Harukaze escrita por With


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 21

Se você cantar debaixo da chuva

Ocultando uma lagrima, escondendo sua voz de desespero

Eu te abraçarei um pouco

Sem perder nada, cumprimentamos a manhã

E o amanhã

Ela sabia que, se quisesse viver em paz, definitivamente, teria que enfrentar seu passado com todas as armas que possuía. E, claro, completamente sozinha. Eram seus assuntos, sua vida, e Tsuhime não poderia deixar que outras pessoas se envolvessem. Mesmo sabendo que ocultar fatos para alguém importante apenas fariam com que duvidassem dela. Estava disposta a suportar mais uma vez as conseqüências de seus atos.

Encontrava-se agora de frente a entrada do esconderijo de Orochimaru, o predileto dele. Tão sombrio quanto antes, ele não a intimidava apesar da aura que o adornava ser completamente restrita. Em passos tranquilos, olhos sempre atentos, Tsuhime começou a caminhar pelo corredor escuro. A estátua em formato de cobra gigante poderia parecer aos demais apenas uma simples escultura, entretanto, se o adentrassem descobririam um lugar de segredos assombrosos. Tsuhime lembrava-se de ter permanecido naquele esconderijo por alguns meses enquanto seu pai alegava ser para sua própria segurança. E não havia mentira mais engraçada do que aquela. Nada do que Orochimaru fazia era para o bem dela, e Tsuhime aprendeu isso da pior forma possível.

Sempre sozinha, sempre dependendo da atenção que Kabuto era obrigado a lhe dar. Com o tempo, a solidão tornou-se sua melhor amiga e confidente. As paredes passaram a respondê-la, a acalentá-la, a protegê-la de seus insanos pensamentos. E quanto mais adentrava o esconderijo, mais ela se via trancada nos velhos tempos. O eco sussurrava seus piores momentos ao lado de seu pai, porém, mesmo que as vozes tentassem aprisioná-la, Tsuhime seguia em frente.

E foi quando chegou ao final do corredor largo que viu uma figura misteriosa ali, como se soubesse que ela viria. Como se a esperasse. Apesar da iluminação das tochas, Tsuhime pouco conseguia decifrar a tal figura. Pela altura deduziu ser um homem e à medida que ele se aproximava apenas um olho, vermelho e familiar, chamava-lhe a atenção. Instintivamente deu um passo para trás, contudo, foi apenas questão de piscar os olhos para notar que o homem não estava mais a sua frente, e, sim, às suas costas.

— Esperei muito por você, Hime. — A voz mortiz causou-lhe espasmos de aflição, seu corpo enrijeceu-se imediatamente. — Agora sim poderei seguir com os meus planos.

— Quem é você? — Tsuhime interrogou trêmula.

— Não precisa se preocupar com isso agora. — Sob a máscara, ele sorria. — Ninguém aqui irá lhe fazer mal. Eu prometo.

Muitas pessoas haviam prometido coisas a Tsuhime, mas nenhuma delas soara-lhe tão metidamente falsa a seus ouvidos quanto às palavras daquele homem. Sentiu um toque em seus cabelos, logo a espessa mecha foi envolvida nos dedos do homem com força, forçando-a a pender a cabeça e encostá-la em seu peito. A respiração dele era lenta, contudo, altamente intimidadora. Afinal, tudo naquele ser lhe intimidava, dentre eles os olhos possuíam maior poder.

— Eu já vi esses olhos... — Tsuhime comentou baixo, quase esganiçada. — É você, Sasuke?

O homem riu alto, achando graça da insegurança da jovem.

— Não sou Sasuke e é impossível que tenha visto olhos iguais aos meus. — Ele rebateu altivo, ativando o seu poder ocular. A marca do Sharingan se transformara e a jovem mulher não conseguiu identificá-la. — Você se lembra de ter visto essa evolução?

— Foi você que matou meu pai? — Tsuhime ignorava o senso de narcisismo do homem, interrogando-o com assuntos que a interessavam. Assuntos que a fizeram percorrer o caminho até aquele esconderijo. — Fiz uma pergunta simples, responda!

