Flashback (HIATUS) escrita por Ayshi


Capítulo 2
Avalanche


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei muito contente com os reviews que tive no outro capitulo e agora estou postando mais um. De uma hora para a outra, né?
Ah. Me deem mais reviews por que eu escrevo minhas fics de acordo com o que vocês querem saber.
"Não deixe que a alegria de um autor morra no quadro de reviews", já dizia nosso querido locutor.
aheuhauehuaeh



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Acho que percebi que eu estava "viajando na maionese" quando eu fui na direção de um poste e o abracei.

Eu sabia que eu não devia ficar acordada até tarde, mas já era uma rotina normal para mim. Ontem foi um caso especial, no qual eu me desgastei muito. Sono.

– Calma Asayo - foi o que a zebra saltitante disse quando soquei o poste.

"Eu estou muito mal", pensei.

Eu estava usando o atalho que Hiroshi me ensinou para ir à escola, que ficava relativamente longe da minha casa.

Os prédios, que outrora eram casas, me enclausuravam em um beco sem fim. Chegava a ser enjoativo. Parecia que tinham feito os prédios para me estressar.

Depois de mais uns dois abraços em postes eu percebi também que meus óculos não estavam onde deviam.

"Droga. Agora eu sou uma maluca que não enxerga direito".

Ao chegar à metade da rua, uma entrada à esquerda me dava acesso ao Parque de Sakura e as lembranças vieram como pedras. Eu entrei e me sentei no primeiro banco que eu vi.

*FLASHBACK ON

Eu corria muito. A pasta sobre a cabeça. Uma chuva de inverno que castigava quem não se precavesse.

Era a primeira vez que eu passava por ali, o atalho que Hiroshi me ensinou.

Eu não conhecia nada por ali e decidi que correr não ia ajudar em nada. Comecei a caminhar e a olhar os detalhes da rua.

Meus olhos se moviam como beija-flores, absorvendo tudo e transferindo as informações para o meu cérebro criativo.

As casas, todas brancas com flores vermelhas pintadas no muro, eram simétricas.

Ao chegar à metade da rua, eu vi a entrada de um parque e achei que poderia achar um lugar para me proteger da chuva até ela cessar.

Eu corri na direção do centro do parque, onde havia uma pequena cabine (provavelmente de informações) com uma sacada que me protegeria com certeza.

Eu entrei debaixo da sacada e olhei o estrago que a chuva tinha feito a mim. Os meus cabelos, que eram enrolados e de uma cor viva, agora estavam grudados no meu corpo e adquiriram uma tonalidade escura.

Enquanto eu me auto analisava, escutei um espirro vindo do outro lado da sacada e me assustei.

Espreitei por trás da parede e vi cabelos negros e bagunçados. Com certeza era o Hiroshi. Eu estava começando a achar que minha vida girava em torno dele.

– Caiu de repente.

Aquelas palavras me pegaram tão desprevenida que eu olhei para o chão e vi um panfleto do Festival de Sakura. Parecia-me um assunto razoável, mas não foi isso que saiu da minha boca.

– E-ei Hiroshi-kun! Você vai ao Festival de Sakura?

Só sei que depois que disse isso eu fiquei tão vermelha. Vermelha como um tomate.

– Use isso para se secar - ele apareceu do meu lado e jogou um pano para mim.

– Isso é um uniforme de ginástica?

– Sim. Mas pode usar. Eu nunca usei - ele olhou para mim. Sério. Uma expressão que combinava tão bem com ele.

Eu olhei para o uniforme. Era branca com alguns detalhes vermelhos e o emblema da escola, a Academia Oshima.

Comecei a secar meu cabelo usando a camiseta.

– Na verdade, eu só usei uma vez - ele se virou pra mim.

Eu imediatamente fiquei mais vermelha do que já estava e joguei a camiseta no chão. Depois olhei pra ele com raiva e ele começou a rir. Gargalhar.

Ele se virou novamente e eu peguei o uniforme e tampei meu rosto. Levantei um pedaço e fiquei observando ele.

*FLASHBACK OFF

– Eu estou atrasada!

Eu acordei pulando. Eu dormi em um banco do parque. Até onde meu sofrimento vai me levar.

Corri na direção da saída do parque e fui em direção a escola.

••••

– Me desculpe. De novo. - eu disse fazendo uma pequena reverência à professora de exatas, a Senhora Teka.

Sentei-me no meu lugar e fiz um pequeno gesto para Mey, minha melhor amiga.

