Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 24
Capítulo 24 - Parceria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57389/chapter/24

Capítulo 24 - Parceria

          Ela havia escutado bem? Proposta? Que tipo de proposta aquele louco poderia fazer para ela? Desirée fica um pouco tensa, fica um tanto inquieta na sua cadeira, mas procura manter a frieza. Era melhor ouvir o que Dionísio tinha a dizer. De alguma forma, ela também estava curiosa.
          - Bom - ele começa - Supondo que tudo que você me contou é verdade...tenho algo muito interessante para você
          - Algo interessante para mim? - ela pergunta - Imagino o que pode ser...
          - Na verdade, será interessante para nós dois...digamos, que teríamos muitas vantagens
          - Não estou entendendoo... - diz ela, enquanto a moça da sorveteria recolhia o sorvete que os dois tomaram - Poderia ir direto ao ponto?
          - Sendo direto...gostaria de ter seus poderes ao meu favor, Truth...ou melhor, Desirée
          A garota arregala os olhos e treme na cadeira, meio que sem querer, segurando-a com as mãos. Como assim ter os poderes dela a seu favor?
          - Está falando...do meu livro?
          - E do que mais?
          Isso não era muito bom. Ela não tinha contado que a única forma do livro mudar de dono é depois da morte do dono anterior. Ele não planejava matá-la, planejava?
           - Sem chance...nem pensar! - ela exclama, já nervosa
          - Mas você nem ouviu o que eu tenho a dizer!
          - Se você...se você tentar alguma coisa...vou deixar bem claro que o maior suspeito é você e...e...vou chamar a polícia agora - ela dizia as frases soltas, sem nexo, como se estivesse realmente muito nervosa
          - Ei, ei...se acalme. O que aconteceu? - estranha o fotógrafo, levantado-se da cadeira e se aproximando do rosto da garota.
           - Se afaste...estou avisando! - a menina olhava assustada, quase se levantando e saindo dali. Mas alguma coisa a segurava, algum instinto de medo, simultaneamente com emoção, a mantinha paralisada ali, naquela mesa, diante daquele rapaz de pele morena.
          - Hmm...entendi - diz Dionísio, já achando graça da situação de novo - Relaxe! Eu nunca faria nenhum mal a garota nenhuma! Muito menos a uma tão educada como você!
'          - Hã? Sério?
           - Claro que não! Você deve estar com medo porque me contou daquela história do seu livro só poder ser usado após a morte do dono. O que é isso? Como pode pensar isso de mim?
          Desirée se acalma. No fundo, ela sabia que não poderia ser aquilo, afinal, bem ou mal ele não tinha um feitio de criminoso. Apesar disso, a sensação de ameaça tinha tomado o coração dela muito rápido. Essa regra do livro só poder mudar de dono com a morte era a parte mais sinistra dessa história toda. Era natural que a garota se sentisse amedrontada.
          - Como você é má, Desirée! - diz o fotógrafo, sentando-se novamente, tirando os óculos escuros e jogando o olhar para um ponto distante, sem ninguém, ali na parede - Acha que eu seria assassino
          - N-Não! Por favor, me desculpe...é que...dizer que quer meus poderes emprestados...isso é muito estranho! - ela se justifica - Afinal, como eu disse, só eu posso usar o livro
          - Sim. Eu sei    
          - T-Talvez você não acredite...está achando que eu sou doida, não é? Mas é verdade! O livro funciona, mas é só comigo! Quer que eu mostre os poderes dele de novo?
          - Não, não precisa. Eu já não disse que acredito em você?
          - Mas..
          - Relaxe. Por que está tão nervosa? Até algum tempo atrás você estava tentando esconder esse segredo de todo mundo e agora está querendo provar que fala a verdade! Calma! Eu acredito em você! Que sentido teria eu te fazer uma proposta se não acreditasse?
          - Desculpe, eu...eu estou confusa - a menina desabafa - Isso tudo começou tão de repente...eu...nem queria esse livro, daí acabei usando-o algumas vezes e agora estou aqui...contando tudo que aconteceu para um completo estranho...
          - Assim você me ofende de novo - diz ele, desviando o olhar da menina mais uma vez - Não somos mais estranhos, somos?
            - Será?         
          - Claro que não! Você já me contou muita coisa da sua vida
           - Mas...eu não sei nada da sua
           - Hahuahua! - ele ri - Você é a Truth e ainda tem a cara de pau de falar que não sabe nada da minha vida?
         Desirée entende a colocação. É verdade. Ela nunca mais poderia dizer que desconhece as pessoas. Ninguém é desconhecido para ela
          - Bem...talvez um pouco. Pelo menos o que você se deixou mostrar
          - O que eu me deixei mostrar?
          - Sim - ela responde - Eu saberia qual é sua proposta se você tivesse comentado com mais alguém ou escrito em algum lugar, mas, pelo jeito, é uma ideia que só você tem, não é?
