Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 25
Capítulo 25 - Balde de água fria




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Capítulo 25 - Balde de Água Fria

           O despertador toca. Desirée acorda para mais uma manhã de aula. Era raro de isso acontecer, mas ela não estava com a menor vontade de ir para a escola. A noite anterior deixou-a muito ansiosa e nervosa, dificultando muito seu sono. Não conseguia parar de pensar na audácia daquele fotógrafo de ir tão longe apenas para usá-la. Ela realmente começa a pensar que abrir aquele livro foi uma maldição. Desde que o encontrou, sua vida tem ficado cada vez mais tensa e cheia de problemas. Mesmo assim, ela tinha que entregar um trabalho e não queria deixar sua mãe ou pai preocupados. Não estava doente, só indisposta. "Nessas horas é melhor deixar os problemas pessoas de lado e encarar o que realmente importa", ela pensa, se levantando e se espreguiçando. Sua irmã, Karen, ainda dormia a sono solto, como sempre. Sua mãe teria que chamá-la depois. "Que inveja da Karen...vive tão despreocupada. Espero que aquele paparazzo saia logo do meu pé. Ai, ai"
         Quando a mocinha chega na escola, logo se encontra com Priscila, que a cumprimenta gentilmente.
         - Bom dia, Dê! - diz a moreninha, sorrindo gentilmente.
         - Bom dia - responde Desirée, com um sorriso mais tímido, mas não conseguindo evitar um bocejo em seguida.
         - Com sono?
         - Pois é...não dormi muito bem ontem
         - Não? Por que não?
         - Bem, fiquei pensando nas coisas da escola e...
         - Coisas da escola? Como assim? Você nunca teve problema com as matérias, suas notas sempre foram excelentes
         - É...mas ainda assim tem muita coisa para fazer, né? Nem parece que temos só 12 anos, eles dão tanto trabalho... - diz Desirée, tentando arrumar uma desculpa. Era muito difícil ter que esconder tudo aquilo da amiga. Mas não seria bom contar a ela? Afinal, era sua melhor amiga. Não é nos amigos que devemos contar sempre? Mas Desirée não se sentia segura em envolver sua melhor amiga em seus próprios problemas. Já era tão maluco só com ela, imagina para os outros? Só conseguiu soltar tudo para Dionísio por ele já estar sacando tudo e ser mais maluco do que o próprio livro.
         - Dê
         - Sim?
         - Você está com algum problema?
         Desirée preferia que ela não tivesse feito aquela pergunta. É claro que estava. Usar aquele livro tinha virado um problema muito chato. Como se livrar daquele fotógrafo? Como continuar ajudando as pessoas sem que outro doido descobrisse seu segredo? Ela tinha responsabilidades demais para uma criança de 12 anos, realmente.
         - Não, não. Eu só estou cansada das lições, só isso. Hehe. Nada demais.
         - Mesmo? Se tiver com algum problema, você pode me contar. Você está sempre disposta a ajudar, mas sempre quer resolver tudo sozinha. Você sabe que pode contar comigo, não sabe?
         - É claro que sei! - responde Desirée, dando um abraço na amiga - Obrigada por se preocupar
         Pouquíssimo tempo depois, elas ouvem outra voz conhecida
         - Meninas! Que bom que eu achei vocês!
         - Ah, Ju! - exclama Priscila - Chegou cedo hoje?
         - Eu sempre chego cedo, meu bem! - ela se gaba - E hoje, valeu a pena
         - Por que? - estranha Priscila
         - Ué? Vocês ainda não receberam?
         - Recebemos o que? - pergunta Desirée.    
         Juliana mostra um papel cor-de-rosa, cheio de florzinhas e coraçõezinhos. Parecia o convite para alguma festa ou algo assim.
         - O que é isso? Parece que foi feito no mundo dos Ursinhos Carinhosos... - desdenha Desirée, olhando bem para o rosa chiclete do papel.
           - Ah, não! Vai dizer que vocês...tudo bem, ela não deve ter falado ainda.
         - O que? Não estamos entendendo nada, Ju! - exclama Priscila, já não aguentando mais de curiosidade.
