Alleine In Die Nacht escrita por Maty
-Sinto muito. Não podemos mais tocar. – Carl disse retirando o violão de meus braços.
-Por que?
-Por que na verdade só é permitido utilizar os instrumentos aqueles que sabem tocá-los. E somente uma pessoa pode tocar por vez. Se não fosse assim isso viraria uma zona! Um monte de gente louca fazendo barulho com instrumentos que não sabem tocar... Imagine! – exclamou de maneira extremamente baixa para não atrapalhar a mulher que parecia se preparar para começar a tocar. Não podia negar que ele tinha razão. – Não são muitas as pessoas que sabem tocar instrumentos, essa sala está, na maior parte do tempo, vazia. Por isso me ofereci para ensiná-lo, sei que não vamos atrapalhar muita gente. – sorriu.
A mulher começou a tocar, não parecia nem ao menos ter notado nossa presença. Seus dedos longos e finos característicos de todo bom pianista acertavam as teclas com perfeição, ela tocava com olhos fechados e a melodia que ecoava na sala era doce e lenta. Eu e Carl ficamos sentados a observando em silencio. Era tudo automático, o jeito que seus dedos se moviam, seus pés, seu corpo... Era um costume, e era absolutamente encantador.
-Bill Kaulitz. – uma enfermeira tocou meu ombro e eu me assustei com seu toque. Não havia notado sua presença. – Está na hora da sua consulta com o doutor Mayer. Me siga.
Me despedi de Carl e me comprometi a voltar para continuar as aulas. Estava determinado a aprender a tocar. Não tinha certeza se era por causa de Tom, mas eu queria tocar. Como ele tocava.
Segui a enfermeira escada abaixo, e então seguimos por um longo corredor direto para a primeira ala, aquela com o cheiro desagradável de álcool. Paramos em frente a uma porta de madeira escura. Em sua metade havia uma pequena parte composta de vidro fosco onde o nome “ Doutor Albert Mayer Jr. “ estava inscrito. Ela bateu na porta duas vezes.
-Entre. – a voz grossa do lado de dentro disse.
-Doutor? Bill Kaulitz está aqui.
-Ah sim! Entre! – ele exclamou animado.
Adentrei a sala, tímido, era grande, com um piso de uma madeira escura assim como a maioria dos móveis. Na parede esquerda havia uma enorme estante com livros, do lado direito somente um vaso com plantas e grandes janelas que iluminavam o cômodo. Atrás de uma grande mesa, sentado em uma poltrona de couro, um homem com seus 50 anos e barba branca me observava por trás de seus óculos quadrados.
-Obrigado, Jenna. – disse para a enfermeira que acenou com a cabeça antes de se retirar fechando a porta. – Deite-se, jovem. – apontou para uma espreguiçadeira de couro preto. Fiz o que ele mandou. – Então, por que está aqui?
-O meu irmão morreu, e eu meio que perdi o controle de mim mesmo. – fui direto. Não tinha o por quê de esconder aquilo dele. – Ouço sua voz em minha cabeça, ele me diz coisas horríveis... Coisas que me doem, me doem tanto que eu tentei me suicidar! – senti vontade de chorar ao pronunciar aquelas poucas frases. Um resumo do quão miserável minha vida se tornou depois que Tom se foi.
-A voz na sua cabeça é a voz de seu irmão? – assenti com a cabeça. – E foi ele que te disse para se suicidar?
-Não. Ele me disse que não era para mim o fazer.
-Então por que você fez mesmo assim? – tinha uma expressão concentrada, seus olhos semicerrados me encaravam com interesse.
-Por que eu sinto a falta dele! Sempre falávamos que se um de nós se fosse o outro iria também! Era uma promessa! Eu queria estar com ele de novo! Não agüentava mais... Todos os dias são longos e vazios sem ele. Todas as noites repletas de pesadelos ou memórias que me torturam. – falava convulsivamente gesticulando com as mãos, sentia que tinha que falar alto para não chorar. – Eu só me cansei de viver desse jeito!
