Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 15
Capítulo 15 - Um pouquinho melhor




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57269/chapter/15

Sonhei com Arabella naquela tarde. Ela me olhava com raiva, me acusava de machucá-la, de ter dito aquelas coisas horríveis. Apontava seu dedo para mim de modo acusador. Falava que eu nunca me curaria, que nunca seria feliz, que eu era somente uma criança, como ela.

Ao acordar olhei ao redor confuso me perguntando onde estava. A luz alaranjada do sol enchia o quarto de paredes e móveis claros, logo a memória de estar em uma clínica psiquiátrica me fez afundar a cabeça no travesseiro novamente, mas depois de alguns segundos simplesmente suspirei aliviado. O meu sonho podia não ter sido dos mais agradáveis, mas pelo menos eu não sonhara com o Tom, como vinha acontecendo praticamente todos os dias desde sua morte. Repassava em minha mente tudo o que o Doutor Mayer havia dito, sobre a voz de Tom em minha cabeça ser nada mais do que a voz da minha consciência.

“ Você está deplorável! Está fazendo todos ao seu redor sofrerem! Não se sente mal por estar fazendo isso?”

“ Mas você sente como se fosse, não sente?! È um idiota!! Pare de se culpar e continue vivendo! ”

“ Por que não sai? Tem medo das pessoas que acabou de ver? Tem medo do fato de ser uma delas agora? “


Todas as palavras que ele gritava em minha cabeça, todas as perguntas. A resposta para todas elas era sim. Ele sempre estava certo, tudo o que ele falava eu já sabia. E eu me acusava daquilo em silencio.

Duas batidas na porta desviaram minha atenção do óbvio. Talvez o doutor estivesse certo.

-Bill Kaulitz? – uma enfermeira de voz aveludada abriu a porta. – Está na hora do jantar.

-Eu... Eu já vou. – disse atordoado. – Eu posso tomar um banho antes? Prometo não demorar muito.

-Claro. – ela sorriu e fechou a porta novamente.

Abri somente o chuveiro frio e me enfiei lá dentro.

-Se acalme, Bill. Pense. Pense. Não faça besteiras. – sussurrava incessantemente enquanto sentia a água fria me causar arrepios. – Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem.

-Você sabe que isso não vai acontecer, não sabe?

-È só sua consciência. Não ligue. – fechei os olhos com força.

-Você gosta de me ouvir falar em sua cabeça não gosta? Sabe que eu estou sempre certo. E sabe que enquanto ouvir minha voz não vai se sentir tão sozinho. – me deixei desabar no ladrilho frio. A verdade me machucava. – Você tem medo de esquecer como é a minha voz. Tem medo de como vai ser quando não houver mais vestígios nenhum meus para se agarrar.

Fechei o chuveiro e me sequei. As lágrimas escorriam, mas áquela altura elas eram tão freqüentes que eu já havia me acostumado a simplesmente ignorá-las. Elas eram uma parte do meu dia a dia. Jantei em silencio. O refeitório já estava praticamente vazio.

-Oi! Meu nome é Alfred! – um homenzinho gordinho e levemente calvo sentou ao meu lado estendendo a mão, antes mesmo que eu a apertasse ele desatou a falar. – Todos aqui me chamam de Alfie, eu não gosto muito! Eu acho que tem um desenho com um ET que se chamava Alfie. Eu não gosto de desenhos. Ou era uma série? – parou por alguns segundos. Ele falava extremamente rápido. – Você é o Bill? – parecia já ter esquecido o assunto do ET Alfie. – Todos aqui falam de você, dizem que é uma grande estrela! Por que está aqui?! Eu estou aqui por que sou neurótico, sabe? Não lido bem com esse mundo. Já fui e voltei 3 vezes. Tenho uma mulher e duas filhas, elas sempre vêm me visitar. – sorriu. Me perguntei como ele nunca perdia o fôlego ao falar tão rápido e sem parar desse jeito. – Você não é o novo amigo da Arabella? Quer dizer, quase. Ela está brava com você! Disse que nem a Annie gosta de você! – riu – Ela nunca desgruda daquele ursinho. Ela também disse que você foi mau com ela. Por que você foi mau com ela? Ninguém é mau com Arabella! Ela é boazinha com todo mundo! Por que você foi mau com ela? – arregalou seus grandes olhos castanhos e me encarou curioso. Fiquei em silêncio esperando que voltasse a falar antes de receber uma resposta novamente, mas aparentemente dessa vez ele realmente queria uma resposta.