         - A Bruna faz aniversário nesse fim de semana. Ela reservou um buffet inteiro só para a festa e diz que vai ter a presença de alguém muuuiito famoso na festa!
         - Aniversário, é?
         - Pois é. Ela ainda deve convidar vocês
         Bruna, não é? Desirée sabe muito bem quem é...vocês devem se lembrar da garota que quis difamar a chapa de Priscila quando houve aquele triste caso de desvio de verba.  Não bastasse ser rica, patricinha e metida, aquela Bruna também não era flor que se cheirasse.
         - Não sei, não - discorda Desirée - Ela me odeia..duvido que me convide
         - Exagero seu, Dê! Só porque ela implica um pouquinho com você, não quer dizer que..
         - Um pouquinho? Na terceira série ela fez questão de jogar tinta no meu trabalho de artes inteiro e a cínica ainda disse que foi sem querer!
         - Mas ela era só uam criança na época
         - Tá defendendo demais a Bruna, Ju! Outro dia mesmo você disse que ela era uma metida - protesta Priscila, com um olhar desconfiado.
         - Eu disse isso? Ah, é que depois que eu a conheci melhor, vi que ela era uma pessoa legal
         - Ju...eu te conheço
         - Tá bom, Pri! Tá bom! Eu confesso que tô morta de curiosidade para saber quem é o famosos que vai para a festa dela! Será que é aquele gatinho que apareceu na revista outro dia? Ou aquele ator lindo da novela? Ai, ai...desculpa, fófis, não consigo evitar!
         - Que seja, Ju! Se ela convidou e você quer ir, então vai! - diz Desirée, com um olhar indiferente - Eu duvido que ela vá me convidar, mas se convidar, também não vou
         - Mas não vai ser desfeita com a Bruna?
         - Desfeita nada! - ela se defende - Se eu for, aí sim que vou ser motivo de piada para aquela nojenta! Não vou!
         - Puxa...nem para saber quem vai ser o famoso, Dê?
          Essa pergunta não fazia muito sentido para alguém com um Livro dos Segredos, mas, mesmo assim, ela responde.
         - Nem para isso! Não ligo a mínima!
         Nisso, Caio, um dos colegas de sala das meninas e por quem Desirée dava seus suspirinhos, chega no local.
         - Bom dia, meninas
         - Bom dia - elas respondem        
         - Ah, é, Ju, você não quer ver uma coisa comigo? - pergunta Priscila, colocando a mão no ombro de Juliana.
         - Hã? O que?
         - É rapidinho...a gente já volta
         As duas saem dali de perto na hora. Juliana estranha.
         - O que foi, amiga? Que pressa é essa?
         - Você ia ficar lá segurando vela?
         - Segurando vela? Menina! Não brinca, tá dizendo que..
          - Shhhh!! Não, não rola nada. Mas a Dê tá muito a fim
         Priscila fala baixo, mas havia outro ouvido muito mais apurado para fofocas ali por perto. A garota sai dali correndo para avisar sua amiga Bruna, que, por sua vez, estava entregando um convite para um garoto mais velho.
         - Então, aparece lá
         - Pode deixar, vou sim, gata. Até - responde o rapaz, provavelmente da oitava série.
         - Até
         - Amiga, amiga! Sabe o que eu ouvi? - chega a tal garota, super animada
         - O que foi? Deve ser algo muito bom
         - Aquela mosca morta da Desarê...sabe que ela gosta do Caio da nossa sala?! - diz ela, animada e falando o nome da nossa mocinha errado de propósito.
         Bruna olha para a garota com um olhar indiferente.
         - E a novidade? Qual é?
          - Hã? Você já sabia?
         - Ai, ai. Amiga, amiga. Você ainda está anos-luz longe de ser tão bem informada quanto Bruna Carmesine. Já sabia dessa faz tempo
         - É? Mas, eu
         - Você nada, amiga. Não pensa muito que para você cansa, tá? Mas, agora que você falou...tive uma ideia
         - Ideia? Que ideia?
         - Ah, isso vai ser tão divertido...
