Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 34
O tempo trouxe o seu coração para mim


Notas iniciais do capítulo

"Toc, toc, toc alguém ainda aí?" Oi, gente! Daqui 5 dias a fic faz dois anos, tudo isso! Obrigada por quem ainda acompanha, é muito importante pra mim. Espero que o capítulo seja agradável a vocês, depois de todo esse tempo. Aguardo criticas, elogios, comente, comente! Como música do capítulo eu escolhi a trilha da minha saga preferida da vida, que tem tudo a ver com o Rô e o Luke. E também um trecho dá o título deste capítulo.
Este foi o maior capítulo da fic, pra compensar!

PS: eu fiz uma capa pra fic também em comemoração aos dois anos! Viram? O que acharam? Eu fiquei in love, demorei pra conseguir fazer mas curti ♥

Christina Perri - A Thousand Years https://www.youtube.com/watch?v=rtOvBOTyX00

Agridoce



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— Lucas, não queres mais nada? Essa quantidade não é nada adequada pra um rapaz do teu tamanho. Anda, come mais alguma coisa.

Solange conseguiu fazer com que o moreno levantasse e comece algo, mas era visível que ele estava abatido e sem vontade alguma de se alimentar. Quando Marcus bateu em sua porta, pedindo uma ajuda, não imaginou que o mais novo estaria tão mal assim. Mas sem precisar perguntar alguma coisa, e constatando a ausência de Rodrigo, percebeu rápido que era por conta do loiro que ele estava assim.

— Obrigado, eu não quero mais nada. – Lucas sentou, encostou a cabeça no sofá e fechou os olhos. Não queria ser grosso com a vizinha, mas queria tanto ficar sozinho... ao mesmo tempo que não. – E desculpa pelo Marcus, eu disse pra ele que não precisava chamar você.

— Eu fiquei feliz que ele me chamou. Até porque, eu prometi uma vez pro Rodrigo que sempre estaria de olho quando ele não pudesse estar aqui. Ou quando tu expulsasse ele daqui.

Ao ouvir o nome do namorado... ex-namorado, Lucas abriu seus olhos e olhou a mais velha.

— É tão visível assim que a gente..., que eu... – não conseguiu completar.

— Lucas, quando é que tu vai perceber que eu, Rodrigo e este teu amigo que conheço pouco, mas já percebi que é uma boa pessoa, queremos apenas que tu seja feliz?

Ao ouvir isto, através daquele tom tão maternal, os olhos de Lucas resolveram marejar, algo que estava acontecendo muito desde que Rodrigo passou por aquela porta do apartamento. Resolveu que não adiantaria muito tentar disfarçar, então apenas voltou a deitar a cabeça no sofá e se encolheu um pouco. Queria tanto não se sentir sozinho...

Tendo estes pensamentos ele nem percebeu quando Solange chegou mais perto dele e, da mesma forma maternal que havia falado, o abraçou.

— Por que tu insiste em fazer isso contigo, guri? Quer conversar? Chorar? Mas por favor, não se fecha mais, faz tão mal...

E mais uma vez, em menos de 24h, o moreno chorou. Mas agora o sofrimento era além das confusões que seu coração se encontrava por conta de Rodrigo, mas também sobre tudo. Como queria ter tido uma mãe assim, que o abraçasse e falasse que estava tudo bem nos momentos em que pensava acreditar que não. Ao mesmo tempo, ter este pensamento o fazia se sentir injusto, porque pelo tempo em que estiveram juntos, sua avó fez de tudo para ser este alicerce em sua vida, e de fato foi, mas ele nunca entendeu porque sua mãe não o quis... não o amou... isto o fazia se sentir muito mal.

— Eu não quero me aproximar das pessoas ao ponto de caso elas me abandonem eu sinta alguma dor, eu não quero sentir novamente... – ele não entendia como estava falando destes sentimentos, apenas Marcus já o havia ouvido falar sobre isto. Mas Solange estava sendo tão aberta, tão disponível a ouvi-lo. E ele queria falar, precisava.

— Mas querido, eu acho que agora não há muito o que fazer, não é? Eu sou tua vizinha, nem tem como te deixar em paz, já te adotei no meu coração. E o Rodrigo... bom, ele é dono desse coração aqui, não é? – Solange fazia carinho no peito de Lucas, percebeu já que ele tinha mania de apertar o peito, como se tivesse sentindo alguma dor quando estava triste.