-Foi um prazer te conhecer... Hãm... Alfred. Até mais. – levantei apressado e praticamente corri para fora daquele refeitório rezando para ele não me seguir.

Ao passar pela sala de estar parei por alguns segundos. Arabella estava sentada no sofá assistindo a um desenho estranho na televisão. Senti o peso na consciência por ter falado aquilo para ela. Ela não queria me magoar, só estava tentando ser legal.

-Vá se desculpar. – era a voz de Tom. Respirei fundo.

- Quando ele te der uma ordem obedeça. – repeti as palavras do Doutor Mayer, durante o curto percurso até o sofá. - Posso me sentar? – Arabella virou o rosto com um sorriso e por um segundo eu me enchi de esperanças de já estar perdoado, mas ao perceber que era eu parado ali, ela fechou a cara e voltou o olhar para a televisão. Dei de ombros e me sentei mesmo assim.

-Cuidado! Você sentou em cima da Annie! – exclamou me empurrando para resgatar o ursinho. Levantei imediatamente com um susto. Ela agarrou o ursinho e o abraçou me olhando com raiva novamente. Ficava engraçada com as sobrancelhas cerradas e aquele bico enorme.

-Me falaram que a Annie não gosta de mim, isso é verdade?

-È. Ela acha que você é um homem mau.

-Impossível! Todo mundo gosta de mim! – rolei os olhos fingindo indignação. Me surpreendi ao notar que estava, de certa forma, me divertindo.

-Não pode ser! Não tem como todo mundo gostar de você. – foi a vez dela de rolar os olhos, eu reprimi o riso. – Eu não gosto de você também!! – me mostrou a língua e voltou a prestar atenção na televisão. Por alguns segundos eu fiquei simplesmente parado ali refletindo se ria ou ficava irritado com aquilo.

-E se eu me desculpasse por ter falado aquelas coisas más? Eu ando um pouco nervoso ultimamente.

-Por que? – se aproximou me olhando de perto. Parecia preocupada e curiosa, toda aquela raiva infantil evaporou de seu rosto como mágica.

-Se eu contar você me desculpa? – perguntei. Arabella sorriu e assentiu que sim com a cabeça mordendo seu lábio inferior. Lidar com crianças era surpreendentemente mais fácil do que lidar com adultos. Aquilo me fez me perguntar por que nós mudamos. Por que temos que crescer e agir como adultos? – Por que eu sinto saudade.

-Eu odeio sentir saudade! – exclamou, voltando a se recostar no sofá. Ainda tinha aquele ursinho apertado forte entre seus braços. – Eu sinto saudade da minha irmã... – baixou a cabeça. – Eu acho que ela nunca mais vai voltar para me ver.

-Eu também tenho saudade do meu irmão. Ele também nunca mais vai voltar para... – parei abruptamente de falar quando ela se jogou em cima de mim, me abraçando forte. Um turbilhão de emoções passaram pelo corpo nos próximos instantes, surpresa, raiva, dúvida, e finalmente o conforto. Deixei que meu corpo, até então rígido e tenso, se relaxasse e cedesse ao seu abraço. Eu me sentia um pouco menos sozinho do que antes. – Por que fez isso? – não pude deixar de perguntar quando ela se afastou. Seus braços agora abraçavam a Annie novamente.

-Por que seus olhos me falaram que você está muito triste. Genevieve me disse que quando alguém está triste você tem que abraçá-la, por que aí tudo fica um pouquinho melhor.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OBRIGADAAA franciane e kaulitzchafer pelas indicações!

fiquei MUITOOO feliz!

mesmoo, mesmo!
hsaudhausdhas

espero que gostem do capítulo!
quem ler, não custa deixar review!