Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 27
Capítulo 27 - Encontros


Notas iniciais do capítulo

Eu olhei nos olhos de Ivan por alguns segundos. Algo em meu coração dizia que eu devia confiar nele e que aquele passeio significava mais que um simples “Tour” pelas ruas da capital da Sibéria. Algo em minha mente me dizia que eu estava completamente louca e já devia ter aprendido á não confiar em ninguém.
Não foi difícil decidir qual dos dois eu deveria ouvir.
Dei um sorriso para Ivan e voltei para o quarto. Minutos depois, eu estava na porta novamente. De calça e jaqueta e minhas botas de neve.
— Vamos!



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Naquela noite eu me deitei cedo. O dia havia estado frio demais, quase que o tempo todo e a neve cobria tudo que eu conseguia ver através da janela.

Tomei um banho quente e demorado e lavei meu cabelo – ultimamente eu não estava tendo tanto tempo para cuidar de mim mesma quanto gostaria, por sorte, eu havia tido uma pequena ajudazinha da mãe natureza.

Enrolei-me na toalha e saí de volta para o quarto. Assim que me sentei para escovar o cabelo, um som suave de batidas na porta, chamou minha atenção – Lissa.

-           Rose. Você está acordada?

-           Sim Liss, entre! – eu gritei para ela.

Lissa entrou vestindo uma calça de flanela cor de rosa e um roupão por cima da blusa – definitivamente não era á noite de ser sensual.

-           O que está fazendo Rose?

Lissa me perguntou e praticamente arrancou a escova das minhas mãos – não importava quanto tempo passasse, Lissa nunca estaria convencida de que eu poderia escovar o meu próprio cabelo. Eu não me importei, gostava muito quanto ela cuidava de mim, e hoje especialmente, eu queria ser cuidada.

-           Como foi a conversa com seu pai?

Eu pensei por um tempo, antes de responder. Em minha mente não vinham muitas palavras interessantes á respeito do meu pai. Por mais que eu não tivesse raiva ou outro sentimento ruim por ele, também não sentia amor. Não conseguia imagina-lo comigo como Lissa era com seu pai. Respirei fundo e pensei na única coisa que veio em minha mente.

-            Estranha.

      Lissa sorriu.

-            Estranha é uma boa comparação, Rose. Boa mesmo!

Lissa continuou alisando meu cabelo com a escova enquanto minhas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas. Em um ponto da coisa toda eu apaguei.

Estava sonhando com alguma coisa quente e fofa e branquinha. Não me lembro bem se eram carneirinhos ou cãezinhos poodle, mas eram tão fofos e brilhantes que eu estava feliz – tantas noites sem dormir direito, tudo que eu queria era sonhar com alguma bobagem mesmo.

Como já era de se esperar em se tratando de mim, meu sonho bobo durou muito menos do que eu precisaria para estar renovada na manhã seguinte, rapidamente, eu estava de volta á um mundo que não era meu.

            Comecei a caminhar pelo campo gramado, esperando que encontraria Dimitri, ou talvez Mason; ou até mesmo Adrian, mas não esperava encontra-la.

            A moça estava um pouco adiante, seus cabelos negros e longos se agitavam suavemente com o vento. Ela usava um vestido longo, azul escuro, quase preto; o que tornava sua pele ainda mais branca e brilhante.

            Eu me aproximei mais.

            Quando estávamos á cerca de meio metro de distância, ela virou-se. Seus olhos estavam molhados de lágrimas e seu rosto era pesado e triste. Ainda assim, eu sabia quem era – Diana, minha tia.

            Olhar para Diana era como olhar para o espelho. Eu percebia nela muito mais do que as semelhanças físicas que nós duas tínhamos; eu percebia a semelhança de nosso sofrimento. Diana havia se apaixonado pelo homem errado, exatamente como eu. Um homem que como eu precisou afogar todo o amor que sentia e tirar a vida de quem amava. A diferença entre minha história e de minha tia, era que o Dhampir em questão havia desempenhado bem o papel.

            Diana levantou um pouco os olhos e me encarou. Seus olhos grandes e negros ainda brilhavam por causa das lágrimas. Mesmo sabendo que ela havia morrido como um Strigoi, ela me parecia tão frágil e suave e delicada, que eu queria abraça-la.

-           Oi Rose – ela me disse meio sem jeito.

-           Oi – eu respondi ainda mais sem jeito que ela.

      Diana caminhou um pouco mais e sentou-se em uma pedra.

-           Venha até aqui, sente-se comigo – ela me disse, indicando o lugar ao seu lado.

            Eu caminhei e me sentei.

            Diana colocou a mão sobre a minha. Não estava fria, nem quente. Tinha uma temperatura suave, muito parecida com as mãos de Anita.

-           É bom conhece-la Rose. É bom ver a mulher que se tornou.

De repente, um bolo se formou em meu estômago e começou a subir em direção á minha garganta. Meus olhos começaram a ficar mais úmidos e eu pigarreei para afastar a sensação.

-            Obrigada por se preocupar com Anita por mim, Rose. Eu gostaria tanto de fazer mais por ela, mas não posso. Daqui de onde estou tem tão poucas coisas que eu posso fazer.

            Minha tia deixou a cabeça pender em direção ao chão. Eu não resisti, apertei sua mão contra a minha.

-           Eu vou encontra-la. Eu prometo.

-           Eu sei que vai Rose, não é com isso que me preocupo.

Agora eu não entendia mais nada.

-           Ah não? E porque raios está chorando então? Quer dizer, desculpe, eu... Eu...

