Harukaze escrita por With


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 20


Quando nossas mãos se separarem

Você esquecerá algum dia

De mim?


Sobressaltou na cama, a mão repousando sobre o peito em uma tentativa de acalmar o coração acelerado. Seus olhos percorriam o quarto com sagacidade, tendo a nítida sensação de que havia alguém com ela momentos atrás. Somado a isso, Tsuhime mantinha a respiração rápida por causa do sonho que tivera. Não, classificar aquelas imagens assombrosas como sonho era inválido. Mais um pesadelo, o que começou a observar ser uma constante em suas noites.

Olhou o relógio, vendo que faltavam poucos minutos para despertar na hora em que sempre acordava todos os dias. Decidiu, por fim, dirigir-se ao banheiro e tomar um banho mais demorado. Pela umidade do ambiente, Tsuhime optou por vestir uma blusa de manga comprida e saia acompanhada da meia-calça quadriculada. Não a protegeria do frio, mas ela odiava usar calças. Calçou as botas e deixou os cabelos soltos.

— Não vou poder continuar morando aqui por muito tempo... — Ela conversou consigo enquanto dirigia-se para a saída do quarto. A essa altura, a casa que estava disponível já havia sido vendida há tempos. Cumprimentou o recepcionista com um sorriso e ganhou as ruas.

Apesar da hora, os moradores trabalhavam na desmontagem do festival. Entristeceu-se, a decoração estava tão bonita que dava pena desmanchá-la. Enfim, deixou os pensamentos de lado e rumou ao laboratório. Sua equipe já se encontrava a sua espera, prontos para realizarem os pedidos da Hokage e a primeira coisa que ela fez foi ler a lista dos remédios. Distribuiu cinco para cada pessoa, incluindo a si mesma, e foi ajeitar-se em sua mesa individual.

Os componentes eram administrados milimetricamente, Tsuhime fornecia a maior cautela em todos eles. Pelo que conversara com Tsunade, sua estadia no laboratório iria terminar amanhã, alegando que ela se daria melhor na obstetria. Havia se acostumado àquela tarefa, porém não iria recusar o emprego por questões sentimentais. Tsuhime adorava crianças e sempre a fascinava descobrir o quão o corpo humano poderia ser perfeito.

— Tsuhime-chan, tem um minuto? — Era a voz de Tsunade, chamando-a da porta para não atrapalhar o trabalho dos demais. — É importante.

— Claro... — A jovem Yatsuki concordou, retirando o jaleco e indo ter com a Hokage. A expressão da mulher de cabelos loiros era tensa e cuidadosa e nada lhe passava na mente o quê poderia ser. Seguiu-a até uma área vazia do hospital e aguardou que ela falasse.

— Na investigação do massacre na vila de Taki, descobrimos algo totalmente fora dessa questão. — Tsunade começou, medindo as palavras.

— Estou ficando preocupada... O que a senhora descobriu? — Tsuhime sentia o coração palpitando, causando-lhe desconforto.

— Seu pai está morto.

— O quê? — Tsuhime acabou por pronunciar-se alto. — Como assim papai está morto? Quem foi o responsável? — E não era para sentir-se daquela maneira, porém as paredes do hospital pareciam andar em sua direção para fechá-la. Era impossível que Orochimaru estivesse morto! Em todos os anos de sua vida, jamais havia pensado em tal possibilidade. — Diga-me, Tsunade-hime!

— Não fazemos à menor ideia. Os boatos que correram entre as vilas não trouxeram o nome do assassino. Talvez ele não tenha sido assassinado.

Tsuhime calou para pensar. Quando fugira pela última vez, lembrava-se do semblante do pai: Totalmente cansado e suado, evidentemente a aparência de uma pessoa doente. Entretanto, mesmo pensando nisso agora, tornava-se inválido tal queixa. Conhecia Orochimaru e custava-lhe acreditar que alguém tivesse sido capaz, embora ele estivesse fraco em atuais circunstâncias. Levou o indicador aos lábios, distante da realidade.

— Papai estava fraco, mas não incompetente. Ele saberia se livrar... — A jovem falava apressada, esquecendo-se de Tsunade. — E Kabuto provavelmente encontrava-se com ele... — E, subitamente, os pensamentos foram se encaixando e estagnou em uma única solução. — Kabuto teria sido capaz?

— Desculpe-me por dizer, mas você não me parece abalada. — Tsunade exclamou, olhando-a atentamente. Talvez a mente de Tsuhime não conseguisse processar as informações e a assolava com hipóteses. — Está tudo bem?

— Por incrível que possa parecer, eu... Eu não consigo sofrer pela morte do papai. — Tsuhime revelou em um suspiro, ocultando a euforia com que as coisas se ligavam em seus pensamentos. — Uma parte de mim está aliviada. Na verdade, uma boa parte de mim desejava isso. — Encarou a Hokage, séria. — Sou uma má pessoa?

Tsunade abriu e fechou os lábios repetidas vezes, até ter a certeza do que responder, ou convencer-se de dizer o que Tsuhime esperava ouvir:

— Ele a magoou muito, então não se sinta culpada. Eu também não conseguiria ficar triste.

