Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 19
Capítulo 19 - Descuido




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Capítulo 19 - Descuido

                Naquele sábado, Desirée andava tranquilamente pelo supermercado para comprar um xampu novo. Era uma daquelas vezes onde a pessoa lembra do nada que está precisando de uma coisa. Ela já estava indo para o caixa, quando uma voz conhecida a chama
                - Desirée?        
                A garota se vira e dá de cara com Maria, a atendente da biblioteca da cidade. Coincidência encontrá-la ali, não?
                - Ah, oi. Maria, né?
                - Há quanto tempo! Como vai? - a moça cumprimenta simpaticamente.
                - Muito bem.
                - Mesmo?    
                        - Sim. Por que a pergunta?
                          - Ah, você sabe...aquele assunto... - Maria comenta discretamente - Não tem tido nenhum problema?
                 - Está falando daquele livro? Bem...problema nenhum, eu acho    
                 - Não precisou mais usá-lo?
                Desirée demora um pouco para responder, mas acaba optando por contar a verdade
                 - Bem...na verdade, eu tive que usá-lo algumas vezes
                - Sério? - exclama Maria com uma expressão preocupada - Isso pode ser um problema... - ela continua, colocando a mão no queixo e olhnado para o lado de forma preocupada.
                 - Problema?
                - Você não lembra? A magia desse livro é perigosa!
                - Sobre isso...
                - Hmm?
                 - Queria conversar um pouco sobre isso...
                Depois das duas pagarem suas compras, elas param na pracinha, compram um sorvete e sentam-se em um dos tranquilos bancos do local
                - Então...está tendo mesmo algum problema com o livro? - pergunta Maria, enquanto lambia seu sorvete de creme.
                - Na verdade, não é bem problema...é uma coisa meio estranha, que eu não estou entendendo direito    
                 - O que é? Se você falar, talvez eu possa ajudar...se bem que é mais o Carlos que entende desses livros
                 - É que...eu não acho certo usar o livro para espionar as pessoas, mas...tem situações onde o fato de eu poder fazer isso é o único jeito de ajudar quem precisa!
                - Como assim?
                 - Por exemplo, outro dia eu usei o livro para descobrir o problema de um garotinho da minha escola que era ameaçado pelos colegas...se eu não tivesse usado o livro, ele poderia estar sofrendo até hoje
                Maria não diz nada, mas continua ouvindo.
                - Além disso, é possível encontrar pessoas desaparecidas graças ao poder do livro. Se bem usado, ele pode ser muito útil
                - Entendo...
                - Entende?
                - Você é mesmo uma garota bem madura para a sua idade. Pelo que entendi, você não está usando o poder do livro para benefício próprio
                - Não! Nem pensar! Já disse que isso vai contra meus princípios! Mas...mas tem momentos onde o único jeito de evitar uma injustiça é usando o livro! Querendo ou não, ele mostra a verdade!
                 - Verdade... - repete Maria, com um tom sério - No fundo é isso, o livro nada mais mostra do que a verdade
                  - Não é? Mas mesmo assim eu me sinto meio mal de espionar as pessoas
                  - Bem, todos tem direito à privacidade. Usar o livro simplesmente rompe esse direito. Esse é o problema.
                         - Exato. Até que ponto eu posso usar o livro?
                  - Dizem que sua liberdade termina quando a do outro começa. O mais correto seria simplesmente esquecer do livro, não? As pessoas precisam aprender a resolver seus problemas sem ajuda de magia.
                 - Eu sei, eu já pensei em abandonar o livro de vez, mas... - ela faz uma pequena pausa - Sempre que eu tento, aparece alguma coisa em que o uso do livro pode ajudar. É como se fosse meu dever fazer alguma coisa, já que tenho poder para tanto
                 - Dizem que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, não é?
                         - É algo assim...quando concordei em ficar com o livro, não imaginava que tivesse que usá-lo tantas vezes
                  - Talvez você não devesse se culpar tanto
                  - Como assim?
