O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 8
Corpos separados...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/544847/chapter/8

Ela baixou-se para pegá-lo.

Como um cavalheiro, David abaixou-se também e suas mãos tocaram-se sobre o livro. Uma corrente pareceu percorrer a pele de ambos e a moça pensou em puxar a sua mão. Mais rápido, ele a segurou firme e dominado por uma forte emoção, inclinou-se para ela tocando-lhe os lábios com os seus. Ela mergulhou no mar azul dos olhos dele, deixando-se levar por aquela emoção breve e arrebatadora. David fechou os olhos sentindo a maciez dos lábios dela naquele breve segundo.

O rapaz abriu os olhos no momento em que os lábios se separaram e eles levantaram-se. Por um momento Ângela olhou para o chão, mas ele não deixava de encará-la. A entrada de Maggie foi providencial para os dois, pois eles ficaram sem ter o que dizer um ao outro.

– Desculpa a demora professor, levou mais tempo do que eu pensava colher as ervas para o tônico do avô de Thomas. – ela se calou ao olhar para o casal e ver sua neta corada até a raiz dos cabelos e seu visitante muito interessado no design do vaso sobre a mesa.

– Por favor, não se desculpe, senhora Dougherty. – ele pediu. Mas os olhos experientes da anciã viram que ele estava muito perturbado.

– Vejo que o senhor conheceu minha neta Ângela.

– Na verdade, vovó, eu e o senhor Marshall já nos conhecíamos. – ela lançou um olhar encabulado para o rapaz.

– Mesmo?! – os olhinhos azuis da senhora passavam de um para outro.

– Sim. Foi o carro que ele estava que quase me atropelou quando atravessei a rua sem olhar.

– Eu disse que a levaria em um hospital, mas sua neta disse que não havia necessidade. – ele declarou a guisa de desculpas.

– Bem, agora que a senhora voltou, vou me preparar para ir ao trabalho. Com licença. – Ângela se encaminhou para a porta.

– Senhorita. – David a chamou.

Ela voltou-se rapidamente, os cabelos volteando ao redor dela.

– Sim, senhor Marshall.

Ele estendeu o livro para ela.

– Agatha Christie. É a minha escritora favorita. Poderíamos conversar mais sobre os livros dela. E, por favor, é só David.

Ela sorriu colocando uma mecha dos cabelos atrás da orelha.

– É claro. Ficarei encantada em conversar com você algum dia desses. E, por favor, é só Ângela. – ela se virou e saiu da sala.

Maggie viu os dois juntos e seus olhos saíram de foco por alguns segundos enquanto a Visão formava-se a sua frente. A sombra de um carvalho frondoso, uma jovem em trajes do século 17 colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha minutos antes de um rapaz levantar seu rosto e beijá-la.

– Senhora Dougherty? – David a chamou tocando de leve em seu ombro.

– Hã? – Maggie piscou os olhos olhando para o rapaz na sua frente. - Ah sim, meu jovem. Deus! Devo estar ficando velha... Cochilando assim de pé agora. – ela riu, divertida.

David notou que ela havia trocado o vestido verde escuro por outro de verde mais claro e colocado sandálias. O cabelo branco ainda estava trançado.

– Que nada. A senhora ainda é muito jovem.

– É a magia, rapaz... – ela se inclinou com se confiasse um grande segredo – De um bom creme antirrugas. Venha, o dia está tão agradável. Vamos para o jardim. Podemos conversar lá.

***

Ângela entrou em seu quarto e encostou-se na porta. Ela não podia acreditar na audácia do americano. Quem ele pensava que era para beijá-la? Ela tocou os lábios com a ponta dos dedos. Seu coração acelerava só de lembrar-se do calor dos lábios dele sobre os seus. Por que ela sentia-se assim quando estava com ele? Nem quando era uma adolescente e tivera um namorico com o popular Neil na escola secundária ela se sentiu assim. Tão viva. Era possível que as teorias de sua avó estivessem certas? Que a Visão que ela tivera no dia anterior fosse verdadeira?

Ela foi até a janela. Nesse momento, sua avó e David atravessavam o gramado em direção à mesinha com guarda sol onde ela estivera há pouco. Marlon, o gato da família, ocupava uma das cadeiras. Ele era um gato arisco com estranhos, como David reagiria ao vê-lo mostrar as garras e rosnar?

