Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 33
Ponte da amizade


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo. Desculpa pela demora. Reta final, que dorzinhaa. Confesso que terminar está sendo um desafio na vida pra mim. Quero muito porque será uma grande vitória de tantas ideias que vem e vão e eu acabo não finalizando. Espero que vocês curtam e se apaixonem pelo Marcus, ele tem papel importante neste capítulo.
Muito obrigada por seguirem me acompanhando, de verdade!♥
beijo
Agridoce



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— Eu me pergunto se você faz estas coisas por gosto, porque não é possível, Lucas!

Fazia uma hora que Marcus apareceu “do nada” na porta do apartamento de Lucas, de mala e tudo, dizendo que tinha “vindo pra fazer ele voltar a realidade”. O moreno não imaginava como o amigo havia descoberto que ele precisava realmente de alguém, mas se sentia melhor em tê-lo ali.  Após a briga com Rodrigo, já não conseguia mais enxergar sentido na vida, a vontade de se fechar para o mundo cresceu muito. Ao mesmo tempo, queria apenas ser abraçado por alguém, e ouvir que tudo ficaria bem. Mas desde que chegou, o amigo apenas havia o confrontado.

— Marcus, por favor, achei que você tinha vindo até aqui pra me ajudar. – Lucas estava sentado com a cabeça baixa, os olhos vermelhos e nos ombros parecia carregar todas as dores do mundo.

— Mas eu estou te ajudando! Como assim, acabou tudo com teu namorado perfeito? Fora ele você não vai encontrar mais ninguém que te aguente, não sabes?

Lucas sempre achou engraçado esse jeito do Marcus, de tentar fazê-lo rir, mesmo nas piores situações. Mesmo sendo ele alguém que não ri tão facilmente, o amigo sempre conseguiu lhe inspirar alguma graça.

— Talvez eu não queira ninguém que me aguente mesmo... eu nasci pra ficar sozinho. – O moreno falou isto enquanto tomava um longo gole de whisky. Sim, ele havia voltado a beber. De repente um pensamento lhe ocorreu. – Aliás, como você soube que a gente terminou?

— Talvez o teu namorado perfeito tenha descoberto meu número e me ligado. – Marcus ao responder percebeu que até que demorou para que o moreno fizesse essa pergunta – Ops, acho que ele me disse que não era pra eu contar isto.

— Marcus, deixa de graça. Por que ele ligou pra você? E como descobriu teu número?

— Porque ele te ama, Lucas! Olha, você tem uma sorte na vida, encontrou alguém que te faz bem, que se preocupa contigo... até agora eu não entendi os motivos de vocês terem se separado. Aliás, de você ter terminado com ele. Ele parecia arrasado...

Ao ouvir aquilo o coração de Luke bateu mais forte, e seus olhos voltaram a marejar. Ele queria muito acreditar neste amor do mais novo por ele, mas tinha muito medo de ser apenas momentâneo. Ele preferia fazê-lo sofrer por agora, com a certeza de que em breve superaria, do que se machucar mais a frente. Sim, isto era muito egoísta, mas ele não conseguia pensar de outro jeito, o muro que sempre ergueu a sua volta parecia ter voltado mais forte.

— Ele merece alguém melhor do que eu.

Marcus pensou em rebater, mas percebeu que o melhor a fazer seria apenas ouvir o amigo. E foi isto que fez. Durante as próximas horas Lucas falou sobre o relacionamento, sobre a visita com os sogros, do quanto se sentiu acolhido e finalmente do sentimento de perda que estava sentindo nos últimos dias, por conta do novo colega do mais novo. Marcus sabia o quanto Lucas era inseguro, entendia o que ele estava sentindo, apesar de não concordar com ele quando o moreno disse que era questão de tempo até Rodrigo perceber que gostaria mesmo de estar com o Roberto.

— Nada disso é o que pareceu quando eu falei com ele pelo celular e ao respondê-lo agora pouco em uma mensagem. O Rodrigo está muito preocupado com você. Ele é tão jovem e parece estar sendo tão adulto pra conseguir te entender... você deveria se esforçar.

— Mas eu estou me esforçando, você não entende... Tens o celular dele? Posso saber o por quê? Resolveu se candidatar a vaga de namorado dele também?