        Desirée estava ali, trocando algumas ideias com Caio. Apesar de falar bem e ter firmeza em suas ações, Desirée ainda era muito tímida quando o assunto eram namorados. Ela apenas suspirava, platonicamente, pelo garoto, mas não dava indícios de interesse por algo mais. De alguma forma, não se sentia pronta.
         - Então...o trabalho de História deu muito trabalho? - pergunta Caio
         - Pois é...tem que entregar hoje, né?
         - É verdade. O seu deu muitas folhas?
         - Bastante. Encontrei um site bem completo
         - Eu também fiquei bastante tempo fazendo...tanto que nem terminei a lição de Inglês...
         - Não?
         - Pois é...eu posso ver a sua? Eu já não estou com muitos pontos nessa matéria
         - C-Claro. Claro, Caio. À vontade
         - Obrigado. Eu vou ali buscar meu caderno e já volto
         Caio segue até sua mochila, onde uma pessoa inesperada o encontra.
         - Oi, Caio. Tudo bem? - pergunta Bruna, com uma voz doce.
         - Ah, e aí, Bru? Beleza?
         Os dois se cumprimentam. Bruna começa a puxar conversa.
         - Fazendo o que aí?    
         - Vim pegar meu caderno de Inglês. Não consegui terminar a lição
         - Ah, tá. Então, queria te falar uma coisa
          - O que é?
         - Vem um pouco mais pra cá
        Bruna faz ele se mover de propósito, só para ficar bem no campo de visão de Desirée. Ela estava ali, esperando o garoto voltar, e estranha vê-lo conversando com Bruna.
         - Então, eu vou dar uma festa nesse fim de semana....vê se aparece por lá - diz a loirinha, gentilmente, entregando um convite para o rapazinho.
         - Ah. Obrigado. Vou tentar ir, sim
         - Tentar, não! Você vai! Por favor!
         - Se você insiste tanto...
         - Não é só isso, Caio, é que...também...te acho o maior gatinho
         - Hã? - estranha o rapaz, meio vermelho
         - Minha festa não vai ser a mesma coisa sem você, viu?
         Do nada, Bruna aproxima o rosto dele e dá um beijo daqueles na boca do rapaz. Ele, por sua vez (e por ser homem, logo, um perfeito otário nessas horas), corresponde ao beijo, mas sem entender nada. Desirée, que estava de longe, mas perto o suficiente para ver o que se passava, não consegue acreditar no seus olhos. Então, Caio já estava com a Bruna, não é? Foi boba de pensar que podia ter alguma coisa com ele. A mocinha sai dali arrasada e sobe direto para a sala de aula.
         - Ei, calma, Bruna. O que é isso agora?
         - O que foi? Não gostou? - pergunta Bruna, mais interessada em ver Desirée saindo correndo do que na reação de Caio.
         - N-Não é questão de ter gostado ou não, mas...nunca pensei que você fosse a fim de mim e...
         - Não sei se é bem a fim, mas...te acho uma graça. Fiquei com vontade de te beijar e beijei. Só isso.
         - Só isso? Mas..
         - Bem, espero vê-lo na minha festa, viu? Quem sabe a gente não se entende melhor lá, né? Até
         Caio fica meio sem-reação. Não que a garota não fosse bonita, mas, beijar assim, do nada, era no mínimo estranho. O que ele tinha para fazer mesmo? Ah, é! Pegar o caderno de Inglês e pegar a lição da Desirée. Mas, falando nisso, cadê ela?
         Dê já estava na sala de aula, pensativa e quieta. Estava arrasada por dentro, mas não podia mostrar sua tristeza. Fazer isso seria o mesmo que admitir ser apaixonada por Caio, coisa que seria inútil naquela hora. Tava na cara que ele gostava de garotas como a Bruna. Ela era só uma cdf, tonta, que era uma boa amiga e emprestava a lição de casa. Só isso. Suas amigas, Juliana e Priscila, repararam que ela estava abatida, mas Desirée fazia questão de dizer que não era nada. Na hora da saída, Caio tenta chamar Desirée, que, fazendo um esforço sobrehumano para não chorar, para e ouve o que ele queria
         - Dê, o que houve? Você saiu correndo naquela hora
         - Nada..eu só...lembrei de uma coisa urgente que tinha esquecido
         - Ah...mas...sei lá...você não parece estar bem
         - Não, não. Estou ótima - ela responde, morrendo de vontade de abrir o berreiro ali mesmo.
