Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 53
Tempo com a família


Notas iniciais do capítulo

Dia de passear no Shire



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Tempo com a família

Dia de passear no Shire

Aparentemente, a ira de Lobélia conseguiu ser aplacada, provando que até Dwalin poderia jogar um charme se bem motivado. A manhã foi agitada, pois Anna e Hamfast Gamgee ficaram trabalhando no jardim enquanto os demais acompanhavam Bilbo ao mercado. Desnecessário mencionar que foram a fofoca do dia, e a comprovação definitiva de que Bilbo Baggins era mesmo um indivíduo dos menos respeitáveis.

Anna ficou admirada que Darin tivesse ido sozinho com os homens sem chorar nem se assustar por estar sem a mãe. Parecia até que ele conhecia todos.

Eles voltaram em seguida, com carne, verduras e frutas. Darin correu até Anna, aos gritos, e ela recebeu-o nos braços.

— Você foi passear com papai, rapazinho? — Ela brincou com ele. — Foi sem sua mãe? Senti sua falta!

Bilbo deu o relatório:

— Ele se comportou muito bem. E nós encontramos o tio Isembard Took. Darin sempre gostou muito dele.

Thorin garantiu:

— Ele se portou como um autêntico Durin.

Kíli comentou:

— Meu primo é muito bonzinho.

Dwalin brincou:

— Certamente não puxou ao pai.

Os três riram, e Darin riu também, entrando no espírito. Anna anunciou:

— Resolvi manter o plano de tirar uns dias de folga, Bilbo. Hoje vou avisar que não poderei ficar com as crianças. Thorin e eu precisamos conversar, sem pressa e de maneira tranquila.

Ele disse:

— Entendo, mas as crianças vão ficar decepcionadas.

— Eu sei, e também estou penalizada — disse Anna. — Mas devemos passar tempo juntos, entende? Ter uma vida em família.

Thorin indagou:

— Tem certeza, ghivasha? Você parece gostar das crianças.

— Sim, eu gosto muito — disse ela. — Mas acho que realmente precisamos disso. Você entende, né, Bilbo?

— É claro. — O hobbit sugeriu. — Poderiam fazer um passeio, ir a Bywater ou até Frogmorton!

— Sim, talvez. Darin sempre gostou de ficar entre as árvores.

Kíli sugeriu:

— E em breve estará quente o bastante para ir nadar. Acho que meu primo vai gostar disso.

Bilbo ficou temeroso:

— Não era melhor esperar ele crescer mais um pouco antes de sair por aí levando o menino até o rio? Nós, hobbits, não gostamos de água.

Anna riu-se:

— Na verdade, tudo indica que quanto antes se começar, melhor. Crianças pequenas têm muito mais facilidade de aprender.

— Crianças anãs aprendem combate desde cedo — disse Dwalin. — Mas não com lâminas, claro. Isso só depois dos 15, 20 anos.

Bilbo interveio:

— Até chegar a essa idade, Darin vai precisar se alimentar. Vamos, vamos levar essas compras para dentro.

O almoço foi precedido da refeição das 11h, observada por Darin e Bilbo, mas na qual os deliciosos bolinhos de Lobélia desapareceram por completo. Após o almoço, o anfitrião requisitou a ajuda de Dwalin e Kíli num assunto perto da casa do tio Isembard Took. Era a dica para Thorin e Anna saírem com Darin para ir às casas das crianças.

Em cada casa, Anna explicou a situação aos pais e garantiu aos pequenos que estariam de volta em poucos dias. Thorin foi alvo da curiosidade de pais e filhos: a maior parte deles nunca tinha visto um anão. Anna teve que prometer que levaria Thorin um dia para conhecer a turma toda junta.

As visitas demoraram a maior parte da tarde. A mais demorada foi aos Tooks. O Velho Took tinha ido se reunir com outras famílias atrás da Colina, e a avó de Bilbo estava sozinha. Ao saber do que se tratava, Adamanta fez toda espécie de pergunta a Thorin entre chazinhos e broinhas. A hobbit não escondeu o temor de que Anna fosse embora. Depois, para espanto do ex-rei sob a montanha, Adamanta descreveu o primeiro encontro com o Thain, no qual o marido de Anna foi descrito como possivelmente "um feroz anão invasor" que conquistaria as terras do Shire. Thorin ficou espantado.

Antes de voltar para casa, eles ainda fizeram uma parada embaixo da velha amendoeira, onde Darin adorava brincar de esconde-esconde. Seu adad foi incluído na brincadeira. Anna sentia os laços entre pai e filho ficando cada vez mais fortes.

