Extraordinário escrita por Nana


Capítulo 1
Prólogo — Extraordinariamente simples


Notas iniciais do capítulo

Banner feito pelo sweetie mais doce de todos, a Giih do N!C (que também fez a capa, uma agradável coincidência).



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Se há dois meses atrás alguém houvesse dito que eu estaria em uma festa de Chris Lerman completamente grogue após meu primeiro porre, teria lhe entregado o cartão de visita do senhor Dawnson, meu antigo terapeuta. Mas, por mais incrível que pareça, lá estava eu: usando um vestido verde-água horrível acima do joelho, com um sabor pungente de tequila na boca, pisando descalça nas petúnias premiadas da mãe de Chris, propensa a pegar um fungo ou micose qualquer. Sentei-me na grama abraçando os joelhos contra o peito.

Como havia ido parar em um estado tão deplorável e humilhante? Preferia ignorar enquanto encarava o céu avermelhado de uma madrugada de domingo, e pensar que, de acordo com as estatísticas, uma criança morria de fome a cada dez minutos no mundo, me recordando assim de que o universo não girava em torno de mim, e claro, eu era uma vadia egoísta.

Pequeninas lágrimas brotaram dos meus olhos, quando os fatos que eu queria tanto esquecer vieram à tona, fatos estes que se mostravam grandes reflexos da minha capacidade de agir como uma estúpida involuntariamente.

Já que se machucar era uma consequência de existir, talvez seria melhor se eu não existisse, afinal, quem sabe o mundo fosse um pouco melhor sem a minha presença?

— Aí está você! Te procurei por todos os cantos — a voz mantida no clássico modo irritantemente animado de Alex penetrou meus ouvidos.

— O que você quer? — indaguei em um tom de voz rouco, enxugando rapidamente o rosto.

Ele se sentou ao meu lado, sem esperar que eu o convidasse, fazendo com que sua calça jeans roçasse na minha perna desnuda. Ao me virar para encará-lo, era impossível deixar de notar seus dentes incrivelmente brancos cintilando contra o nascer do sol, me fazendo desenvolver uma vontade extrema de socá-lo com força, porque talvez só assim ele parasse de sorrir. Ao se deparar com minha cara de choro ridícula, seu sorriso se esvaiu, sendo substituído por uma expressão de preocupação, seguida por um pergunta que refletia seu sentimento explícito de pura pena:

— Ei, você está bem?

— Como se você se importasse — murmurei entre uma risada sarcástica, desviando o olhar dele.

— Claro que me importo — retrucou rapidamente, segurando minha mão.

Puxei o braço com força, voltando a encará-lo com desprezo.

— Coloque uma coisa na sua cabeça: ninguém se importa, as pessoas estão ocupadas demais prestando atenção nos seus próprios umbigos para se preocuparem com os problemas dos outros. É assim que a banda toca. Então, será que por um minuto sequer da sua vidinha medíocre você poderia me deixar em paz? — vociferei.

Seus olhos amendoados me fitaram profundamente, refletindo um sentimento complexo demais para ser descrito em palavras. Suas sobrancelhas espessas combinadas com seu nariz afilado e olhos chocolate acentuavam uma áurea doce, parte da sua própria natureza. Nunca havia observado com cuidado as feições de Alex e por mais que odiasse ter de admitir isso, sim, ele era obscenamente lindo. Não uma beleza clichê ou convencional, típica de astros de Hollywood, mas uma beleza meiga e encantadora, do tipo que você não cansaria de observar o dia todo.

— Olha, Miles, realmente não tenho certeza do que se passa na sua cabeça, mas gostaria que você soubesse que não é a única com problemas no mundo, por isso não precisa agir que nem uma pessoa idiota para se sentir melhor, entendeu?

— Escuta aqui, garoto: você não sabe nada sobre mim, ok? Então pare de tirar conclusões precipitadas a meu respeito — sibilei entre dentes completamente exasperada.

A imprevisibilidade de Alex nunca me surpreendeu tanto quanto no momento em que ele abriu o sorriso mais divertido de todos, logo após eu despejar toda minha amargura sobre ele como solda cáustica.

— Tem razão, eu não sei muita coisa sobre você, a não ser que foge das pessoas, porque tem medo de se machucar. Mas deixa eu te contar uma coisa, docinho: isso é inevitável — travei a mandíbula com o sangue pulsando em minhas veias.

Quem ele pensava que era?

— Por que diabos você não me esquece? Por que não finge que eu não existo?

— Porque não consigo, está fora do meu controle.

