inCOMPLETO escrita por Lorenzo


Capítulo 7
A infeliz descoberta




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Ter. 29.05.2012

Eu ainda estou um pouco bobo. Sei que não tenho um motivo lógico pra isso, mas acho que alguns momentos de pura bobeira são necessários. O fato de Emilly ter-me dado aquele pingente mexeu de alguma forma comigo. Isso faz sentido? Talvez. Mas não perco meu tempo tentando fazer sentido, a vida pode ser muito curta pra isso.

Tia Jaque me deixou vestido para hoje a tarde. Ela foi ao centro da cidade resolver algo que ela não quis me dizer. Ultimamente ela anda diferente, um pouco sem ânimo, e não compartilha mais comigo as coisas que antes compartilhava. Eu tento aceitar isso e penso que em algum momento ela vai me contar. Visto uma camisa polo azul com um suéter negro por cima. Faz muito frio aqui em minha cidade, Nova Videira. Juan me convidou para irmos a um restaurante de comida natural no centro da cidade.

Por volta das duas e quinze Juan apareceu. Fomos de carro até o centro, onde deixamos o carro e fomos andar pela cidade. (Andar é uma das coisas que de forma alguma fizemos, soaria como uma ironia, apenas passeamos) O pai de Juan nos deixou próximos ao restaurante e disse que nos buscaria ao entardecer. Pela primeira vez me sinto realmente livre. Sem ninguém me espreitando e vigiando minhas necessidades. Pela primeira vez me sinto normal, não um coxo preso a sua maldita realidade imfeliz. Mas sei que a liberdade tem seu preço.

– Vai mais devagar - digo a Juan, que já está muito a frente. Acho que ele esqueceu que não consigo empurrar a Mandy na mesma velocidade que ele.

– Desculpa - ele para -, eu estou acostumado a sempre ser o mais lento e... - ele fica vermelho de repente - Oh! Não que você seja muito lento e... - ele fica confuso e começa a interromper sua linha de raciocínio na tentativa de não se embaraçar mais.

– Calma aí curupira. - digo alcançando-o e colocando a mão no seu ombro - Eu entendi, okay? Agora só me deixe descansar um pouco. - tiro a mão do seu ombro e coloco sobre minha perna na tentativa de descansar um pouco.

– Mas nós já chegamos - ele aponta para cima, em direção a uma placa rústica onde leio "Nature food" em letras talhadas em alto relevo na madeira, coloridas com alguma tinta em tons envelhecidos.

O restaurante é fascinante. Está localizado bem no centro de Nova Videira mas contrasta com os prédios em estilo colonial da cidade. Um verdadeiro bosque.

– Isso é incrível! - digo com fascínio desorientado.

– Você ainda não viu dentro! - Juan está radiante, sinto como se ele estivesse me levando ao seu esconderijo secreto, seu refúgio. Percebo nele uma alegria infantil.

. . .

Após demorarmos muito escolhendo o que íamos comer - tenho que respeitar a minha dieta - ficamos em nossas cadeiras de rodas admirando o ambiente. O som ambiente era fantástico, me pareceu flauta. Animais eram permitidos se fossem treinados, e de fato tudo naquele lugar contribuía para tornar uma das melhores experiências da minha vida.

– Vamos, quero te mostrar algo. - ele foi até o caixa e pagou a conta, enquanto eu ia lentamente na tentativa de aproveitar o máximo aquele lugar.

– Onde vamos? - já estamos a alguns minutos ao lado de fora.

– Eu queria ver o pôr do sol, mas a milly está um pouco atrasada.

Eu demoro um pouco para associar Emilly a "milly" e assim que associo uma pontada de felicidade me surpreende.

– Ela vem? - digo tentando fingir não me importar.

Juan gargalha e me dá um soco de leve na perna.

– Era só uma piada, bobão. Ela ainda está um pouco... um pouco "não-muito-a-vontade" contigo. Mas depois isso passa... Estamos sempre nesse clima, mas eu sei o que a fere e ainda assim ela me perdoa, quem dirá você.

"Eu sei o que a fere." - isto se repete em minha cabeça. Luto contra a vontade de perguntar o que a fere, mas sou fraco:

– E o que a fere? - eu apenas encaro uma pequena loja de verduras e legumes orgânicos a frente.

Juan está perdido em seus pensamentos e assim que se encontra apenas pede para que eu não me concentre nisso. "Ainda é cedo." - ele disse.

– Vamos a pé mesmo.

– A pé? - indago jocoso - Só se os seus funcionarem, os meus já nem sabem o que é chão. - brinco e ele replica com alguma piadinha que não consigo entender, foge ao meu conhecimento.

Juan acompanha minha limitada velocidade lado a lado. A maioria das pessoas este é um dos inúmeros desconfortos de se andar comigo, mas para ele parece algo normal e imagino que seja pelo fato dele também não poder ser muito rápido numa cadeira de rodas.

– Ouça - ele para de repente -, você está ouvindo, Quin? Você pode ouvir?

Só consigo perceber o vento balançando nossos cabelos e nenhum som além daquele mas resolvi confirmar.

– Sim, eu ouço. - digo convicto, mas ele não aparenta acreditar.

– Você é louco.

– Você não ouve?

– Eu deveria?

– Eu não sei. - digo - Você não ouve?

– Acho que sim.

– Então somos dois loucos. - coloco meu braço por detrás das costas de Juan. Faz frio e preciso me aquecer de alguma forma.

– Aquela ali não é sua tia? - ele aponta em direção a um pequeno restaurante com iluminação casual e banhado pelo crepúsculo.

O lado obscuro é que nós dois observamos que ela está acompanhada, mas acho que só eu percebi de quem se trata.


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Notas finais do capítulo

Eu peço mil e uma desculpas por atrasar tanto com este capítulo! Acontece que viajei neste meio tempo e não levei meu notebook, como estava longe de casa ficou realmente muito difícil postar algum capítulo. Eu PROMETO que isso não voltará a acontecer. E pra compensar publicarei três capítulos nessa próxima semana, dois na seguinte e depois voltaremos a um capítulo semanal. Mil e uma desculpas. ''/



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