O moreno ficou emocionado com as palavras de Solange, sem saber o que dizer. Ele sempre rebateu estas demonstrações, mas aparentemente não conseguia mais fazer isto, é como se tivesse baixado a guarda e estivesse disposto a receber este amor que Sol dizia ter por ele.

— Olha, porque tu não toma um banho, fica mais bonito ainda do que já é e vai conversar com o Rodrigo? O tempo está ficando feio, mas acho que tu consegue chegar lá antes da chuva cair. Ou liga pra ele, pede pra vir conversar. Não perde mais nenhum minuto por causa de seus medos...

Lucas estava pensando reconsiderar mesmo e ir atrás do mais novo, afinal, estava morrendo de saudades.

— Mas e se ele não quiser mais falar comigo? Ele não me ligou até agora...normalmente ele não demora muito a entrar em contato pra saber como eu estou.

A verdade é que o moreno estava acostumado com o loiro sempre voltando, fazendo ele enxergar que poderia dar certo. Rodrigo não ter ligado pra ele desde ontem o fazia ficar inseguro...

— Mas eu acho que este é o momento de tu ires até ele e pedir desculpas, não acha? Eu não sei o que aconteceu, mas tenho certeza que foi você quem começou... – Solange gracejava para deixar o clima mais leve – E caso ele não te aceite de volta, pode correr pra cá que eu te dou quantos colos tu precisar. Mas eu tenho certeza que não vai acontecer.

O tom irônico, mas maternal que Solange usava fez o coração de Lucas se aquecer mais ainda, o fazendo contar para a mais velha sobre seus medos em relação ao Roberto, e como tinha sido a conversa com o loiro, ao menos algumas partes,  antes dele sair de seu apartamento. A mais velha falou pouco enquanto ele contava, apenas intervia às vezes, deixando que ele soubesse que estava compreendendo e que estava ali para ouvi-lo. Diferentemente de quando contou para Marcus, desta vez Lucas não sentiu vontade de chorar, apesar de o coração estar pesado. A cada palavra dita, foi como uma constatação que ele tinha: havia errado, mas ainda seria possível mudar isto. Tinha que ser possível. Ao final, Solange não deixou de abrir um sorriso por perceber que o moreno chegou a essa conclusão.

— Então... ainda em dúvida? – Ela perguntou, enquanto continuava a fazer carinho no moreno.

Lucas secou umas poucas lágrimas que acabaram caindo de seus olhos e resolveu levantar. Iria atrás de Rodrigo. Eles precisavam conversar. Mesmo que ele não quisesse mais ficar com ele – este medo ainda permanecia – mas ele entendia agora que o loiro merecia ouvir todos seus medos. Não seria justo acabar com ele sem explicar tudo que sentia. E Deus, como queria se abrir pra Rodrigo, seu coração pesava ainda com as obscuridades do passado, e sentia que contar para este garoto mais novo, mas que tornou-se sua vida, seria um passo para enfim conquistar sua liberdade destes medos. Abraçando forte Solange, e pensando na loucura que sua vida se transformou, ganhando pessoas tão boas em sua vida, como Sol, os pais de Rodrigo e o loiro, em tão pouco tempo, foi em direção ao banho enquanto pensava se ligava pra Rodrigo ou ia até ele. Mas de uma coisa estava certo, acertaria tudo com ele em breve. Seu coração e alma pediam por isto, e ele não estava mais a fim de negar.

***

 

Se o mundo fosse um emaranhado de acontecimentos, sem imprevistos, a vida seria bem linda. Mas o planeta Terra tem seus mistérios e fica quase impossível fugir. Foi esse o pensamento que Rodrigo teve ao retornar à sua casa, duas horas depois de ter se despedido de Marcus, todo encharcado. Assim que saiu da loja, onde comprou aquilo que queria, uma chuva abateu a cidade, que por problemas de infraestrutura, alagava em demasia quando chovia. Levando em conta a distância da loja para a casa de Lucas, ele apenas iria correr o risco de ficar no meio do caminho, caso decidisse ir até o moreno, já que o dia escureceu por causa das nuvens de frio. Acabou tendo que retornar.

