Naquela manhã, Karina saiu cedo de casa, enquanto todos dormiam, e foi direto para a Khan. Logo que entrou lá, encontrou Lobão.

–Estava na dúvida se você vinha. –disse o mestre.

–Eu quero ser uma lutadora, e se o meu... Se o Gael não me apoia, esse é o jeito.

–Você vai ver, Karina, vai se dar muito bem aqui. –disse ele se afastando.

Ela começou a treinar e logo deu de cara com Alan.

–Karina, eu sei que eu fui um babaca contigo, mas, por incrível que pareça, eu me importo com você, então sai daqui enquanto ainda é tempo.

–Se é tão ruim, por que você ainda tá aqui?

–Porque eu não tenho nada a perder; a minha avó e o Duca não querem mais saber de mim.

–E o que eu tenho? Acho que você viu...

–O vídeo? Eu vi, sim, mas isso não importa. Aqui, você só vai se perder, eu tô tentando te ajudar.

–Eu não preciso da tua ajuda, Alan.

–Você ainda vai se arrepender disso, Karina. –Karina avistou Nat; já tinha a visto em alguns campeonatos.

–O Lobão me falou de você. Vamos treinar juntas.

–Ok.

–Ele estava certo, você tem talento. –disse Nat depois de um tempo de treinamento. Lobão e aproximou e deu o selinho em Nat.

–Juntas, vocês duas vão dominar o feminino.

–--*---

René sentou-se na mesa na frente da recém-descoberta-filha. O clima era tenso.

–Olha, Jade, eu sei que isso tudo é muito louco pra mim e pra você também, eu sei que isso não vai acontecer da noite pro dia, mas eu quero ser seu pai. Eu já perdi dezessete anos da tua vida, e não quero perder mais.

–Eu não sei como é ter um pai, eu sempre achei que o meu pai tinha me abandonado, mas eu quero tentar...

–Você é parte da nossa família agora. Se você tem qualquer coisa pra falar sobre aquele vídeo, fale, você tá segura aqui. –afirma Sara.

–Não fui eu que postei, foi a Eva.

–Ela te machucou? –questionou Sara.

–Sim, mãe. Ela tá cheia de marcas e hematomas. –respondeu BB.

–Filha, isso não vai acontecer mais. –disse René.

–Jade, a Eva é muito perigosa, então, enquanto ela estiver na tua casa, você fica aqui. Eu vou ter uma conversa séria com a sua mãe. –disse Sara se retirando.

–--*---

Na Casa Duarte, Bianca acorda e vê que a irmã não está na cama. Logo, pegou o celular e começou a tentar ligar para ela. Depois de várias tentativas, recebe uma mensagem de Karina: “Vim andar um pouco na praia. Não quero ter que olhar pra cara falsa de vocês, pelo menos por um tempo.”

Bianca, irritada, responde: “Garota, vê se me respeita, que eu ainda sou sua irmã mais velha, não suas colegas. E lembra de chegar na escola na hora.”

Karina, rapidamente, retruca: “Você é minha meia-irmã, não minha mãe, então, cuida da sua vida, que eu cuido da minha.”

Bianca saiu do quarto nervosa e encontrou a família e Bete tomando café.

–Que cara é essa, menina? -perguntou Beth.

–Cadê a Karina? –questionou Gael.

–Ela diz que foi na praia. Você acredita que ela me mandou um monte de mensagens desaforadas?! –exclama Bianca com raiva.

–Ela deve ter extrapolado mesmo, pra você estar brava com ela. -comenta Gael.

–Pai, o senhor sabe que eu detesto quando ela vem falar comigo como seu eu fosse uma amiguinha dela.

–Bia, ficar brava não ajuda. A K só precisa de tempo.

–Eu sei, madrinha. Eu só tô com medo que ela se meta em confusão.

–Filha, deixa que eu e a Dandara nos preocupamos com isso. –Bianca ignorou o pai e se levantou da mesa.

–--*---

Chegando à Ribalta, Bianca deu de cara com Jade.

