Peeta abruptamente afastou-se e deu um largo passa para trás. Sua pupila estava abertamente dilatada, o que deixou seus olhos anis sem cor, apenas preto. Suas batidas atingiram máxima pulsação, o que o levou a ansiar desesperadamente pelo sofá ao lado.

Katniss, durante todo o ocorrido, permaneceu aterrorizada, sua vista estava inundada pelas lágrimas.

Ela enxergava sua culpa á cada movimento do garoto do pão.

Mesmo debilitada, apressadamente, saiu de sua cama e disparou para o sofá. Ela ajoelhou-se com dor, chamando o nome de Peeta com desespero, porém, mal conseguia falar.

Ele estava com a cabeça baixa, entre as pernas, balançando-se de um lado para o outro, tremendo. O que mais detestava, havia vindo á tona, seus flashbacks com Katniss como um monstro surgiram no momento em que seus lábios tocaram as suas mãos.

– É tudo culpa minha. – diz continuamente entre os fortes soluços.

E assim, por muitos minutos, Katniss permaneceu, com os joelhos apoiados no chão gelado de seu quarto, pranteando por Peeta com as mãos no rosto.

E quando não lhe parecia haver mais resquícios esperança, aos poucos, ele erguia sua cabeça. Suas pupilas tinham voltado ao um estado que lembrava á normalidade. Porém, ainda suava e estava com a mente desordenada, como se tivesse acordado de um pesadelo.

Sua fraca visão deparou-se com a garota em chamas encolhida a sua frente. Sabia muito bem o que tinha acabado de acontecer, havia perdido o controle, mais uma vez. Sentia-se extenuado e derrotado, já que mal tinha controle de sua própria cabeça.

Katniss percebendo a movimentação levantou sua cabeça e assustou-se com ele a encarando fixamente, com o olhar impreciso. Veio-lhe primeiramente medo, mas depois sentiu intenso alívio.

– Peeta? - disse, murmurando seu nome, desacreditada.

Peeta, apesar de entorpecido, reconheceu que as lágrimas habitavam inundavam o seu rosto. Sentia uma enorme contrição em seu coração. Ele havia a deixado naquele estado.

Suicídio? Talvez. Ele a fitou por um momento e levou seus braços até ela.

Katniss hesitou, mas surpreendeu-se, pois estes braços agora iam lhe abraçar. E assim o fez.

O garoto do pão lançou-se ao chão, ficando ajoelhado. Disparou seus braços até Katniss, e a abraçou. Abraçou com força. Veio-lhe sensações incômodas em seu corpo, que doíam, mas ignorou.

Ele sentia uma estranha necessidade de afagá-la.

Como uma fome.

Precisava dela como o ar para respirar. As chamas do corpo de Katniss, inesperadamente, o acalmou. Ela por sua vez, respondeu seu abraço. Ainda estava apavorada com tudo que havia ocorrido pouco tempo atrás.

Com o turbilhão de coisas que lhe aconteceu desde o final da Guerra, havia se esquecido de que Katniss cheirava como o céu. E do quanto a amava antes de tudo.

Permaneceram ajoelhados, desfrutando do calor um do outro. Katniss, só agora tinha verdadeira noção do quanto sentia sua falta. Falta de seu abraço para confortá-la e eventualmente seus lábios.

Finalmente, os dois, lentamente, saíram do abraço, um fitando ao outro.

Ele, apesar de hesitante, levou sua mão até o rosto dela e alisou com o dedo seu rosto com cuidado. Ainda que temesse a volta de seus malditos flashbacks, tinha prometido a si mesmo que iria persistir.

Seu passado não devia guiar sua vida.

Os olhos azuis dele brilhavam como duas pedras. Katniss ansiava por ele.

Aproximou sua cabeça ao rosto de Peeta, enquanto fechava os olhos, deleitando de seu toque.Suas chamas estavam ali novamente. Sentiam um a respiração ofegante do outro.

O ar de Peeta ia se extinguindo ao passo que Katniss chegava mais perto.

Porém, foram interrompidos.

Ela parou e levantou-se rapidamente, o que deixou ele confuso. Outra herança deixada pelos games era sua audição aguçada. Uma batida na porta o fez acordar de seu transe, e do mesmo modo, ele como num pulo, levantou-se.

Ela estava ruborizada, o que deixou sua magreza em voga, mas apesar disso, ainda era muito bela.

Era o doutor James no outro lado da porta. Deu duas leves batidas.

– Posso entrar ? - perguntou.

Katniss e Peeta estavam um na frente do outro.

– Sim - disse com embaraço, mas tirar seus olhos dele e nem ele dela.

James entrou no quarto e os dois imediatamente viraram-se para ele. O médico caminhou até eles.

– Katniss, preparada? Você sai daqui a uma hora. - anunciou, sorrindo .

–Sim, obrigada. - falou embaraçada, entreolhando para Peeta, ao seu lado.

James, que não era bobo, percebeu o que estava acontecendo ali. Sorriu, apenas.

– Bom, lembre-se de tudo que conversamos e principalmente do que Lívia lhe passou. Não se esqueça de cuidar-se viu, garota? - falou o médico, agora mais sério. - Foi bom te conhecer - ele estendeu a mão para ela, que a apertou, assim também fez com Peeta.

– Obrigada Doutor, por tudo.- agradeceu Peeta, com sinceridade. Reconhecia que se não fosse por este homem diante dele, Katniss não estaria tão melhor quanto agora.

– Nada mais do que meu dever garoto. - disse, sorrindo, para ela principalmente. - Vou indo. Até mais.

O médico se despediu e deixou o quarto com passos seguros, deixando mais uma vez os dois sozinhos.

– Eu vou... - Katniss tentou falar.

– Se arrumar? - ele completou.

– Sim, sim. - disse, se sentindo uma tola. - Com licença.

Ela se recompôs e foi apressadamente até ao banheiro.

Fechou a porta, ficando apoiada, de costas, nela. Mal acreditava no que havia acontecido. O delírio de Peeta e o quão próxima ficou dele ao mesmo tempo.