Enquanto tomava um banho pra se aquecer, sua cabeça, e porque não dizer seu coração, estavam longe, pensando em tudo que tinha planejado e o quanto se sentia frustrado por não ter conseguido chegar até Lucas. Seu corpo ansiava pelo contato do moreno, queria mais do que nunca ter o mais velho ali com ele. Já havia escurecido, portanto, resolveu que não iria arriscar sair na rua, apesar da sensação que sentia, urgente, em ver Lucas. Assim que se encontrou pronto pra dormir, ficou um tempo olhando a rua pela janela, lembrando de tudo que Marcus tinha dito a ele hoje à tarde. E também no presente que tinha comprado. Isto o fez abrir um sorriso.

Quando ia pegar o celular para avisar Marcus, já que o mais velho estava esperando um sinal dele para voltar ao apartamento de Luke, alguém bateu à porta. Rodrigo não fazia a mínima ideia de quem poderia ser, ainda mais com aquele tempo, mas com o coração aos pulos foi em direção a porta. Quando abriu, seu coração falhou uma batida e, quando voltou a bater, acelerou de uma forma que pensou que teria um troço. Lucas, em pessoa, estava ali, encharcado, com os olhos vermelhos, os olhos estalados, como se estivesse com medo do que iria encontrar, o olhando fixo.

O mais novo não sabia o que dizer, não esperava que o mais velho chegasse ali. A vontade de acolher ele em seus braços o assolou de imediato, mas resolveu esperar pra ver o que o moreno queria dizer.

— Lucas... aconteceu alguma coisa? Olha o tempo que está lá fora, está perigoso dirigir assim.

— Eu... não vim dirigindo... o Marcus está com meu carro, não sei pegar os ônibus daqui, acabei vindo a pé.

— O QUÊ? Tu estás louco?! Podia ter acontecido alguma coisa e...

De repente Rodrigo parou de falar. O que estava fazendo? Não era hora de dar sermão. Lucas estava ali! Quase podia sorrir. Nunca se preocupou em ser orgulhoso. Sempre foi ele que tomou a iniciativa de procurar o mais velho. Mas pensar que dessa vez ele foi até ele primeiro, mesmo que teria sido o contrário caso tivesse conseguido chegar até a casa do moreno antes, fazia seu coração transbordar.

— Desculpa... eu apenas fiquei preocupado – e percebendo que o moreno continuava do lado de fora, como se hesitasse se poderia entrar ou não, estendeu a mão. Sentia necessidade de tocá-lo. – Entra?

Luke ficou apenas olhando Rodrigo, como fez desde que chegou. A chuva, o clima e a saudade o fizeram correr até a casa do mais novo. Após Solange se despedir dele, reforçando o conselho de ir até o loiro, Lucas ficou no apartamento, tomando coragem, já que o banho o fez pensar mais um pouco e hesitar se ia ou não. Mas quando recebeu a ligação de Marcus, perguntando se ele já tinha ido falar com o loiro, e ao ouvir que não começar com suas brincadeirinhas irônicas e infames, ele decidiu correr pra casa do mais novo. Mas agora, como sempre, se sentia um idiota na frente de Rodrigo... Queria tanto saber mais sobre essas coisas, como ser alguém legal, como explicar tudo que sentia, mas nem ele entendia direito. Após a noite passada, onde Marcus o acolheu, mas também foi muito verdadeiro com ele, e a conversa com a Solange mais cedo, ele sentia que não poderia mais agir assim. Precisava explicar pro Rodrigo o que se passou e se passava com ele. Então deixaria que a escolha fosse dele, por mais que doesse em pensar que ele poderia não querer seguir em frente após ouvi-lo.

— Desculpa, eu nem sabia se você estava em casa. Era pra ter avisado antes. Mas se for sair eu posso voltar outra hora... – mentira, se Rodrigo o dispensasse ele arranjaria um jeito de sumir da vida dele, pra sempre.

— Não... eu estou de pijama, como poderia sair assim –  o sorriso do loiro aquecia o coração de Lucas –  Além do mais, estou curioso pra te ouvir. Mas antes, acho que tu precisa tomar um banho, essa chuva está gelada. Vem?

Mais uma vez Rodrigo ofereceu sua mão, para que Lucas entrasse. O moreno ficou mais uns segundos a olhando, até aceitar e entrar no apartamento.

— Bom, tu sabes o caminho... eu vou pegar uma toalha e uma das roupas que tu deixou aqui, tá?