–Eu vou te matar, sua desgraçada!

–Bia, para. -pediu BB a segurando e a puxando. –Bi, não foi a Jade que postou esse vídeo.

–Ah, quem foi então? A Lucrécia?! –exclamou Bianca.

–Não, a Eva. A minha mãe acha que ela tá metida com o Lobão. –ela contou toda a história para a prima, omitindo, apenas, o fato de ela e Jade serem irmãs.

–Tá bom, eu vou deixar a Jade em paz, mas só porque eu sei que aquela mulher é um monstro.

–--*---

–Loirinha, queria me matar do coração sumindo daquele jeito?

–É muita coisa acontecendo, Sol.

–Eu sei. Mas não adianta você fugir. Você não pode jogar fora toda a relação que você tem com o teu pai e a tua irmã.

–Eu nem sei se ele é meu pai. –rebateu cabisbaixa.

–K, ele te criou desde que você nasceu. Ele é o seu pai, sim.

–Ai, Sol, não me enche você também.

–Nossa, Karina, você sempre afasta as pessoas que te amam quando você tá com raiva! Acho que tá no hora de você crescer um pouco! –disse Sol saindo. Pedro se aproximou da namorada.

–Nem começa, Pedro.

–Eu não disse nada!

–Mas pensou. Eu sei que você concorda com a Sol.

–K, eu tô tentando te ajudar, te entender, mas nunca vou concordar com o modo como você tá lidando com isso.

–Então me esquece.

–Não, Karina! Eu te amo, porra! Não vou deixar você me afastar também. –disse abraçando a namorada.

–Desculpa, Pê, eu também te amo. Agora tenho que ir.

Karina saiu da escola e entrou no carro de Lobão.

–Pra onde a gente vai? –perguntou Karina.

–Não posso te inscrever no campeonato porque você é menor de idade, mas posso te levar pra lutar num lugar que ninguém liga pra isso.

–E uma rinha? –questionou.

–Se você quer chamar assim. –Lobão balançou a cabeça.

–Eu topo.

–Eu vou passar na liga, pode ir começando a treinar. –disse. Pouco tempo depois, deixou a menina na frente da Khan. Karina entrou e se surpreendeu ao encontrar Alan aos beijos com Nat.

–Karina, por favor, não conta nada pro Lobão! –implorou Nat.

–Eu não conto, mas por que...

–Eu me envolvi com ele por ambição. Eu, assim como você, queria ser uma campeã a qualquer custo. Agora eu tô presa ao Lobão por medo. Ele é perigoso.

–Eu não tenho mais nada a perder. –disse Karina.

–Eu também pensava isso... –respondeu Nat.

–Então, por que vocês ainda estão aqui? –questionou curiosa.

–Porque nós não temos escolha. -respondeu Alan.

–Eu não conto nada. Prometo. –tranquilizou Karina. –Agora, vamos treinar.

–--*---

–Diego, Alan, Nat e Karina, vocês que vão hoje. E não ousem me fazer perder dinheiro. –disse Lobão assim que entrou na academia.

Eles chegaram a um grande galpão. O chão era de cimento, havia um grande número de pessoas para assistir e para participar.

–Lobão, quem você vai pôr pra desafiar o meu campeão? –questionou um mestre de outra academia.

–Minha mais nova aquisição, Karina!

Assim que ouviu seu nome, a loira olhou para o adversário. Ele era maior e mais forte. Eles colocaram as luvas e entram um em um ringue improvisado no chão de cimento.

–Alan, Nat, fiquem no corner. Karina é nova aqui, então eu explico. –virou-se para Karina. –Aqui, a luta é sem regras e sem rounds. Até o nocaute.

Eles começaram a lutar. Logo, o adversário começou a golpear Karina sem piedade, levando-a a encostar-se na grade. Ela conseguia proteger o rosto, mas levou vários socos no tronco. Quando tudo parecia acabado, o adversário facilitou e ficou com o pescoço abaixado tentando derrubar Karina. A loira aproveitou-se do descuido e encaixou um mata-leão. Logo, o lutador estava desacordado.