          - É - ele continua - Nem meu melhor amigo Kadu sabe disso. Foi só uma prevenção
          - Prevenção?
          - Prevenção anti-Truth! Sabia que você estaria me vigiando
          - Você fala como se eu o vigiasse 24 horas por dia...teria que pensar em você o dia inteiro para ter todas as suas informações.
          - Ah, não é difícil! Várias garotas que eu conheci já fazem isso
          - Você não é muito modesto, não é?
          - Modéstia é para os fracos - ele coloca - E a proposta que eu tenho para você não é nada modesta também
          - Poderia falar logo o que é? Chega de tantos enigmas! Como assim você quer meu poder emprestado?
          - Ter seu poder emprestado significaria...você aceita trabalhar junto comigo?
         Agora Desirée não estava entendendo mais nada. Trabalhar junto com ele? Por que?
         - Como assim? Quer que eu tire fotos?     Mesmo que eu tire uma foto das imagens do meu livro, elas só seriam visíveis para mim. Não seria de grande ajuda
         - Não tem nada a ver com você tirar as fotos! As fotos continuarão sendo minhas
         - Então..
         - Desirée, você lembra qual é a minha profissão?
         - Paparazzo, não? Você...você...invade a vida alheia das pessoas! Ah, não! - ela exclama, como se já tivesse adivinhado o que seu interlocutor estava planejando.
         - Exatamente. Eu sou um paparazzo...e sabe o que fotógrafos desse tipo precisam?
         - Imagino....
         - Informação! Informação é tudo, Desirée! - ele exclama, colocando os braços em cima da mesa e olhando bem no fundo dos olhos da mocinha - Eu tiro fotos de pessoas famosas em situações interessantes....celebridades, cantores, atores, pessoas em alta na mídia. Embora também acabe tirando fotos de eventos muito rápidos como raios ou uma pessoas se jogando de um prédio
          - Você fala tão naturalmente...
          - O fato... - ele continua, mal ouvindo a garota - ...é que  as revistas me pagam de acordo com a qualidade e a raridade das fotos que eu tiro. Por exemplo, fotografar uma atriz famosa em alguma situação nova garante umas boas verdinhas em revistas de fofoca
          - Revistas de fofoca? - repete Desirée, não gostando nada do rumo da conversa.
           - Sim - Dionísio continua - Não só fofocas...revistas masculinas pagam bem se der flagras em mulheres bonitas e famosas. Meu trabalho, em resumo, é conseguir fotos raras. O que eu já fazia bem, diga-se de passagem    
           - Sei - diz a garota, dessa vez sendo ela a desviar o olhar - E já posso imaginar o que quer de mim...
          - Exato. Quero sua ajuda. Só isso
          - Minha ajuda?
           - Com seu livro, posso localizar qualquer pessoas da face da Terra. Basta você mentalizar o rosto que a localização aparece. Se você me mandar as informações de pessoas famosas, consigo tirar ainda mais fotos e garanto muito mais lucro
          - O que? - exclama Desirée, mal podendo acreditar no que estava ouvindo - Então quer me usar para trapacear na sua profissão? É isso?
          - Como assim trapacear? - ele pergunta - Só estou usando as armas que tenho a meu alcance. Só isso
          - Vai me usar assim...como se fosse um objeto qualquer?        
          - Nossa, você é muito nova para falar assim... - comenta o fotógrafo - ...mas, enfim, se você aceitar poderá ganhar muito dinheiro também
          - É?
          - Que tal? Vou te dar 40% de todo o dinheiro extra que receber com a sua ajuda. Para uma garota de 12 anos é perfeito! Você vai poder comprar todas as roupinhas que você adora e...
          Desirée dá um soco na mesa e faz uma expressão séria.
          - Não
          - Hã? Não? Não aceita?
          - Não, não, mil vezes não! - ela protesta, com firmeza - Nunca vou aceitar essa sua ideia
          - O que? Você ainda acha pouco? Tá bom...que tal 50%? Meio a meio? Pegar ou largar
          - Você não entende - diz Desirée - Não é o dinheiro...é o...é o que você está fazendo
          - Como assim? Só estou te fazendo uma proposta profissional...o que tem de errado nisso? Podemos fazer isso totalmente em sigilo...se você estiver com medo dos seus pais
          - Não tem nada a ver com isso! - ela continua, ainda mais séria - O problema é fazer isso que você está me pedindo! Eu nunca usaria o meu livro para motivos tão mesquinhos como esse!
          - Mesquinhos? Como assim, menina? É o meu trabalho! Conseguir fotos boas para as revistas. O que tem de mais nisso?
