Extraordinário escrita por Nana


Capítulo 2
Capítulo 1 — Extraordinariamente encantadora


Notas iniciais do capítulo

Hey, cupcakes. Voltei, ainda estarrecida com as favoritações e reviews — que estavam mais pra Bíblias, não que eu não ame isso, shauahua — do PRIMEIRO CAPÍTULO. É demais pro meu pobre coração.
Não vou agradecer especificamente, porque seria chato se eu esquecesse alguém e também para os fantasminhas tímidos (apareçam, dlçs), por isso agradeço de modo geral, sweethearts.
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Nos vemos nas notas finais (nossa, que original).



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Além de uma atitude extremamente infantil, chutar o piso com os bicos do meu tênis produzia um barulhinho irritante, também não fazia o tempo passar mais rápido.

Suspirei impaciente, jogando o pescoço para trás. Será que me transferir de colégio podia ser uma tarefa tão demorada?

Como novo hábito irritante reflexo do meu tédio, passei a tamborilar os dedos insistentemente sobre a superfície lisa e áspera do banco de madeira, ao mesmo tempo em que encarava com ódio as letrinhas da plaquinha onde constava a palavra "diretor", que pareciam debochar da minha cara.

— Posso me sentar? — arqueei as sobrancelhas ao me deparar com uma garota pálida, cuja várias sardas cobriam o rosto e uma enorme cabeleira castanha lhe caía à cintura.

— Bom, o banco não é meu — respondi com um sorriso maldoso meneando a cabeça na direção do espaço vazio ao meu lado.

Ser grossa com desconhecidos era uma arte na qual eu me saía muito bem.

Ela me encarou por alguns segundos com uma expressão incrédula de "eu estava tentando ser educada, qual o seu problema?". Por fim, largou no chão a mochila que pendia do seu ombro e se sentou ao meu lado, cruzando os braços na altura do peito, sem me dirigir a palavra.

Um silêncio constrangedor pairou sobre nós duas. Olhando de soslaio para ela, percebi que parecia ignorar minha presença por completo. Minhas bochechas coraram um pouco quando a inédita sensação de vergonha se apoderou de mim. Movida por impulso, minha boca se moveu:

— É... me desculpe, eu só estava brincando — contei a primeira mentira.

Ela apenas anuiu e soltou um muxoxo. Torci as mãos nervosamente sobre meu colo, tomando uma nota mental de que nunca mais deveria ser tão idiota com pessoas gentis, caso fossem desconhecidas, claro.

— Eu sou Melissa — me apresentei, um tanto tímida.

Finalmente seus olhos castanhos recaíram sobre mim, parecendo me analisarem. Observei com cuidado suas bochechas coradas e salientes, que combinadas com sua boca pequena, lhe davam um ar angelical.

— Prazer, Hannah — disse abrindo um sorriso educado. — Não me lembro de ter te visto antes. Você é nova por aqui?

Precisei me segurar para soltar um suspiro de alívio por ela dar continuidade a conversa.

— Sim. Na verdade eu sou de New Bern — revelei forçando certa cordialidade na voz.

— Um pouco longe, não acha? — indagou, se rendendo ao aprofundar o sorriso.

— Só algumas milhas.

— Como veio parar em Denver? Caiu de paraquedas?

— Minha mãe recebeu uma proposta de emprego e me arrastou pelos cabelos até aqui, clichê — dei de ombros.

— Entendo — anuiu soltando uma risadinha. — Deve ter sido difícil ter que deixar seus amigos.

Que droga você usou, fofa?

— Essa é uma das vantagens de não ser muito querida.

— Como assim não ser querida? Você parece muito legal.

Sufoquei uma sonora gargalhada nos recônditos da minha garganta, afinal, não queria estragar minha chance de enfim ter uma conversa civilizada com uma pessoa além da minha mãe, por mais que provavelmente fosse a reencarnação do Dalai Lama.

— Só pareço, então — respondi por fim.