Rodrigo estava ansioso com o silêncio que sabia que ficaria, pois Lucas sempre foi mais de ouvi-lo falar do que dizer alguma coisa. Por isso se surpreendeu quando o mais velho o respondeu.

 – Sim... obrigado. Depois a gente pode... conversar? – Lucas olhava dentro dos olhos do loiro, de um jeito que Rodrigo lembrou de ter visto apenas no primeiro encontro dos dois, quando Lucas o beijou, deixando uma lembrança que até hoje o fazia lembrar deste dia, por mais que na hora tivesse ficado sem saber o que pensar.

— Claro... mas agora vai, não quero que tu fiques doente.

Enquanto esperava Lucas retornar, Rodrigo decidiu preparar uma xícara de leite pra ele. Conhecia o moreno, ele não deve ter se alimentado direito nas últimas horas. Isto o fez sorrir, sentindo o coração aquecer, ao pensar que apenas alguns passos o separava daquele que virou seu amor da vida. Sentiu que ele estava disposto a conversar e lhe contar o que o afligia, e apesar de curioso, estava disposto a continuar esperando seu tempo.

 – Obrigado... como eu já falei, seu chuveiro é melhor que o meu.

Rodrigo estava perdido em pensamentos e se assustou ao ouvir Lucas falar, ao perceber que a presença dele não foi sentida por si antes.

— Está sempre as ordens. – Rodrigo não resistiu em dar a resposta que sempre dava ao ouvi-lo dizer aquilo – Fiz um leite pra ti. Mesmo eu não gostando do cheiro.

O loiro disse isto já sentando no sofá, sendo acompanhado por Lucas, que sentou a sua frente, ao mesmo tempo que pegava a xícara, olhando seu conteúdo, como se sua vida dependesse daquilo. Rodrigo apenas ficou o observando, esperando pelo que viria.

Após uns segundos, Lucas levantou a cabeça e voltou a olhar dentro de seus olhos.

— Desculpa. Eu sinto muito pela briga... eu não queria que tivesse tomado as proporções que tomou, acho que eu assustei você e... – Lucas se calou, como quem não sabe mais o que dizer, mesmo tendo o mundo inteiro pra contar.

— Tudo bem... não é como se não tivéssemos tido uma destas discussões antes, né? – Rodrigo falou, em seguida dando um gole em seu café pra suplantar a vontade que tinha de abraçar o moreno e nunca mais soltar. Queria deixá-lo se explicar, mas ao mesmo tempo apenas ansiava que ficasse tudo bem.

Lucas sentia que seus medos retornavam com tudo. Normalmente Rodrigo seria mais aberto, tentaria fazê-lo esquecer do que percebia se passar em sua cabeça. Desta vez ele parecia atento, mas não estar disposto a tomar alguma iniciativa. Era claro que ele apenas queria deixá-lo a vontade, mas mesmo assim, não conseguia deixar de se sentir inseguro.

— Sim, eu sei... mas dessa vez foi diferente. Eu acusei você, eu te julguei, desconfiei... você não é meus pais. – Lucas acabou dizendo aquilo que vinha em seu coração, porque este era seu medo, que o loiro estivesse com ele, mas a qualquer momento o deixaria. – Eu queria ter te contado antes, mas é tão difícil falar sobre isto que pensei que conseguiria protelar, mas pelo jeito não fui feliz na tentativa. E o Marcus me mostrou isto, já que passou metade da noite me chamando de idiota por não ter conversado com você antes, e explicado esses medos idiotas que me perturbam até hoje.

Estava cada vez mais difícil para Rodrigo ouvir o moreno sem tocá-lo, ou dizer que estava tudo bem.

