Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 19
Um evento inesperado


Notas iniciais do capítulo

O bebê insiste em chegar



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Um evento inesperado

O bebê insiste em chegar

Anna estava dividida entre seu próprio estado de pânico e a preocupação em que Hila não expulsasse Tauriel para longe. Mas não havia muito que ela pudesse fazer: a dor a deixava atordoada.

— Mestre Ori! — ela ouviu Hila gritar. — Mestre Ori, por favor!

— Senhora, o que houve?

— Chame Mestre Óin! A princesa; o rei! Há algo errado com a criança!

Tauriel dirigiu-se a Anna:

— Continue respirando, senhora. Está indo muito bem.

Finalmente chegaram à ala real, e foi quando Thorin e Óin os alcançaram. O rei estava pálido, mas deixou Óin passar à sua frente.

Ghivashel!...

— Thorin! — Anna esticou a mão, buscando a dele. — Meu amor...!

O curador encarou a elfa:

— Ah, um elfo mulher. Bom. Pode ajudar, mestra elfa?

Ela foi gentil.

— Não sou mestra em coisa nenhuma, honorável curador. Chame-me de Tauriel.

— O que os seus olhos élficos veem?

— O bebê sofre, e há uma centena de razões. Eu suspeito que ele queira vir ao mundo.

Anna se apavorou:

— Não, não! Ainda não! É cedo demais!...

Quando todos chegaram ao quarto e Anna estava instalada na cama, Thorin pediu:

— Deixem-nos por um momento.

Óin hesitou:

— Majestade...

— Vão cuidar do que precisa ser feito!

Óin indicou, liderando todos para fora:

— Vamos, não percam mais tempo! Água quente, panos limpos...

Assim que fecharam a porta, Anna virou-se para o seu marido:

— Thorin, estou com tanto medo!... Não quero perder nosso bebê.

— Fique calma, meu amor — disse ele, longe de se sentir calmo. — Vai dar tudo certo.

— Mas nosso bebê não tem nem seis meses, quanto mais nove! É muito cedo, muito cedo!...

Thorin beijou suas mãos, procurando acalmá-la:

— Mahal não vai desamparar um filho de Durin, ghivasha. Confie nisso.

Anna não parava de pensar que um bebê prematuro de cinco meses já inspirava cuidados num ambiente da medicina moderna. Seus pulmõezinhos não estavam completamente formados, e ele com certeza seria mais sensível a infecções. Naquele ambiente, teria ele alguma chance?

Ela sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto:

— Thorin, se ele nascer agora... será que ele vai sobreviver?

— Não é impossível, em se tratando de um khuzd — disse ele, amparando a lágrima com o dedo, e Anna imaginou o quanto Thorin realmente acreditava naquilo. — Depende do quanto ele tiver crescido. Mas ele confia na mãe dele, sempre forte.

— Thorin...

Ele se inclinou para beijar a fronte de Anna, já úmida, e ergueu o queixo dela, encarando os olhos cor de mel com amor e solenidade:

— Não teremos mais um momento a sós tão cedo. Por isso, vou dizer agora e direi de novo, yasîth: não interessa o que acontecer, eu amo você mais que tudo. Por você, faço qualquer coisa.

— Thorin...

Anna foi interrompida por uma dor aguda em seu ventre, uma que a fez sentar-se na cama tão rápido que quase atingiu o nariz de Thorin. Então ela arregalou os olhos, porque sentiu uma umidade escorrer por entre suas pernas. Um frio líquido também inundou suas entranhas. Ela olhou para a cama molhada:

— Minha... bolsa...

Thorin acompanhou o olhar dela e arregalou os olhos quando viu a umidade, sabendo o que isso significava. Ele largou a mão de Anna e saiu do quarto, procurando ajuda.

Anna ficou sozinha, vivendo momentos de medo, incerteza e angústia.

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Desde o momento em que Thorin saiu em disparada do salão de festa, os convidados perceberam que algo estava acontecendo. Balin foi encarregado de lidar com as autoridades sobre a ausência do Rei Sob a Montanha em sua própria coroação.

A notícia correu a montanha mais rapidamente do que fogo em palha seca. A multidão se alvoroçou diante da perspectiva de um bebê real estar chegando.

Thorin chamou Óin e Dís, que trouxeram a parteira, uma anã que seguramente tinha mais de 200 anos. Tauriel se adiantou ao rei:

— Majestade, eu posso ajudar. E eu quero ajudar.

Thorin indagou:

— Como?

A elfa respondeu:

— Conheço maneiras de deixar sua mulher mais relaxada sem prejudicar o bebê. Ela responde bem a curas élficas.