Nem ver a minha avó de biquíni seria mais estranho do que manter aquele diálogo. Eu não gostava das pessoas e as pessoas não gostavam de mim, simples assim. Então nunca pude compreender o que houve naquele momento. O fato de ela parecer ser daquelas pessoas gentis das quais você gosta logo de cara poderia explicar o fenômeno chamado pelos cientistas de "Miles sendo agradável"; talvez, se não levarmos em conta o fato de que nunca ia com a cara de ninguém, porém, mesmo sem conhecê-la, eu realmente gostei do seu jeito. Talvez a sua risadinha baixa e quase inaudível combinada com o seu sorrisinho tímido onde ela não mostrava os dentes a tornassem encantadora, até mesmo aos olhos de alguém como eu.

Blergh, nunca fui tão gay.

Ela abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida quando a porta se abriu e um senhor gordo e calvo de meia-idade saiu da diretoria, junto da minha mãe. Os dois estavam extremamente sorridentes, como dois velhos amigos se reencontrando. Ao me ver, ele interrompeu a sua risada de morsa com refluxo e apertou minha mão.

— Você deve ser a Melissa — me cumprimentou com sua voz anasalada.

Concordei com a cabeça, fazendo o maior esforço do mundo para contrair os músculos da face em um sorriso.

— É um prazer conhecê-la, sua mãe falou muito bem de você — ele não conseguia esconder o seu entusiasmo com aquele sorriso gigantesco de quem sabe que vai se dar bem.

— É... igualmente — murmurei, disfarçando minha completa antipatia.

Ele se virou para Hannah, parecendo finalmente notar sua presença, então deduzi que a mãe dela não era solteira.

— Ah, Hannah, trouxe as fotografias que pedi?

Ela fez que sim com a cabeça e só então percebi a câmera fotográfica em suas mãos.

— Obrigado por dispor do seu tempo, senhor Iorc, mas agora precisamos ir, não é, Miles? — mamãe enfim se manifestou, dando um passo à frente.

Estava prestes a concordar quando fui interrompida por ele:

— Já disse que pode me chamar de Adam.

— Então nos vemos depois, Adam — despediu-se, lançando-lhe um olhar cúmplice ao apertar sua mão. Posso jurar que se ela fosse uma mocinha narrando seu tórrido romance, diria que uma "corrente elétrica" percorreu seu corpo quando sentiu o toque macio da sua mão gorda.

— Assim espero, Kimberly — ele disse dando uma piscadela.

Onde fica um balde de lixo quando se precisa dele?

Adam fez um sinal com a cabeça para que Hannah o acompanhasse até a diretoria. Ele caminhou quase em câmera lenta, sem parar de encarar mamãe por um minuto sequer, até que ela se virasse e andasse pelo corredor. Desesperada para fugir daquela situação ridícula onde a mulher que me pôs no mundo flertava com meu futuro diretor, mais que depressa me levantei, seguindo-a.

— Tchau, Miles — me virei ao ouvir a voz da garota que acabara de conhecer e sibilei um "até mais", enquanto ela entrava na sala do senhor Iorquepótamo.

— Quem é aquela mocinha? — mamãe perguntou procurando provavelmente a chave do carro na sua bolsa, onde até Madelaine McCann poderia estar escondida.

— Hannah — respondi, fingindo indiferença.

— Fico feliz que tenha feito uma amiga.

— Não somos amigas, mamãe, só estávamos conversando Você quem parece ter feito um novo amigo — mamãe parou de caminhar e me encarou com o rosto lívido.

— O que quer dizer com isso? — questionou com a voz aguda, já se antecipando na defensiva.

— Ah, sei lá, você e o Adam pareciam tão íntimos... — enfiei as mãos nos bolsos do moletom fixando o olhar no chão, porque passaria mal de tanto rir se mirasse sua expressão de perplexidade.

— Não faça comentários de duplo sentido comigo, senhorita. Caso tenha esquecido, sou sua mãe — me repreendeu.

— Não precisa se irritar, mamãe. Super apoio a relação de vocês dois, futuramente talvez você possa usá-lo como uma bola de pilates.

— Melissa!

