PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 23
Capítulo 22 – Fugindo do que lhe dá medo


Notas iniciais do capítulo

Começo pedindo desculpas pela falha na postagem da semana passada. Entre internet com problemas, episódio ainda não estando bom o suficiente e estando fora todo o fds... as coisas ficaram difíceis.

Mas, estou aqui com um novo capítulo... agradecendo Lucão que nos agraciou com mais uma recomendação onde trarei o personagem do passado escolhido por ele em uma situação... nada convencional... assim como finalmente trago o personagem do passado conquistado pelo centésimo review.... AEEEEEEEEEEEEEEEE.

Então vamos ao cap!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587879/chapter/23

Pokémon Estilo de Vida
Saga 02 – Fantasmas do Passado
Etapa 06 – Laços

"Às vezes somos forçados a driblar a verdade,
transformá-la,
porque somos colocados à frente de coisas que não foram criadas por nós.
E às vezes, as coisas simplesmente chegam até nós."

Capítulo 22 – Fugindo do que lhe dá medo

O grito ecoou pela noite e com o salto da cama a jovem quase caiu da cama. Coração acelerado, corpo tremendo, olhos paralisados olhando o vazio enquanto os lábios se mexiam repetitivamente, numa tentativa de emitir a fala: não é real.

A porta se abriu fazendo-a se assustar. Tentou encolher-se na cama, buscando refugiar-se de alguma forma nos lençóis, mas o corpo ainda teimava em não responder. A luz do quarto foi acessa e então pode ver sua irmã, quase uma cópia em miniatura de si, parada junto ao interruptor que ficava perto da porta.

– Normalmente fico no meu quarto. - Comentou Leila. - Mas, desta vez foi tão alto que fiquei preocupada que não fosse apenas pesadelo. -

Landsteiner caçula parecia extremamente sonolenta. Os óculos no rosto estava um pouco torto e percebia-se que ela deveria dormir profundamente antes dos gritos da irmã, pois não apenas sua camisola azul estava amarrotada, mas também seu rosto mostrava as marcas de um possível engeado na fronha dos travesseiros, ou quem sabe do lençol.

Leila estranhou a irmã não responder o comentário feito. Até mesmo um pedido desculpas costumaria ocorrer, mas ao que parecia Lívia estava totalmente em choque. O quarto estava em ordem, ou ao menos a ordem bagunçada que havia sido deixada no início da noite anterior quando as duas chegaram exaustas e apenas tomaram um banho, deixando tudo jogado, e foram dormir.

– O pesadelo da arma? -

Leila perguntou enquanto sentava-se na cama da irmã que ainda tremia. A caçula nunca tinha visto a mais velha daquela forma, mesmo o medo que ela apresentou diante de Kevin durante a tarde do dia anterior não se comparava ao que os olhos pareciam apresentar agora.

– Ainda sinto a bala perfurando meu corpo. -

Foi só então que Leila percebeu que Lívia massageava um ponto do corpo. Segurou a mão da irmã e analisou o local. Tirando o vermelhidão provocado pelas massagens excessivas no local, nada havia.

– Talvez esteja apenas assustada com o que falaram sobre Kevin. - Comentou Leila. - Você sequer deixou ele se explic... -

– Ele estava no sonho. - Disse Lívia a meia voz cortando a irmã.

Leila ficou a olhar a irmã. Os olhos dela já estavam cheios de lágrimas. Não era difícil entender que depois de um final de semana de trabalhos puxados somados a descoberta do amigo de classe, por quem nutri sentimentos que não quer admitir, ser um assassino, surgissem pesadelos com ele matando-a.

A caçula queria poder dizer que era apenas um sonho. Mas, com o sonho tendo se repetido diversas vezes, antes de tudo acontecer, não seria muito fácil convencê-la de que aquilo não era aviso. Na verdade, agora até se convencer estava difícil.

