Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 11
Parte II - O Filho Pródigo - XI




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Eu desci as escadas pulando os degraus, tudo já estava preparado para a cobertura sobre minha vida naquela manhã, com a curiosa e maior manipuladora de opiniões do país, Julie Carter, que conforme eu tinha planejado, ouvira o comentário sobre meu interesse numa cobertura sobre minha vida.

Ela tinha me mandado uma mensagem de texto enquanto estávamos no hospital cuidando das aparências e eu aceitara de imediato que ela e a produção passassem o dia comigo, fazendo perguntas e tirando todas as dúvidas que todos os meus leitores e fãs, ou até mesmo a própria imprensa, tinha.

–Que bom que veio, Dom Leoni. -sorri abrindo a porta naquela manhã, ele me olhou secamente e enrijeceu quando eu o abracei alegre o acolhendo na casa e depois fechando a porta.- Pensei que não fosse chegar nunca mais.

–Cheguei bem mais cedo do que combinamos. -murmurou.- O que você quer dessa vez, Ken Isao?

–Não se faça de desentendido, Dom Leoni. Você não compareceu ao meu Baile de Outono, então resolvi reservar algo bem especial para o senhor hoje, bem cedo, afinal, teve muito tempo para descansar não é mesmo? -e ri mostrando fotos do bispo se despedindo de uma jovem moça.

O bispo gelou e olhou atordoado para o homem.- Não é o que você está pensando.

–Não sou eu quem vai pensar se você não seguir o roteiro, muito pelo contrário, um clique sem pensar e esse vídeo voa para todas as principais emissoras e até mesmo para o Papa! Acho bom se comportar.

Ele virou os olhos e encarou Ken desanimado.- O que você quer dessa vez?



Julie Carter subia a estrada que levava a mansão acompanhada de toda a equipe de produção de seu programa sobre famosos e curiosidades sobre eles, tudo sobre o mundo da fama, o famoso Julie Show, aonde ela revelava os altos segredos da alta sociedade e tinha sobre ela um grande poder de manipulação.

Ela tinha oferecido fazer uma cobertura especial sobre a vida e história de Ken Isao depois de ouvir um comentário durante o jantar que ele estava interessado em falar mais sobre sua vida, agora que estava sossegado num lugar. Aquela matéria sem duvida daria o maior ibope para a emissora e ela só ganharia créditos, sem falar, do quanto mais tirasse dele, mais e mais audiência ganharia.

–Bom dia, Sr. Isao! -ela disse ao desembarcar do carro e ser recebida pelo próprio anfitrião.- Obrigado por ter aceitado o convite da cobertura.

–Não se faça de sonsa. -ele riu.- Sei que você vai querer explorar meu lado carismático ao máximo. -e riram.- Convidei alguns amigos para darem seus depoimentos, se você não se importar.

–É claro que não. -ela disse enquanto entravam na sala, aonde os produtores já começavam a preparar tudo e parou surpresa. Haviam pessoas ilustres ali, que ela não esperava, o que tornava tudo mais interessante.

–Acho que você já os conhece. -ele riu.- Rita, presidenta da GoldPress, uma querida amiga da comissão de Direitos Humanos, Stella, e, é claro, o papa que me perdoe, mas meu bispo predileto, Dom Leoni.



Enzo estava tomando café com a televisão ligada, em poucos minutos o especial sobre a vida de Ken Isao ia começar e ele não podia perder nada sobre aquele que o apoiava e era um grande amigo da sua família. Ken tinha o surpreendido, ao dar forças para seguir com seu possível relacionamento com Trina, mesmo sendo muito cedo para poder dizer qualquer coisa.

–Bom dia! -disse Julie e Enzo correu para a sala.- Hoje o Julie Show, está na residência de uma das mais ilustres personalidades do mundo, para sabermos mais e ficarmos mais íntimos dele, o célebre Ken Isao. -o câmera então abriu o ângulo da câmera mostrando toda a elegante sala de estar do casarão.- Obrigado pro nos receber, Sr. Isao.

–Eu sou quem agradeço, Julie, querida. É um prazer tê-la aqui.

–Bom, Ken, não vamos nos delongar muito, por que sabemos que são muitas as perguntas para tão pouco tempo, um dia não é suficiente para conhecer uma pessoa, nem por fora. -e riram.- Porque não começamos pelo básico? Conte-nos sobre sua vida, desde sua infância até hoje.