O mascarado puxou um pouco mais o cabelo de Tsuhime, obrigando-a a resmungar com a dor. Com a mão livre envolveu o pescoço alvo da garota em uma manobra em que ela ficasse completamente exposta a ele. Era uma bela jovem mulher, no auge de sua feminilidade e, em contrapartida, mantendo um relógio biológico recém despertado. Então, ele se deu conta de que Yatsuki Tsuhime era a pessoa perfeita para o que tinha em mente. Mesmo que lhe soasse estranho tê-la para si nas formas mais desejosas em seus sentimentos de homem. Além, é claro, de possuir a genética mais favorável que já contemplara. Aceitá-lo seria de praxe.

— E se tiver sido eu, o que você fará? — Ele inquiriu, debochado. — Pelo que sei não domina muito bem seu chakra e qualquer tentativa sua de me atacar seria em vão. Então, apenas aceite o que eu tenho para te oferecer. Na verdade, quem irá presentear o outro aqui é você.

— Parece que me conhece muito bem. — Tsuhime estreitou os olhos, enquanto procurava qualquer abertura na máscara alaranjada.

— Tive um confidente muito próximo de você, Hime.

Atraído pelo chamado surdo do mascarado, outra figura masculina juntou-se a pequena reunião. E ao reconhecê-lo, mesmo com o capuz cobrindo-lhe a face, Tsuhime sentiu o coração acelerar; tanto que lhe causava aflição e desespero. Então, se o ninja médico estava formando dupla com aquele homem estranho, suspeitar de Kabuto e acusá-lo como assassino de seu pai não fora, de todo, uma dedução errada. Por mais que quisesse dirigir-lhe a palavra a jovem o ignorou, convicta de que o homem que a segurava era sua prioridade.

— Está enganado. — Tsuhime continuou a conversa como se nunca tivessem sido interrompidos e segurou a mão dele, afastando-o de seu pescoço. Apenas senti-la em seu corpo causava-lhe sensações de asfixia. — Eu não tenho nada que você possa querer.

— Você, alguma vez, já se olhou no espelho?

E partir daquela pergunta, a mente de Tsuhime começou a trabalhar em descobrir as reais intenções daquele homem. Entretanto, quando se dera conta, ela já não conseguia se mover e muito menos proferir qualquer frase. Seus olhos encontravam-se fixos no único olho vermelho do mascarado e uma carga de imagens adentravam suas memórias e alteravam sua realidade.

A sua frente, agora, todo o cenário se modificara. Encontrava-se no laboratório, sentindo as mesmas dores de todos os anos que sofrera ao lado de seu pai. Foi impossível para ela controlar os gritos, tentar deter as agulhas que lhe pareciam sorrir em crueldade e que, todavia, divertiam o coração sádico da pessoa que a torturava.

O passado recriado, retirado de sua própria consciência, continuou por horas até que o mascarado tivesse arrancado de Tsuhime todas as suas forças, até que a visse prostrada e arquejando, com lágrimas a manchar o bonito rosto. E nos olhos um brilho que ele apreciou: O medo. Um alvo imóvel é um alvo fácil. Ele conversou consigo enquanto recebia-a em seus braços em plena inconsciência.

(...)

Acordou sentindo o corpo dormente e a cabeça doendo como nunca. Os olhos foram os primeiros a reclamaram pela claridade que as tochas emitiam no cômodo, que por sinal Tsuhime foi incapaz de reconhecer. Apenas havia um futon, onde provavelmente dormira, uma mesinha próxima e não tinha janelas, além disso, o quarto possuía espaço de sobra. Tentou se mover, porém com a fraqueza dos músculos ela optou por permanecer mais um pouco deitada.

O que aconteceu enquanto esteve inconsciente era de seu total mistério, por mais que se esforçasse para lembrar. Sua mente havia trancafiado suas memórias, não lhe dando a oportunidade de descobrir. E aquilo começou a deixá-la nervosa. Era nítido que as intenções daquele homem não poderiam ser das melhores e mais nobres do senso de cavalheirismo, então Tsuhime tinha duas alternativas a acreditar. A primeira: Ela era apenas uma prisioneira, uma peça chave para concluir os planos do mascarado; A segunda: Que fora violada em seu estado de torpor e agora seria descartada como um mero objeto.