Era verdade, admitiu Thorin. Por menos que gostasse de elfos, essa eldar parecia não ter animosidade contra os khazâd. Além disso, Óin parecia aprová-la. Então, Thorin assentiu. Os dois entraram nos aposentos.

No quarto, eram quatro mulheres em volta de Anna, que sentia o retorno das dores. Dís observou:

— Parece que meu sobrinho está impaciente para vir ao mundo.

Hila ajudou Anna a se posicionar. Thorin disse a Anna:

Ghivasha, eu trouxe Tauriel. Ela vai ajudá-la a ficar mais calma.

Anna suava, ofegante, pálida e trêmula, mas assentiu. Tauriel aproximou-se da cama e pôs as duas mãos na barriga de Anna novamente, entoando um cântico. Óin pôs uma mão no pulso de Anna, monitorando os batimentos. A parteira ergueu o vestido de Anna e a fez dobrar os joelhos. Thorin só podia supor que ela avaliava a situação, e seu coração se contraiu.

Anna olhou para Óin, olhos marejados, repletos de medo:

— Óin...

Ele sorriu, dizendo:

— Seu coração é forte, pequena.

Anna suspirou, parecendo aliviada. Tauriel continuava com seu cântico. Se as mulheres khazâd desaprovavam sua presença, nada disseram.

Thorin pegou a mão de sua mulher, sentindo um caroço na garganta, pensamentos sombrios se formando. Acariciou a testa dela, e seus olhos se encontraram. Nenhum dos dois trocou palavra, mas Thorin viu os olhos de Anna tentando tranquilizá-lo, apesar do medo evidente neles. Também havia adoração e esperança neles. Ele a encarou com amor, devoção e todo o carinho do mundo. Aquilo durou poucos segundos, mas a intensidade equivalia a uma vida inteira.

O Rei sob a Montanha notou os olhos verdes da elfa silenciosamente acompanhando a comunicação entre ele e Anna sem parar de entoar seu cântico. Ao ver que ele notara, Tauriel desviou o olhar, envergonhada por se intrometer em momento tão íntimo. Thorin indagou se a elfa seria capaz de captar a profundidade do que acabara de ver.

Foi quanto um jato de dor fez Anna gritar alto, assustando Thorin. A parteira declarou:

— Os homens devem sair agora.

Anna chamou:

— Thorin...!

Ele beijou sua cabeça:

— Não se preocupe, tesouro maior de minha vida. Estarei logo ali.

Anna estava bem assistida, pensou ele. É claro que isso não tornava seu afastamento mais fácil.

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Quando Thorin e Óin deixaram o quarto, Dís chegou perto e segurou a mão de Anna, dizendo:

— Agora deve se manter calma, mulher de meu irmão. Vai dar tudo certo.

Anna tentou assentir, ainda com dor. A parteira comentou:

— Madame Consorte é muito delicada. Vamos tomar todo o cuidado.

Hila indagou:

— Senhora, como se sente?

— Melhor, minha amiga. — disse Anna, ofegante. — Tauriel, o que pode me dizer sobre o bebê?

A elfa respondeu:

— Continua em sofrimento. Pode ser devido ao parto, mas pode haver outros motivos.

Dís quis saber:

— Que motivos? Que quer dizer?

— O bebê pode ter puxado à raça do pai e assim ser grande demais para o corpo delicado da Consorte Anna. Ou pode ser resultado de estresse, depois de tudo que vocês passaram para reconquistar a montanha. Sei que foram muitos percalços.

"E você não sabe da missa a metade, ruivinha", pensou Anna, tentando respirar. Ela indagou:

— Alguém sabe me dizer se a criança vai sobreviver?

Dís e Hila disseram quase ao mesmo tempo:

— Sim!

— Claro!

A parteira experiente comentou:

— Se seu filho fosse khuzd puro, as chances seriam melhores. Mas não é impossível.

— O bebê pode estar mais formado do que pensamos — contribuiu Tauriel. — Uma concepção entre duas raças pode influenciar a taxa de crescimento.

Anna pediu à barriga:

— Filhinho, fique bem. Por favor, meu filho...

Provavelmente ela ia falar mais, contudo uma fisgada inacreditável de dor a fez gritar e esquecer tudo que queria dizer.

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Ao saírem, Thorin e Óin encontraram a maior parte da companhia reunida, ansiosa por notícias. Eles olharam seu rei com preocupação e companheirismo. Mas logo começaram com as perguntas:

— O que houve?

— Anna está bem?

— Acontece alguma coisa com o bebê?

Thorin respondeu pesadamente:

— O bebê está chegando.

Os anões se alvoroçaram:

— Mas já está na hora?