Ken sorriu.- Nasci prematuro de sete meses e tive uma infância muito difícil. Minha mãe morreu durante o parto e eu fui criado por meu pai. Éramos muito amigos, quase como irmãos, ele tentava suprir ao máximo o fato de eu não ter uma mãe, viva. Tínhamos fortes laços, mas que foram quebrados, quando ele sofreu um acidente de avião, quando ia para minha formatura em psicologia, em Harvard. -silencio.- Foi uma dor terrível, e eu tinha que de alguma forma supri-la, uma maneira de ocupar minha mente e esquecer de todos os meus problemas.

–E qual foi essa maneira? -perguntou Julie, todos os convidados olhavam atentos.

–Foi fazendo mais faculdades, mais pós graduações, mestrados e doutorados em todos os cursos que me formei após a morte dele, foi trabalhando duro para que meu grupo de investimentos se tornasse o mais importante para a economia mundial, fazendo com que eu me tornasse um bom escritor e um bom amigo, o que me leva a dedicar boa parte do meu tempo ajudando os amigos. -e olhou para Rita sorrindo.

–Você disse um dos maiores grupos de investimentos do mundo?

–Sou dono e fundador da Ressurge Enterprises. -e riu.- Um furo de reportagem para você, poucos amigos sabem. -ela então ficou surpresa, esse era um dos grupos mais imponentes do mundo, um dos mais importante para toda a economia de todo o mundo, era como se cada pedaço da terra, pertencesse a eles.- Mas deixo tudo na mão dos meus diretores, confio cegamente neles e sei que fazem um bom trabalho.



–Ken surgiu como uma luz em minha vida. -acompanhava Enrico, sua mãe dando seu depoimento.- Apareceu num momento de penumbra em minha vida, meu pai tinha falecido e a empresa ia caindo com minha péssima administração, devido a minha depressão. Até que, Ken surgiu e me tirou do fundo do poço, me dando conselhos e sendo meu psicólogo por várias vezes. A amizade que tenho com ele é inestimável. -lágrimas corriam pelos seus olhos.- Muito obrigada, amigo.

O filho riu, desconfiava muito de Ken, mas a mãe confiava cegamente nele e nada ele podia fazer para que ela tomasse cuidado com ele. É claro que Enrico não tinha motivos para desconfiar, mas, de qualquer forma, era muito desconfiado. Desde novo sempre desconfiava ou tinha o pé atrás com todas as coisas que fazia e as decisões que tomava, e Ken, por ser uma pessoa imprevisível e, aos olhos dele, cínico, ele desconfiava.

Mas não parava por ai, Enrico nunca tinha visto ou ouvido falar de uma visita de Ken ao arcebispo, Dom Leoni, que logo conversaria e daria seu testemunho de como conheceu o brilhante Ken Isao, no comercial da cobertura, Dom Leoni falava que conhecia Ken desde muito pequeno. Nem mesmo o próprio escritor tinha comentado algo sobre o religioso.

–Quando o pai de Ken morreu, o primeiro lugar que ele procurou, foi a paróquia em que eu era pároco, antes de me ordenar bispo. Lá conversamos muito e criamos laços fortes, como pai e filho, mas logo ele se lançou no mundo literário e empresarial para, como ele disse, suprir essa dor da perda, mas nem ele sabia disso. Por isso sempre se mudava de casa e se tornou imprevisível, Ken acha que pode enganar a morte. -e riu para o amigo que retribuiu como quem concordava.- Mas ele não pode, quando chegar a hora, todos partiremos.

–Isso é impossível. -berrou o homem ao seu lado no pub, o reconheceu rapidamente, era o novo padre da paróquia da cidade, Padre Valério.- Dom Leoni nunca falou desse homem para mim! -e olhou para Enrico.- Como alguém mente assim?

Enrico então o encarou por um instante, puxar assunto com ele poderia ser bem proveitoso, afinal, se o bispo realmente não tinha nenhuma ligação com Ken, algo estava errado e ele tinha que investigar o que era.- Como assim? Eles dois não se conhecem?

–É claro que não! -exclamou o padre passando para a mesa do rapaz.- Eu sou padre a seis anos nessa paróquia, converso com Dom Leoni todos os dias, já almoçamos juntos, diversas vezes, e ele nunca me disse nada e eu nunca vi esse homem por perto.

