E se eu não lembrar? escrita por Evelyn Andrade


Capítulo 27
Pingente Rubi




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Eu pensei em desistir, bater o pé e dizer "Não vou" no entanto, eu não era mais uma criança, no momento eu era uma garota com problemas tão grandes que desconfiava até mesmo de minha própria sombra.

A fazenda que eles falavam era na cidade vizinha, Mogi das cruzes, eu solto um suspiro longo do banco traseiro e os olhos de Dimitri pousam em mim pelo espelho retrovisor, desvio o olhar com medo que ele perceba os pensamentos que passam por minha mente o que parece tecnicamente impossivel.

Era tudo irreal no momento, principalmente porque rapidamente as minhas memórias apagadas começaram a voltar com uma força total para mim, e então lá estava eu voltando para meses atrás, antes do acidente.

Eu estava atrasada, eu quase sempre estava atrasada e por isso Lissa vivia rindo e brigando comigo ao mesmo tempo, mas naquele dia era diferente, um pouco antes de chegar a sala de aula eu acabei trombando em alguém e teria realmente caído se braços fortes e rapidos não tivessem me segurado.

–Me desculpe. - Digo enquanto saio dos braços do estranho

Eu levanto meus olhos pela primeira vez para encarar a pessoa que me segurou e dou de cara com um lindo par de olhos escuros me encarando sorridente, era um das caras mais bonitos que eu havia visto na minha vida e olha que eu via muitos caras em diversas revistas da capricho.

–Você está bem? - Ele pergunta em sua voz grossa

Eu balanço a cabeça confirmando enquanto sigo para sala de aula.

–Obrigada, tenho que ir. - Digo me afastando

Eu não olho para trás no entanto me lembro de sentar na carteira da sala de aula e levar um baita susto ao ver o cara que eu havia acabado de esbarrar entrar na sala e se apresentar como novo professor.

A próxima memória parece um pouco distante da primeira, lembro-me de discutir com Raquel porque ela estava se descuidando em algumas matérias na escola, Raquel ficou visivelmente irritada e em seguida uma lampada estourou em cima de nossas cabeças, Raquel saiu correndo depois disso.

Raquel passava muito tempo com Dimitri, eu reparava em seus risinhos para ele, nos sorrisos que ela vinha dando para lá e para cá.

–Raquel o que está acontecendo? - Lembro-me de ter lhe perguntado

Ela deu de ombros e disse:

–Acho que pela primeira vez na minha vida, estou realmente feliz. - Ela disse e me lembro de ficar realmente feliz por ela.

Minha memória pula para outro dia aleatório, está escuro e Raquel está chorando no corredor, sozinha, pelo que posso notar é madrugada e não horario para ela ficar ali sozinha.

–Raquel, você está bem? - Eu pergunto me aproximando

Ela levanta a cabeça e me assusto um pouco ao ver um tipo de anel brilhante na cor dourada ao redor de sua iris.

–Seus olhos... - Eu começo

Raquel volta a chorar e eu me aproximo engolindo em seco, me agacho em sua frente enquanto passo a mão por seus cabelos.

–Hey, está tudo bem. - Repito o que mamãe sempre falava para mim em momentos dificeis

Ela balança a cabeça.

–Eu sei. - Responde logo antes de levantar junto comigo e me abraçar apertado

Raquel me larga abruptadamente enquanto seus olhos voam para frente como gaviões a cerca de sua presa.

–Não queria envolver inocentes nisso. - Ouço uma voz grossa e fria falar

Meus olhos se viram para a figura completamente vestida de preto a alguns metros de distância com uma pistola em mãos mirando Raquel.

–Quem é você? - Pergunto

As coisas mudam e eu vejo a cena rapidamente enquanto a pessoa de preto atira, eu jogo meu corpo sobre o de Raquel na esperança que possa protege-la, e eu consigo, no entanto acabo ganhando uma bala em meu ombro esquerdo no processo.

–Me desculpa , me desculpa, me desculpa. - Raquel repete chorando

Há tantos sangue que eu estou zonza, sinto meu corpo ser levantado mas não tenho forças para abrir os olhos.

–O que você fez Raquel?- Ouço a voz aflita de Dimitri

–Ela se jogou na minha frente. - Ela responde

–Você devia protege-la! ela é apenas uma humana, porque não parou a bala?

–Eu não consegui. - Diz Raquel ainda chorando - Ela vai ficar bem.

–Eu não sei Raquel, eu realmente não sei.

Algo começa a arder no meio de meu peito, não uma ardência ruim, algo bom que faz a dor de meu ombro parar abruptadamente.

–O que está acontecendo? - Ouço a voz de Raquel

Estou deitada em algum lugar fofo agora, uma cama eu presumo e toda a minha dor sumiu, eu abro meus olhos os guiando diretamente para meu peito onde meu pequeno pingente de rubi vermelho brilha desesperadamente, meu pingente de rubi vermelho, eu o adquiri quando tinha sete anos, meu pai levou eu e Raquel para um passeio em uma fazenda, Raquel tinha 4 anos na época e me lembro das diversas flores coloridas que eu encontrei na região dentre elas a minha preferida, Gira- sol, no mesmo dia enquanto brincava de caça ao tesouro nas terras do amigo de meu pai junto a uma linda garota loira de minha idade que eu não recordava o nome, lembro-me de ver Raquel as gargalhadas com um garoto um pouco mais velho que eu que brincava com ela, um brilho vermelho me chamou a atenção e quando me vi eu estava em cima de uma das árvores mais altas da fazendo com uma pequena pedrinha vermelha em mãos.

–Papai! - Eu gritei

Quando olhei para baixo um medo enorme de cair se fez presente, eu não fazia nem ideia de como havia subido naquela imensa árvore se eu nem sabia escalar, eu apenas subi seguindo o lindo brilho vermelho.

–Papai! - Gritei de novo

A menina loira chegou correndo até a árvore sendo seguida pelo garoto que trazia Raquel pela mão, seus olhos me encararam preocupados, eu fechei meus olhos fortemente desejando não cai enquanto me segurava e apertava a pequena pedra vermelha entre meus dedos.

–O que você está fazendo ai Rosemarie? - Meu grita perguntando preocupado

–Eu não consigo descer! eu estou com medo. - Digo

Meu pai sobe rapidamente na árvore e me tira de lá, só volto a respirar novamente quando meus pés voltam ao chão.

–O que você estava fazendo lá em cima Rose? -Pergunta o amigo de meu pai

Eu mordo minha bochecha internamente enquanto estendo a mão para ambos a brindo a palma e relevando a pequena pedra vermelha, meu pai está tão surpreso que parece horrorizado, o garoto um pouco mais velho que eu se aproxima de mim encarando a pequena pedra, ele estende a mão e quando a toca afasta a mesma rapidamente.

–Me queimou. - Ele diz parecendo assustado

Raquel mesmo com quatro anos era uma das pessoas mais curiosas que eu conhecia, ela chegou perto imitando os movimentos do garoto só que ela não encostou na pedra, ela a tomou de mim.

–É minha. - Eu disse avançando em sua direção

Meu pai me parou com um braço me impedindo de prosseguir.

–Deixe com ela. - Ele disse

–Mas é minha! eu peguei primeiro! - Digo

Raquel larga a pedrinha no chão com lágrimas nos olhos.

–Porque a pedrinha bonita me queimou? - Ela pergunta

Eu avanço pegando a pedrinha no chão e a levanto até meu peito.

–Porque ela é minha. - Digo antes de dar as costas para todos e correr.


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Notas finais do capítulo

Memórias voltando.....



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