— Mas eu não disse nada demais! — me defendi com um sorrisinho malicioso.

— Conheço bem esse seu "nada demais". E se quer saber, o senhor Iorc é um cavalheiro, inclusive tivemos uma conversa muito agradável — disse, passando a alça da bolsa pelo ombro e dando passos emburrados na minha frente.

Parecia que mais tarde eu ia precisar ter uma conversa séria com mamãe sobre o uso de preservativos, ou sacos de lixo, no caso do senhor Iorquepótamo.

• • •

Melissa Taubenfeld, é melhor tratar de descer agora! — o berro incrivelmente alto da minha mãe conseguiu sobrepujar a batida ritmada e a voz de drogado do Alex Turner persistindo em falar sobre cigarros que ecoava em meus ouvidos.

— Saco — resmunguei baixinho, tirando os fones e enfiando os pés numa pantufa de dinossauro azul. Mas não um dinossauro fofinho, apenas um dinossauro caolho — falo sério, no lugar onde deveria estar um olho havia apenas um buraco —, esperando a visita de uma assistente social para invalidá-lo, assim, poderia passar o resto dos seus dias deitado, assistindo TV enquanto coçava o saco. Não eram perspectivas nada más.

Eu descia as escadas quando mais uma vez mamãe fez uso da sua voz supersônica para me ensurdecer:

Não me obrigue a contar até três, mocinha!

— Sabe, não me surpreenderia caso os vizinhos chamassem a polícia — comentei em tom de deboche adentrando a sala.

Mamãe estava sentada na poltrona marrom, com a cara literalmente enterrada em alguns papéis sobre a mesa de centro, ao mesmo tempo em que mordiscava um pedaço de pizza de pepperoni.

Ela elevou seu olhar até mim e retirou os óculos de leitura com aros quadrados, se pondo a me fitar com seus olhos cinza encolerizados.

— Estou te chamando há…

— Gritando — a corrigi abusada, pegando um pedaço de pizza da caixa aberta sobre o sofá e me sentando no carpete felpudo e macio.

— Como eu me arrependo de não ter te entregado pra adoção quando tive a chance! Seu quarto daria um escritório maravilhoso — balbuciou.

— Qual é, mamãe, você não conseguiria viver sem mim — afirmei, fazendo um beicinho ridículo.

Ela voltou sua atenção para os papéis sobre a mesa, porém ainda continuou se dirigindo a mim:

— Só estou brincando, querida. Realmente não sei o que seria de mim sem você, talvez uma mulher bem-sucedida e menos estressada.

— Ha-ha-ha, hilário. E aí, o que vai ser hoje? Programas de gordos tentando emagrecer ou assassinatos pornográficos no Investigation Discovery? — indaguei com a boca cheia de pizza.

— Nossa, é uma escolha um pouco difícil, mas acho que vou ficar com os gordinhos suados.

— Você anda muito interessada nesses tais "gordinhos" ultimamente...

Ela me encarou do mesmo modo com que Jack deveria olhar suas vítimas antes de estripá-las.

— Tudo bem, tudo bem, só estou brincando — disse levantando as mãos em sinal de rendição.

— Você não tem jeito mesmo — não resistiu e acabou soltando uma risadinha baixa.

Sorri satisfeita, mudando de canal para o Discovery Home and Health com o controle remoto.

— Isso, Celly, não desista! Mais um polichinelo. Continue firme. Você não pode deixar que o divórcio dos seus pais interfira no seu peso, é hora de começar uma vida nova — aquela treinadora bombada psicopata "motivava" uma moça loira robusta com rodelas de suor nas axilas e umbigo, que batia palmas e pulava. Definitivamente humilhante.

— Dá pra acreditar em como eles sempre têm uma desculpa? É muito simples: você come e depois engorda.

— Eles são seres humanos, Miles. Têm sentimentos, diferentemente de você.

— Eu tenho sentimentos. Só acho que a morte do cachorro do vizinho não tem nada haver com eles terem engordado por viverem comendo biscoito escondidos — conclui limpando o ketchup dos cantos da minha boca com o dorso da mão.

