A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 27
Feiticeiro - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Dias após o casamento de Sakuro, algo inesperado acontece e Kayan toma uma arriscada decisão para tentar resolver a situação.



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Capítulo 026

Feiticeiro (Parte 1)

Alguns dias se passaram desde o casamento de Sakuro e Katherine e as coisas mantiveram-se bem tranquilas na Ordem de Drugstrein. Os orcs, goblins e gnolls que atacavam o norte da planície de Daran começaram a recuar e os saques tornaram-se cada vez mais raros. As missões estavam em baixa para todas as ordens de Wesmeroth e como Kayan recusava qualquer missão abaixo do grau C a equipe do Atreius utilizava seu tempo livre para treinar. Ao menos eles deveriam estar treinando, pois Mathen tinha feito uma pausa e cochilava sob uma árvore.

– Vou tentar novamente – disse Sarah.

Ela, então, concentrou sua aura em suas mãos e as chamas surgiram na grande rocha que Mathen havia conjurado há mais de uma hora. No entanto, ao contrário do que ela pretendia, a rocha permaneceu em pé, apesar de já muito queimada.

– Droga! Saiu um crisis de novo. Por que não dá certo?

– Já lhe expliquei uma centena de vezes, Sarah – repreendeu-a Kayan, um tanto quanto desinteressado. – Para o crisis katris você precisa de muita energia reunida rapidamente para que ela incinere o ar de uma única vez e cause a explosão.

Eles estavam praticando em um dos grandes campos abertos próximo às muralhas. Aqueles espaços geralmente eram utilizados para os treinamentos mais simples, já que os mais brutais e danosos eram praticados nos arredores do castelo.

– Eu não posso diminuir a quantidade de aura?

– Não, Sarah, se a quantidade de aura for muito baixa você só conseguirá algumas poucas fagulhas.

– Certo, vou tentar de novo.

A garota concentrou-se para reunir sua aura rapidamente e, em seguida utilizou-a para aquecer o ar. O resultado foi igual ao da tentativa anterior. Kayan deixou escapar um suspiro desanimado.

– Talvez você realmente não tenha talento para isto.

– Não diga isso, Kayan, você mesmo dizia que qualquer mago poderia aprender qualquer feitiço das esferas comuns caso estudasse e praticasse o suficiente.

– Talvez eu tenha mudado minha opinião.

Sarah limitou-se a colocar as mãos na cintura e encara-lo com as sobrancelhas franzidas.

– Como assim?

– O que? Não posso mudar minha opinião sobre as coisas?

– Ah! Entendi. Você ainda está chateado por causa daquilo, não é?

– Não estou chateado. Não tenho nenhum motivo para estar.

– Certo, certo – disse, sarcástica. – Então eu não te conheço há quase dois anos pra saber quando você está de bom humor ou não. Será que você nunca vai me perdoar? Não consegue me entender?

– Não Sarah – ao contrário da garota, Kayan mantinha sua voz calma e controlada. – Da mesma maneira que você não me entende.

Tentando demonstrar que não tinha interesse em continuar com aquele assunto, Kayan levantou um dedo indicador e fez com que uma pequena chama negra surgisse. Em seguida, começou a brincar com ela, fazendo com que ela desse voltas no ar em torno do próprio corpo.

– Pare com isso! Você sabe que odeio quando você brinca com as chamas negras desta maneira!

– Ah é, Sarah? – daquela vez o Atreius elevou um pouco sua voz. – E o que mais você não gosta em mim?

– Não entendo porque você está agindo assim, Kayan! Você sempre foi o mais maduro entre nós, e agora fica agindo feito criança.

Irritado, o Atreius não respondeu mais nada, apenas respirou fundo e saiu em direção às torres internas do castelo. Sarah, aborrecida, sentou-se recostada na árvore ali perto, apoiando seus braços nos joelhos e a testa nos braços.

A discussão havia se tornado audível ao ponto de acordar Mathen de seu cochilo. O mago havia presenciado apenas o final da briga e decidiu que iria intervir. Observou Sarah e percebeu que a garota estava se segurando para não chorar, então decidiu que seria melhor deixá-la sozinha e seguir o Atreius.

Kayan caminhava a passos rápidos enquanto atravessava um campo de treinamento de aprendizes. Uma ou outra vez ele conjurou e lançou um crisis para o alto na tentativa de aliviar sua frustração. O aprendizes ali presentes observavam aquilo impressionados, algum em meio a admiração e outros com inveja.

Por fim, o Atreius chegou no salão dos aprendizes, que estava completamente vazio naquele momento, visto que os jovens magos estavam todos em meio aos estudos com seus mestres. Rumou até um dos sofás perto de uma lareira e lá se sentou.