Marcus sorriu. O amigo parecia estar um pouco mais leve após a conversa que tiveram. Sabia que era questão de tempo até ele ir a Rodrigo. Desabafar fez bem a ele, abriu uma brecha para que ele voltasse a pensar um pouquinho mais com clareza.

— Oras, porque sou seu amigo e aparentemente, tenho agora um aliado na luta de te fazer acordar pra vida.  – E não resistindo, quis entrar na brincadeira. Sabia que Lucas era extremamente ciumento com o loiro. – E claro, sou humano também. Caso você esteja realmente decidido a não continuar com ele, vai que eu me candidate a vaga? Adoraria ter sogros tão cordiais quanto os pais do Rodrigo.

— Marcus... se você tentar alguma coisa...

— Ei, estou brincando! – Ele realmente ria, descontraído – Mas olha, se ele quiser me dar uma chance, não poderei recusar...

Lucas ficou sério por um tempo, mas depois acabou abrindo um sorriso. Talvez já fosse o efeito da bebida, mas também porque Marcus o fazia se sentir muito bem. Era o único elo que tinha com seu passado, e uma das bases em sua vida... uma das bases porque a outra, por mais que quisesse não pensar assim, era Rodrigo. Única e exclusivamente Rodrigo.

***

— Ei loiro! Se você não comer nada vai acabar ficando doente novamente. Vamos, eu busco um sanduiche pra ti, pode ser?

Rodrigo acabou indo pra casa de Clarissa após a briga de ontem à noite. Molhado e chorando, pediu um colo, que se não achasse que seria preocupar demais os pais, teria ido buscar em casa. Clarissa, imaginando o que seria, apenas o guiou para o banho e depois para a cama, que acabaram dividindo, enquanto o loiro chorava e ela lhe fazia cafuné. O mais novo acabou enviando mensagem para Marcus, certificando que ele estava já com Lucas, o que o deixou momentaneamente mais calmo, ao mesmo tempo que tentava mais uma vez descobrir o que tinha acontecido de fato.

— A gente pode comer no almoço, prometo. Mas agora eu vou finalizar aqui algumas edições de imagens. Mas obrigada pela preocupação.

Clarissa olhava o Rodrigo com os olhos doces, pensando no quanto o amor era bonito porém, poderia ser doloroso. Mas sabia que era questão de tempo até os dois estarem juntos. Sabia que não estava sendo fácil, mas havia feito muito bem a ambos esta relação, e o universo contribui quando o sentimento é verdadeiro, como o deles.

— Mas você está me dizendo isto desde ontem. Precisa comer alguma coisa. Eu vou lá embaixo pegar um copo de suco natural. E não aceito recusas.

Rodrigo sorria enquanto via a amiga indo fazer o que tinha dito. Sua mente apenas levava até Lucas, sentiu falta de ligar para ele ao acordar, perguntando se ele tinha conseguido dormir. Ou de enviar mensagens a ele enquanto finalizava mais um trabalho. Tinha passado menos de 12h, mas parecia uma eternidade. Imaginava ter que viver mais tempo sem ele, e ao mínimo pensamento seus olhos já voltaram a marejar.

— Rodrigo gostaria de saber de onde vem esse mel todo. – Era Clarissa que já voltava com um copo de suco de morango, seu preferido.

— Hum? Não entendi. – respondeu o loiro, enquanto dava um gole na bebida. Realmente, seu estômago estava precisando de alimento. – Obrigada, está realmente muito bom.

— Tem um cara lindo lá embaixo procurando por você – Clarissa disse isto e o coração do loiro bateu forte, com esperança que fosse quem ocupava seus pensamento e coração. Rodrigo não havia apresentado eles ainda, ela conhecia seu namorado apenas por foto, será que... – Ao menos que o Lucas tenha passado por uma máquina de transformação, não é ele não... mas parece ter a mesma idade.

— Tu não perguntou o nome?

— Não, eu vi ele conversando com a recepcionista e disse que viria te avisar.

— Será algum cliente? Vou descer. Já está quase na hora da gente sair, não estava muito afim de hora extra hoje, mas... – queria apenas ir pra casa e pensar. Ainda mais que hoje era quarta-feira, tinha aula com o Lucas.

— Se quiser eu vou lá e...