– Você já decidiu se manter longe dele. Significa que vai ficar tudo bem. -

Lívia começou a chorar deixando Leila sem entender bem se ela havia dito algo errado. A universitária agarrou a irmã tentando conter seu próprio choro, mas era impossível. Precisava fechar os olhos por alguns instantes para respirar fundo e tentar se acalmar, mas ao fechar os olhos via novamente algumas cenas do pesadelo, tão vivas quanto as sonhadas, fazendo o desespero apenas aumentar.

– Lív. - Leila passava a mão nas costas da irmã tentando acalmá-la. - Mesmo que ele tenha matado tantos quanto o tal Luz das batalhas diz que ele matou, ele parece gostar de você. Por que ele te mataria? Ele só apareceu no seu sonho atirando porque você está impressionada. -

– Ele não estava atirando! - Choramingou ela.

Leila parou sem entender muito bem a informação que a irmã havia dado em meio ao pranto. Estando cansada e tendo sido acordada de forma abrupta no meio da noite sua mente poderia estar falhando, mas tinha certeza que o sonho era uma criatura demoníaca perseguindo-a, enquanto ela ferida era carregada por alguém até que havia a necessidade de parar porque uma pessoa aparecia armada e atirava contra eles. Se Kevin não era o atirador, sobrava três papeis para ele.

– O que ele fazia no sonho se não estava atirando? - Questionou Leila.

– Estava me salvando. -

<><><><>

Nunca foi fácil para lívia conversar com sua irmã quando o assunto era delicado. A mais nova parecia sempre tão mais madura por usar sempre sua lógica de gênio e ainda assim manter-se humana que Lívia se sentia como uma criança.

O café da manhã foi mais complicado do que deveria, Leila queria contar do torneio e isso sempre levava a falar de Kevin o que incomodava-a fortemente. Mas, naquele momento só tinham uma a outra, já que os pais estavam moravam em outra região e a tia estava viajando, como era de seu costume.

A mais velha não negava que era algo impressionante o fato de um dos professores médicos do colégio, Brock, ser um conhecido antigo de Kevin e também a campeã atual de Arton se submeter a vir a Khubar por Brock e Kevin.

Aquele assassino tinha tudo para ser feliz e uma boa pessoa. No entanto, por onde passa atrai desgraças para a vida das pessoas. Eu queria não me importar com isso e simplesmente ignorá-lo, mas e se minha vida correr perigo por causa dele? E se minha vida correr perigo sem ele? Isso é tão confuso. Eu estou tão confusa e pior é que tenho prova em poucos minutos.

Lívia caminhava para a faculdade calmamente. Ela preferira a caminhada para poder acalmar-se e quem sabe conseguir tirar aquele ar de choro do rosto. Tentara de todas as formas se acalmar, em casa, e tirar aquela história de Kevin da cabeça, mas tudo fora inútil.

Felizmente, a prova que faria ainda naquele dia, era comportamental e apesar de visivelmente transtornada, só precisaria fazer uma pequena entrevista de temática a ser sorteada na hora. Sabia que seria como um teatro de uma situação difícil que um médico pokémon tende a viver em sua vida, mas acreditava ter aprendido bem a se portar como uma médica.

– O que está acontecendo? -

Lívia passava pela entrada do campus, em direção ao seu prédio de costume, percebendo que algo estava acontecendo. Eram muitas pessoas indo e vindo, algumas chorando e outras vestidas de preto. Sentiu um arrepio ao olhar para um lado e encontrar Kevin, vestido todo de preto junto a dois professores.

Ela parou olhando em volta, não havia ninguém conhecido além de Kevin e os dois professores, mas Kevin era a última pessoa que ela queria conversar. Perdida percebeu que ele a olhou por alguns instantes.

Ele não está sorrindo. Eu nunca o vi sem sorrir até hoje, mesmo no meio da discussão de ontem. Lívia desviou o olhar e inclinou a cabeça para trás puxando o máximo de ar que conseguia após perceber a falta de sorriso de Kevin.

De todas as situações que ela esperava, aquela era realmente fora de cogitação. Se o teste fosse aquele ela reprovaria automaticamente. Como uma pessoa sorridente, que sorria até no meio de uma briga conseguia ter uma expressão tão triste que chegava a fazer sentir-se tonta a quem olhava-o?