                         - Abrir ou não o livro são escolhas suas, assim como ajudar ou não em algum assunto que você tenha se envolvido. Pense...se você não tivesse o livro, teria que resolver os problemas de qualquer jeito, não teria?
                 - Teria
                  - Além disso, de que adianta usar o livro para ajudar os outros, mas acabar prejudicando a você mesma? Alguém vai sofrer de qualquer jeito
                  - Sofrer...tirando essa questão de me sentir no dever de usar o livro...não tenho sentido mais nada. O livro não me parece tão prejudicial assim como vocês me falaram
                  Maria termina seu sorvete e suspira
                   - É o que você pensa..
                   - Por que? O que mais esse livro pode fazer? Vocês tem que me contar...se ele for mais perigoso do que parece, vou ter que me tomar ainda mais cuidado e...    
                  - Na verdade...fica mais difícil se você usar o livro tantas vezes
                   Desirée lembra que já usou o livro por uma quantidade razoável de vezes. Será que ela exagerou?
                   - C-Como assim? - pergunta a menina, já ficando um pouco nervosa.
                   - Lembre que você tem um pacto com o livro. Quanto mais você usa os poderes dele, mais forte fica esse pacto.
                  - Mais forte? - ela repete
                   Maria concorda com a cabeça e faz outra pergunta.
                   - Diga, Desirée...você tem certeza de que não quer deixar o livro com a gente na biblioteca? Talvez com o livro fique mais fácil de descobrir um jeito de quebrar esse pacto
                  O coração da menina fica mais acelerado ao ouvir isso. Devolver o livro? Assim, do nada? Mas agora ela estava precisando dele, já que criou seu próprio blog de encontrar pessoas desaparecidas. Seria estranho parar com isso assim, de repente.
                  - É...é realmente necessário? - ela pergunta - É que...talvez eu possa realmente precisar usar o livro...lembra do caso do sequestro e...
                  - Bem, a escolha é sua - diz Maria, se levantando - Mas eu vou deixar mais uma pergunta..
                  - Que pergunta?
                   - Você REALMENTE usa o livro com a intenção de ajudar as pessoas?
                   Desirée estranha a pergunta, de certo modo fica até chateada. Como assim? É claro que ela estava usando o item para o bem das pessoas. Seus princípios eram estes.
                   - C-Claro que estou...eu já falei isso, não falei?
                    - Desculpe, não quis te ofender - responde Maria - Mas existe a possibilidade de que sua vontade de ajudar as pessoas com o livro, na verdade, seja resultado do pacto com o livro
                    - Resultado do pacto?
                    - Quer dizer que o livro pode estar te controlando. Culpa, medo e dúvidas são adubos perfeitos para magias das trevas. Se você mostra um pingo de fraqueza ou de ambição, ela entra no seu coração sem você perceber
                    Desirée começa a ficar com medo da colocação da moça, mas continua ouvindo
                   - No fundo, você pode achar que está ajudando as pessoas, mas pode ser apenas a sua vontade oculta de usar o poder do livro
                    - N-Não. Impossível.    
                    - Bem, eu não posso te julgar. Agora eu preciso ir, mas, lembre-se: qualquer dúvida, chame a gente
                   - T-Tá legal
                   Maria vai embora e Desirée ainda fica algum tempo na praça, pensando no que ouviu. "Vontade oculta?", ela pensa, "Bobagem. Como é que pode? Por que usaria o livro simplesmente por usar? Eu não sou tão fraca a ponto de me deixar dominar por uma magia tão boba como essa, seria? Se eu fosse realmente desse tipo, usaria o livro para ver segredinhos, pessoas famosas ou coisa do tipo. Mas estou usando para encontrar pessoas desaparecidas. Isso é bom, não é?".
                    Mas, enquanto retornava para casa, a mocinha começa a lembrar das vezes em que usou os poderes do Livro dos Segredos. Ela lembra que o usou por pura curiosidade quando sua irmã começou a ter aulas particulares...e lembra que usou as folhas soltas apenas para humilhar aquele vidente vigarista. Ela reconhece que algumas vezes o livro foi usado por motivos mais egoístas. Mas agora ele não estava sendo utilizado para fins mais nobres? Quantas pessoas desaparecidas não existem por aí?