— Não, tudo bem. Eu vou descer, e já levo minhas coisas. – Rodrigo disse isto já fechando as abas no PC e guardando suas coisas. – Muito obrigado pela noite passada, tá? Eu nem sei o que faria se tu não tivesses me abrigado.

— Ei, não precisa agradecer! E se quiser, podes passar um tempo lá no meu ap, sem problemas. Apesar que acho que o Lucas não vai gostar quando for fazer uma serenata de desculpas pra ti na tua janela e não te encontrar.

Rodrigo não conseguiu deixar de sorrir ao ouvir a amiga gracejando. O humor dela o ajudava muito.

— Ok, pode deixar que qualquer coisa eu volto. Agora deixa eu ir pro cliente não reclamar de mim. A gente se fala mais tarde.

O loiro deu um abraço apertado na amiga, que fez algumas recomendações, insistindo que a procurasse caso precisasse, e foi embora. Chegando na recepção, enxergou um homem de costas, que parecia ser quem o procurava. Lembrando dos comentários da amiga, abriu um mini sorriso se aproximando.

— Olá, sou Rodrigo. Desculpa a demora.

Ao vê-lo virar, o loiro percebeu na hora quem era. Mesmo apenas tido visto por fotos, reconheceria ele, Marcus, o melhor amigo de Lucas.

— Oi, Rodrigo, acho que você já me reconheceu. Sou Marcus. Muito prazer. – o mais velho ergueu a mão para cumprimentar o mais novo, constatando tudo que Lucas havia lhe dito sobre ele. Parecia um ótimo rapaz.

— Oi, eu... muito prazer! Não esperava te receber aqui. Aconteceu alguma coisa com Lucas? Eles está bem? – O loiro ainda se preocupava que o mais velho pudesse cometer alguma coisa contra si.

— Ei, está tudo bem! – Marcus falou, abrindo um sorriso – Ele está alimentado e vitaminado. Ao menos naquilo que eu posso fazer eu fiz, fazendo a comida e abrindo as janelas pra entrar vitamina D, mesmo ele querendo ficar deitado dentro do quarto. O resto acho que é contigo.

Rodrigo percebeu que o mais velho tinha um ótimo humor, diferente do seu namorado. Isto o fez sorrir imaginando como seria vê-los juntos. O mais novo não sabia o que dizer, ainda estava envergonhado por ter ligado pra ele ontem, sem ao menos saber se estava ocupado, o preocupando.

— Desculpa por ontem... eu não sabia o que fazer, acho que era pra ter esperado um pouco, talvez o Lucas estivesse apenas...

— Rodrigo, a gente pode ir em algum lugar pra conversar? E não se preocupe com isto, está tudo bem. Fico feliz que você saiba o quanto ele é importante pra mim e me preocupo. Essa sua atitude apenas comprovou o que eu já sabia, que vocês são feitos um para o outro, apesar de eu pensar que a parte mais pesada sempre vai ficar pra ti com aquele gênio que o Lucas tem.

Rodrigo acabou sorrindo e se sentindo mais leve.

— A gente pode almoçar lá em casa? Eu não gosto muito de ficar em lugares muito cheios, e na hora do almoço os restaurantes aqui ficam lotados.

Marcus concordou, enquanto acompanhava o mais novo e pensava no quanto o amigo estava mudado por conta de Rodrigo. Lucas sempre frequentou lugares cheios de gente, apesar de não interagir de fato com as pessoas. Ele fazia isto para preencher um buraco que insistia em não perceber que existia, tentando ocupar este espaço com relações vazias. E foi se apaixonar pela pessoa mais simples e reservada que poderia existir. Ironias da vida.

— Eu vim com o carro do Lucas já que ele não pretende sair de casa hoje nem nos próximos dias de existência pelo jeito.

— Ele conseguiu dormir essa noite? Na noite anterior a esta ele tomou remédios pra dormir, mais que o normal... – Rodrigo usava um tom preocupado, atestando que concordava com Marcus, era ruim Lucas depender de remédios para dormir.

— Bom, a gente conversou muito... – Marcus falava enquanto ambos entravam no carro – Fomos deitar já de madrugada. Acho que ele dormiu umas três horas, estava exausto emocionalmente. Neste meio tempo, pra variar, teve um pesadelo.

Marcus percebeu que o loiro voltou a ficar preocupado.