— Acha que tentando usar a empatia faz com que eu me sinta melhor? — Tsuhime recriminou a ardência nos olhos. Seu cérebro mandava as informações em câmera lenta, forçando-a a acreditar na verdade. — Dói com a mesma intensidade de que quando soube da mamãe. Acho que sou amaldiçoada, talvez eu esteja destinada a perder pessoas que são importantes para mim. Vou dar uma volta.

E a jovem não esperou por palavras por parte da Hokage, apenas girou nos calcanhares e rumou para a saída do hospital sem ser interrompida. Então, como nas outras vezes, ela também estava mais sozinha. O vazio a tragava com maldade, obscurecendo as esperanças que um dia tivera. Claro, ela sabia que seria momentâneo, contudo, sentir-se só por dentro trazia-lhe mágoas, recordações antigas. E eu que pensei que teria um dia legal...

— Ei, olhe por onde anda! — Um homem a repreendeu irritado, desviando do corpo de Tsuhime.

Ela apenas teve a decência de murmurar um fraco pedido de desculpas e continuou caminho, sem destino aparentemente. As lágrimas que haviam se formado em seus olhos continuavam no mesmo lugar, quase como se tivessem secado. Desde quando se tornara aquele tipo de pessoa? Sentou-se no primeiro banco que avistou, as mãos repousavam inertes no colo. O olhar ao longe pensava se estaria chocada, o que poderia acontecer depois de receber o impacto da notícia minutos atrás. Mas, confusamente, sabia que não precisaria de tempo para se recuperar. Admitiu que, na situação, encontrava-se preocupada com outra questão.

Se papai está finalmente morto, então eu não posso continuar sendo tão descuidada. Ele era a minha última esperança de liberdade. Aconselhava-se, notando que uma presença juntara-se a ela na praça. Suspirou, desolada, e ofereceu-lhe atenção.

— Pensei que estaria aqui. — Kakashi disse, observando-a com a atenção. — Tsunade-sama me contou sobre Orochimaru. Está tudo bem?

— Está. — Tsuhime respondeu rápido, algo dentro dela alertou-a sobre o homem ao seu lado. Afastou-se discretamente, tendo o cuidado para que ele não notasse. — Sabe, Tsunade-hime deveria te dar mais missões. Você anda com muito tempo livre.

Kakashi riu, fingindo-se de constrangido. Droga...! Maldita Tsuhime! Pensou, desviando da atenção que a jovem lhe atribuía. Calou-se, esperando que ela continuasse a conversa da mesma forma que iniciara. Contudo, Tsuhime levantou-se, dando alguns passos para longe de Kakashi. Em todos os momentos que estivera na companhia do ninja copiador, aquela sensação estranha jamais a assolara. Tem alguma coisa muito, muito errada aqui...

— Preciso voltar, tenho muito trabalho. Vemo-nos mais tarde. — E ao virar-se, sentiu a mão apertar seu pulso e os olhos tão conhecidos recaírem sobre ela. Imediatamente o suor frio brotou dos poros, começando a molhar suas costas. — O que foi? — Observou os lábios cobertos se repuxarem em um sorriso e, em instantes, eles alcançaram seu ouvido.

Você, definitivamente, não sabe se esconder. É tão previsível, que chega a ser patética. Achou mesmo que escaparia de mim?

Tsuhime livrou-se rudemente do contato e correu o máximo que suas pernas trêmulas aguentavam. Aquela voz a fez congelar, o coração havia acelerado com a descarga de adrenalina que o homem depositara contra ela, o suor agora se tornava evidente. Não havia lugar onde pudesse se esconder, ele tinha razão ao descrevê-la e jamais a deixaria livre como sempre quis. Acho que sou, de fato, amaldiçoada. A Yatsuki despejou suas conclusões enquanto subia as escadarias da hospedaria a fim de arrumar seus pertences.

Não seria adequado sair de Konoha agora, porém ela não poderia permanecer ali sabendo que estaria sendo constantemente observada por Kabuto. O maldito era rápido e muito mais esperto do que ela. E, sem imaginar, Tsuhime estava prestes a fazer o que o subordinado de Orochimaru queria.

Sim, minha Hime. Venha para mim. Era seu psicológico criando-lhe ilusões ou a voz realmente soara nítida atrás dela? Temeu virar-se e deparar-se com Kabuto, sorrindo cruelmente como sempre, divertindo-se com sua carga extra de azar. Contudo, como um lampejo em sua mente, Tsuhime cessou os movimentos eufóricos e acalmou-se. Ela não era mais a garotinha indefesa de outrora, não precisava temer ninguém porque havia adquirido força nos últimos anos, a necessidade de se esquivar dos problemas não lhe cabia mais.

Agitada, voltou às ruas de Konoha, correndo e desviando-se das pessoas que se encontravam em seu caminho. Não fazia a menor ideia do que seus sentimentos exigiam dela, porém a incontrolável vontade de ver Kakashi dominou-a por completo. Não posso perder você também. E, daquela vez, ela não se incomodava em ser previsível. Afinal, era uma característica irritantemente marcante de sua personalidade instável.

