Leitura Indiscreta escrita por Metal_Will


Capítulo 20
Capítulo 20 - Tensão




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Capítulo 20 - Tensão
        
    Desirée termina de tomar uma xícara de leite com chocolate enquanto ouvia a um programa qualquer no rádio. Qual não foi sua surpresa quando o locutor citou o seu próprio site sobre diversas pessoas desaparecidas que haviam sido encontradas. Em um dos nomes citados por ele, Suzana, a empregada, não pode se conter
    - Não acredito...esse Reginaldo que ele falou...era filho de uma amiga minha que sumiu no mundo há uns dois anos. Graças a Deus encontraram ele
    Desirée fica meio sem jeito respondendo apenas com um "que bom", enquanto a empregada ouvia a notícia admirada e com um sorriso alegre no rosto. A garota deixa a louça na pia e sobe para o quarto. Sua irmã estava dormindo preguiçosamente no sofá (dificilmente acordaria até a hora da janta), sua mãe estava trabalhando em algum documento importante (mal podia tirar os olhos do laptop). Bem, nessas horas ela poderia continuar com seu trabalho.
    "Bom saber que meu site esta´tendo uma repercussão tão grande", ela pensa, enquanto ligava o computador. Olhando atentamente para a tela, com os cotovelos na escravaninha e o queixo apoiado nas mãos com dedos entrelaçados, ela continuava pensativa. "Hmm...eu não tenho muito tempo para usar o computador, mas o pouco que escrevi já ganhou bastante credibilidade. Não vou ter problemas se continuar escrevendo de um jeito que pareça ser resultado da colaboração de todos os usuários...mesmo gente de polícia já me mandou e-mails perguntando como consigo as informações tão rápido, mas é só responder que é tudo ação de muitas pessoas que acompanham o site. Talvez eu possa até conseguir um domínio oficial, um '.org'. Imagina quantas pessoas eu vou poder ajudar"
    Animada, ela continuava a identificar pessoas desaparecidas. Os casos passavam de crianças perdidas, sequestros, criminosos fugitivos. Os mais variados possíveis. O número de e-mails e comentários que seu fake recebia todos os dias era simplesmente absurdo. Ela não imaginava ter uma repercussão tão grande. Sem dúvida, era a melhor maneira de usar o livro.
    "Esse livro pode encontrar mesmo qualquer pessoa", ela pensa, "Mas...ainda assim, mesmo usando o Livro dos Segredos para ajudar tanta gente...ainda me sinto estranha cada vez que o uso. Não é bem uma sensação ruim, pelo contrário, é uma sensação boa...mas é estranha. Isso acontece toda vez que eu uso o livro, mas não é bem uma felicidade por estar sendo útil...é como se só o ato de usar o livro já fosse bom". De fato isso era verdade. Desirée usava o livro com cada vez mais frequência. No entanto, ela não fazia isso por pura vontade de encontrar pessoas desaparecidas e ajudar as pessoas. Embora ela também tivesse a intenção de usar o livro para o bem, a vontade de usar o livro era bem maior do que a vontade de ajudar. Era como se criar um site que encontrasse pessoas fosse uma forma de mascarar sua vontade inconsciente de usar o poder do livro. De alguma forma, ela se sentia poderosa sempre que o abria.
    Mesmo assim, Desirée se recusava a admitir esse tipo de sentimento. Ela continuava cada vez mais a escrever e publicar o paradeiro de pessoas, até que, naquele dia, em meio a tantos e-mails que ela via diariamente, um deles parecia ser diferente. O assunto vinha como "Você, Truth". Desirée pensa ser mais alguma mensagem perguntando sobre quem ela era, porque criou aquele site ou como ela conseguia as coisas tão rápido. No fundo até era isso, mas, agora vinha com um diferencial. Ela começa a ler a mensagem
    "Cara, Truth. Muito obrigado por publicar em seu site o paradeiro de meu irmão. Mas é uma pena que ele nunca esteve desaparecido! Na verdade, ele é só um amigo meu, com exatamente aquele nome e aquele endereço que você publicou, mas nunca esteve desaparecido em momento algum. Desculpe por mentir, mas eu precisava confirmar isso. Eu já imaginava que o seu site era anormal...rolavam boatos na Web de que você estaria filiada ao governo e até que estavam inventando alguma conspiração, viagens desse tipo. Não sei quem você é ou o que planeja, mas eu sei que seu site não é normal. Quem é você? Gostaria muito de conhecê-la...se quiser conversar, use meu endereço de e-mail para mensagens instantâneas"
      Desirée fica pálida. Uma gota de suor gelada escorreu por seu rosto naquele momento. Um deslize...um único deslize que ela cometeu. Aquele cara que morava em São Paulo não estava desaparecido? Por que ela não usou o livro com mais atenção? Aquela postagem era mais do que prova para denunciar que Truth não usava métodos comuns. "Calma, calma...não preciso me preocupar", pensa Desirée, "Se alguém falar alguma coisa, é só dizer que fui vítima de um trote e que me mandaram o endereço de uma pessoa que não estava desaparecida. Até aí tudo bem...posso enganar os outros, mas a única pessoa que não posso enrolar...é esse cara que me mandou o e-mail"