Lívia sentia um aperto no coração ao ver Kevin daquele jeito, sem brilho, sem sorriso, quase que sem vida. O pior era pensar que não deveria se importar em como ele estava, mas infelizmente importava-se.

– Nunca pensei que veria uma coisa como essa. -

Lívia olhou para seu lado esquerdo, tentando se refazer e encontrou Núbia. Ela parecia tão perdida quanto Lívia, mas um pouco mais firme.

– As aulas de hoje foram canceladas. - Comentou Núbia. - Dr. Hércules disse que vai cancelar a prova de hoje. Ele acha que com um trabalho por semana o de hoje seria covardia após um velório como esse. -

Velório? Lívia piscou os olhos algumas vezes entendo, por fim, que a atitude de todos combinava mesmo com um velório.

– Você viu o corpo do Brock? -

– Brock? - Lívia engasgou dando alguns passos para trás e quase despencando no chão, mas conseguiu se recompor. - Como assim? -

Núbia olhou para ela por alguns instantes. Quando a identificou ela estava tão abalada, visualmente, que imaginou que ela já soubesse de tudo. Ninguém que fosse até junto ao corpo e percebesse que ele havia sido torturado antes de ser decapitado conseguia sair de lá em seu juízo perfeito.

– Desculpa! - Núbia exclamou abraçando Lívia ao perceber que estava despejando sobre ela todas as informações, sem nenhum tato. - Desculpa! -

Lívia nada dizia. Estava olhando novamente em direção a Kevin certa de que a morte de Brock era culpa dele.

<><><><>

A corrida parecia interminável. Estava em sua melhor forma e não estava tão longe do seu alvo, mas começava a se questionar o motivo de parecer não evoluir naquela perseguição, seja para alcançá-lo ou perdê-lo.

Mesmo depois de duas cercas serem puladas e entrarem na área portuária, sentia que a distancia entre eles nunca mudava. Era estranho que estavam entrando em um labirinto de contêiner, em pilhas de três ou quatro. Mesmo assim não o perdia de vista, mesmo quando ele virava rápido para dobrar a direita ou a esquerda, ainda conseguia vê-lo antes dele decidir virar novamente.

Tropeçou em um momento e foi com tudo no chão sujo de concreto do porto e olhou rapidamente para seus pés, enquanto levantava. Não havia nada que indicasse no que tropeçou e sabia, não era tão retardado de ter tropeçado em si mesmo. Seu alvo havia colocado o pé para ele cair e agora estava escondido ali, observando-o, já que antes os passos escoavam pelo local.

– Enfrente-me! -

Roger gritou alto e ficou olhando em volta. Havia ido atrás de sua irmã e os demais que fugiram e que eram caçados pela sua família dos Países Livres, mas deu de cara com seu primo líder daquela geração. Não hesitou e jogou-se contra ele, imediatamente.

– Aparece Barreira! Sei que está aqui observando! -

Barreira havia iniciado uma fuga todo o tem e agora, naquele labirinto, parecia querer brincar com Roger.

– Enfrentá-lo? - A voz de Barreira ecoou por quase todos os lados, sem dar chance de Roger identificar para que lado deveria ir. - Por que eu faria isso? Espero que não ache que eu vá repreendê-lo por dar uma surra em Razor. Geralmente ele te bate, acho justo que bata nele. -

– Eu vou bater em você também! -

Roger respondeu ferozmente, mas só depois de algum tempo percebeu que Barreira já sabia sobre Razor. Significava que o primo já estava de volta a ativa e logo teria de lidar com ele de novo.

– Entendo que queria meu pokémon guia. Mas, infelizmente, não posso deixar levá-lo. - A voz de Barreira se fez presente em uma única direção. - Eu nunca quis seu mal, apenas preciso garantir que Razor não seja o líder, ou as coisas ficaram muito feias. -

Roger caminhou silenciosamente na direção em direção a voz e então viu um casaco ondulando com o vento. Parou com um sorriso malicioso. Sabia identificar uma armadilha. Não havia como haver vento ali e lembrava-se que ele não estava com um casaco. Ou um operário do porto estava por ali ou seu primo estava realmente tentando uma armadilha.