         Nisso, Bruna chega e encontra os dois conversando. Ela chega perto de Caio, entrelaça seu braço com o dele e se dirige à Desirée.
        - "Dosirrê"! Tudo bem?
        - É Desirée...você sabe - ela responde, com o pouco de forças que ainda lhe restava.
        - Que seja...então, você deve estar sabendo que esse fim de semana eu vou dar uma festa de aniversário, né? Seria legal que você fosse    
        A loirinha entrega o convite nas mãos da menina que abre e vê seu nome escrito errado, o que não era nenhuma surpresa.
        - Vou...ver se posso ir
        - Vai sim. Não vai ter a mesma graça sem você! - comenta Bruna, com a voz mais cínica do mundo.        
        Desirée agradece com uma voz seca e, antes que Bruna saísse para fazer qualquer outra coisa, ela faz questão de salientar.
        - Então, tchau Dosirê, tchau Caio..ah, Caio...adorei o beijo que você me deu hoje, viu? A-mei!
        - Hã? Que eu te dei? Mas..
        Desirée sai correndo dali imediatamente. Ela tenta ao máximo esconder suas lágrimas, mas, ao chegar em casa e subir correndo para o quarto, ela se joga na cama e se entrega ao pranto. Suzana, a empregada da casa, estranha ela chegar tão quietinha e, ao subir, percebe que ela está chorando.
        - Desirée! O que foi, menina?
        - Ah, Suzana...eu...eu...eu sou uma IDIOTA!!! - ela continua chorando, sem esconder nada agora. A empregada dá seu colo para a menina desabafar. A mãe dela havia saído e a irmã, excepcionalmente, tinha que ficar na escola para fazer uma prova de recuperação. Suzana era uma boa amiga nessas horas. Ela ouve tudo o que aconteceu na escola aquele dia e tenta dar alguma conselho para Desirée.
        - Olha, eu não sei como são esses namoricos de hoje, mas, na minha época, não tinha essa história de sair beijando de repente, não
        - Do nada eles se beijaram! E eles mal se conheciam...agora ela chega e diz isso! Eu achava que tinha alguma chance com ele! - ela gritava e chorava, mal conseguindo articular suas ideias.
        - Calma, calma...eu vou preparar aquele suco de laranja que você adora. Mas não fica assim, não. Isso faz parte da vida
        "Faz parte da vida", diz Desirée, "Sofrer faz parte da vida", ela completa. A garota estava arrasada, mas sabe que não podia continuar assim para sempre. Mesmo assim, doía saber que Caio já tinha escolhido a Bruna. Assim, do nada. Ela tenta se acalmar e refletir.
         Misteriosamente, uma pergunta surge na sua mente. Como eles começaram a ficar? Será que teria alguma pista? Ainda com os olhos em lágrimas, ela tenta abrir o Livro dos Segredos e mentalizar a imagem de Bruna. Como o livro só mostra o presente, dificilmente ela conseguiria alguma pista. Mesmo assim, ela abre o livro. Seu sexto sentido dizia que ela tinha que abrir o livro e procurar as informações de Bruna naquele momento. Tudo que Desirée vê é a loirinha teclando algumas coisas no celular. O que seria? O livro escreve a mensagem logo abaixo.
        "Menina, tinha que ver a cara de taxo daquela Dasirrê. Aquela tonta nunca deve ter beijado ninguém na vida e achado que era o fim do mundo. Ai, ai. Eu me divirto. Só não é mais tonta que aquele Caio. Mas homem é tudo igual mesmo, pelo amor. É só dar um beijinho que você já consegue tudo o que quer deles. Hahahaa"
         Na mesma hora, o semblante de Desirée mudou de tristeza para raiva e ódio. Suas mãos tremiam só de segurar o livro. Então era isso? Foi tudo armação para deixá-la arrasada? Como alguém podia ser tão baixa? Como?
         "Isso...isso não vai ficar assim. Não mesmo", pensa Desirée, agora com os olhos lacrimejando de raiva, "Essa Bruna...me paga!"


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