Todos em casa estavam dormindo exceto eu.

Como em todas as noites de domingo, eu fui até a cozinha, estourei pipoca no micro-ondas e deitei no sofá para assistir a famosa maratona de filmes dramáticos na TNT.

Mesmo tendo de ir para a escola no outro dia, eu ficava até altas horas da madrugada assistindo aos filmes. E hoje não foi diferente.

Quando eu via as pessoas sofrendo e chorando por amor, eu me sentia reconfortada e dizia: "Pelo menos não sou a única a enfiar o rosto no travesseiro e chorar até que as lágrimas sequem".

Quanto ao motivo. Bem, foi há muito tempo atrás.

*FLASHBACK ON

Foi durante uma brincadeira de policia e ladrão que percebi o quanto o amava. Éramos do quinto ano do fundamental.

Eu era do time dos ladrões e tinha dez segundos para me esconder.

Corri pelo pátio e me escondi atrás da casinha para as garotas pequenas e para minha surpresa Hiroshi também estava lá.

Ele era um menino alto, esbelto, com cabelos negros bagunçados e os olhos cinzentos mais lindos que eu já vi.

- Me desculpe. Eu vou me esconder em outro lugar Hiroshi-kun.

Eu comecei a me virar, mas ele me puxou pelo braço e eu fiquei a centímetros da nuca dele.

- Agora não Asayo. O time dos policiais está procurando.

O cabelo dele tinha cheiro de xampu. Um cheiro doce e suave.

Ele se levantou de repente e correu na direção do centro, onde os policiais colocaram uma bela pedra branca para servir como joia, e ao chegar à metade do pátio, foi pego por um menino.

Ele foi se sentar no círculo que demarcava a prisão com uma expressão de desanimo, o que deixava ele com covinhas.

Eu continuava escondida, me culpando por ele ter sido pego e percebi que ficar me lamentando não ia adiantar nada. Eu corri na direção dele para tentar o salvar.

Antes mesmo de eu chegar ao centro eu fui pega e fui me sentar ao lado dele no círculo.

- Obrigado - ele disse timidamente.

- M-mas por quê?

- Por ter tentado me salvar.

E foi aí que eu percebi que estava ao lado do meu primeiro e único amor.

Após o término do recreio, eu caminhei para minha sala, que ficava no final do corredor. A sala 301 se eu não estou enganada.

Ao passar pelas escadas, alguém me puxou e eu e o dono da maldita mão caímos escada abaixo.

- Seu idiota – eu disse esfregando a cabeça - Você não tem noção do que poderia ter acontecido? Nós poderíamos morrer! Idiota.

- Ei, ei. Calma Asayo – ao escutar a voz, eu me arrependi de ter gritado com ele.

Lógico que era o Hiroshi.

Eu não conseguia me ver, mas com certeza eu tinha enrubescido. E muito.

- Hiroshi! Desculpe-me – e agora eu tinha mais que a certeza de que tinha enrubescido – Eu não queria gritar com você!

Ele estava tentando se levantar, mas estava fazendo careta e com a mão no joelho.

- Eu já esperava de você – ele estava tentando sorrir o que deixava ele com as covinhas ainda mais profundas. Naquela época eu tinha tanta vontade de poder passar as mãos naquelas covinhas.

Em um instante eu não entendia o que tinha feito ele me esperar, mas no outro instante eu pensei: “O que mais um garoto quer com uma garota? Só ele e ela.”.

Eu fiquei muito envergonhada. Todos os músculos do meu corpo se contraíram e eu fiquei imóvel.

- Bem... O motivo de eu vir aqui... – ele colocou as mãos sobre os olhos, como ele sempre fazia quando estava com vergonha – Você quer ir ao Festival das Sakuras no domingo à noite?

- Mas... Eu... Não sei... – eu estava gaguejando muito. Surpresa demais. Inexperiente demais. Tímida demais. Era assim que eu me sentia.

- Te pego as nove – e ele saiu correndo.

Mesmo tendo ficado sem fala, eu senti que esse era o melhor dia da minha vida.

*FLASHBACK OFF

Já era o terceiro filme que eu assistia. Os dois primeiros foram “Cartas para Julieta” e “Meu Novo Amor”. Durante esses dois filmes, eu me mexi tanto, chorei tanto, derrubei tanta comida, que a sala mais parecia uma arquibancada.

Meu cobertor estava no chão, junto com a bacia virada de pipocas. O cheiro de bacon, proveniente das pipocas, infestava a sala e entrava pelas minhas narinas, satisfazendo por segundos toda a ânsia que eu sentia.

- Asayo! De novo? – minha irmã entrou na sala fazendo uma careta e logo após abrir um grande sorriso, se lançou nos meus braços. Eu a acolhi e acariciei sua cabeça.

Ela era minha cópia, era o que todos diziam e eu concordava, mas não antes de dizer: “Exceto pelos óculos e carisma”, e todos caiam na gargalhada.

Mas era mentira. A parte do carisma, digo. Ela era uma pessoa tão extrovertida e tão naturalmente sedutora, que todos os meninos se curvavam à sua vontade, mas é claro que ela não gostava disso.

- E mais uma vez, eu, Asaki, terei que limpar a sala – disse ela fingindo uma cara de desanimo.

- Me desculpe Asaki. Mas é que... Bem... Você sabe como eu fico quando assisto a esses filmes.

- Sim, eu sei. Os filmes que você adora tanto que assistiria até o amanhecer, mas eu acho que é hora de dormir.

- Tudo bem. Desculpe-me de novo – e eu abracei ela com mais força que o normal.