Se fosse eu usaria aquele casaco como chamariz a cairia em cima dele. Sorrindo Roger olhou para cima e viu que com alguma habilidade uma pessoa escalaria aqueles blocos de metal e lembrava-se bem que o primo o fazia perfeitamente bem.

– Acho que estou te vendo. - Apesar da posição em que estava, pode ver um pedaço da mochila do primo no alto. Segurou a gargalhada, estava finalmente a poucos passos de mudar seu destino. - Eis o que vou fa... -

Não conseguiu terminar de falar, pois seu corpo recebeu uma forte pancada o fazendo ir ao chão mesmo instante, com extrema violência. No chão girou-se rápido e viu um vulto escondendo-se atrás de um dos contêiner.

Levantou-se revoltado. Foi até o casaco e viu que estava preso em uma porta de contêiner aberta. Olhou para cima e percebeu que a mochila estava apenas presa no alto. Tirou o casaco revoltado que mesmo sabendo ser uma armadilha, não conseguiu evitá-la. Seu primo brincava com ele naquele lugar.

Ao puxar o casaco a mochila despencou de cima fazendo-o dar um salto para trás. Aquilo era mais uma armadilha. Foi olhar em volta e então sentiu novamente seu corpo ser lançado para frente, com muito mais força. Caiu dentro do contêiner e viu a porta se fechar deixando-o no escuro.

– Solte-me seu desgraçado! -

– Isso é para o seu próprio bem. - A voz de Barreira pareceu estar do outro lado da parede de metal. Nunca esteve tão perto. - Vou até deixá-lo com o pokémon do Razor para te mostrar que não quero seu mal. -

– Pokémon? -

Foi um momento rápido em lembrar-se de que ele possuia pokémon que poderiam ajudá-lo a sair dali, mas antes que pudesse se movimentar, uma corrente elétrica tomou conta da caixa de metal e ele acabou ficando completamente paralisado.

– A paralisia do Thunder Wave durara umas vinte e quatro horas. Talvez você volte a se movimentar antes disso, mas já estará em alto mar a caminho de casa. - Roger ouvia aquelas informações totalmente irritado. - Tem comida no fundo do contêiner para quando se recuperar. Eu sei que vai tentar abrir o contêiner com um dos seus pokémon, mas este contêiner ficará no meio de uma pilha de dez. Não sei quantos a frente, atrás ou para os lados. - Uma risada começou e foi parecendo ficar cada vez mais distante. - Eu pouparia forçar para enfrentar o tio Conde Veneno de Cobra. -

<><><><>

Passos firmes, apesar de o corpo doer e a mente mandar correr. Mas, como correr enquanto carregava um jovem em seus braços que apesar de não ser tão pesada, parecia muito debilitada naquele momento. Era incrível pensar que o que os perseguia estava atrás dele. Perseguia-os por causa dele e que por mais que ele tentasse não podia derrotar nas condições que estava. Não sem colocar em risco a jovem consigo.

Ele não conseguia saber quem ela era, mas sentia algo forte em relação a ela. Isso já era o suficiente para que Kevin soubesse que tudo aquilo era o bendito sonho que vivia tendo. Mas, mesmo assim, não conseguia simplesmente acordar. Iria viver aquela situação até a bala perfurar a jovem e a ele.

Quando a pessoa a e arma apareceram tentou fixar os olhos nele, mas sentia o medo da situação como se aquilo estivesse acontecendo pela primeira. Era tão estranho saber que era um sonho e não poder controlar ou acordar. E então a bala foi disparada e algo diferente acontecer. A bala foi parada no meio do caminho, por uma mão que a segurou sem a menor cerimonia.

