Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 26
Capítulo 26 - Família (parte II)


Notas iniciais do capítulo

As palavras saíram mais trêmulas do que eu esperava, mas o pior de tudo nem era isso. O pior de tudo era o que eu esperava como resposta. Ali parada em frente ao meu pai eu percebi que esperava que ele não me odiasse. Eu esperava que ele gostasse de mim. Que abrisse os braços e me puxasse para eles. Eu me sentia tão idiota e frágil e não conseguia pensar o contrário.



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-           Diana era como você! Era teimosa e prepotente exatamente como você, Rosemary! Eu falei! Falei para ela. Eu avisei. Assim como avisei á você.

Agora eu estava só um pouquinho irritada.

-           Hey, o que eu fiz? Você nem me conhece! Nem sabe quem eu sou! Você... Você... – eu estava gritando e quase chorando.

-           Acha que eu não sei quem é, Rosemary Hathaway? Acha que eu nunca me importei com você? Como acha que sobreviveu aqui na Rússia? Acha que não precisou da minha Ajuda? E quando resolveu fugir com a princesa, quem acha que protegeu vocês duas?

Eu engoli em seco e olhei para Lissa – o rosto dela era uma cópia do meu, nós não entendíamos nada.

            Abbe andou um pouco mais e parou bem na minha frente, me fazendo engolir em seco novamente.

-           Acha que só porque não ficamos segurando sua mão o tempo todo não estamos com você Rosemary?

Opa! O “nós” embutido nessa frase fez com que algo se agitasse em meu estomago – provavelmente eu devesse ter comido a ultima rosquinha, já que pretendia encontrar meu pai.

-           Vo... Você me ajudou? – eu perguntei com a voz mais idiota que poderia sair da minha boca e lidando para segurar as lágrimas.

-           É claro que ajudei Rosemary! Eu sempre ajudei! Ajudei você, como ajudei Diana, embora não concordasse com as atitudes de nenhuma das duas! Eu não vou deixar você terminar como ela! – agora ele estava gritando – eu não vou permitir que você tenha o mesmo fim de Diana! Não vou deixar que você se seduza por essa vida de Strigoi!

Deixei meus olhos encontrarem o chão.

-           Acha que eu não sei que anda por aí com ele! – eu sabia exatamente á quem ele se referia – eu não vou permitir Rosemary! Não vou permitir que ele a seduza!

-           Eu não...

-           Não me venha com desculpas Rosemary!

Eu já estava quase me esquecendo o que eu havia ido fazer naquele lugar além de levar uma bronca daquelas do pai que eu nem mesmo sabia que tinha até alguns meses atrás, quando Lissa me salvou.

-           Não se preocupe com Rose. Eu cuido dela.

-           É mesmo? E quem cuida de você, princesa?

-           Eu cuido das duas

A voz conhecida de Stan soou mais forte, até que pude vê-lo.

Em nenhum outro momento da minha vida eu ficaria tão feliz em ver Stan parado bem atrás de mim.

Ele estava parado, com as mãos nos bolsos da calça jeans e um casaco de couro marrom aberto. Seus cabelos escuros estavam cuidadosamente desalinhados e seus olhos eram absolutamente poderosos.

Stan caminhou até meu pai e o cumprimentou com um aceno de cabeça, em seguida parou entre Lissa e eu e colocou uma mão no ombro de cada uma de nós.

-           Não tem com que se preocupar Abbe, não enquanto eu estiver por perto.

      Meu pai engasgou, gaguejou, tossiu; mas não disse nada a Stan apenas retribuiu o aceno.

-           Alguma novidade sobre Anita?

      Meus olhos foram para os do meu pai tão rápido que nem eu mesma percebi.

-           Não!

A frase do meu pai foi enfática – eu também não deveria dizer nada ou estaria em apuros. Não que eu devesse me importar, afinal ele nunca havia estado presente em minha vida mesmo, que diferença faria? Mas o fato é que eu me preocupava. Eu queria entender porque, mas não conseguia.

            Fiquei ali, parada feito uma imbecil, olhando para o rosto do meu pai. Alguns minutos depois, o ânimo pareceu um pouco mais tranqüilo e eu relaxei.

-           Vim buscar as duas – disse Stan.

-           Acho que deveria levar apenas a princesa, guardião. Rosemary e eu ainda temos assuntos á tratar. Além disso, eu mesmo a deixarei em casa antes que anoiteça.

Se por um lado eu queria ficar e ver o que meu pai tinha para me dizer, por outro eu estava absolutamente apavorada. Por isso, deixei que Stan decidisse.

Ele olhou em minha direção esperando uma resposta que não encontrou. Lissa soltou minha mão com cuidado e sorriu. Um sorriso tão sincero e profundo e doce, era tão “Lissa” que eu não pude deixar de me sentir confortada por ele.

-           Fique Rose. Acho que você tem muitas coisas para conversar com ele.