Karina saiu daquela gaiola e foi cumprimentada por Lobão.

–Parabéns, Karina.

–Obrigada, mestre.

–Tá aqui a sua parte no prêmio. -disse entregando para garota um maço de dinheiro.

Naquela noite, Nat e Alan também venceram as suas lutas.

–Karina, acho que se você voltar assim pra casa, vai ter problemas. Vem comigo pra minha, que eu dou um jeito nisso. -disse Nat.

–Ok, obrigada. –a morena entregou secretamente um bilhete para Alan, que sorriu de canto.

–--*---

As duas foram de moto até a casa da morena.

–Eu vou limpar isso, depois vou esconder com maquiagem.

–Valeu. O Alan parece outra pessoa...

–Posso dizer que nós dois quebramos muito a cara e aprendemos. A gente se gosta, sabe...

–Eu e o Alan... –começou Karina.

–Eu sei, ele me contou. –interrompeu Nat.

–Ele era tão possessivo e ciumento... Como que ele fica de boa com essa historia do Lobão?

–Ele não fica, nem eu, mas esse cara é perigoso. Você não precisa passar por isso...

–É o único jeito de conseguir ser uma lutadora.

–Que seja, mas não vale a pena. Quando eu entrei pra Khan, eu era como você, cheia de sonhos. Agora, minha vida parece mais um pesadelo. –disse Nat enquanto usava a maquiagem para encobrir o ferimento de Karina. A loira observou uma adolescente em um porta retrato.

–É a minha irmãzinha, ela mora em Macaé, com os meus pais. Você me lembra ela... –disse Nat, quando percebeu a direção do olhar de Karina.

–Por isso que você tá me ajudando...

–Talvez. Se ela tivesse nessa situação, ia querer que alguém ajudasse.

–Obrigada por tudo. Agora, eu vou pra casa. –disse Karina se levantando.

–Quer uma carona? –perguntou Nat, se levantando também.

–É melhor não, não quero ninguém desconfiando.

Ela saiu e pegou um táxi até em casa.

–--*---

–Karina, por onde você andou?! -perguntou Gael.

–Eu estava por aí...

–“Por aí” aonde? Tá toda suada...

–Estava correndo... Eu vou tomar um banho e vou pra casa do meu namorado. –desconversou.

–Você não vai pra lugar nenhum! –exclamou Gael.

–Gael, deixa ela ir. Pelo menos, ela vai estar em segurança. -argumentou Dandara.

–Tá bom, você pode ir, mas quero te ver em casa amanhã cedo! –Karina ignorou Gael e saiu.

–--*---

Assim que bateu na porta, foi recebida por Tomtom.

–Oi, baixinha!

–Oi, K. Você tá bem?

–Eu vou ficar, não se preocupa. Cadê o seu irmão?

–Minha esquentadinha, eu tô aqui. -disse abraçando a namorada.

–Eu vou dormir na casa da Ju hoje. Tchau pra vocês. -disse Tomtom saindo.

–E aí, namorada, quer eu faça um lanche especial pra você?

–Quero, sim, tô cheia de fome.

Depois de comerem, Pedro e Karina foram para o quarto assistir um filme.

–É tão bom estar aqui com você... –disse Karina se aconchegando mais nele.

–Eu vou estar sempre do seu lado, minha esquentadinha. -disse ele e a beijou. Logo esqueceram do filme, e começaram a se beijar. Quando Pedro levantou a blusa da namorada, notou alguns hematomas.

–Karina, quem fez isso?

–Foi uma briga...

–Poxa, Karina! Você some sem dar notícias, fica enxotando todos os seus amigos, e agora se mete em briga! –gritou Pedro, enraivecido.

–Pê, calma! –pediu Karina.

–Calma?! –exclamou. –Você é minha namorada, eu te amo! Eu não quero que você se machuque! Promete que não vai mais brigar. –implorou a última parte, mais calmo.

–Eu prometo, mas, por favor, não fala nada pro meu pai nem pra Bianca.