Uma pessoa não podia segurar uma bala disparada em pleno ar, a velocidade necessária, fora a resistência para o mesmo, estava além dos poderes humanos. No entanto, a pessoa era humana, quase da altura de Kevin, com cabelos ruivos e uma curiosa. Quando a pessoa se virou Kevin engasgou. Tudo a sua volta se tornou fumaça, inclusive a menina nos seus braços.

Por um pequeno instante Kevin deu atenção ao desaparecer de todos, mas como o ruivo permaneceu acabou desistindo de entender. Era um sonho, mas estava diferente do normal. Era sonho e não uma ilusão. Isso porque a pessoa a sua frente era seu melhor amigo, que a muito nã estava vivo.

– Détrio? -

Kevin sentiu que sua voz fraquejou. O olhar bobo e animado, os cabelos ruivos, os óculos e sarnas. Estava mais velho do que quando morrera, mas não havia mudado muito.

– Imagino que saiba que ainda não está na hora de morrer. - Détrio brincou com a bala na mão. - Até porque essa bala não está endereçada a você. Como sempre se mete aonde não é chamado, deixando seus próprios assuntos de lado. -

– Meus próprios assuntos? - Kevin pareceu confuso. - O que esse sonho significa? -

– Eu morri, mas você vive pelos dois e por muitos outros que morreram para te dar uma chance. - Parecia que Détrio não estava ali de verdade, ignorava as tentativas de conversa de Kevin ou mesmo os acenos que ele fazia para ver se a pessoa realmente poderia interagir com ele. - Não morri para que morra por causa de um fantasma. -

– Não posso enfrentá-los sem matá-los! - Disse Kevin irritado. - Sempre que um cai dois parecem no seu lugar e o primeiro morre misteriosamente. Parecem uma praga. -

– Talvez minha morte já não tenha tanto significado. Alguns anos se passaram e confesso, não há necessidade de se culpar por isso. Mas, o problema é que as pessoas em sua volta vão cair junto com você. - Détrio simplesmente não parecia estar ali com Kevin realmente. - Se quer saber, você está agindo como um covarde. Tome vergonha e pare de condenar essas pessoas que não tem nada com essa história. Salve-as e se salve a si mesmo porque o destino que o aguarda nesse passo garante que você ainda viverá, mas atormentado pelos fantasmas. -

Kevin revirou os olhos. Ele já vivia atormentado pelos fantasmas.

– E não me refiro a esse grupo maluco. Mas, a culpa que sentirá quando todos morrerem no confronto que está por vir. - Détrio começou a desaparecer. - Só para ter ideia do quão terrível será para que você viva com isso na cabeça, três mortes vão atormentá-lo de uma forma que você certamente vai querer se matar. -

Kevin olhou para Détrio sem entender,

– Gary será empalado. Sua irmã morrerá com uma bala, como essa. A pessoa amada morrerá... envenenada ou numa tempestade... -

<><><><>

Olhos frios e muito intensos, mas ao encará-los era como olhar para a morte. A sensação de que ele estaria pronto para matar era algo esperado, afinal a força que sua mão estava exercendo em seu pulso era assustadora.

– Está... -

Gary não sabia se alertava-o ou defendia-se. Nunca pensou em ver aquele tipo de olhos vindos de alguém que conhecia e isso o fazia ficar em uma falta de ação.

– Desculpa... -

A voz de Kevin soou um pouco embargada e seu semblante sério e perigoso foi desaparecendo junto a força que colocava na mão direita que estava a apertar o pulso de Kevin.

Kevin esticou a mão direita e ficou observando-a por alguns instantes. Ainda não havia voltado a ter sua face sorridente, estava num olhar perdido e quase assustado. O que para muitos seria novidade, para Gary não era diferente.

– Eu... -

Kevin parou de falar e olhou em volta. Estava sentado em um banco do campus, em meio a um jardim. Estava entardecendo e não havia ninguém próximo além de Gary.