Ao chegarem em casa, Bilbo os recebeu, dizendo:

— Espero que não se incomodem de jantar mais cedo. Com a saída de hoje, nós pulamos o café da tarde e aí deu fome.

— Não tem problema — disse Anna. — Deu tudo certo com Isembard?

Bilbo disse:

— Tudo ficou resolvido. Tínhamos um plano e ele deu certo.

Logo a mesa estava cheia, e o burburinho do jantar tomou conta de Bag End. Durante a refeição, Darin estava agitado e irrequieto. Kíli quis saber:

— Por que o pequeno está assim, aborrecido?

— Darin está exausto — respondeu Anna. — É que ele costuma tirar uma sonequinha à tarde, mas hoje ficou tão animado com as novidades que ficou acordado sem pausas. Foi até bom jantar mais cedo, porque eu tenho certeza que ele vai direto para cama.

Kíli quis saber:

— Então ele vai dormir direto essa noite?

— Pelo visto — Anna observou o filho coçando os olhinhos —, não é só isso: ele deve acordar bem tarde amanhã.

— Que bom — disse Bilbo. — Porque temos uma surpresa para vocês.

Thorin franziu o cenho e indagou:

— Que surpresa?

— Não fomos à casa do primo Isembard. Fomos ao Dragão Verde.

— À taverna? — perguntou Anna. — Por quê? Foram tomar cerveja?

Kíli respondeu, o sorriso amplo deixando-o ainda mais jovem:

— Fomos reservar um quarto para vocês essa noite.

Thorin estava confuso:

— Um quarto para nós? Por quê?

Anna reforçou:

— É, não entendo. Há um quarto perfeitamente confortável ali.

Dwalin, calado até então, esclareceu:

— Não se trata de conforto, pequena. — O chefe dos guardas de Erebor pareceu avermelhar. — É uma questão de... er, privacidade.

Foi a vez de Anna ruborizar-se violentamente, e até Thorin pareceu corar nas faces. Bilbo tentou dizer:

— Bem, estivemos pensando e... er... É que... Ora, um casal precisa de um tempo para hum, bem, discutir coisas e tudo isso. Achamos que vocês ficarão mais à vontade para decidir o que farão sem interferências.

Kíli se ofereceu:

— Eu ajudo a cuidar de meu primo! Assim não terão que se preocupar com nada.

— Menos as fraldas — disse Dwalin, vexado. — Não sabemos trocar fraldas.

Bilbo se ofereceu:

— Eu cuido das fraldas. Não vão ter problema algum. Observem que o Dragão Verde é bem mais perto que o Pônei Saltitante. Podem dormir um pouco mais, tomar o café com tranquilidade e chegar a tempo para as elevensies!

Anna indagou:

— Mas e Darin? Será que não vai se assustar? Ele pode sentir minha falta.

Thorin lembrou:

— Você mesma acabou de dizer que ele vai dormir até tarde. Não seria problema.

— Eu posso tomar conta dele! — ajudou Kíli. — Ele gosta de cantar, eu posso fazer isso.

Bilbo observou:

— Não terão melhor oportunidade.

Thorin concordou, lembrando Anna:

— Mestre Baggins tem razão: a oportunidade é de ouro.

Anna suspirou:

— Vão cuidar bem do meu filhinho? Ele é um presente precioso que o universo me deu.

Dwalin garantiu, solene:

— Eu o protegerei pessoalmente. É também meu primo.

Anna sorriu:

— Então está bem. Eu concordo. Vamos.

Thorin assentiu, satisfeitos. Todos sorriam e Bilbo se adiantou, animado:

— Vou preparar um lanchinho para vocês levarem. Só umas coisinhas leves no caso de dar uma fominha er, num horário impróprio.

Não tinha como Anna ficar mais vermelha. Para disfarçar, ela sugeriu:

— Uma muda de roupa também é aconselhável.

Bilbo instruiu:

— O velho Smallburrow reservou um quarto com direito a banho quente e a um café da manhã.

Thorin comentou — e a voz dele era tão sedutora que Anna se arrepiou:

— Parece muito bom, Bilbo. Agradeço a gentileza.

— Você sabe onde fica, não? É em Bywater, logo depois que se sai de Hobbiton.

Kíli ajuntou:

— É, bem pertinho.