-           Tudo bem Rose – disse Diana com a mão sobre minha perna – não precisa pensar antes de falar as coisas para mim. Na verdade, acho que sou a pessoa que mais compreende seus modos, acredite.

Diana sorriu, e seu sorriso iluminou tudo. Ela era tão linda que não foi difícil entender porque Stan havia se apaixonado por ela.

-           Como ele está Rose?

      Ela não disse nome algum, mas eu sabia exatamente de quem falava.

-           Sabe como é, você o conhece. Continua com a cara amarrada, e o jeito de durão, mas no fundo Stan é legal.

      Os olhos da minha tia se perderam no infinito.

-           Sim Rose, eu o conheço bem.

      Uma lágrima começou a formar-se novamente nos olhos dela, e eu tentei impedir.

-           Hey, você está me enrolando! Não me disse ainda porque estava chorando. Porque eu imagino que não seja por causa de Stan.

-           Não Rose, não é. Eu não choro mais por causa de Stan porque sei que ele encontrará o caminho que deve seguir. Sei que você o ajudará também. O que me preocupa é você Rose – os dedos de Diana brincaram em meu rosto – minha sobrinha querida.

Não precisava ser gênio para perceber o arrependimento na voz de Diana, mas o que me preocupava mesmo era a razão da preocupação comigo. Então, eu perguntei.

-           Porque está preocupada comigo? Quer dizer, eu estou bem.

-           Você terá que fazer escolhas Rose. Escolhas difíceis. Não faça como eu – os olhos dela se perderam novamente – eu pensei que ganharia o mundo e perdi as pessoas que mais amei.

      Deus, minha família era mesmo complicada!

-           Eu sei que terei que fazer escolhas Diana. Eu sempre tive que fazer. Sempre fiz. Vou tomar a decisão certa.

-           Não Rose, você não sabe se vai. Você nunca teve escolher realmente, e quando teve, falhou. Você e Dimitri irão se encontrar novamente, e só existe uma chance de salva-lo. Ele não quer Rose, não quer ser salvo.

            Eu engoli em seco – Pensar em matar Dimitri mais uma vez era doloroso demais.

            Assim que as palavras apareceram em minha mente, eu entendi – eu não seria capaz de mata-lo, não de verdade, não para sempre.

            Instintivamente, meus braços se enrolaram no pescoço de Diana e ela me acolheu, passando seus braços delicados sobre minhas costas.

            As lágrimas agora eram minhas.

-            Shhhhhhh...  – Diana sussurrou em meu ouvido – existe uma diferença entre você e eu, Rose querida, eu achava que não tinha com quem contar, mas você tem. Tem á mim, tem seu pai, tem Stan e seus amigos.

Eu sorri um pouco, com algumas lágrimas perdidas em meus olhos.

-           Agora você precisa voltar, Rose. Tem gente querendo lhe ver.

As ultimas palavras de Diana me despertaram em minha cama. Eu estava deitada, ainda de roupão, e meu cabelo parecia um ninho de castores.

Levantei a cabeça devagar e dei uma ajeitada nos cabelos com as mãos, não ficaria bom mesmo e eu teria que agüentar Lissa reclamando sobre o quanto eu não cuidava do meu cabelo direito por um longo tempo.

Tirei o roupão e vesti o pijama novo de flanela que Lissa havia me dado de presente. Antes que eu pudesse me jogar sobre os lençóis fofos e quentes, alguém bateu em minha porta.

Quando olhei pelo olho mágico, quase não acreditei – Ivan. Ele estava lá, parado, olhando para a porta fechada. Tudo que eu podia fazer era abri-la.

-           Oi Rose. Como se sente?

-           Bem.

A resposta não saiu tão confiante quanto eu gostaria. Alguma coisa na voz de Ivan fazia com que eu não conseguisse mentir para ele, era muito estranho.

-            Conversou com seus mortos hoje, Rose?

Eu engoli em seco.

-           Como sabe?

-           Eu sei de muitas coisas criança. Tantas, que passei minha vida toda fugindo delas.

Eu queria entender melhor Ivan e queria que ele me desse ás respostas que eu procurava. Queria entender porque Victor achava que ele podia trazer Dimitri de volta e eu não sabia como perguntar.

Engoli em seco novamente e perguntei da melhor maneira que eu sabia – diretamente.

-           Porque está aqui, Ivan?

Ivan sorriu tão docemente que eu me arrependi de ter sido tão direta com ele.

-           Eu só estava preocupado com você Rose.

-            Desculpe – eu disse envergonhada.

-           Pelo quê? Por ser sincera? Não se preocupe criança, acredite, eu prefiro a sinceridade. Quando se tem um dom como o meu, as pessoas não são muito sinceras.

-           Qual é o seu dom Ivan?

-           Algo parecido com o da princesa Vasilisa, mas na hora certa você entenderá.

Ivan continuou olhando para mim por alguns segundos e eu não tinha idéia de que protocolo seguir, até que ele falou.

-           Vamos dar um passeio Rose?

-           Mas Ivan, nós estamos no meio do dia, você é um moroi, e...

-           Eu consigo agüentar Rose. Além disso, podemos pegar um carro.

Eu olhei nos olhos de Ivan por alguns segundos. Algo em meu coração dizia que eu devia confiar nele e que aquele passeio significava mais que um simples “Tour” pelas ruas da capital da Sibéria. Algo em minha mente me dizia que eu estava completamente louca e já devia ter aprendido á não confiar em ninguém.

            Não foi difícil decidir qual dos dois eu deveria ouvir.

            Dei um sorriso para Ivan e voltei para o quarto. Minutos depois, eu estava na porta novamente. De calça e jaqueta e minhas botas de neve.

-           Vamos!


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