Mamãe me fitou completamente estarrecida, como se não pudesse acreditar no meu cinismo, apesar de ser a mais pura verdade.

— Às vezes eu acho que você não saiu de mim — confessou balançando levemente a cabeça, como um gesto que refletia sua incredulidade.

— Fique tranquila, o papai quem fez o favor de me passar todos os genes de egoísmo e grosseria, você é um anjo.

Ela largou a caneta sobre o braço da poltrona e começou a brincar com o seu anel no dedo mínimo, como se buscasse as palavras certas para falar de algo.

— Falando nisso... seu pai ligou hoje — revelou me olhando por alguns segundos, esperando pacientemente que eu dissesse algo. — Queria saber como foi a mudança e se estávamos bem — acrescentou.

Fiz um estalo com a língua abraçando os joelhos contra o peito.

— Legal da parte dele fingir que se importa.

Ouvi seu suspiro repleto de exaustão e encarei minhas unhas pintadas com um azul-marinho descascado, à espera de um dos seus argumentos repetitivos e previsíveis.

— Quantas vezes ainda vou precisar ter essa conversa com você?

— Isso já está ficando chato, mãe. Você grita comigo tentando defendê-lo, nós discutimos, subo pro meu quarto e bato a porta com força. Fim, somos felizes para sempre — eu disse sarcástica.

— Ele é seu pai, Miles.

— Ele é um babaca egocêntrico que anda por aí citando Trotsky e se achando o máximo.

— Você não pode ficar falando dele assim!

— Até parece que se esqueceu de tudo que ele te fez.

— Todos erram, Melissa.

— Mas é muito diferente de me abandonar no momento em que mais precisei! — exclamei em plenos pulmões.

— Não acha que ele se arrependeu? Pelo menos tem ideia do quanto você é importante pra ele? — indagou elevando seu tom de voz também.

— Tão importante que nos deixou pra ficar com uma universitariazinha burra e siliconada, que precisou transar com o professor idiota pra conseguir se formar — cuspi as palavras que arranhavam em minha garganta.

Todo meu alívio se esvaiu quando me deparei com a expressão de desgosto em seu rosto. Mamãe nunca fora de aplicar castigos e muito menos de me bater, mas o seu olhar triste e decepcionado era sempre como um chicote açoitando minha consciência, fazendo-me sentir um monstro, muito pior do que qualquer punição, portanto. E naquele momento, foi aquele mesmo olhar decepcionado que ela usou para me dilacerar.

Levantou-se e deu passos vagarosos em direção à cozinha, entretanto, parou ao meu lado, apoiando sua mão em meu ombro do jeito mais maternal possível.

— Há muitas coisas que você precisa aprender na vida, Melissa. Principalmente que ela é curta demais pra perdermos tempo sendo pessoas rancorosas. Até esse dia você ainda vai precisar sofrer muito — o remorso embargava sua voz.

Ela saiu silenciosamente da sala, me deixando apenas acompanhada pela minha mágoa sufocante, que tornava penosa a simples tarefa de respirar.




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Notas finais do capítulo

Já vou direto ao ponto: o que acharam da Hannah? Eu particularmente amo essa personagem, e se você tiver paciência de ler essa história até o final, vai presenciar o papel importante que ela vai adquirir ao longo do desenvolvimento do enredo. E o relacionamento conturbado da Miles com o pai também vai ser um tema bem recorrente.
Sendo completamente sincera, não gostei desse capítulo, porque achei que em certas partes a narração foi sucinta demais, além disso, passou de um extremo de piadinhas maldosas e sarcasmo para drama de novela mexicana (já acostumando vocês, hahaha). De qualquer forma, compartilhe sua opinião comigo para que eu fique ciente do que fiz de acordo com seu conceito, meu querido.
Bom restinho de final de semana pra vocês, de preferência enrolados em um cobertor com esse friozinho maravilhoso que está fazendo (dependendo da região onde você mora, claro, shauahua). Até a próxima atualização, beijinhos ^^
— Nana Banana



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