Com tanto incentivo, Anna e Thorin resolveram sair logo. Ajudou que Darin mal estava acordado durante o jantar e então puderam colocar o pequeno para dormir logo após o jantar. Depois Anna encheu-os de recomendações, tanto que Bilbo quase os empurrou porta afora.

A caminhada até o Dragão Verde foi bem agradável, com o sol se pondo e colorindo o céu do Shire com cores fortes como uma pintura de Van Gogh. A hospedaria logo apareceu na estrada, uma casinha de pedra com telhado de palha. Ao entrarem, viram um animado movimento na taverna, onde estavam homens e hobbits.

Anões não eram comuns por aquelas bandas e Anna notou os olhares curiosos para Thorin. Ele também, e quase se amaldiçoou por ter deixado Orcrist em Bag End. Mas a tensão durou pouco, pois um voz amistosa gritou:

— Ah, aí estão vocês! — Era o estalajadeiro, um homem de cabelos e bigodes cor de cenoura, um tom parecido ao de Glóin. — São os parentes de Mestre Baggins, não?

Thorin adiantou-se até o balcão:

— Sim, isso mesmo. Estava nos esperando?

Ele saudou:

— Bem-vindos, amigos! Seu quarto logo estará pronto. Podem se sentar: Mestre Smallburrows vai levar duas cervejinhas e avisará quando puderem subir.

— Agradeço.

Os dois acharam uma mesa, e Anna sorria de orelha a orelha. Thorin ainda parecia surpreso:

— Isso foi mesmo inesperado, não?

— Sim — disse ela. — Espero que não tenham... nos ouvido ontem. — Thorin a encarou, confuso e Anna enrubesceu. — Ontem à noite quando nós fomos dormir e então – você sabe.

O marido também ficou um tom mais avermelhado quando respondeu:

— Oh, bem, esperamos que não tenha sido isso.

Anna sorriu, e um hobbit veio até eles, com duas canecas:

— Ah, chegaram os hóspedes do Sr. Bilbo. Bem-vindos, amigos! Meu nome é Smallburrows. E foi bom virem cedo: ainda não está muito cheio, o que significa que os quartos logo ficarão prontos.

— Obrigado.

Anna se dirigiu ao hobbit:

— Sr. Smallburrows, por favor, podia trocar minha cerveja por leite?

— Oh, é claro, moça — disse ele, recolhendo uma das canecas. — Volto já.

Anna olhou em volta, comentando:

— Bom, o lugar parece bem animado.

Thorin pegou sua mão e sussurrou:

— Animado ficará lá em cima. — Beijou as mãos pequenas de Anna. — Prometo, minha pequena.

Anna sorriu, enrubescida. O leite chegou, mas as mãos deles permaneceram unidas. Thorin indagou:

— Você conhecia esse lugar?

— É a primeira vez que venho. Não saímos muito de casa. E não gosto de trazer Darin a ambientes esfumaçados.

Ele sorriu:

— Nosso filho prospera mais do que imaginei. Você é a melhor amad que ele poderia ter.

— Ele está quase falando — comentou Anna, com um sorriso. — Já anda sozinho e corre com as outras crianças. Não vai demorar muito para treinar ficar sem fraldas.

Thorin estava embevecido:

— Acha que ele me reconheceu? Pensei que fosse me estranhar, mas foi só aquela vez, e ele estava assustado por outro motivo.

— É verdade — concordou Anna. — Ele sempre o adorou, meu amor, desde que ele era bebê. Acho que ele não o esqueceu.

O sorriso de Thorin estava nos olhos quando ele lembrou:

— A memória dos anões é eterna como a rocha. Eu estou tão feliz por estar com vocês de novo. Quantas vezes sonhei com isso.

Anna confessou:

— E eu não pensava mais que isso pudesse acontecer. Thorin, eu jamais imaginei que você fosse renunciar ao trono!... Eu nunca quis deixar você nessa posição: escolher entre sua coroa e uma mulher.

Thorin levou as mãos dela aos lábios, garantindo:

— Quanto mais penso nisso, mais vejo que foi a decisão mais acertada. Na verdade, a única que me restava. Sem minha ghivashel, a coroa não fazia sentido.

Anna sorriu para ele, embevecida:

Ukurduh...

Ele beijou a mão dela de novo, olhos famintos grudados nela, e Anna sentiu um arrepio. Ainda bem que o Sr. Smallburrows veio em seguida dizer que as acomodações estavam prontas.

Palavras em Khuzdul

adad = pai, papai

amad = mãe, mamãe

ghivasha = tesouro

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

ukurduh = meu coração


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