Contudo, custava-lhe acreditar que aquele homem esperou por ela durante todo esse tempo. Se ele estava mesmo com Kabuto, na certa já deveria ter sabido seu paradeiro muito antes. E não só isso, tinha conhecimento dela por completo. E não havia sensação pior do que ser lida por um estranho, por uma pessoa a quem jamais vira e que lhe decifrava tão bem.

Livrando-a de seus devaneios, a porta se abriu com um rangido, revelando alguém que depois de todos os seus erros e tropeços jamais pensou que veria a sua frente. As mesmas lentes escuras, a mesma roupa pesada e misteriosa e o perfume que sempre a acompanhou por todos os anos, ajudando-a a trilhar o seu caminho difícil. E quando ele se abaixou, inclinando-se para ela, Tsuhime não teve outra reação senão aceitar o toque dos lábios de Shino nos seus.

Por que seu coração era tão fácil de enganar?

— Eu amo você. — A voz dele proferiu tão nítida e sonora que fez os olhos da jovem marejarem.

E quando eles se beijaram novamente, Kabuto não pôde evitar sorrir de satisfação. Mesmo que não tivesse sido ele a causar aquela dor, já se sentia realizado por ter arquitetado tal situação. E, de certa forma, apesar de gostar de Tsuhime, não lhe incomodava machucá-la de todas as formas que ele conhecia.

O que se seguiu depois do beijo foi restrito, embora ele soubesse perfeitamente o que aconteceria por trás das cortinas.

(...)

Não havia saído como o planejado, Tobi teve que reativar seu poder ocular em vários momentos enquanto esteve com Tsuhime, enganando a fragilizada mente da jovem. Não podia negar que estava, de fato, ao mesmo tempo satisfeito e admirado com a garota. Nunca, em toda sua existência, vira alguém mostrar resistência ao Sharingan. Com certeza, eu não poderia ter escolhido melhor. De certa forma, é uma vingança.

Cobriu-a e rumou para fora do quarto, nada lhe agradaria continuar velando Tsuhime depois do que fizera. Ele não era assim e não existia qualquer sentimento em seus atos. Em breve ordenaria a Kabuto que a devolvesse a Konoha, mas não antes de ter certeza de que tudo estava conforme os planos.

Foi ter com Kabuto num dos cômodos restritos do esconderijo, local bem afastado de onde deixara Tsuhime descansando. Encontrou o ninja médico sentado na cadeira e um sorriso adornando-lhe os lábios em puro deleite. Não foi preciso perguntar, pois Tobi compreendia o motivo.

— Você é sádico.

— Só estou feliz. — Kabuto riu abertamente, tamanha felicidade. — Foi tão fácil e eu não precisei trazê-la até você. Ela veio espontaneamente. Mas... — Ele cantou a palavra de forma irritante. — Não acho que deva devolvê-la. Ela pode ser útil se ficar aqui.

— É uma parte da minha vingança, não posso ser misericordioso. — Tobi cruzou os braços, o único olho a mostra com a atenção distante. — Vamos observá-la durante um mês, se tudo ocorrer bem ela voltará para Konoha. Caso contrário, manterei Tsuhime aqui até conseguir o que eu quero.

— Com o “vamos” você quer dizer eu, não é? — Kabuto bufou entediado, depois de vinte anos ainda continuaria sendo a babá de Tsuhime. Humilhante!

— Não vejo outro médico por aqui, além disso, você é a única pessoa que a conhece. Muito bem, por sinal.

— Ainda continuo achando que deveria mantê-la aqui. — E, depois da sensação de perigo que Kabuto sentiu, foi sua última frase no dia.

(...)

— Não me espanta que você esteja aqui. — Tsuhime disse, os olhos flamejantes de raiva fixos em Kabuto. Seu corpo ainda se encontrava debilitado, porém ela precisava despejar suas angustias no rapaz. — Como teve coragem de matar o meu pai?