— Desde muito cedo eu percebi que meus pais não eram como os dos meus colegas de turma, os poucos que eu conversava, já que sempre fui muito fechado. A gente não fazia nada junto, nem mesmo me levar para a escola, eu sempre era deixado para as babás, vizinhas, era como se eu fosse um segredo sujo. Eu não conhecia nenhum amigo deles, nem parentes. Mas mesmo assim eu sempre...amei muito eles. E eu me sentia tão culpado quando por algum motivo eu sentia que eles não me amavam... eu era muito novo, mas mesmo assim eu sentia isso. E ficava noites pensando no que eu estava fazendo de errado, e como eu poderia melhorar. Sempre fui um bom aluno, não dava trabalho para as babás, não exigia a atenção maior que a necessária... e mesmo assim, parecia que eu apenas ficava mais invisível pra eles. Por isso, quando meus pais morreram, eu me perguntava mais ainda o que tinha acontecido, já que a última vez que falei com eles pareciam estar dispostos a mudar, até trocaríamos de casa. – Lucas sem perceber começou a chorar novamente, mas sentia o coração cada vez mais livre ao falar – E após isto, eu fui morar com meus avôs, que eu não conhecia. E por um bom tempo acreditei que eles estavam apenas me enganando, que meus pais iriam voltar pra mim, porque eu os amava, e isto era o que a gente precisava pra estar juntos. Com muita paciência eu lembro que meus avós foram me conquistando, e a atenção que eles me dedicavam era tanta, que após um tempo eu já me sentia um pouco mais confortável com eles. Minha avó sempre me contava histórias de quando minha mãe era mais nova, dizendo que éramos muito parecidos, e que ela estaria feliz a cada conquista minha na escola. Mas eles não sabiam é que, um pouco antes de morrerem, eu ouvi uma conversa dos meus pais onde eles...

— Lucas... – O coração de Rodrigo doía, pois sabia o que ele queria dizer, já que Marcus havia lhe contado... mas percebia que estar ali falando faria bem pra ele, e era muito diferente de ter ouvido de Marcus. E se chorou quando o amigo do namorado lhe contou, a vontade agora, ao perceber que aquela criança que se sentiu tão negada ainda estava ali, dentro do moreno, era mais intensa, queria abraça-lo e chorar junto com ele.  

— Eles diziam que não queriam ter me tido. Na hora eu não entendi muito bem, mas no decorrer dos anos eu entendi o que eles queriam dizer e isto me trouxe um sentimento de culpa... culpa de ter nascido, culpa por ter estragado os planos deles, culpa por ter que fazer meus avôs ficarem comigo após a morte dos dois. Eu pensava que se não fosse eu, a vida de todos estaria tão melhores. E me culpava pela morte dos meus pais também...

Neste momento Rodrigo não conseguiu se conter, acabou largando sua xícara e abraçando o moreno, tentando passar a ele todo seu amor. Lucas decidiu não negar o abraço e continuou.

— Eu amava eles, entende? E estes sentimentos ruins me fizeram agir tão errado com meus avós... eles  quando vivos tentaram fazer de tudo para que estivesse bem, mas eu sempre continuava a renegar alguns carinhos deles, achando que estava sendo apenas um peso. Mas após um tempo eu realmente pensei que estivesse superado tudo, mas então o meu avô morreu... e depois minha avó, e eu fiquei pensando no quanto eu fui injusto com eles, que deveria ter sido melhor, não ter culpado eles pela ausência dos meus pais como fiz no início...

— Mas Lucas, tu eras apenas uma criança, não se recrimine por isso...

— Mas mesmo assim, eu fui tão injusto... assim como eu ando sendo com você. É errado eu tentar controlar com quem você pode estar e fazer... toda vez que você viaja para ver teus pais e eu não vou, me sinto péssimo por ter o pensamento egoísta de que eu queria que estivesses aqui comigo. – Neste momento o moreno se desvencilhou dos braços do loiro, voltando apenas a olhar ele – E sobre tuas amizades... eu sei que é errado eu te acusar em relação ao Roberto, mostra que eu não confio em você, assim como eu fiz com meus avós, sempre duvidando do total amor deles por mim. Eu não quero que isso se repita, eu não quero sentir que você está comigo apenas porque tem pena de mim, porque sou tão problemático e...

Lucas foi calado por um beijo. O beijo seguro, misturado de amor, carinho, onde Rodrigo mostrava que estava sim disposto a ser o guardião de sua existência e sentimentos.