– Está se recordando do primeiro dia em que você falou com ela, não é? – Mathen apareceu e cortou a distração de Kayan. – Foi exatamente neste mesmo sofá que vocês se conheceram, lembro-me como se fosse ontem – completou enquanto sentava-se ao lado do Atreius. – O que aconteceu entre vocês dois? Algo me diz que foi durante o casamento do granmestre Sakuro.

A principio, Kayan não respondeu e Mathen teve tato o suficiente para esperar que o amigo resolvesse se manifestar. Alguns segundos mais tarde ele resolveu falar.

– Foi mesmo. Eu fiz uma coisa que queria fazer há muito tempo.

– Sim. Você a beijou, não foi? E ela não retribuiu.

– Na verdade ela retribuiu sim.

Uma expressão confusa tomou o rosto do Muscort.

– Então qual é o problema?

– O problema é que sei que ela sente por mim o mesmo que sinto por ela e, assim mesmo, não aceitou meu pedido de namoro.

– E qual foi a desculpa... digo... o motivo para ela não aceitar?

– Ela disse que isso poderia atrapalhar nossa equipe.

A dupla de amigos fez uma pequena pausa sem que nenhuma palavra fosse dita.

– O que você sente por ela é assim tão forte?

– Sim, Mathen. Desde quando a conheci não consigo parar de pensar nela. Ainda mais depois de tudo o que passamos juntos.

– É, meu caro, seu caso é bem complicado. Mas acho que você não deveria ficar pensando muito nisso, senão vocês só vão ficar brigando. O melhor que você tem a fazer é deixar que as coisas aconteçam da maneira que tem que acontecer.

– Estou tentando fazer isto, mas é muito difícil.

Mais um momento de silêncio em que nenhum dos dois saberia o que dizer ao outro. Por fim, quando a situação estava começando a ficar chata, Kayan resolveu mudar de assunto.

– E você e a Ellien. Vi vocês dois abraçados no final da festa do Sakuro.

– Nós estamos namorando – respondeu satisfeito. – Irei conhecer os pais dela em breve. Ambos são magos, mas estão em equipes diferentes.

– Aí esta uma coisa em que você me supera. Você se sai muito melhor que eu com as garotas.

– Em alguma coisa eu tinha que me sair melhor, não? – respondeu-lhe em um tom brincalhão. – Vamos lá! Ânimo! Vamos pegar alguns cavalos e explorar os arredores do castelo mais uma vez.

Com o ânimo parcialmente renovado, Kayan decidiu sair com Mathen para distrair sua mente da situação.

* * *

No inicio daquela noite, Kayan já estava sentindo-se um pouco melhor e resolveu ir para a taverna da ordem. Não era incomum que os magos fossem até lá sozinhos, pois sempre encontravam alguém conhecido quando lá chegassem. E com o Atreius não foi diferente, pois assim que entrou no recinto percebeu que Thays já estava ai.

Quando ele observou-a melhor, porém, percebeu que ela encontrava-se sozinha em sua mesa e uma garrafa de rum jazia já pela metade à sua frente. O rapaz logo estranhou, pois ela não costumava tomar nada muito forte, então algo não estava certo.

Aproximou-se com cautela e observou que os olhos da garota estavam vermelhos, como se ela estivesse chorando há pouco. Puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da garota, de maneira que facilitasse caso ela quisesse se virar para que ficassem frente a frente.

– Thays, o que aconteceu? – perguntou-lhe da maneira mais gentil que conseguiu.

– Kayan... foi minha culpa...

Ela não completou a frase, apenas virou-se de frente para o rapaz e abraçou-o, sua cabeça se enterrando no peito do Atreius. Ele percebeu que ela voltava a chorar e concluiu que algo muito ruim a afligia. Sem saber ao certo como reagir, Kayan abraçou-a de volta enquanto fazia carinho em sua cabeça através dos cabelos azulados.

– Acalme-se, Thays, estou aqui com você.

Por alguns momentos eles permaneceram abraçados até que a garota finalmente se acalmasse. Quando eles se separaram ela secou as lágrimas com seu braço e olhou para Kayan apenas desejando alguma coisa para amenizar sua tristeza.

– Minha equipe pegou uma missão hoje – começou, um pouco mais controlada. – Seria a quarta vez que perseguiríamos um feiticeiro e eu estava confiante em minha equipe. Confiante demais...

Kayan já estava prevendo o final daquela narrativa e considerou um verdadeiro exagero a maneira como Thays estava reagindo àquilo.

– Se vocês falharam na missão não foi sua culpa, Thays, muitas equipes...

– Ele morreu, Kayan! – ela desabou novamente. – Por minha culpa o Bren está morto!

Aquilo foi um verdadeiro choque para Kayan que, por um momento apenas olhava para a amiga sem saber o que responder. Sentia-se impotente. Um amigo havia morrido e não havia nada o que ele pudesse fazer para mudar aquilo.

– Eu falhei em liderar, Kayan. Se eu tivesse prestado mais atenção isso não teria acontecido.