Peguei meu caderno e coloquei a mão debaixo da mesa. Lá tinha um bilhete escrito com a impecável caligrafia de Mey.

"E agora? Mais uma vez tentando esquecer ele?"

Eu olhei para Mey, mas ela estava olhando para a professora.

Eu sempre me perguntei como Mey conseguia ficar com aquela aparência. Cabelos longos e lisos, pretos como a noite. O corpo, bem, o corpo tinha as mais lindas curvas que uma garota queria ter. Ela tinha uma cor de caramelo que deixava ela destacada no meio de tantas garotas e garotos brancos como a neve. Os olhos me pareciam caleidoscópios que a cada hora do dia mudavam de cor.

“Não sei se você percebeu, mas ontem foi domingo. Filmes dramáticos, pipoca. O que mais você iria querer?”, eu escrevi no papel e passei para ela que tinha voltado a olhar para mim com interesse.

A professora estava explicando escalonamento de sistemas e eu considerava essa matéria relativamente fácil, então voltei minha atenção para a troca de bilhetes com a Mey.

“E eu sei o motivo para você gostar tanto desses filmes Asayo. Você tem uma carinha bonita, então esquece esse cara.”

Esquece esse cara? Eu já tentei muito. De verdade, eu tentei. Mas hoje, com meus 15 anos eu percebi que eu nutri um sentimento muito forte por ele.

Depois de ler aquilo, eu me levantei e joguei o bilhete na lixeira, lancei o meu melhor olhar de desprezo para ela, que começou a rir, e me sentei no meu lugar. Mas eu ainda estava com sono, e ainda faltavam trinta minutos para o intervalo e decidi que dormir era a melhor opção.

*FLASHBACK ON

Eu tinha acabado de ser confrontada na frente da biblioteca e não tinha como fugir.

– Pare de ser tão infantil, Rioko! - eu já estava com raiva dele.

Rioko era um garoto que me perseguia sempre, querendo saber da minha vida.

– Então me fala o que existe entre você e o Yamamoto, Kisumatsu! - ele continuava a insistir nisso.

– Não existe nada entre a gente! E isso não é uma coisa que você precisa saber!

Eu estava com vontade de estapear aquele menino, mas não o fiz por que eu sabia que acabaria comigo no chão.

– Então é verdade que você odeia todos os garotos?

– Sim! Eu odeio todos os garotos! Vocês são tão chatos e infantis que me dão nojo - eu explodi.

Naquele momento, o Hiroshi saiu da biblioteca, olhou para mim com uma expressão triste e virou as costas.

Eu não consegui fazer nada, apenas fiquei olhando ele ir embora. Imóvel. Com cara de paisagem. Incapaz.

Depois disso eu fiquei esperando ele no parque, exatamente às nove horas, mas ele não apareceu. No outro dia, eu escutei vários garotos comentando que o Hiroshi havia sido transferido.

Quando cheguei em casa naquela noite, eu chorei até dormir. Não comi. Não banhei. Só chorei.

*FLASHBACK OFF

– Ei Asayo! Você devia parar de dormir na sala de aula - era Mey me acordando.

Não havia ninguém na sala, exceto ela e eu.

– A lanchonete vai fechar! - eu me levantei e corri até a lanchonete com Mey gritando: "Espera Asayo!”.

Se tinha uma coisa que eu amava tanto quanto o Hiroshi, era a comida da lanchonete.

– Oi tia! - eu disse sorrindo para moça da lanchonete.

– Ah! Oi Asayo, achei que nunca mais ia voltar aqui.

Eu escolhi dois biscoitos de atum e um pacote de pipocas.

– São cento e dez iens.

Eu a paguei e voltei saltitando para a sala, com o biscoito na boca.

– Hiroshi-kun. Espera - eu escutei atrás de mim.

Virei-me e vi dois garotos indo em direção ao "Hiroshi".

Ele era um garoto provavelmente a mesma idade que eu, cabelos negros bagunçados, olhos cinzentos e as mesmas covinhas que o meu Hiroshi.

Fiquei olhando eles conversarem até que Mey me chamou.

– Asayo. Não é ele. O seu foi embora há muito tempo, não tem como ele aparecer na sua frente agora.

E eu continuei andando. Fazia sentido o que Mey dizia. "Ela tem razão. Ele saberia que se ele aparecesse na minha frente de novo eu ia espancar ele", pensei.