       Ela se levanta e começa a andar pelo quarto. Esticar as pernas e andar de um lado para o outro a faziam pensar melhor quando estava nervosa. "Mas isso também não prova nada, prova?", ela pensa, "Quer dizer, eu poderia ter simplesmente investigado o nome dele e descobrir onde ele mora. Não. Não. Droga. Se tivesse feito isso teria descoberto que ele não está desaparecido e não teria razão para publicar a informação. Eu entrei numa contradição...como eu poderia ter acertado o paradeiro dele sem saber que ele não estava sumido? É muita coincidência...e não posso nem dizer que algum conhecido desse falso irmão dele me indicou o endereço...porque eu também teria descoberto que ele não estava desaparecido e não teria publicado nada. Droga...o que eu fiz?"
       Desirée continuava pensativa. "E se disser que alguma organização me mandou a informação? Mas ele nem é considerado desaparecido ou criminoso ou nada disso. Ele me pegou nessa contradição. E agora? O que eu faço?". Desirée para um instante, olha para a tela focada na tela do e-mail, mordia os lábios e balançava seu pé direito descalço de maneira nervosa. "Bem...é uma pessoa só, não é? Basta eu ignorar...é só ignorar e apagar a postagem que escrevi. Um errinho besta desses não vai me complicar"
        A garota resolve ignorar e seguir adiante. Ela apaga a postagem, escreve um recado justificando que a postagem foi deletada por se tratar de um trote e continua postando informações (mas agora tomando cuidado com elas). No entanto, as coisas não seriam tão simples assim. No dia seguinte, ao entrar na Internet, Desirée recebe vários e-mails da mesma pessoa, exigindo uma resposta de Truth. Coisas como "Truth se mostre" ou "Quem é você?". Eram vários e vários e-mail da mesma pessoa. Como alguém podia estar tão disposto a saber quem ela era? E ela sequer poderia usar o Livro dos Segredos, já que não tinha a menor ideia de quem era a pessoa. A capacidade de anonimato na Internet virava um problema nesses casos. Ela apagou as mensagens e continuava a ignorar. Aparentemente, ele não causou mais confusão sobre a história da postagem apagada (ele queria chamar a atenção dela, mas não necessariamente prejudicá-la). A mesma rotina continuava por vários dias, com o mesmo cara mandando toneladas de e-mails todos os dias. Mesmo quando Desirée mandava o e-mail para a caixa de spams, ele voltava com um novo endereço. Quem estaria tão disposto a conversar com ela? Quem? Cerca de uma semana e meia de tanta insistência, Desirée finalmente resolve mandar uma resposta.
      - Ah! Hhahauhau! Finalmente! - diz Dionísio San Marino, o tal mandante dos e-mails, para seu colega Kadu
      - O que foi? Novidades?
      - Truth finalmente me respondeu
      - Natural! Depois de tudo que você fez, quem teria paciência?
      - O que será que ela disse?
      - Se ela realmente não quer se identificar, deve ter mandado algo sobre você parar de mandar e-mails para ela
      - Será?
      Dionísio abre a mensagem e logo vê
        "Eu não sei o que você quer, mas, por favor, pare de mandar e-mails. Eu sou apenas uma pessoa normal e esse site é fruto da colaboração e boa fé de várias pessoas que querem encontrar desaparecidos. Vê se cresce um pouco.
        Truth"
       O paparazzo dá risada. Kadu não entende
       - Ela acabou com você. Realmente ela não vai falar nada
       - Calma, meu amigo. A gente só está começando
       - Hm?
       - O fato de ela se recusar a falar comigo já é sinal mais do que suficiente para perceber que ela está escondendo alguma coisa
       - E o que ela pode estar escondendo? Vai dizer que é algum poder mágico ou coisa do tipo? Poxa, Dionísio, você já passou dessa idade
       - Eu não sei, mas aquela postagem foi estranha, não foi?
       - Foi...precisa demais para ser coincidência
       - Sem contar que, das várias mensagens que mandei, algumas mandei disfarçadamente com informações de pessoas realmente desaparecidas, mas que não possuiam foto
       - E?
       - Truth não publicou nenhuma delas
       - Mas pessoas sem foto são mais difíceis de achar
       - Aí é que está...pouco tempo atrás, a polícia achou uma dessas pessoas. Mas Truth nunca publicou nada sobre elas
       - Se já foram encontradas para que publicar?
       - Mesmo que ela publique o paradeiro de pessoas com foto antes da polícia. Quer dizer que a polícia é competente para achar pessoas sem foto antes da Truth, mas incompetente para achar pessoas com foto?
       Kadu pensa um pouco e até vê um sentido no que seu animado amigo estava dizendo
       - O que você está querendo dizer? Que a Truth tem algum poder, mas só pode usar se souber o rosto da pessoa?
       - Algo assim    
          - Já vi uma história parecida com isso em algum lugar... - balbucia Kadu, pensativo, com a mão no queixo.
       - Bom. Tudo bem. Se Truth não quer falar comigo por bem...vou ter que tomar algumas medidas mais drásticas
       - Drásticas? Como assim?
       - Vou ter que chamar o Gonçalo    
        - Gonçalo? Aquele seu amigo hacker?
       Dionísio faz que sim com a cabeça
       - Kadu, meu amigo...estou disposto a fazer de tudo para conhecer essa Truth...e você sabe que quando eu coloco uma coisa na cabeça
       - É impossível de tirar...eu sei...foi assim também naquela vez que você cismou de tirar uma foto constrangedora daquela modelo lotada de seguranças
       - E eu consegui a foto, não consegui? Dessa vez...eu também vou conseguir!


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Notas finais do capítulo

"Já vi uma história parecida com isso em algum lugar... "

Eu juro que é só "referência" '



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