      Eu engoli em seco e Stan continuou me encarando.

-           Pode ir Stan. Eu vou ficar bem.

Acho que eu queria convencer mais a mim mesma do que a ele, porque assim que Stan e Lissa saíram pela porta, eu senti como se meus órgãos internos estivessem sofrendo uma colisão.

Meu pai andou em volta de mim como se me estudasse, sem dizer nada – eu nem sabia se queria que ele dissesse ou não.

-           Anita se parece muito com você.

-           Eu sei – eu respondi.

-           Eu disse á ela para ficar longe de você, mas sabia que não adiantaria.

-           Acho que ela se parece mais comigo do que você gostaria.

      Meu pai sorriu.

-           Engano seu, Rosemary. Você é perfeita como é, eu a admiro. Admiro sua força, sua luta.

      Agora eu não entendia mais nada. Depois do sermão todo ele ia dizer que me admirava?

      Como se pudesse ler meus pensamentos, meu pai, o terrível Zmey, respondeu.

-           Sim Rosemary, eu a admiro. Acha que só porque não concordo com você tenho que te odiar?

-           Você me odeia?

As palavras saíram mais trêmulas do que eu esperava, mas o pior de tudo nem era isso. O pior de tudo era o que eu esperava como resposta. Ali parada em frente ao meu pai eu percebi que esperava que ele não me odiasse. Eu esperava que ele gostasse de mim. Que abrisse os braços e me puxasse para eles. Eu me sentia tão idiota e frágil e não conseguia pensar o contrário.

As palavras á seguir cortaram um pouco da minha confusão mental.

-           Não Rose. Eu não te odeio.

Ele não me disse mais nada, não me abraçou ou estendeu os braços em minha direção, mas seus olhos me disseram o que eu esperava ouvir. Diferente da minha mãe, ele pelo menos não tentava fugir dos meus olhos. Ele só não era um homem de confissões. Nem eu.

Depois de mais alguns minutos – que pareceram horas intermináveis para mim – meu pai sinalizou para a porta e um Dhampir alto e ruivo entrou. Ele era um pouco mais velho que eu e nem um pouco amistoso. Não falou com meu, nem mesmo o olhou nos olhos. Meu pai começou a caminhar, indicando-me o caminho até a saída, o Dhampir caminhou conosco.

Entramos em um carro de luxo – cujo nome eu não fazia idéia, mas devia ser bem caro – e o Dhampir dirigiu pelas ruas cobertas de neve.

Eu permaneci em silêncio por todo o tempo que pude, mas havia uma pergunta em minha mente que eu não conseguia calar de maneira alguma. Eu estava sendo consumida pela curiosidade, então, deixei escapar.

-           Porque Anita é uma Moroi?

Meu pai voltou os olhos para mim e me encarou como se eu fosse uma aberração. Eu não conseguia entender qual seria a reação dele quanto á minha pergunta e definitivamente e por algum motivo totalmente fora de mim, eu não queria que ele se chateasse comigo. Tentei concertar.

-           É que, sendo filha de Stan ela não deveria...

-           Não Rose, ela não deveria – meu pai respondeu – Diana também não deveria ter morrido, ou o seu instrutor acordado. Coisas que não deveriam acontecem o tempo todo Rose, e não podemos fazer nada.

Eu engoli em seco porque sabia perfeitamente que meu pai – ou qualquer outra pessoa em seu juízo normal – aceitaria o que eu estava fazendo.

      Cruzei os braços sobre o colo e deixei meus olhos passearem pelas ruas da cidade.

-           Quando Anita nasceu, percebemos que algo nela era diferente.

As palavras saiam de sua boca como se ele confessasse para si mesmo. Meus olhos continuaram perdidos na neve que caia lá fora, porque eu não sentia que ele quisesse que eu o visse confessar – eu mesma não gostaria.

-           Stan e eu tentamos protege-la. Tentamos cuidar das duas. Não conseguimos. Anita era uma incógnita para todos, inclusive para a mãe. Nunca entendemos a razão que a fez nascer diferente.

Pelo reflexo do vidro eu vi meu pai deslizar as mãos pelo rosto, como se quisesse apagar os pensamentos que o faziam sofrer.

-           Eu preciso encontra-la Rosemary. Eu preciso. Eu devo isso a Diana, eu devo.

Eu não resisti, instintivamente, meu corpo voltou-se para dentro novamente e minha parou sobre a do meu pai. Ele não reagiu. Não tirou a mão de debaixo da minha e também não a segurou. Apenas permitiu. Eu também não o acariciei, apenas descansei minha mão sobre a dele, como se tudo isso fosse uma coisa normal.

            Quando o motorista – ou guardião, não sei ao certo – parou em frente ao hotel, uma única frase marcou nossa despedida.

-                      Vamos encontra-la – eu disse ao meu pai.


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