– Sonhei que tentava salvar alguém de demônios, mas alguém apareceu e atirou contra nós. - Ele parou. Percebeu que falava além do que devia. Respirou fundo duas vezes, mas não conseguiu se acalmar. - Estou tendo esse sonho desde que cheguei aqui e hoje uma coisa diferente aconteceu. -

Gary estava a procurá-lo para avisar que estava indo para Kanto levar o corpo de Brock e queria saber se ele precisava de algo, afinal o jovem estaria sem nenhum conhecido com pessoas a caçá-lo. Por mais que não fossem amigos eles se conheciam e isto bastava para Gary.

No entanto, ao aproximar-se do rapaz que dormia e aparentemente estava muito agitado ele foi surpreendido por uma mão a agarrá-lo e olhos frios e perigosos encarando-o.

– Agora eu sei porque Albert se mandou. - Gary comentou observando como Kevin parecia transtornado naquele momento e nada se parecia com o jovem universitário que chamava a atenção dos professores pela dedicação, alegria e criatividade. - Tipo... Se você fazia esse tipo de coisa com frequência. -

Kevin encarou-o por alguns instantes. Por um momento ele quase esqueceu-se porque havia decidido abrir-se com Gary Carvalho e falar sobre o pesadelo que andava tendo e especialmente sobre aquele que fora diferente. Mas, ao lembrar-se deste último acabou suspirando.

– Détrio estava no sonho e parou a bala com as mãos. - Disse Kevin de uma vez.

Détrio era o melhor amigo de Kevin e também discípulo de Gary Carvalho quando ele ainda era Mestre Pokémon. Acabou sendo assassinado ao tentar salvar os pokémon de Kevin das mãos de uma equipe criminosa.

Kevin se culpou muito pelo ocorrido e Gary sabia bem daquilo. De certa forma até o Carvalho se culpava, afinal ele era o orientador do garoto na época. Mas, já haviam superado aquilo de certa forma, ou ao menos o professor acreditava nisso.

– Brock não foi culpa sua. - Disse Gary de forma nada convincente. Se realmente era o grupo que se intitulava fantasmas quem matou Brock, mataram pela proximidade dele com Kevin. - Você apenas deve estar impressionado e isso te fez lembrar de Détrio. - Gary suspirou. - Foi uma morte cruel. -

Kevin havia ficado aquele tempo todo sentado enquanto conversava. Olhava Gary em pé olhando-o e tentando ser camarada com ele, de alguma forma. Não eram sociáveis um com o outro a muito tempo. Se Kevin conseguia lembrar corretamente a última vez que se falaram ser como professor e aluno, ali no campus foi no velório do professor Samuel Carvalho.

– Então não quer saber o que Détrio disse o que ele me pediu para te dizer né? - Kevin olhou para ele de forma curiosa enquanto Gary pareceu achar que era apenas uma piada. - Ele disse que quando você for a Kanto é para não voltar, ou vai morrer empalado. -

Gary ensaiou uma risada, mas ele acabou parando um pouco tenso. Kevin não estava ainda em seu ar costumeiro e isso fez cair a fraca impressão de que Kevin tentava fazer uma piada naquele momento.

– Empalado? - Gary lembrou-se da cabeça de Brock e da forma como alguns amigos de Kevin eram torturados, pelo que havia escutado. - Estamos falando sobre mim mesmo? -

– Bem... - Kevin levantou-se. - Meu sonho se desfez e tudo ficou escuro deixando apenas o ruivo de óculos um pouco mais alto e envelhecido, como se ele nunca tivesse morrido. Estava ali, segurando a abala na mão e começou a dizer que ele não havia morrido para que eu caísse para Fantasmas. Que era para eu tomar vergonha na cara e salvar as pessoas a quem estava condenando a morte pela minha tentativa de driblar a verdade. -

– Que verdade? - Questionou Gary.

– Que influencio as pessoas. - Kevin olhou para o céu. - Seja para o bem ou para o mal. - Ele ficou olhando para o alto algum tempo, parecendo imaginar algo. - Acha que sou tão perigoso assim a ponto de influenciar alguém para o mal? -

Gary passou a mão pelos cabelos imaginando que resposta dar. Aquilo parecia apenas uma peça que a mente do jovem estava pregando nele diante a toda pressão que estava em seus ombros.