— Eu realmente não te entendo. Me diz o quanto sou egocêntrica e adora me dar lição de moral, mas simplesmente não me deixa em paz — suspirei pesadamente cravando o olhar no seu all star preto.

— Não entende mesmo? Quer então que eu te explique o que está acontecendo?

— Por favor...

— Você tem certeza de que precisa que eu explique? Porra, Miles! Não está mais que óbvio?! — segurou as laterais do meu rosto com as mãos, o erguendo para olhá-lo nos olhos.

Sua expressão não era de desapontamento, mas completamente indecifrável. Fiz um minúsculo movimento com a cabeça, demonstrando que o fato óbvio para ele era uma incógnita para mim. Alex soltou uma risada incrédula antes de me lançar um olhar doce.

— Estou apaixonado por você, Miles — murmurou, levantando os cantos da boca num sorriso encantadoramente genuíno.

Meu coração começou a bater no ritmo mais acelerado de todos, diferentemente do meu corpo, paralisado pelo medo.

— Co-como é? — gaguejei.

— É isso mesmo que você ouviu — confirmou, sem desfazer o sorriso bobo encantador.

— Você só pode estar brincando — afirmei, soltando uma risada nervosa e afastando suas mãos do meu rosto.

— Eu bem que queria, mas sinto muito, é a mais pura verdade — prosseguiu. — Não me importo se você não sente o mesmo, porque estou completamente apaixonado por você. E me desculpe se perto de você ajo como um idiota ou bobo, não consigo evitar. Também não estranhe o fato de eu viver te encarando que nem um maluco psicótico, só não quero correr o risco de me esquecer do seu rosto, mesmo que isso seja impossível, já que estou perdidamente apaixonado por você, de um jeito que me assusta.

Pisquei diversas vezes, embasbacada com tudo aquilo, incapaz de compreender tudo o que ele dizia ou ter ideia do que dizer. Seus olhos permaneciam focados em mim, afetuosos e brandos, pacientemente esperando uma resposta.

— Alex... eu nem sei o que dizer — foi a coisa mais coerente que pude balbuciar, ainda envolta naquele estado de espanto.

— Não precisa dizer nada, Melissa Tanbeufeld. Nem precisa continuar fugindo de mim, eu quero você e agora nós dois sabemos disso — Alex sussurrou, apoiando a palma da sua mão na minha nuca, inclinando meu rosto para mais perto do dele.

Um alarme interno reverberava pela minha mente, mas a antiga Miles que teria lhe dado um empurrão e o repreendido com palavrões havia se perdido em alguma parte do caminho, não tendo forças o suficiente para procurá-la dentro de mim mesma, fechei os olhos devagar, ignorando completamente meu extinto. A verdade nua e crua é que eu queria aquilo tanto quanto ele.

Quando nossos lábios se chocaram e seu sabor me invadiu por completo, o mundo ao nosso redor se tornou um mero borrão em câmera lenta, por mais brega que isso pareça.

Enquanto nossos lábios se movimentavam suavemente e no mesmo ritmo, foi que tive uma das maiores epifanias da minha vida: o beijo molhado que me lembrava chiclete com sabor menta de Alex Thompson era a personificação perfeita do extraordinário, por me causar uma sensação assustadoramente incrível demais para ser descrita em palavras. Afinal, o extraordinário pode apenas ser sentido. Porém, o mais extraordinário é que ele se desdobra diante dos nossos olhos, sem que percebamos, de uma forma banal demais para que consideremos relevante.

Demorei tempo demais para perceber isso e permaneci fadada à minha insignificância. Até que ele apareceu, e me ensinou que às vezes o extraordinário pode acontecer de maneiras extraordinariamente simples.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer imensamente à Miimi e Ari, loves of my heart pelos elogios puxa-saco nada construtivos feitos a minha pessoa ao longo do processo de escrita e amadurecimento da minha história; também à Luce, a ovelha rodada mais linda de todas por me dar uma grande força com a sinopse; e por fim, a tia Lica, que foi a primeira a se inteirar do que eu tinha em mente e queria passar para o Word por ter meio que me orientado. Ok, já chega, eu não estou ganhando o prêmio Pulitzer.Se você conseguiu chegar até o final desse capítulo sem morrer de diabetes, meus parabéns. Enfim, apesar de estar meloso, escrevi tudo com muito carinho e da maneira mais minuciosa possível, por isso, espero do fundo do meu s2 que você tenha gostado. Não esqueça de deixar sua opinião, até mesmo crítica, podem ter certeza que funcionam feito uma beleza ^^
— Nana Banana



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