Mey veio ao meu lado, falando sobre maquiagem e garotos. Sinceramente, eu não entendia a cabeça daquela menina. Eu não prestei atenção em nada do que ela disse. Estava totalmente absorta naquele garoto. Quem ele era de verdade? Por que seu nome era Hiroshi? Por que era tão igual ao meu Hiroshi? Eu não conseguia entender por que “ele” me lembrava tanto ele.

Eu estava tão desatenta que acidentalmente esbarrei em um garoto e meu biscoito de atum, ainda pela metade, caiu da minha mão.

Antes que eu abrisse a boca para gritar: “Não! Meu biscoito não”, o garoto pegou o biscoito e me entregou.

– Biscoito feio – ele disse.

Eu fiquei paralisada com aquele ato. A voz. Era mais grave, mas ainda assim a mesma. O cheiro de xampu. Ele não tinha mudado nada.

Deixei Mey para trás e corri atrás do meu Hiroshi. Desci os quatro lances de escada até o pátio, onde descobri que eu era apaixonada por ele. Ao chegar lá eu o vi e me preparei para gritar seu nome.

– Hiroshi-kun!

Mas a voz não era minha. Era de um garoto atrás de mim. Continuei olhando para o Hiroshi e ele se virou para o menino com um sorriso no rosto.

– Me espera. – disse o garoto.

E eles se foram. Eu fiquei enraizada no chão. Sem me mover. Sem olhar. Sem falar. Só respirando. Eu tive a certeza de que ele sorriu quando olhou para mim. Mas ainda sem a certeza do fato.

••••

Eu virei à rua para pegar o atalho. O nome Hiroshi não saia mais da minha cabeça e nem sairia. Depois do que aconteceu no pátio, eu nunca mais vou esquecer ele. O sorriso. A expressão séria. As covinhas. A voz. Nada.

Quando entrei na rua eu vi o garoto que era o Hiroshi falso. Apressei o passo até ficar perto dele e ele parou de andar e me olhou.

– Eu não estou te seguindo! Meu bairro também é por aqui.

Ele me ignorou e continuou andando até chegar à entrada do parque. Ele parou e olhou para mim com um sorriso no rosto.

E entrou no parque.

E aí eu tive a certeza de que ele era o Hiroshi.

Eu entrei atrás dele e fui na direção da cabine de informações. Ele estava sentado sob a mesma sacada de cinco anos antes.

– Yamamoto-kun? – eu perguntei timidamente.

Ele olhou para mim com um sorriso no rosto.

– Não. Eu sou o Tamura.

Que idiotice a minha. Como Mey disse, ele não iria voltar nunca mais.

– Desculpe-me, foi um engano.

E virei as costas para ele, mais enrubescida que nunca.

– Caiu de repente.

E eu fiquei paralisada, como em muitas outras vezes no dia. Meu dia foi muito travado.

– Hi-Hiroshi-kun? – eu perguntei ainda de costas.

– Sim. Mas agora não sou mais Yamamoto.

Tudo estava diferente. A voz. A altura. A personalidade. E até o nome!

– Eu voltei no primeiro semestre, mas não achei que ia demorar tanto até você me descobrir.

Eu me virei. Desde o primeiro semestre? Mas já estamos no terceiro.

– Eu tive problemas com a minha família, mas isso não tem importância. Você odeia todos os garotos.

E isso era verdade.

– Sim. Eu ainda odeio. – eu disse fazendo uma longa pausa – Mas você era diferente, Hiroshi-kun.

E foi aí que eu me declarei pro meu primeiro e único amor.

– Ah. Sério? – ele disse como se ele tivesse sido pego desprevenido – Eu também.

– Mas o que?

– Eu... – ele disse e depois tampou os olhos com a mão direita – Eu também te amava.

E foi aí que eu fiquei fora de mim. O mundo pareceu girar em torno de mim. Então isso quer dizer que podemos voltar aos velhos tempos.

– Que pena, - ele tirou a mão dos olhos – que não podemos voltar ao passado.

E aí o mundo parou de girar. Eu voltei para mim. O que ele estava dizendo?

– M-mas... – eu comecei a chorar.

– Não chore. – ele começou a andar na direção do parque – isso não é jeito de receber um amigo de infância.

E aí eu chorei mesmo. Chorei como uma criança.

– Já disse pra não chorar – e deu um tapa na minha testa.

E eu fiquei ali mesmo. Sozinha. Chorando. E mais triste do que nunca.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até o final! :3
Até o próximo capitulo.