          - E se essas pessoas também quiserem ter um momento de paz? Até onde você pode violar o direito de privacidade? Elas também tem o direito de se ter uma vida particular
          - Vida particular, é? - ele pergunta - Você é mesmo muito madura para a sua idade
          Desirée não fala nada. Mas o fotógrafo continua a conversar
          - Mas ainda é muito ingênua. Muito mesmo! - ele exclama, fazendo uma expressão cínica.
          - I-Ingênua?
          - As pessoas já perderam o direito à privacidade há muito tempo
          - Como assim?
          - Pense na sociedade atual. Câmeras de vigilância por toda a cidade, informação transbordando por todos os lados com a Internet, imagens via satélite. Quem, diga, quem pode dizer que está livre de ser observado?
          - Pode ser - ela responde - Mas não é por isso que eu vou me submeter a observar uma pessoa sem o consentimento dela! É uma questão de ética!
          - Ética? Céus, como uma garota de 12 anos conhece esse palavra... - resmunga Dionísio, mas ele continua a falar - Diga, que ética você teve em me observar antes de vir falar comigo?
           Isso é verdade. Desirée o havia observado. Assim como havia observado outras pessoas antes, muito embora tivesse seus motivos para isso.
          - Eu...tive meus motivos
          - Então, a privacidade pode ser violada se você tiver um bom motivo?    
            Desirée não podia responder
          - Desirée, Desirée - continua o fotógrafo - Você está sendo verdadeira com você mesma?
          Essa pergunta mexe com ela. Mesmo assim, ela ainda não estava preparada para responder nada para Dionísio.
          - Quero dizer...você não se sente a pessoa mais poderosa do mundo por ter um livro desse tipo? Se você realmente não o quisesse, teria deixado ele na biblioteca desde o começo    
           - Mas eu...eu...pretendia usá-lo para boas causas
          - Como achar pessoas desaparecidas?
          - Isso!
          - E você faz isso porque quer?
          - Claro
          - Ou por que sua consciência pesa por não fazer nada de útil com seu poder?
          Nisso ele também a pegou. Incrível como ele entendeu toda a situação de forma tão rápida.
          - Eu quero ajudar as pessoas! Só isso!
          - Você também ajuda as pessoas revelando a verdade
          - Hã?
          - Não são apenas famosos e cantorezinhos de nada que eu fotografo! Também já fotografei flagras de crimes e até corrupção. A polícia também paga muito bem
          - Quer dizer que...você também tira fotos para a polícia?
          - Sim. Meu trabalho não é só de coisas futeis. Mas que procurar famosos é mais seguro, é
          Desirée pensa um pouco, mas já tinha tomado sua decisão.
          - Não. Não aceito - ela termina - Vai totalmente contra os meus princípios
          - Princípios...
          - Eu sei, eu sei...não é palavra que uma garota de 12 anos use, não é? Mas eu ainda não concordo com seu trabalho. Se eu tiver que ficar observando pessoas que estão apenas aproveitando a privacidade sozinhas, eu não quero
          - Bem, é que os casos de polícia são mais difíceis de eu pegar, mas se você quiser trabalhar só com esses
          - Para! Para de tentar me convencer! - ela se levanta da mesa, já brava - Seja lá para o que for, você só me quer para usar como uma ferramenta a mais, não é?
          - N-Não é bem assim...estou falando de uma relação profissional
          - Já disse que não aceito! - ela termina, com firmeza - Procure outra portadora de Livro dos Segredos! Eu não quero me envolver com mais nada disso!
          - Como assim? Nem usar o livro você vai mais? E os seus fãs do site?
          Ela morde o lábio ao ouvir isso. Realmente não podia deixar seus visitantes desamparados.
          - Talvez só para isso, mas...mas não quero mais usar o livro para bobagens como a sua
          Dionísio para de insistir e deixa Desirée sair.
          - Tudo bem, tudo bem...vou te deixar meu cartão caso você mude de ideia. Mas acho que você nem vai precisar, né?
          Ela pega o cartão de súbito, já com raiva e irritação com o cinismo do sujeito.
          - Passar bem
          - Desirée, espera! - grita Dionísio - Só mais uma coisa!
          - O que?    
             - Vai querer que eu mande as fotos do encontro por e-mail?
          - Hã?    
          Dionísio mostra em sua máquina várias fotos que ele tirou da garota, e ela mal percebeu
          - Como você? Ah.... - a garota sai, sem sequer se despedir. Dionísio paga todos os sorvetes e volta para a casa, não muito satisfeito.
          "Então Truth é só uma menininha", ele pensa, enquanto se dirigia de volta para casa, "Tsc! Não sou bom em falar com gente de idade dela...alguém já teria uma lábia bem melhor. Bom, acho que vou continuar enchendo a caixa da Truth de mensagens. Hehe"
           "Que cara-de-pau!", pensa Desirée, já deitada em sua cama, olhando para o teto, "Nunca vou usar esse livro só por puro capricho! Nunca!"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Leitura Indiscreta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.