-E você acha certo ter tentado se suicidar? Acha que foi uma coisa compreensível e ética de se fazer?
-Eu sei que foi errado, e tenho total consciência de que não devia ter feito isso. – Doutor Mayer cerrou suas sobrancelhas como se estivesse concentrado.
-E o que o seu irmão fala para você?
-Diz que sou fraco, que faço todos ao meu redor sofrerem, que eu me culpo pela sua morte, me dá ordens, me julga! – olhei desesperadamente para o homem á minha frente. Implorava por ajuda. – Não sei como fazer parar. Tom nunca falaria essas coisas para mim, NUNCA!
-E todas essas coisas que ele te diz... Você concorda com elas? Você se acha fraco? Se culpa pela morte dele? – fiquei o encarando sem conseguir responder o óbvio. Eu podia negar todas essas coisas, podia odiar ouvi-las, mas sabia que eram todas verdades. Doutor Mayer se ajeitou em sua poltrona me olhando sério. – Bill, já parou para pensar que talvez a voz na sua cabeça não seja seu irmão? E sim sua consciência? Talvez você só esteja procurando uma forma de sentir seu irmão mais perto, por isso é a voz dele que você ouve, mas o que ele fala são criações da sua mente. Coisas que você mesmo criou. Tudo o que a voz na sua cabeça fala é o que você sabe que está certo, mas tem medo de admitir.
-Não! Não pode ser! – gritei indignado. Estava agitado, não conseguia mais ficar deitado então me sentei e o encarei mais de perto. – No dia que eu tentei me suicidar, doutor. Eu o vi. Bem atrás de mim! Ele estava lá! Era ele, eu tenho certeza! – senti as lágrimas queimarem em meus olhos e não me esforcei para contê-las.
-Bill, se controle. Respire. – Doutor Mayer se mantinha calmo. Fechei os olhos e respirei fundo. Sequei as lágrimas e lentamente voltei a abri-los. – Acha mesmo que se o seu irmão tivesse a chance de se comunicar com você ele diria essas coisas? Soa como algo que ele diria? – neguei com a cabeça. – Você o viu, mas sabe que foi uma alucinação. Foi uma maneira do seu corpo, da sua mente, de tentar te persuadir. Por que você sabia que não era o certo se suicidar, mas estava ignorando sua própria consciência, no caso aqui a voz de Tom.
-E como eu faço para a voz dele parar?
-Primeiro, não se refira mais a essa voz como Tom. Ela não é ele. Segundo, não acredite. Pare de se culpar pela morte do seu irmão, pare de agir como o que você julga, fraco. Quando ele te der uma ordem obedeça. Quando ele te julgar prove o contrário. Não deixe sua consciência pesada tomar conta de você. – baixei a cabeça segurando o choro, tentava controlar minha respiração ofegante. Aos poucos ia processando tudo o que o doutor ia falando. – Agora, me conte sobre seus pesadelos e sonhos.
Assim passamos a próxima hora. Ele me dava conselhos, fazia perguntas e anotava milhares de coisas em uma prancheta. Depois da consulta nos despedimos com um aperto de mão e um sorriso da parte dele. Minha cabeça doía e eu fui direto para o meu quarto.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
nervosa*
:S
espero não ter desapontado ninguém!
meio que se você rever a história agora, vai ficar bem mais claro que a voz do Tom era esse tempo todo somente a consciencia do Bill se manifestando.
O Bill sentia falta do Tom, e isso foi uma maneira que o inconsciente dele encontrou de torná-lo mais perto do irmão.
próximo capítulo:
"Sonhei com Arabella naquela tarde."
"- Quando ele te der uma ordem obedeça. – repeti as palavras do Doutor Mayer, durante o curto percurso até o sofá. - Posso me sentar? – Arabella virou o rosto com um sorriso e por um segundo eu me enchi de esperanças de já estar perdoado, mas ao perceber que era eu parado ali, ela fechou a cara e voltou o olhar para a televisão."