– Eu meio que sabia ser sonho. Então ele disse que eu provavelmente sobreviveria, mas que dezenas morreriam envenenados. E três para quatro mortes me chocariam. Sendo que você seria empalado, minha irmã levaria uma bala, como aquela que ele segurava, no coração e que muito provavelmente quem amo morreria em uma tempestade ou envenenada. -

– Détrio nunca foi bom de prever o movimento do pokémon adversário. - Gary tentou esconder a tensão em meio a uma piada. - Quer que eu mantenha sua irmã longe de Arton, não é? -

Kevin sacudiu a cabeça confirmando. A noticia da morte de Brock já devia ter viajado e globo e as causas certamente alarmaram a qualquer um. Julia Maerd entenderia aquilo como um aviso e correria para juntar-se ao irmão. Ele não sabia ainda o que faria, mas a ameaça de perder a irmã sempre o fez fazer coisas impensadas.

– Vou dizer isso apenas uma vez, pois duvido que realmente vá me escutar. - Gary pareceu sério naquele momento. - Seja você mesmo! Não sei o que é esse sonho repetitivo ou esse sonho com Détrio, mas sei que você está perdendo muito por causa desses fantasmas. - Gary sacudiu o dedo de forma marota. - As pessoas em volta de você estão pagando por isso, seja por causa deles ou pela sua própria. -

<><><><>

Nunca digitara tão rápido. Passara a noite acordado digitando e digitalizando tudo o que estava na mesa referente ao evento e ao relatório de créditos extras que Kevin Kirian Júnior. Mas, sua cabeça não estava ali. Ela vagava por um mapa tentando imaginar qual seria a melhor localização para eles naquele momento. Cruzar o oceano indo para o outro lado do mundo iniciando uma nova vida, ou ir para um local mais próximo, esconder-se por alguns meses e planejar melhor as novas vidas que teriam de ter?

– Tio Cody? -

Cody Mevoj parou de digitar, mas não tirou os olhos da tela. Maya era filha da irmã de sua esposa, na verdade eles não tinham nenhum parentesco e nos Países Livres ela deveria ser respeitosa para com ele, mas não possuía a obrigação de chamá-lo de tio. Quando o fazia, sabia que ela queria algo e naquele momento tudo o que ele não precisava era um pedido de Maya.

Quando finalmente tomou coragem para olhar a menina, viu que ela estava vestida com uma roupa discreta e comum, os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e havia até colocado um boné. Próximo a ela, uma mochila e uma mala estavam colocadas, e em suas mãos uma pasta marrom.

– Temos que ir agora. - Disse Maya. - Já coloquei os documentos na pasta, roupas na mala e comida na mochila. Verifiquei a dos três. -

Mevoj sorriu para Maya acenando com a cabeça e voltou a olhar a mesa e as folhas espalhadas. Nao era a primeira vez que eles fugiriam daquela forma, apressada e deixando tudo o que possuíam de valor para trás. A casa era alugada e metade dos móveis veio com ela. O que não era do aluguel ficaria como pagamento para o dono pelos alugueis que não seriam pagos, pois eles simplesmente sumiriam e o dono viria cobrar alugueis atrasados e talvez descobrisse um pequeno bilhete pedindo desculpas.

– Mais duas horas. O navio que vamos pegar só sai as oito, de qualquer forma. - Disse Mevoj. - Seria arriscado ficar no porto onde todos podem nos ver. - Ele suspirou. - Além disso, preciso acabar isso aqui ou a diretora vai ficar publicando em jornais nossas fotos. Entrego o relatório do evento, o relatório de créditos extras de Kevin e minha carta de demissão e tudo acaba. -

– Kevin... - Maya balbuciou. Como ela gostaria de ter passado um tmepo com o rapaz. Ela acha até infantil de sua parte ficar admirada com Kevin, sem saber nada dele e sem conseguir pensar em querer namorá-lo, apesar de verbalizar isso para com as meninas. Mas, era verdade, não conseguia se imaginar fazendo aquilo e ela não entendia o motivo. - Precisamos ir agora, ou sua filha vai pirar. -