— E quem te disse que fui eu? — Kabuto rebateu quase perdendo o tom costumeiro da voz. E, naquele momento, vendo-a tão iludida foi incapaz de continuar a maltratando.

— Não é necessário que me digam, eu sei! — A jovem sentia os olhos arderem, sentindo-se frustrada consigo mesma. — Você sempre consegue me manipular. É divertido, Kabuto? Eu só quero ter uma vida normal e você pode me deixar tentar! Por que está sempre no meu caminho?

Yakushi Kabuto guardou silêncio, observando a maneira furiosa que Tsuhime limpava as lágrimas. Apesar de ela ter completado vinte anos, aos seus olhos, ainda era a mesma garotinha medrosa e instável, tão pateticamente previsível, contudo, no corpo de uma mulher. E ele admirou-a concentrado. Sabia que ela jamais conseguiria mudar, que sempre dependeria de alguém, porém ele pensou se poderia ser essa pessoa que Tsuhime necessitasse. E, tão rápido quanto cogitou, Kabuto percebeu que ela já o havia excluído de sua vida quando fugiu um ano atrás.

Ele era a sombra que ela queria se livrar.

— Por que não me responde? — Tsuhime interrogou, trazendo Kabuto a realidade. Os ombros baixos, cansados de suportar ser retirada cada vez de seus propósitos.

— Não tenho essa obrigação. — Kabuto retrucou mal humorado.

— Então, por que está aqui?

— Pare com esses porquês! — No fim, o tom de voz havia se alterado, causando espanto em Tsuhime. Essa era a primeira vez que Kabuto gritava com ela de verdade.

— Quero ficar sozinha, saia. — A jovem caminhou para o futon, exausta, a mente em completo caos, apenas queria dormir e abandonar o dia para trás, contudo não conseguiu chegar até ele. O pulso estava preso pelos dedos de Kabuto e logo o corpo absorvia o calor dele.

E o abraço foi tão sincero que Tsuhime não conseguiu resistir naquele exato momento. Enxergava que estava agindo como uma garotinha medrosa, necessitada de atenção e Kabuto se dispôs a dá-la tão naturalmente que até chegou a ter um sentimento bom por ele. Talvez ainda existisse a possibilidade de conhecê-lo e descobrir que dentro de Kabuto havia uma parte em que ela pudesse confiar.

Todavia, com o passar dos minutos, Tsuhime foi tento ciência de suas atitudes. Num ato inesperado empurrou o ninja médico, as mãos enluvadas pela camada de chakra gélido. Tsuhime fez alguns selos de mão e logo quatro paredes transparentes e grossas com afiadas estacadas por dentro, em cada pólo do rapaz, surgiram ao redor de Kabuto.

Sarcófago Espelhado. — Ela proferiu, as pupilas dilatadas e olhar insano, vidrado.

Com a sua ordem as paredes foram se fechando em torno de Kabuto, formando uma espécie de caixa. O ar se tornou frio, a respiração escapando enevoadas. Por dentro Kabuto contemplava a própria imagem, absorto do mundo fora daqueles espelhos. E percebeu que se não conseguisse uma forma de escapar dali rápido Tsuhime iria lacrá-lo. E de uma maneira dolorosa.

Entretanto, Tsuhime não soube como a imagem de Shino pudesse estar presente no cenário. Aquilo confundiu sua mente e ela desfez toda a técnica, os espelhos explodiram em pequenos cristais como se fossem flocos de neve. Encarou Shino, nervosa e tímida.

— Ainda não posso deixar que o machuque. — Ele tocou o rosto da garota carinhosamente. — Terá sua oportunidade. Por enquanto, apenas espere. Em breve, eu a levarei para casa.

— Não entendo... Por que está o defendendo? — As sobrancelhas se franziram em discordância. — Ele...!

Shh... — “Shino” pressionou os lábios dela com o dedo, impedindo-a de continuar a falar. — Está tudo bem. Confie em mim. — E, como todas as ocasiões, o Sharingan estava ativado prendendo Tsuhime em um poderoso genjutsu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Deixe sua opinião, crítica construtiva, sugestão... Tudo será bem vindo.
Até quarta!
Beijos!



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