–Você tem certeza disso?

–É claro que tenho, não sou maluco! -ele se levantou.- Deixa eu ir.



–Ken surgiu na comissão de direitos humanos muito animado e cheio de energia e de ideia inovadoras. -dizia Stella sorrindo.- Nos demos muito bem logo de inicio e colocamos muitas coisas em ordem, ele ficou também muito encantado com a causa que a Fundação Padre Maycol abraçava e não hesitou nem um pouco em sugerir seus fundadores para receberem o prêmio desse ano. Ken sempre admirou as pessoas grandes e inteligentes, sempre os teve como inspiração.

Madeline sorriu para a televisão, estava acompanhando toda a cobertura para descobrir mais sobre o seu novo vizinho e quem era esse novo possível aliado, afinal, ela não se deixava criar laços afetivos com outros que não fossem seus filhos ou seu marido, não era confiável, e como havia dito Ken, temos medo do escuro, por que ele é desconhecido, e conhecer era impossível, afinal, as pessoas mudam.

Mas o pouco que estava acompanhando, já lhe agradava muito. Ken não tinha família viva e os motivos que o levavam a ser como era, e eram convincentes, sem falar, em sua surpresa ao descobrir que tão jovem, já era dono do maior grupo empresarial do mundo, junto aos Bancos De Lune, que formavam a maior rede de bancos do planeta, Roger, assim que ouvira essa notícia, correra para o escritório junto com Harold e George para investigarem mais sobre a Ressurge Enterprises.

–Você está parecendo o papai. -disse Claire surgindo na sala com Maycol no colo.- Até você está nessa curiosidade doentia sobre esse Ken?

–Não fui eu que fiquei o encarando como uma menina apaixonada no jantar do centenário, filha. -retrucou a mulher e Claire baixou a cabeça.- Ken é uma pessoa influente, que é bom mantermos por perto, ele nos salvou depois do escândalo de George e Trina no Baile de Outono.



–E assim encerramos a nossa cobertura, até amanhã, no mesmo horário! -Julie então sorriu e o câmera fez sinal dizendo que tinha acabado.- Obrigado Ken, foi muito proveitoso, a audiência foi lá em cima.

–Eu é quem agradeço, e aos meus amigos também. -ele sorriu enquanto os três convidados se despediam dele e se retiravam da mansão.- Bom, agora desmonte toda essa parafernália e se retirem da minha casa. -e saiu da sala.

Julie olhou intrigada para o homem, ele devia ter algum distúrbio de personalidade. Ela então deu de ombros e deu ordens para que desmontassem os equipamentos logo, enquanto isso, ela ia editando as fotos para o site e postando alguns comentários sobre a entrevista com o encantador Ken Isao, não demorou muito para fazer uma bela resenha da entrevista, mas ainda faltava algo mais, alguma curiosidade do socialite.

A moça então se levantou, os produtores ainda terminavam de desmontar o equipamento, ela ainda tinha tempo de procurar alguma coisa na casa e o autor nem desconfiaria, nem estava por perto. Ela abriu uma porta aos fundos da sala e sorriu vitoriosa, era o escritório do escritor. Ela abriu algumas portas dos armários, algumas gavetas, mas nada de intrigante. Resolveu então olhar o computador.

Era um notebook moderno, mas com senha, ela tentou diversas coisas, mas não adivinhara a senha, então começou a mexer nos papéis em cima da mesa. Contratos e mais contratos, até que, finalmente, achou um caderno de capa dura, de couro marrom e folhas bejes, bem clássico. Julie abriu cuidadosamente o caderno e viu diversas fotos de diversas personalidades importantes.

Julie não leu tudo, apenas acrescentou essa pequena observação a sua resenha, mas quando tinha acabado de escrever, uma mão tomou o tablet da sua e ela se levantou atordoada.- Ken!

–O que você pensa que está fazendo, Srta. Carter? -ele perguntou.

–Curiosidade profissional. -ela riu e ele a olhou indiferente.

–Acho que vou dar uma revisada na sua resenha. -ele olhava a matéria.- Antes de postá-la. Enquanto isso, eu acho bom você sumir daqui com sua curiosidade profissional e não comentar nada desse indesejável episódio com ninguém, se não, você vai passar a ter apenas curiosidade, porque não terá profissão nenhuma, em lugar nenhum.

Ela o olhou assustada e se retirou as pressas do cômodo.


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