— Mas agora quando eu saí deixei a... como ela chama? Solange? – ao ter a confirmação ele continuou – Então, ela estava fazendo o almoço pra ele. Percebi que ela não o deixaria cair no abismo que ele está tentando se colocar, ao menos no tempo em que eu viesse falar contigo.

— Ele sabe que tu veio até aqui?

— Achei melhor não contar. Inventei uma desculpa qualquer, dizendo que sai rápido ontem e precisaria enviar um documento pelos correios e passar em uma agência do banco. Além do mais... – Marcus deu um sorriso – Ele ficaria bravo comigo. Já ficou quando descobriu que eu tinha teu celular.

Rodrigo deu um sorriso triste... que saudade!

— Mas agora vamos, me guia porque eu não sei andar em nenhuma rua aqui. Descobri onde você trabalha através da Solange. Lucas já tinha comentado sobre ela comigo, foi fácil localizá-la no prédio. Sorte que ela estava viajando e voltou hoje pela manhã.

Rodrigo foi guiando o mais velho, enquanto ele comentava sobre os prédios históricos da cidade, falando também do clima, que estava mais frio do que ele estava acostumado. Mas percebia que o mais novo continuava tímido. Mas estava disposto a conversar com ele algumas coisas, e convence-lo a não desistir de Lucas. Pela conversa que os dois amigos tiveram noite passada, Luke estava mais que disposto a estar com o loiro, ele apenas estava com medo e muito inseguro. Mas tinha certeza, pensou enquanto estacionava em frente ao prédio do loiro, eles o convenceriam. Porque Lucas merecia ser feliz, e seria.

***

— O Luke já tinha me dito que você cozinhava muito bem, mas pensava que era exagero.

Ambos tinham acabado de terminar o macarrão que Rodrigo resolveu fazer, por ser mais fácil e rápido. Marcus achou melhor iniciar o assunto depois de comerem, lembrava do amigo falando que o mais novo precisava de uma alimentação regrada, não seria ele atrapalhar este momento.

— Obrigado... mas o Lucas é exagerado mesmo. Eu aprendi a fazer minha própria comida, já que sai muito caro comer sempre em restaurantes ou comprar comidas prontas não é uma boa opção.

— Sim, sim... a não ser pra Lucas. Ele continuaria com essa mania se não fosse por você ter surgido na vida dele. Ele nunca tentou te presentear com algo muito caro ou pagar coisas desnecessárias? Se deixar ele gastaria toda a fortuna dele apenas com presentes pra quem ele gosta ou acha que precisa se desculpar.

— Fortuna? – Não que Rodrigo não tivesse percebido que o moreno não tinha dificuldades, e que tinha uma situação estável, mas fortuna?

— É... isso entra já no assunto que eu quero falar contigo. Os pais do Luke tinham uma vida muito confortável, trabalhavam muito e, quando morreram, acabaram tendo apenas Lucas como herdeiro.

— Ah, entendi... – Nunca questionou Lucas porque isto não importava a ele – Mas na verdade desde ontem eu estou bastante confuso. Eu achei que ele tivesse uma boa relação com os avós, mas então ele ficou dizendo que não queria que alguma coisa se repetisse...

— Então... eu não posso e acho que não devo te contar toda a história, mas o negócio é que eu resolvi intervir, porque não quero que o Luke volte a sofrer. – E dando um suspiro Marcus prosseguiu – De forma alguma quero que você ache que estou falando isto pra justificar as ações do Luke. Na verdade, metade da madrugada eu passei dando um sermão nele. Mas é que... a vida dele no início não foi muito fácil. Os pais do Lucas... eles não queriam a gravidez entende? Foi a dona Nina, avó do Luke, quem convenceu a filha a não fazer um aborto. Mas assim que ele nasceu, ambos voltaram a ter a vida que tinham, deixando o garoto com babás e o pior, não deixando que ele tivesse contato com os avós.

— Mas por quê... – O coração do loiro apertava enquanto ouvia.

— Eles queriam criar o filho sem os cuidados que eles diziam ser exagerados dos avós. O Lucas não tinha uma rotina, nem fazia atividades boas para uma criança. Quando estava em idade escolar foi que eles aproveitaram pra voltar a entrar em contato com os avós de Luke, acho que estavam decididos a entregá-lo para eles. Nesta altura, Lucas já tinha percebido que não era como na casa dos colegas. Os pais não o levavam pra escola, nem compareciam as reuniões...