— Lucas, me escuta. Eu não quero que tu te sintas assim comigo, nunca! Por favor, entende, eu quero estar contigo, quero muito. És a melhor coisa que me aconteceu na vida, a melhor surpresa, o melhor encontro. Eu confesso que fico triste em pensar que ainda não consegui deixar claro isso pra ti, mesmo tentando fazer de tudo para que me escutes. – Era raro, mas mais uma vez o loiro decidiu falar o que se passava em seu coração, mesmo que pudesse machucar o outro. Precisava ser sincero, sentia que era o caminho para que ficassem de bem – Eu não fico incomodado com isso que tu falou... eu não quero que tu te contenhas em relação aos teus medos, eu quero que me contes, pra gente resolver junto... lembra da visita aos meus pais? Era algo muito importante pra mim, e mesmo com medo, tu decidiu me acompanhar e ocorreu tudo bem, não foi? – Após a confirmação do moreno, Rodrigo continuou – Então, eu quero que a gente resolva isso tudo desta maneira. EU entendo isso tudo que tu estás me falando, eu sinto o quanto tua história te deixou marcas.. mas eu estou aqui agora, assim como o Marcus, a Sol... teus alunos da faculdade, mesmo com teus sermãos, meus pais... e teus avós, que estejam onde estiver, estão de abençoando. E sobre teus pais... eu não sei os motivos deles, mas acho que está na hora de tu libertar esse peso de teu coração. E se permita. Ainda amas eles, não é? Então, os ame, mesmo achando que eles não sentiam nada por ti, o que eu duvido, por mais perversos que eles podem ter parecido ser, eles cuidaram de você. O que eu te peço é apenas que me deixe cuidar de ti... eu quero fazer isso e eu posso, preciso apenas que tu me aceite de volta... porque desde ontem está sendo um inferno e...

Foi Rodrigo que não conseguiu concluir dessa vez, já que o mais velho o abraçou forte, o beijando enquanto as lágrimas caiam, ao mesmo tempo em que um sorriso surgia em seus lábios. O discurso apaixonado do loiro o fez sentir uma esperança quase plena, que nunca sentiu. Deitando o corpo do outro no sofá, Lucas tomava a iniciativa em contemplar cada pedacinho de Rodrigo com seus lábios, enquanto o olhava bem nos olhos.

— Eu te amo... eu te amo... fica comigo, não me deixe mais, estava sendo horrível desde que você saiu ontem do meu apartamento, queria tanto ter tido coragem pra correr atrás de você...

Enquanto falava, Lucas levantou com o loiro em seus braços, o carregando a cama. Seguiu com os beijos, mas, de repente, parou de beijá-lo e o olhou nos olhos, mais uma vez, como quem pede autorização pra seguir. Sorrindo, Rodrigo apenas afirmou com a cabeça, enquanto entregava seu corpo ao moreno, pela primeira vez. Enquanto despia o mais novo, Lucas não deixava de pensar no quanto seu corpo já estava acostumado ao loiro, mas dessa vez queria sentir que Rodrigo era seu, em plenitude. Perceber que ele aceitou fez seu coração transbordar, mais uma vez, só naquela noite, pensando no quanto as coisas poderiam sim ser melhores, bastava que ele tivesse o namorado ao seu lado.

— Eu espero que tu não me mandes embora do teu apartamento, isto sim. Em uma próxima vez eu... – o loiro não conseguiu concluir aos experimentar as sensações que o moreno estava lhe causando.

Rodrigo não conseguia deixar de pensar que Lucas estava diferente. Sentia as mãos do namorado em todo seu corpo, mais seguro, sem medos. Os beijos que ele dava o faziam ter certeza que acordaria no próximo dia cheio de marcas, mas não estava se importando, amava este lado de Lucas, quando ele mostrava o quanto era forte e determinado. Lucas era experiente e não demorou muito para que ele tivesse feito Rodrigo estar preparado para recebê-lo. Deitando o loiro na cama, enquanto subia em cima dele, Lucas o penetrou com calma, como se o mais novo fosse um templo, que merecia toda sua devoção. Neste momento, os olhos de ambos não deixaram de escorrer lágrimas. Lucas por sentir o quanto era amado e Rodrigo por sentir que estava fazendo do moreno o homem mais feliz do mundo, mostrando que era dele, assim como sempre disse.

— Eu te amo, Lucas. Amo...

E como já era de se esperar, não demorou muito para que ambos atingissem o ápice do ato, caindo cansados após alguns segundos, mas sem quebrar a conexão, através de carinhos e beijos estalados durante a madrugada, enquanto a chuva escorria pela janela, anunciando, como uma orquestra, que novos dias estavam por vir.

