua aura, deu-lhe três socos fortes e rápidos em seu abdômen.

— Por favor – tossiu sangue, a voz saindo fracamente de sua garganta – poupe-me.

Aquilo irritou ainda mais o Atreius.

— Você por acaso poupou Bren? – gritou.

Conjurou as chamas negras em sua mão direita, fazendo com que ela ficasse envolta no feitiço durhan crisis.

— Não! Você o matou sem qualquer remorso!

Aproximou a mão da face do homem e pode sentir o medo que ele exalava.

— Espero que esteja pronto para pagar por tudo o que fez.

Kayan hesitou por um momento, as fagulhas ferindo o rosto do homem que já não conseguia mais reagir. Os golpes que recebera e o medo o paralisava. O Atreius tremia devido à sua raiva. As chamas foram diminuindo até desaparecerem.

— Era o que você merecia – sussurrou. – Mas eu não consigo... não consigo tirar uma vida humana desta maneira. Mesmo sendo a vida de alguém desprezível como você.

Por fim, Kayan golpeou Justen novamente, deixando-o inconsciente. Tudo o que ele deveria fazer era levar o feiticeiro até Drugstrein, de onde ele seria levado para Kallamite, onde seria julgado e executado.

* * *

De volta em Drugstrein, já no meio da madrugada, Kayan subia as escadas na torre norte, onde ficavam os aposentos dos magos solteiros. Cada qual possuía seu próprio quarto, mas os banheiros eram divididos entre alguns magos. Por este motivo, o rapaz virou uma placa onde dizia ocupado e trancou a porta para poder tomar um banho.

Retirou as roupas molhadas enquanto esperava a banheira de pedra se encher de água. Os banheiros do castelo possuíam um sistema de encanamentos, bombas e caldeiras para encher suas banheiras, mas o Atreius não tinha paciência para isso e resolveu conjurar um feitiço warhi para encher a banheira e um crisis para aquecer a água.

Entrou lentamente na água aquecida enquanto verificava se ela não estava quente ou fria demais. Satisfeito com a temperatura ele procurou relaxar após os últimos ocorridos.

Por que não fui capaz de executá-lo?, pensou consigo mesmo. E se minha vida dependesse de tirar outra? E se a vida de meus amigos dependesse de tirar alguma outra vida?, refletia o Atreius enquanto o vapor saia lentamente da água aquecida. Se fosse durante uma batalha eu acho que seria capaz de tirar uma vida, principalmente se Sarah ou Mathen estivessem em perigo.

Kayan afastou o frio do corpo e se limpou após o longo dia que havia vivenciado. Por fim, vestiu-se apenas com uma calça de algodão e recolheu as roupas sujas e molhadas. Rumou para seu quarto, onde jogou as roupas para o canto e seguiu para a cama, guiado por uma fraca lâmpada mágica que ele sempre deixar descoberta.

O Atreius surpreendeu-se quando percebeu que sua cama já estava sendo utilizada por outra pessoa, que estava adormecida. Aproximou-se dela e se abaixou. Afastou os cabelos castanhos da testa da pessoa para, então, sussurrar.

— Sarah, acorde.

Teve que chamá-la uma segunda vez para que ela finalmente acordasse.

— Kayan!

Assim que acordou em meio a um susto, a garota saltou da cama para abraçar o amigo. Tal ato derrubou-o sentado no chão junto com a própria garota, que permaneceu ali, sentada sobre as próprias pernas e abraçando Kayan.

— Nunca mais faça isso! Nunca mais me deixe preocupada deste jeito!

— Acalme-se, Sarah. Eu estou bem.

A garota permaneceu abraçada em Kayan por mais alguns minutos e o rapaz retribuiu-lhe o abraço. Ele lembrou-se da noite do casamento de Sakuro e do beijo que eles haviam trocado. Sentia que se quisesse conseguiria um outro beijo de Sarah naquele momento, mas por algum motivo não tentou e apenas aguardou que a garota tomasse a iniciativa de se afastar. Entretanto, permaneceram sentados no chão do quarto de Kayan.

— Por que você foi sozinho? Por que se arriscar tanto?

— Sarah – respondeu ele, calmamente, enquanto olhava nos olhos da garota – eu tinha certeza de que ia derrotar o feiticeiro, portanto não foi risco nenhum.

— Mas... e o Bren?

— A Thays me contou o que aconteceu naquele dia. O Bren estava muito confiante depois de cumprir várias missões daquele tipo e decidiu que iria enfrentar o feiticeiro sozinho. O problema é que ele avançou sem qualquer prudência e não foi difícil para o inimigo enterrá-lo vivo com um feitiço da esfera da terra. Thays seria bem capaz de derruba-lo, mas ela estava mais preocupada em tentar salvar o Bren.

— Quer dizer que o feiticeiro era forte, mas não tanto quanto você ou a Thays – concluiu a garota.

— Exatamente. Ele apenas conseguiu pegar o Bren porque ele foi impulsivo e imprudente. Meu medo é que algum dia o Mathen cometa o mesmo erro.

— Ele não faria isso, faria?

— Você eu tenho certeza de que não, Sarah, pois você pensa muito bem antes de agir. Mas o Mathen pode ser bem impulsivo às vezes e alguns feitiços podem ser fatais.

— Então foi por isso que você foi sozinho? Tinha medo que alguma coisa acontecesse com a gente.

O rapaz limitou-se a acenar com a cabeça afirmativamente. Sarah, por sua vez, voltou a abraçar o amigo.

— Só me prometa que não fará isso de novo sem me avisar.

— Não posso prometer nada, mas vou tentar.

— Acho que é o máximo que vou conseguir de você.

Quando eles se separaram do abraço, ambos sorriam um para o outro.

— Se quiser pode dormir aqui, Sarah, já que parece ter gostado tanto da minha cama.

— Seu bobo, só dormi porque você demorou pra voltar.

A garota não quis dormir no quarto de Kayan, mas isto não impediu que eles continuassem conversando até quase a aurora.


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Notas finais do capítulo

Parabéns ao Fox, que acertou em seu palpite do que aconteceria quando Kayan encontrasse o feiticeiro.

Agora um comunicado importante. Com a faculdade o tempo tem ficado curto, então, o próximo capítulo, na semana que vem, será um pouco maior que a média e todos os subsequentes também. No entanto, a partir da semana que vem, as postagens serão quinzenais. Espero que compreendam. Alias, essa é uma boa oportunidade para quem está tentando alcançar os capítulos atuais.

E não deixem de comentar neste capítulo também. No próximo começa mais um pequeno arco.



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