– Você vai sobreviver. - Ele sorriu voltando a olhar Maya por alguns instantes. - São apenas duas horas. Acabo de digitar, vou a escola, depois ao campus e então nós partirmos. -

– Estou falando de sua filha de verdade. - Maya comentou. - Sou uma Neet, aguento qualquer coisa. Mas, Riley está sem dormir desde ontem e não comeu nada. Só fica repetindo que precisamos ir embora ou vamos morrer. -

Riley finalmente havia contado sobre o sonho de algo demoníaco atrás dela, enquanto um rapaz a carregava e uma outra atirava contra ela. Com um sonho repetindo-se tantas vezes era normal que ela estivesse apavorada. Mas, seu último sonho, na madrugada de sábado para domingo, trouxe para ela a visão de qual o local seria palco do tiro e quem qual era o demônio atrás deles.

Se o palco fosse a escola e outros elementos envolvessem Rodolfo, Mordecai ou mais alguém da escola Mevoj e Maya não se importariam tanto com o sonho. Mas, o local era a praça da cidade de Khubar e definitivamente aquilo era inesperado, já que raramente iam a praça. E o demônio era o famoso Lorde Empalador e Conde Veneno de Cobra, a família de Maya de quem eles viviam fugindo.

Não importava se era sonho ou premonição, precisavam ir embora de Khubar. O pai de Maya era a pior pessoa para encontrá-los e certamente não perdoaria a fuga deles. Provavelmente mataria os três se algo tivesse mudado nos Países Livres, mas era provável que eles mesmos implorariam para morrer se caíssem nas mãos de Conde Veneno de Cobra.

– Vou deixar tudo isso no Centro Pokémon. - Disse Mevoj voltando a digitar tão rápido como podia. - Saímos de casa as cinco horas. Só preciso de vinte minutos para acabar de digitar e dez para me aprontar. Peça a Riley para te ajudar a fechar tudo e a verificar se não estamos deixando nada de importante para trás. Queime todas as fotos e papéis que possam levá-los a nos identificar. -

<><><><>

Ficou o dia todo na faculdade. Tentou ir para casa, mas Núbia e Sarah não deixaram-na. Era nítido que ela não estava bem e não queriam deixá-la sozinha, mesmo ela dizendo que a irmã estaria em casa. Eram cinco da tarde quando o campus começou a ficar vazio e ela conseguiu caminhar para casa.

O Professor Gary Carvalho estava responsável por levar o corpo para Kanto e a turma que era orientada por ele acompanharia para fazer uma homenagem. As aulas seguiriam normais no dia seguinte com provas e a adição de muitos policiais investigando a torto e a direito.

Era a parte mais deserta de seu trajeto e sentiu um forte vento passar por ela. Olhou para trás e nada viu, nem pessoa, pokémon ou qualquer outra coisa, Fechou os olhos e apertou os passos. Sabia que estava assustada com a série de eventos que vinha ocorrendo e por isso tentava acalmar-se tirando de sua cabeça a ideia de que algo lhe aconteceria. Ela havia ficado longe de Kevin e não deixaria que ele se aproximasse novamente e tirando esse cruel assassinato, Khubar sempre fora uma cidade pacifica. Ela estava segura ali.

– Eu estou segura aqui! - Ela disse de forma firme para se convencer das próprias palavras. - Eu estou... -

Sentiu algo pressionar seus dois ombros e puxá-la para cima. O chão se distanciava rapidamente de seus pés e a cidade começou a ficar pequena a ponto de conseguir ver o mar em volta da ilha onde a cidade ficava. O grito finalmente saiu quando a pressão nos ombros terminou e ela se viu em queda livre em pleno ar a muitos e muitos metros do chão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai?
O que acharam?
Esse sonho de Kevin é muito doido?
O que será que aconteceu com Lívia?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "PEV - Pokémon Estilo de Vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.