Sorriu largamente ao vê-lo e chamou-o, esperando que ele a escutasse. E ao observá-lo virar-se para si, correspondendo ao seu chamado, Tsuhime lançou-se contra ele. Envolveu-lhe o pescoço urgentemente, apertando o corpo contra o corpo masculino, embora se encontrasse ridiculamente nas pontas dos pés. Senti-lo retribuir, mesmo sem entender a repentina atitude, acalentava-a. As pessoas curiosas questionando tal casal transformaram-se em figuras invisíveis para Tsuhime.

— Que me lembre, não é meu aniversário. — Kakashi comentou de bom humor ao separar-se da jovem, que lhe sorria radiante.

— Você... Você ainda estará aqui para mim, não é? — As palavras soaram receosas, porém com um timbre extremamente confiante. Contradições não faziam a mínina razão agora. — Eu preciso de você, Kakashi.

O ninja copiador franziu as sobrancelhas ao escutar tal pedido e totalmente inesperado e confuso. Ele não tinha a menor base no que forjar respostas e as atribuir ao que Tsuhime gostaria de ouvir, na verdade ela precisava ouvir que sim. Contudo, mesmo surpreso, Kakashi não se incapacitou de verbalizar:

— Se quer assim, então estarei. — Kakashi deu de ombros, tratando tais palavras como se fossem apenas isso, palavras superficiais. — Você é bem...

— Instável, eu sei! — A jovem o completou, logo assumindo uma postura séria e preocupada. — Pode me prometer uma coisa?

— Não sei. Primeiro me diga o que terei que prometer, depois veremos se sou capaz de cumprir ou não. — Ele enfiou as mãos nos bolsos, esperando que ela continuasse.

Movida por uma força maior, Tsuhime não soube explicar quando se aproximara tanto de Kakashi a ponto de ver-se refletida no único olho a mostra. Sua imagem se condensava na imensidão negra, dona de um brilho quase esperto e decidido. Apesar dos anos ter passado, ela jamais iria aumentar a sua altura, prova disso teve quando ficou na ponta dos pés para alcançar os lábios de Kakashi. Mesmo por sob a máscara ela sentiu que, de alguma maneira, ele a retribuía.

— Espere-me. — Ela esclareceu ao romper o contato íntimo.

Kakashi, apesar de continuar não entendendo muito bem os motivos de Tsuhime, acabou por prometer. Contudo, se ele soubesse naquele tempo do que se tratava, nos dias atuais, teria pensado um pouco mais em sua decisão.

(...)

A vida que Tsuhime levava poderia ser classificada como ironia, afinal estava repetindo o que fizera quatro anos atrás. Talvez fosse imprudente de sua parte ceder aquele homem quando tinha outro em pensamentos, e esperava que nenhum dos dois saísse machucado. Na verdade, ela não queria causar-lhe a mesma dor. A dor que Shino provavelmente jamais seria capaz de perdoá-la. Entretanto, o Aburame dera-lhe sinais de que se esquecera do passado ao vê-lo no festival. A respeito desse antigo amor, Tsuhime jamais obteria uma resposta agradável.

E Kakashi se aproximara tão espontaneamente, como se adivinhasse os momentos em que ela precisava de alguém. Lembrava-se do dia em que ele a consolara ao ser tragada por inúmeros sentimentos de automutilação e desprezo por si mesma. Sim, ela deveria ao ninja copiador todos os anos que se seguiriam de sua vida, isso se ele a quisesse. Pois Tsuhime permanecia irredutível em sua decisão.

Talvez não fosse sensato o que estivesse fazendo, porém, a contragosto, tinha que admitir para si mesma que apenas estava fingindo ser forte. Seu pai, a única família que possuía, havia morrido e ela desejava saber quem fora o responsável. Descartara a ideia de ter sido Kabuto, o médico jamais teria condições tão fortes para conseguir tal feito... A não ser se fosse por alguma medicação, o que ela guardou a possibilidade em silêncio.

Sabia que mais cedo ou mais tarde Kabuto iria encontrá-la, contudo, ela cansara-se de fugir de seu destino. Lutaria agora por sua liberdade, por ter o direito de viver tranquilamente. A vida devia isso a ela, mais que tudo. As mágoas cessaram, o desconforto já se dissipara de seu coração há tempos e a única coisa que almejava agora era se dar ao luxo de ter paz. A paz que sentira ao lado de Taki, ao lado de Kakashi... Ao lado de Shino.

E era por entre árvores majestosas que Tsuhime refazia o caminho que percorrera em muitos anos de desespero. Regressava a seu lugar destemida, completamente lúcida de seus desejos. Se esse é o único meio, então está bem. Eu vou me livrar de todas as amarras... De uma vez por todas.

E Yatsuki Tsuhime não poderia estar mais enganada.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e espero que tenha gostado.
Críticas construtivas, sugestões, dúvidas... Deixe sua opinião, ficarei feliz em saber.
Até semana que vem.
Beijos!



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