— Eu pensei que fosse demorar mais.

— Não está na hora — garantiu Thorin, gravemente. — Vou render Balin no salão de banquetes e já volto. Óin, fique a postos.

— Sim, meu senhor.

A companhia de Thorin Oakenshield observou seu rei sair em silêncio. Uma atmosfera tensa se instalava no local, e não parecia haver sinal de que a situação fosse melhorar tão cedo.

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— Respire — ensinou Dís. — Alivia a dor.

Anna tentava obedecer, pensando em anestésicos poderosos e drogas hospitalares. Em poucos minutos (e porque estava entre contrações), ela respirava de maneira mais estável.

— Como está? — quis saber.

Do pé da cama, a parteira respondeu:

— Sem sinal da criança ainda. Mas isso não quer dizer nada.

Anna disse:

— Parece que vai demorar. É comum, não é?

Dís respondeu:

— Entre nossa raça, não é anormal que um parto leve dias. Mas entre humanos...

Tauriel ofereceu:

— Nossas mulheres também podem passar alguns dias em trabalho de parto. É pouco comum, mas acontece.

Sempre direta, Dís indagou:

— Por que você tem tanto cuidado com a Consorte?

— Cumpro ordens de meu rei. Ademais, o príncipe Legolas, meu companheiro de armas, tem grande apreço por Lady Anna, pelos serviços prestados a Mirkwood — respondeu a elfa. — Com suas ações, a Consorte poupou meu rei de um grande embaraço. O rei Thranduil lhe tem muita admiração.

Anna indagou:

— Seu rei sempre me tratou com muita gentileza. — Anna encarou Tauriel e indagou: — Nós nos conhecemos? Desculpe, mas não me lembro de tê-la visto.

Tauriel baixou os olhos:

— Não nos vimos. Durante sua estada, eu cuidava de prisioneiros nas masmorras.

— Oh — foi o que Anna disse. — Então foi de lá que conheceu meus sobrinhos.

Ela enrubesceu:

— Sim. Antes que fugissem.

— Acho que seu rei não se convenceu até hoje que eu nada tive a ver com a fuga deles. Foi meu tio, Bilbo Baggins. Eu só usei a mesma rota, nada mais que isso.

Algumas das mulheres riram, outras se espantaram. Anna sorriu, mas não por muito tempo até uma dor lancinante viajar por seu corpo, arrancando dela um urro animalesco.

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Um grito inumano chegou até a companhia, fazendo todos se sobressaltarem.

— Estão a atacando! — disse Ori, assustado. — É coisa daquele elfo!

Dwalin o encarou, com um sorriso:

— Nunca viu uma mulher dar à luz, não é, rapaz? — Ori fez que não com a cabeça. — Oh, é uma experiência dolorida.

Fíli comentou:

— Pobrezinha, ela é tão pequena!...

Glóin disse:

— Fiquei muito preocupada com minha Milna quando Gimli nasceu.

Dori comentou:

— Mas Lady Anna não é de nossa raça! Imagino o que pode acontecer com ela, e nessas circunstâncias...!

Óin disse:

— Ela pode ser pequena e frágil, mas tem uma força que vocês conhecem. Ela sempre tem uma surpresa pronta e pode nos deixar envergonhados.

— Aye — sorriu Dwalin. — Ela é forte como ferro. Ela vai conseguir, acreditem.

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— Eu não vou conseguir!... — gritava Anna. — Não aguento!...

A parteira incentivava:

— Seu filho está vindo! Já posso ver a coroa!

— Força! — dizia Dís. — É uma mulher de Durin! Você pode!

Anna tinha tanta dor que sentia as pernas adormecidas. Chorou:

— Não tenho forças...!

Hila chegou bem perto dela e falou seriamente:

— Madame, desde que a conheci, não tem demonstrado outra coisa que não força. É uma das mulheres mais fortes que conheci, de qualquer raça. Milady pode fazer isso, sim.

Tauriel se adiantou e entoou o cântico. Anna logo sentiu um pequeno alívio. Dís encarou a elfa, dizendo:

— É gentil de sua parte nos ajudar.

Tauriel sorriu:

— Não somos vizinhos? Vizinhos devem se ajudar.

Dís hesitou um pouco, mas respondeu ao sorriso. Por sua vez, Anna tentava fazer força, como era instruído. Enquanto sentia as faces se esquentarem e deixava de respirar para tentar trazer seu filho ao mundo, a jovem mãe tentava desesperadamente desviar a mente de palavras como "cesariana" e "analgésicos".

Palavras em Khuzdul

ghivasha = tesouro

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

khuzd = anão

khazâd = anões, povo dos anões

yasîth = esposa


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