Kayan abraçou-a de volta, numa tentativa de acalma-la e consola-la.

– Não foi sua culpa, Thays. Tenho certeza de que você fez tudo o que podia para evitar que isto acontecesse.

Por mais que lhe doesse saber que ele havia perdido um amigo naquele dia, Kayan sabia que precisa ser forte pela Thays. Era ela quem mais estava abalada e ele era tudo o que a garota tinha de apoio naquele momento.

Pelo restante da noite ele permaneceu ao lado de Thays, conversando com ela e distraindo-a até que ela se sentisse exausta e sonolenta. Conduziu-a até seus aposentos e deixou-a na cama antes de se dirigir ao próprio quarto.

No dia seguinte todos despediram-se de seu amigo. Como ele era de uma família de Drugstrein, seria sepultado nas catacumbas abaixo do castelo onde milhares de outros magos estavam em seu descanso eterno. Os magos não possuíam crenças em nenhuma divindade, mas ainda assim realizavam uma cerimônia fúnebre.

Os magos mais jovens da ordem já haviam presenciado aquela cena algumas vezes. O que eles faziam era perigoso e não era incomum que fatalidades acontecessem. Mas eles nunca haviam presenciado a despedida de um de seus amigos tão próximos, que estivera com eles como aprendiz e se divertindo no casamento de Sakuro há apenas alguns dias.

A dor da perca fez com que Kayan e Sarah se aproximassem novamente. Mathen permanecia com sua namorada Ellien, que fazia parte da equipe de Bren. Thays, por sua vez, preferia ficar um tempo sozinha.

O dia depois daquele não foi muito melhor, principalmente porque chovia muito, o que dava um ar ainda mais melancólico ao ambiente. Kayan, então, decidiu pegar uma missão para que sua equipe tivesse algo com o que se distrair.

– Olá Anne – disse ao se aproximar da atendente com quem sempre pegava suas missões.

– Oi Kayan, sinto muito pelo seu amigo.

– Obrigado. Ainda me custa a acreditar que Bren não está mais conosco.

– Também sinto muito em ter que te passar esta missão, mas os mestres de elite julgaram que sua equipe é uma das mais indicadas para cumpri-la.

Kayan pegou o pergaminho e abriu-o para descobrir seu conteúdo. A missão era de grau C e tratava-se da captura de um feiticeiro chamado Justen.

– Este era o feiticeiro que a equipe de Thays perseguia, não é?

– Sim. Tomem muito cuidado.

– Não se preocupe, Anne, minha equipe não vai se ferir de maneira alguma.

* * *

A cortina da noite havia caído e a chuva castigava a região central da planície de Daran. Sarah e Mathen procuravam por seu líder de equipe, mas não encontravam-no em lugar algum.

– Onde será que o Kayan se meteu? Não o vejo desde que almoçamos juntos – questionou a garota. – Fui até mesmo perguntar para a Thays e ela não o viu desde ontem.

– Você deve estar preocupada mesmo, para chegar até a ir conversar com a Thays.

– Estou até com pena dela. Ela fica se culpando pelo que aconteceu.

– Todo mundo esta sofrendo por perder o Bren. Em pensar que há poucos dias estávamos todos juntos nos divertindo no casamento do granmestre Sakuro.

A dupla dirigia-se para um dos grandes salões de convivência do castelo quando cruzaram com Spaak nos corredores.

– Pensei que vocês já tivessem saído – comentou o mestre.

– Para onde? – indagou Mathen.

– Cumprir a missão de vocês. Os mestres de elite decidiram que a equipe de vocês era a melhor indicada disponível para cumprir a missão que foi da equipe da Thays e terminou em tragédia. O Kayan não falou nada para vocês?

Os dois amigos entreolharam-se, preocupados.

– Ele ainda não nos falou nada. Deve estar preocupado pensando em como iremos cumpri-la sem riscos – disfarçou a garota.

– Tomem muito cuidado. Lamento muito pelo que aconteceu ao amigo de vocês. Cuidem-se.

Assim que o mestre afastou-se, Mathen e Sarah entreolharam-se novamente.

– Você está pensando no mesmo que eu?

– Sim, Mathen. O Kayan decidiu cumprir essa missão sozinho.

Como se fosse um mau presságio, um relâmpago foi visto pela janela no que havia no corredor, logo em seguida uma trovoada ecoou por quilômetros de distância.


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Notas finais do capítulo

E a guilhotina cai pela primeira vez, meus caros. Parece que meu lado sanguinário está aparecendo por aqui, não é? Mas relaxem que daqui pra frente tudo tende a piorar.

E será que o Kayan será capaz de parar o feiticeiro que assassinou seu amigo? Quão perigoso será isto que ele pretende fazer sozinho sem que seus amigos e companheiros de equipe sequer saibam?.



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