inCOMPLETO escrita por Lorenzo


Capítulo 2
O maldito dia catorze ataca novamente




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Seg. 14.05.2012

O dia começou entediante. Tia Jaque não me deixou em paz por seque um minuto e eu não pude fazer absolutamente nada por pura falta de concentração. (e olha que a lista de coisas que eu possa fazer sozinho já não é muito grande) Por volta das dez horas ela me levou ao banho.

É sério: EU ODEIO TOMAR BANHO. Eu gosto de me sentir limpo, é agradável. Mas o problema não é esse. É vergonhoso ter dezessete anos e ainda precisar de ajuda para algo ridículo como tomar banho. Eu não me acostumo, não adianta. Não é um centímetro quadrado do meu corpo que ela não conheça e isso incomoda bastante.

– Está animado, querido? – pergunta ela enquanto limpa... Bem... Enquanto limpa algumas partes que eu prefiro não mencionar. Fico confuso. Não estou nada animado mas também não quero desanimá-la. Eu amo de verdade.

– Talvez. – digo com certa indiferença porém nada que a fira.

– Tudo bem. – ela encerra enquanto sobre e começa a esfregar a minha barriga. Estendo minhas mão de leve e ela coloca um pouco de shampoo em cada uma para que eu tente esfregar meu cabelo. Esse é um exercício que a doutora passou da última vez, e eu confesso que gosto de saber que ao menos nisso eu posso contribuir. Bobo, mas nessa minha vida morna certas bobeiras me fazem muito feliz.

– Seria legal a senhora me falar para onde vamos; – digo, mas ela me encara e eu sei que espera que eu me corrija, então logo prossigo – para onde eu vou, digo.

– Eu te conheço muito bem a ponto de saber que preciso ficar quieta. – ela começa a lavar minhas costas, e isso significa que daqui a pouco vem a parte que menos gosto.

Eu já sei pra onde ela quer me levar e sou esperto o suficiente pra saber que ela o fará independente da minha vontade e prefiro tornar as coisas mais fáceis para os dois.

– Tudo bem, - pauso – você pode enxaguar meu cabelo para eu poder passar o creme?

. . .

Definitivamente nós não somos ricos. O carro da tia Jaque foi improvisado para comportar a Mandie, minha cadeira. Quando tio Alfredo era vivo ele gostava de fazer algumas adaptações pra tornar a minha vida mais fácil. Foi dele a ideia de transformar a garagem no meu quarto. Pena que ele não teve tempo para ter nenhuma ideia que me ajudasse a me limpar ao usar o banheiro ou qualquer coisa parecida.

– Prontinho, meu amor – ela diz com um tom cheio de remorso, consigo sentir essas coisas -, vai ficar tudo bem, okay? – ela sabe que as coisas não ficarão nada bem, mas ela quer me fazer acreditar nisso e eu resolvo acreditar nessa sua fantasia infantil para deixa-la um pouco mais feliz.

– Que horas você volta? – digo.

– Já fomos ao banheiro, lanchamos e estamos limpinhos – ela diz, mesmo sabendo que eu odeio quando ela se refere a mim como se fôssemos um só. -, volto pra te buscar em três horas. Caso aconteça algo eles têm uma equipe excelente para te assistir.

– Okay. – Digo e começo a mover a Mandie em direção a porta do tal lugar. Meus braços não me permitem ir muito rápido, assim como também não me permitem subir nenhuma rampa muito íngreme.

. . .

Eu me sinto completamente deslocado. Parece que todos tem um lugar aqui, menos eu. Tenho vontade de ir embora logo assim que passo a porta logo depois do jardim, mas então me lembro que estou aqui por tia Jaque e repito isso mentalmente. O lugar até que é bonito, tem um clima agradável e tudo mais. Não parece uma casa de recuperação, é exatamente o oposto disso e é por ser o oposto imediato de uma é que penso que estou numa. O ambiente é amplo e arejado, as janelas não tem cortinas e tem algumas plantinhas bem simples em vasos de cerâmica.

– No começo é sempre assim – diz uma voz atrás de mim, e eu tento enxergar mas não consigo.

– Ah. – digo nada animado.

– Eu sou Juan – ele estendeu a mão na minha direção. Eu tive vergonha de apertar e apenas fiquei parado -, não precisa ter vergonha. – Ele piscou.

Juan é ruivo, seus cabelos cacheados e estava numa cadeira de rodas que parecia muito cara.

– Você vai se arrepender. – eu digo tentando ser no mínimo simpático.

– Aquela ali é minha irmã. – ele aponta. E então eu a vejo. Uma menina ruiva estava de pé conversando com outra menina, que estava numa cadeira de rodas.

– Vai com calma, garotão. – Juan me dá um soco de leve no ombro. – Nada de babar pela minha irmã aqui na minha frente.

Eu fico muito envergonhado. Eu fui com a cara de Juan, ele é simpático. Mas a irmã dele estava simplesmente linda. Ela tinha o cabelo como o de Juan, ruivo e bastante cacheado. Era branca como ele e tinha bastante sardas no nariz e nos ombros.

– Como você se chama? – ele pergunta.

– Acho que Joaquim. – digo tentando ser um pouco engraçado. Juan começa a rir com o que julgo ser a sua melhor risada. É fascinante. Acho que esse é o tipo de risada que faz qualquer um ver que a vida é boa, mesmo que esse alguém seja um aleijado como eu.

– Você acha? – ele volta a rir com aquela risada incrível – Nós seremos ótimos amigos! – Nesse momento a palavra “amigo” não soa tão mal. Até que deve ser muito legal ter alguém pra chamar de amigo.


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