***

Diferentemente do que sempre acontece, desta vez foi Lucas que preparou o café da manhã no dia seguinte. Era sábado pela manhã, Rodrigo teria que sair para trabalhar dali a pouco. Como faltou na quinta-feira pela manhã, se comprometeu ir trabalhar neste dia. Por mais que o mais velho quisesse passar aquele dia inteirinho com ele, ainda mais depois de tudo que aconteceu noite passada,  não poderia mais uma vez fazer com que ele faltasse ao estágio. Era 6h da manhã, e após responder uma mensagem de Marcus, que o acusava de ter saído sem dizer se voltaria, mas que esperava que tivesse dado tudo certo, Lucas levou o café do loiro até a cama. Tinha preparado a bebida sem adicionar muito açúcar, como o namorado gostava. Sentou na beirada da cama, com pena de acordá-lo, mas sabendo que logo isto aconteceria, já que seu celular sempre despertava no mesmo horário. Decidindo que hoje seria o despertador do namorado, Lucas começou dando dando pequenos beijos em seu  pescoço. Com isso, percebeu ter deixado algumas marcas no loiro. Esperava que o mais novo não ficasse bravo com ele.

— Bom dia... – Rodrigo disse ao acordar, não acreditando no que estava vendo, já que sempre acordava antes de Lucas, mesmo quando ele dormia tarde ou passava um bom tempo acordado na madrugada, por causa dos pesadelos. 

— Desculpa, eu não queria te acordar, mas não quero que se atrase por minha causa e... também queria saber se eu te machuquei. Está tudo bem? – Lucas atropelou uma fala atrás da outra, se sentia constrangido.

Rodrigo sorriu, pensando que por mais que tivessem conversado, Lucas ainda demoraria a tirar estes medos todos de si.

— Aguardando o dia que tu vai me dar bom dia antes de qualquer outra coisa. Eu gostei de ser despertado assim.

— Desculpa, bom dia... — Lucas disse, com um pequeno sorriso.

— Não precisa se desculpar. E eu estou bem sim. Mais do que bem, aliás – Rodrigo falou dando um sorrisinho – Amei o café, obrigado! Mas cadê teu leite? – Rodrigo fazia carinho na mão do moreno – Ainw... acho que não tem, né? O que tinha eu servi pra ti ontem à noite...

— Tudo bem, eu como alguma outra coisa depois, sem problema.

— Depois não, deixa que eu faço um suco pra ti – Rodrigo disse isto já  com intenção de sair  debaixo das cobertas.

— Não precisa, Rodrigo. Além do mais você vai se atrasar, eu tomo café mesmo.

— Tu odeia café, amor...

Sempre que ouvia o loiro chamá-lo assim, o coração de Lucas literalmente pulava no peito.

— Não é que eu odeie...

Rodrigo sorriu.

— Ei, lembra o que eu te pedi ontem? Deixa eu cuidar de ti, hum?

Lucas acabou abrindo um sorriso também e não resistiu, avançou pra cima do loiro, o enchendo de carinho.

— Está bem, mas não precisa. Eu não estou com fome mesmo.

Rodrigo o olhava, enquanto fazia carinho nos cabelos negros. Lucas tinha tomado banho e os cabelos estavam úmidos. O sorriso que ele carregava nos lábios nesta manhã iluminavam os olhos do loiro, e o fazia ter certeza que depois da noite de ontem, não que não fossem mais brigar, mas tinha certeza que o moreno estaria mais disposto a conversar, ao invés de se acusar e se afastar. Isso fez o mais novo lembrar de algo.

— Eu tenho um presente pra ti.

— Outro?

Rodrigo o olhou com o rosto em questionamento, sem saber do que o moreno falava.

— A noite passada foi como se todos os meus presentes atrasados da vida, mais os dos próximos anos, tivessem caído sobre mim. Eu juro, não vou conseguir esquecer nunca. Assim como nossa primeira vez.  Muito obrigado. Mesmo. – Lucas sentia o rosto ficar quente e o coração preenchido ao falar.

O loiro apenas sorriu e se esticou até a gaveta do lado da cama, enquanto pegava o que tinha comprado ontem. Sabia que seria um grande passo, já que o status deles não era de conhecimento geral, muito menos a relação que tinham. Decidiu que não se importaria com isso, mas estava ansioso, não sabia como Lucas reagiria.