                     Chegando em casa, Desirée aproveita que a irmã saiu e que a mãe estava ocupada em um novo trabalho para acessar seu site de novo. Era impressionante o número de visitas que o contador marcava. Isso sem contar a toneladas de e-mails que seu fake (Truth) recebia. A ideia do blog era juntar e compartilhar o máximo de informações sobre pessoas desaparecidas possível. Desirée mandava para o blog as informações relevantes, mas, obviamente, não podia colocar imagens mais concretas do paradeiroa atual das pessoas. Tudo que fazia era escrever de um jeito que camuflasse sua ação direta (e mágica) nas buscas, colocando de forma que a pessoa realmente foi encontrada por apoio de outros visitantes do site. Nem que para isso ela tivesse que mentir e criar personagens fictícios no meio. Ainda assim, ela recebia e-mails fora de contexto, como mensagens de pessoas perguntando quem ela era, se tinha algum perfil ou para colocar alguma foto. Ela recebia e-mails até da polícia, perguntando como ela obtinha informações tão precisas. Desirée, obivamente, não iria se identificar e dizia à polícia que toda a informação realmente vinha de colaboração via web. Mesmo assim, havia desconfiança de muita gente por ser um site tão preciso. Naquele dia, Desirée abre mais uma vez sua caixa de e-mails e vê a mais nova mensagem da vez. Parecia alguém desesperado para encontrar o irmão.
                       "Olá, cara Truth", dizia a mensagem, "Não vejo meu irmão há muitos anos e talvez seu site me ajude a encontrá-lo. Seu nome é Mariel dos Santos Antônio, 29 anos, cabelos escuros, curtos e crespos, lábios grossos, não consegue se comunicar bem...". E ele dava mais uma série de informações, como o último local onde foi visto, o que estava vestindo, entre outras coisas, terminando com uma foto dele. Tendo a foto e o nome, foi fácil para a garota encontrar o tal rapaz, que estava em alguma casa de São Paulo. Como Desirée via casos aos monte, ela nem se deu ao trabalhar de ler a situação dele em detalhes. Apenas escreveu que ele estava em São Paulo, em tal endereço, fazendo qualquer coisa, qualquer coisa, na hora de postar ela inventaria alguma coisa. A menina programa o blog para postar essa informação uns dois dias depois e segue para o próximo e-mail. Mal sabia Desirée que esse desleixo iria ser um problema...
                          - E aí? A tal Truth deu alguma satisfação do seu e-mail? - pergunta Kadu, amigo de um fotógrafo famoso que nos foi apresentado como Dionísio San Marino    
                   - Melhor que isso...ela publicou que meu suposto irmão foi encontrado em São Paulo, em um endereço X - responde Dionísio
                          - Caraca...ela é boa mesmo, heim?
                           - Hhauahua. Ainda bem que eu sei que você está sendo irônico - ri Dionísio, preparando-se para explicar alguma coisa - Você sabe que eu não tenho irmão nenhum. Eu só mandei as informações de um amigo meu que mora nesse endereço que ela publicou. Ele não está em nenhuma lista de desaparecidos!
                           - Vai ver alguém que conhece esse Mariel entrou em contato com ela, não?
                           - Isso não faz sentido
                           - Não?
                            - Claro que não! Conhecidos iriam dizer que ele não está desaparecido e por que ela publicaria a informação de um desaparecimento falso?
                           - É verdade..
                           - Sem contar que... até essa postagem do blog, ninguém, ninguém mesmo entrou em contato com o Mariel afirmando qualquer coisa sobre essa história de desaparecimento. Eu sei porque perguntei. Nem ele sabia disso até eu contar.
                                   - Nossa, que sinistro
                            - Sinistro mesmo! Essa Truth arranjar as informações de um jeito anormal, Kadu. E eu tô muito afim de descobrir qual é
                                   Kadu não fala nada, só levantando as sobrancelhas.
                    - Sério - continua San Marino - Agora estou com cada vez mais vontade de conhecer essa Truth!


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