Enfim, chegara o tão estimado dia da auta de Katniss. Doutor James, durante todo o processo a acompanhara com cuidado. Do mesmo modo, a Doutora Lívia, uma renomada psicóloga de Panem. O adoecimento da garota em chamas comoveu a capital. Afinal, um dia ela fora o tordo e a esperança para os distritos.

Toda esta comoção deixava Katniss incomodada. Eram frequentes as visitas de profissionais que lhe eram estranhos. Não se sentia confortável. Talvez achasse que a atenção era uma coisa que não lhe dizia respeito.

Provavelmente o mais árduo para ela, era ter suas costumeiras"sessões'' com Lívia, todos os dias ás 18 horas. Mas apesar de toda a assiduidade e o esforço da Doutora, Katniss não fizera algum progresso em sua psique.

Ainda era a velha e mesma garota com o coração lesionado.

E não seriam um par de sessões que alterariam a realidade.

E então, passaram-se duas semanas desde a entrada de Katniss no hospital. Definhou durante o corrido, seu rosto parecia seco. Porém, era inegável uma melhora, estava viva.

Peeta, a visitava, todos os dias, sem ressalvas. E hoje era um dia destes.

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Peeta, em meio de todos o vendaval, havia deixado a sua prezada padaria de lado por um tempo. Apenas ia até lá para cozinhar. Cozinhar para Katniss.

Comprometeu-se consigo mesmo á cuidar da garota em chamas. Por isso, com afinco, colocava sua alma nos pães que fazia. O confortava ver Katniss os comendo, isso a fazia bem, além do mais, sua magreza era algo que Peeta desejava consertar. Sim, ele se preocupava com ela.

Ainda assim, o passado era algo que não o deixava de lado. Sempre que lhe a via, malditas imagens que tanto odiava se manifestavam, sem falta. Seu coração acelerava e um sensação de raiva no estômago o perturbava.

Era uma batalha entre a realidade e falsidade.

Todavia, estava disposto a empenhar-se. Katniss ainda lhe remetia sentimentos distintos, que não sabia reconhecer do que se tratavam.

Era afeto misturado á raiva.

Contudo, o afeto era algo que ainda existia ali.

Seu ""sempre"" deveria ser cumprido.

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Peeta bateu na porta do quarto. Katniss, encontrava-se acordada, o uso de remédios em seu corpo havia diminuído. Por isso, o sono era algo que agora lhe era escasso.

– Pode entrar - disse, atendendo a batida.

Katniss, deitada na cama, lançou seu olhar em Peeta, que a correspondeu.

Não pudia evitar, seu coração pulsava vertiginosamente. Tais visitas do garoto do pão ainda eram novidades para ela. Duas semanas atrás, estavam indiferentes um ao outro. Sentia o coração de Peeta indisponível e inalcançável, e ela tinha plena ciência do porquê. Ela havia o machucado.

– Oi - a cumprimentou, dando um leve sorriso. - Se sente melhor? - inquiriu sinceramente.

Peeta sentou-se no sofá ao lado. Aliás, aquele sofá, havia se tornado a sua segunda cama. Estavam um pouco mais confortáveis um na presença do outro, apesar de todas os poréns.

– Sim, obrigada. - respondeu, sorrindo de volta.- Trouxe meus pães? - perguntou contentemente, porém tímida.

– Sempre trago - ele levantou e dirigiu-se até ela - Aqui está, acabei de fazê-los. - falou, colocando a vasilha no colo de Katniss.

Abriu a tampa e imediatamente lhe veio o deleitável cheiro de pão fresco, que só ele tinha a capacidade de fazer tão bem. Ela comeu-os com prazer, mas acanhada.

Peeta a observava fixadamente. Seus olhos azuis como água a analisava, o que lhe deixava com as bochechas quentes. Fatalmente, ele reacendia suas chamas extintas.

– Você gostou? - indagou com vestígios de diversão. Havia observado que Katniss comia rapidamente, faminta. A propósito, este era um dos seus defeitos.

Ela se incriminou mentalmente. Só agora havia percebido que estava comendo como um animal. Rapidamente, diminui seu ritmo e comeu mais devagar por fim.

– Está ótimo, como sempre - disse com embaraço.

– Fiz especialmente para você - falou, á medida que ia ficando mais perto da cama. - Katniss, está feliz?

Aquela pergunta a afligiu. Felicidade era uma sensação perdida por ela. Nos últimos tempos, felicidade era o último sentimento que lhe passava pela mente.

Mas estava contente.

– Bom, estou contente. - respondeu-lhe francamente. Peeta a olhou em seus olhos cinzas.

Ouvir aquilo fez Peeta bem.

– Então, eu fico feliz.

Ele sorriu genuinamente, que alentou o coração de Katniss. Nada seria inteiramente capaz de explicar a falta que este lhe fazia.

Katniss já tinha recebido a notícia de sua auta. Por isso, as malas estavam no chão juntamente com alguns pertences ao lado. Peeta, os recolheu e pôs na mala. Assim como as roupas do guarda roupa.

Depois da tarefa, ele se sentou novamente no seu familiar sofá.

O silêncio instaurou-se entre os dois. Mas o garoto do pão o quebrou.

– Haymitch e Effie estão em casa lhe esperando.

Sim, eles estavam. Enquanto isto, os dois arrumavam a casa para a chegada de Katniss, já que sairia do hospital apenas 2 horas mais tarde.

– Sozinhos? Estão vivos ainda? - questionou com os olhos travessos.

– Sim - ele soltou um leve riso - Por incrível que pareça, ainda não se mataram. Acho que você os...- parou, pensando na palavra apropriada - uniu - disse enfim.

Unir? Haymicth e Effie? Essa ideia lhe pareceu um tanto que estranha. Era do saber de todos que os dois não se davam bem. Apenas cincos minutos no mesmo recinto, criava-se um rio de insultos.

Pensar na ideia a fez sorrir e em muito tempo, ela gargalhou. Peeta se espantou, ouvir ela rir era algo incomum. Mas, ela se remediou e parou.

– Pelo menos algo de bom eu fiz.- comentou, com a voz baixa, sem auto-piedade.

E então, ele se levantou e foi até sua cama. Seus olhos azuis dilataram-se, o que fez Katniss estremecer. Ele pegou sua mão com condolência e lhe deu um delicado beijo nesta.

E lá vinham as chamas, mais uma vez.