Rodrigo, enquanto ouvia, lembrava de todas as inseguranças que o mais velho demonstrava, pensando agora no quanto era óbvio que algo assim tinha acontecido em sua vida. Como ele não percebeu, não tentou de fato ajudar, era pra ter insistido...

— Ei, não faça isso com você. Eu entendendo este sentimento, eu conheci o Lucas na adolescência, quando tudo isto ainda era muito presente na vida dele. Tentei ajudar, mas ele nunca deixou ninguém ultrapassar essa barreira. Aliás, acho que apenas em ele estar contigo já foi um grande passo, você já ajudou muito.

— Mas eu poderia ter feito mais, ontem eu briguei com ele, eu era pra ter tentado mais.

— Não, Rodrigo. Sério. E o Lucas sabe disso, apenas ele pode resolver certos empasses. Ele precisa apenas se sentir amado, e seguro. E eu sei que essa segurança você deu a ele. Os pais do Luke morreram antes de entrar em contato com os avós dele. Antes de morrer, a mãe dele fez uma promessa que talvez eles fossem se mudar para um lugar melhor, e ele, como era criança, imaginou que seria um que eles pudessem ser uma família como as outras. Por isso, quando os avós chegaram para buscá-lo, ele demorou a aceitar, por mais que os mais velhos fizessem de tudo para fazê-lo feliz. Acreditava que estavam mentindo, que na verdade os pais voltariam. E quando compreendeu tudo isto, Luke passou a se sentir culpado, pensando que os avós estavam com ele apenas porque se sentiam culpados de alguma forma, decidindo que ele tinha sido um fardo na vida de ambos.

— Mas como você sabe isto tudo, como ele descobriu?

— Então, como eu te falei, o Luke fala demais quando bebe. E estas informações, algumas são lembranças dele, outras foram cartas que ele encontrou nas coisas da avó depois que ela morreu. Cartas que a mãe dele trocava com ela. Inclusive dizendo sobre uma possível tentativa de aborto...

Rodrigo não conseguiu mais se segurar e acabou chorando, muito. Marcus apenas ficou encarando o tapete da sala por um tempo, ao mesmo tempo que pensava que era um alivio saber que alguém tinha tanto sentimento pelo amigo.

— Ele se sente culpado de alguma forma, como se tudo tivesse sido culpa dele, como se os pais não o amarem fosse sua culpa. Tem mais algumas coisas... mas acho que ele vai te contar.

— Mas não tem como ele ter culpa, era uma criança...

—Sim, mas que amava os pais apesar de tudo. Mesmo hoje, acho que ele não conseguiu odiá-los de fato. O que o faz se sentir culpado. E isso me leva até você. Ele me contou sobre seu novo amigo... e antes que você justifique, eu sei que não é nada demais. Mas o Luke se sente tão inapropriado pra você. Ele, por algum motivo, acha que tem vezes que está forçando muito as coisas, e você está com ele apenas porque ele forçou... que a qualquer momento pode aparecer alguém mais interessante que ele.

— Mas eu faço de tudo para deixar ele seguro que eu não quero outra pessoa – Rodrigo ficou um pouco envergonhado de falar isto assim, em voz alta, já que não conhecia Marcus faz muito tempo.

— Eu sei, e imagino isto. Ainda mais com as coisas que o Lucas me fala de ti e eu pude comprovar com meus olhos. Mas ele não consegue não pensar nisto. Eu já te falei, ele já tentou se afastar de mim, falando que eu encontraria amigos melhores, acredita? Mas hoje em dia ele já parou com essas frescuras. Mas isto demandou muito tempo. – Ao ouvi-lo Rodrigo fez uma cara desanimada, e Marcus resolveu prosseguir – Mas contigo é diferente. Muito diferente. A relação que vocês tem, eu demorei muito tempo pra ter o mesmo com ele, apesar de ser coisas diferentes. O Luke está entregue a ti, apenas está com medo.

— Mas o que eu faço. Será que seria melhor eu ir até a casa dele?