Mas para sua surpresa, não foi o que aconteceu. Assim que os humanos chegaram perto, Marlon, com toda a sua arrogância felina, pulou da cadeira e sentou como se olhasse fixamente para David. O americano olhou para o gato e o bichano pulou para o colo dele. Diferentemente de Neil, que a visitava algumas vezes, Marlon aconchegou-se no colo do professor, que era um completo estranho. David o acariciava enquanto conversava com Maggie.

Ela olhou a forma como os dedos de David tocavam os pelos sedosos do gato e imaginou como seria ser tocada da mesma forma.

Irritada pelos pensamentos que corriam soltos pela sua mente, ela saiu da janela. Jogou o livro sobre a cama. Ela precisava era de um bom banho frio.

***

– Então, como eu expliquei para a senhora. Se eu puder tirar fotos da Torre e da vista de cima, alem de ser mais uma bela imagem para o meu livro, instigaria os leitores a vir para a região conhecê-la.

– Turismo histórico... É uma possibilidade que pode ser estudada, professor Marshall. Vou encaminhar suas ideias para o Conselho da cidade.

– E quanto à visitação à Torre? A senhora me autorizaria? – David recostou-se na cadeira, o ronronar do gato em seu colo o relaxava.

– Sim. Se me contar suas verdadeiras intenções.

– Minhas verdadeiras intenções? Eu já expliquei à senhora. O livro sobre a Besta de Donegal.

– Não... – ela balançou a cabeça negando. – O livro é seu disfarce, professor. Quero saber por que veio até aqui. – Maggie inclinou-se para ele como se quisesse ler sua mente.

– Senhora Dougherty...

– Maggie. Pode me chamar de Maggie. E não adianta me enrolar, rapaz. Mesmo se eu não fosse uma bruxa, tenho idade suficiente para saber se alguém está mentindo para mim.

– Obrigada. – ele agradeceu a deferência – Maggie, eu tenho que omitir a verdade para proteger vocês.

– David... Posso chamá-lo de David? – Maggie perguntou. David assentiu. – Obrigada. Se algo pode ferir minha família ou meus amigos, eu exijo que você me conte. – A velhinha havia adotado uma postura mais enérgica.

– Eu pertenço a uma organização que investiga o sobrenatural. Depois da morte do meu mentor, um homem que eu considerava um segundo pai, eu passei a investigar aparições de vampiros.

– Vampiros? Tipo o Conde Drácula?

– Isso. – ele assentiu sério.

Ao contrario do que David esperava Margaret Dougherty não se levantou e apontou o dedo para a saída, o chamando de louco. Ela apoiou os cotovelos na mesa e cruzou os dedos sob o queixo.

– Bem, eu não vou insistir no assunto, David. Eu sei que você me contará aos poucos. Eu quero que você apenas me diga: Minha família corre perigo?

– Todos correm perigo, Margaret.

Ela estendeu os braços para frente ainda mantendo os dedos entrelaçados.

– Então algo tem que ser feito. David, cada um tem a sua missão na vida. E, parece que a sua está ligada a essa... Essa criatura. Se você precisar, eu estarei aqui.

– Não posso pedir que a senhora entre nessa luta, Margaret.

– Querido, - ela levantou, deu a volta por trás dele colocando as mãos em seus ombros e sussurrando em seu ouvido de modo misterioso.

– Como saber se as histórias não são verdadeiras?

Margaret se afastou dele, declarando.

– Você tem a minha permissão para entrar na Torre, David. Iremos amanhã. E agora, vamos almoçar. – ela bateu palmas. - Cathy fez a especialidade da Irlanda. O stobhach gaelach ou guisado irlandês. Espero que você goste.

– Tenho certeza disso. Já o provei da mão da senhora Michaelis e gostei muito. E muito obrigada pela permissão. Mesmo que não seja a minha intenção inicial, com certeza vou escrever sobre meus dias aqui.

Ela já começava a andar em direção à casa quando se virou abruptamente.

– Antes que eu me esqueça. Minha neta é meu maior tesouro. E embora ela não aceite, é uma bruxa poderosa. Pense duas vezes, se for magoá-la. – antes que ele respondesse, ela voltou a caminhar.

David olhou para o gato aos seus pés.

– Tem alguma a dizer, também?

Marlon olhou para ele como se dissesse: “Se vira bonitão.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O anjo e o demonio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.