— Então, ontem, antes de cair aquela chuva, eu tinha ido comprar uma coisa pra ti, porque eu estava disposto a bater na tua porta implorando pra ficar. Mas acabou que não consegui ir até lá. Quando tu chegou, eu estava pensando no que faria, porque no fundo sabia que não conseguiria passar mais uma noite brigado contigo. — Rodrigo fez uma pausa, enquanto olhava para as próprias mãos e depois voltava seu olhar para o moreno —  Então... eu sei que a gente terminou – Rodrigo se sentia um guri por estar tão nervoso, mas não conseguia se conter – Mas eu quero te mostrar que eu estou disposto a estar contigo, mesmo que pareça ser errado, mesmo que haja ventos contrários. – Abrindo a caixinha que tinha em sua mão, o loiro olhou para as duas alianças que tinha comprado e só depois voltou seus olhos para os de Lucas novamente – Volta a namorar comigo? Aceita esta aliança como significado de nosso compromisso?

Lucas sentiu seu mundo parar por um minuto, como se o Universo inteiro estivesse neste momento envolvendo os dois, esperando sua resposta. Ele nunca acreditou que fosse possível um amor assim, apesar de ter desejado que ele acontecesse em sua vida. Sua mente insistia em querer fazê-lo acreditar que Rodrigo era tão novo, e que estava apenas empolgado com o que estavam vivendo e que logo desistiria de tudo, ao mesmo tempo que seu corpo e seu coração o faziam querer acreditar que o que sentiam, principalmente na noite passada, foi tudo verdade.

— Eu... – Lucas não conseguia saber o que dizer.

— Desculpa, eu estou sendo precipitado, é isso? Ou pior, meio brega? Isso nem existe mais... É que eu pensei que seria bom te mostrar que eu não quero me esconder das pessoas, nem esconder o que eu sinto por ti e...

— Rodrigo, eu estou me sentindo bobo, sem saber o que dizer, porque nunca pensei que passaria por isso. Você é tão mais maduro que eu... – Fez mais uma pausa, não conseguia deixar de olhar pro namorado – Claro que eu aceito e eu amo você, muito, muito, muito – e a cada palavra que dizia, Lucas dava um beijo em Rodrigo, que sentia o peso do coração se esvair, enquanto colocava a aliança no dedo do moreno.

— Por mim eu não tiraria nunca de minha mão... – Lucas ainda não acreditava, não via a hora de mostrar ao mundo, por mais idiota que pudesse ser ter este pensamento em sua idade. Sentiu o coração bater forte quando viu a mão de Rodrigo com uma aliança igual. Sem resistir, beijou a mão do loiro, entrelaçando seus dedos depois.

— Então não tire. Eu não me importo nenhum pouco se alguém vai desconfiar lá na faculdade. Além do mais, pelas cadeiras que tu leciona, nos próximos semestre talvez nem me dê aula... e mesmo que isso aconteça, nossa vida não desrespeito a ninguém.

— Como eu espero merecer toda essa força que você me dá. Te amo muito.

Ouvir Lucas dizer seus sentimentos tão livremente fez Rodrigo ter certeza que tinha feito a coisa certa, seguindo seu coração.

— Eu também te amo. Demais! — Rodrigo tinha vontade de pular ali mesmo, mas pensou que seria um pouco demais. Mas acabou levantando, pois, sabia que o horário estava correndo. — Queria ficar aqui o dia inteiro contigo, mas preciso ir pra agência. Me comprometi a ir pra agência. Me leva?

A cara que Rodrigo fez foi tão fofa. Lucas não cansava de admirar.

— O Marcus está com meu carro, aquele aproveitador... – Lucas não acreditava que estava quase conseguindo fazer uma piada pela manhã. Rodrigo tinha modificado mesmo sua vida!

— Ei, é pertinho, a gente pode ir aproveitando o sol tímido que está fazendo. Além do mais, tenho muito que agradecer o Marcus, ele foi muito importante nisto tudo. Tens um ótimo amigo.

— Sim, eu sei. Mas caso ele fique ligando muito pra você, me avise.

Rodrigo riu, enquanto terminava de escolher umas roupas e ia até Lucas.

— Bobo ciumento.  

E os próximos minutos foram de puro carinho, até Rodrigo lembrar mais uma vez que se atrasaria. Correu pro banho, enquanto Lucas se arrumava. Saíram de casa, rumo ao serviço do loiro, e após uma despedida mais discreta do que gostariam, Rodrigo ajudou o moreno a pegar um táxi, e correu pra agência. Sentia que este dia, e os próximos dos próximos seriam os melhores da vida.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo! ♥