 – Bom... hoje ele daria aula pra tua turma, não é? Ele já me disse que não vai, não quer ver você e o Roberto. Ele tem certeza que vais estar sorrindo com ele pelos corredores.

— Como é um idiota...

— Eu também acho. E disse isso na cara dele ontem. E nem deixei ele discordar. – Marcus terminou sorrindo.

— Eu não sei o que eu faço. Eu quero muito estar com ele, mas eu não sei que decisão tomar. Tem vezes que eu queria ter a idade de vocês, acho que seria mais fácil...

— Ei, não fala bobagens! Essa idade que você está é a melhor! Tão mais sonhador, tão mais forte. Eu sei que você vai arranjar um jeito de chegar até ele. Eu já vi que aqui na cidade há muitos lugares pra comer, a culinária é muito importante aqui, não?

— É sim, há vários lugares... mas a gente não sai muito, porque o Lucas acha que meus colegas não deveriam ver a gente juntos.

— Mas o que você acha disso, te incomoda?

— Bom, não é como se eu me importasse com a opinião dos meus colegas, eles nunca foram muito com minha cara. Mas eu me preocupo com a opinião do Luke, se ele acha melhor...

— Pois eu acho que essa seria uma boa opção. Quem sabe a gente não sai hoje pra fazer alguma coisa, depois que vocês conversarem?

— Não sei não...

— Rodrigo, eu percebi nas palavras do Lucas que ele se sente inseguro por vocês não poderem fazer coisas normais de casais. Eu sei que isso é uma bobagem, mas eu acho que ele fica inseguro, pensando que faz com que a relação de vocês não seja forte o bastante...

— Mas a gente combinou isso, eu não entendo...

— Pois é, e quem entende aquela mente brilhante? E também não é como se vocês fossem ficar se agarrando por aí, né? Espero que não, sou tímido, não me façam passar vergonha.

Rodrigo sorria, a certeza que Marcus passava a ele dava um gás enorme. Quem sabe não fosse este o caminho mesmo?

— Mas primeiro eu tenho que falar com ele. – O loiro parou de falar ao receber uma notificação no celular, era um email – Lucas, acabou de desmarcar a aula de hoje à noite com a turma.

— Então, é a chance! Vai lá, conversem e depois a gente pode sair, podemos convidar até a Solange. – Marcus percebia que o loiro hesitava – Vai por mim, Lucas precisa disso, de um ambiente familiar que ele nunca teve. Os avós o criaram muito bem, mas estes sentimentos ruins o faziam estar sempre em dúvida. Sinto que essa é a chance dele se permitir sentir todos os sentimentos possíveis. Você é o caminho.

— Ele ficou muito feliz mesmo quando a gente foi na casa dos meus pais...

— Ele me ligou no mesmo dia acredita? Estava ansioso para o encontro. Mas fiquei feliz de saber que tudo ocorreu bem.

Marcus levantou, fazendo menção de sair.

— Eu vou indo, a gente se fala mais tarde, combinado? Eu não vou pra casa, vou deixar vocês conversarem. Mas caso demorem a me ligar, eu juro que tranco os dois até que volte a ficar tudo bem. – Chegando a porta o mais velho virou, olhou para o mais novo e apenas conseguiu falar uma coisa – E obrigado. Muito obrigado, Rodrigo. O Lucas está muito melhor desde que você chegou na vida dele. Eu pude perceber pessoalmente ontem. Por mais que ele ainda tivesse todas estas inseguranças, ele está muito mais aberto, até mesmo para me ouvir. E sei que você tem grande culpa nisso.

— Tudo bem... eu apenas fiz o que meu coração pediu neste tempo que estamos juntos. Eu tive algumas dúvidas, confesso. Mas agora eu tenho certeza, eu quero muito ficar com ele. Ainda mais depois disso que tu me contou. Espero apenas merecê-lo.

Após a despedida, Rodrigo ligou para Solange, atestando que o moreno estava bem e tinha almoçado, apesar de ter relutado, e estava em casa. Rodrigo tomou um banho, se encheu de coragem e saiu. Antes de chegar na casa do moreno, decidiu que ia comprar algo que, faz tempo, pensou que gostaria de ter e presentear o namorado. Agora, mais do que nunca. Seu coração, que ontem estava cheio dos pássaros da desconfiança, agora batia forte, porque estava indo de encontro ao seu amor.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!