–Tá, eu prometo. -eles se abraçaram.

–--*---

Pedro acordou, aproveitou que Karina ainda dormia e mandou uma mensagem pra Bianca.

“Bia, preciso falar com você. Me encontra na Ribalta, atrás do palco, em 1 h.”

Bianca acordou e viu a mensagem. Rapidamente respondeu.

“Eu já até imagino o que é. Estarei lá.”

Pedro recebeu a mensagem e quando terminou de ler, Karina acordou e viu o namorado no celular.

–Estava falando com quem? –questiona.

–Além de “esquentadinha” é “ciumentinha”? –riu. –Era só o Johny.

–Amor, tenho que ir. Quero passar no QG antes de ir pra casa. E nem começa, –interrompeu Karina, percebendo que o namorado ia argumentar. –o Cobra é meu amigo e eu nem falei com ele desde que tudo isso aconteceu...

–Pode deixar... –resmungou Pedro.

–--*---

Karina chegou no QG e foi abraçada por Cobra.

–Nossa, novinha, você deu um susto em todo mundo. Como você tá?

–Eu não sei. Eu tô confusa, sabe...

–Olha, eu sei que eu não sou o cara ideal pra falar de família, mas, justamente por isso, eu vou falar. Se isso é mesmo importante pra você faz esse exame, mas não deixa um pedaço de papel mudar a tua vida.

–Não conhecia esse teu lado, minhoca... –sorriu Karina.

–--*---

–O que foi, Pedro? É a Karina, né? –disse Bianca. Os dois estavam atrás do palco na Ribalta.

–É. A gente estava namorando e, quando ergui a blusa dela, eu vi uns hematomas...

–Meu Deus! O que ela disse?

–Que se meteu numa briga. Eu prometi pra ela que não ia te contar...

–Escuta, Pedro, você nunca me esconda nada desse tipo, por favor.

–O que você vai fazer? –perguntou Pedro.

–Eu vou falar com a minha irmã, preciso ter certeza de uma coisa...

–Ela vai ficar uma fera comigo, mas você tá certa.

–Obrigada por me contar e por estar ajudando tanto a K. –agradeceu.

–Você não precisa agradecer, Bia, eu amo muito a sua irmã. –sorriu Pedro.

–Você sabe onde ela tá?

–Foi no QG falar com o “Minhoca”. –Bianca saiu em passos rápidos a encontro da irmã.

–--*---

–Karina, precisamos conversar, agora!

–Me deixa em paz, garota! –ela se esquivou da irmã e foi andando até a praça. Mas Bianca a alcançou e segurou seu braço.

–Como você conseguiu um monte de hematoma?

–Não acredito que aquele moleque abriu a boca! –exclamou Karina, irritada.

–Me responde, Karina! –exclamou Bianca.

–Não é da sua conta! –gritou.

–Você foi pra Khan, né? –perguntou Bianca, com medo da resposta.

–Claro que não! Tá maluca?!

–Espero que você não tenha ido. Eu juro por Deus, que se souber que você está indo naquele lugar, te arrasto de lá a força.

–Eu não tô indo pra lá, então me esquece...

–Caramba, Karina. Quando você vai entender que eu te amo demais pra te esquecer, pra te deixar em paz?! Se você quer me ignorar, me xingar, eu não me importo, mas, por favor, para de se pôr em perigo. –pediu ela com a voz embargada.

Karina respirou fundo. Por um momento, ela quis se jogar nos braços da irmã e chorar, mas ela não podia fazer isso. Afinal, não conseguia ter mais certeza de nada.

–Eu sei me defender muito bem. Agora, me solta. –Karina se livrou da irmã mais velha e foi até o Perfeitão. Encontrou Pedro limpando uma mesa.

–Amor... –disse Pedro quando a viu.

–Por que você foi abrir a boca logo pra louca da Bianca?!

–Porque ela é sua irmã! Se fosse a Tomtom, eu ia querer saber!

–É, mas eu sou sua namorada, e você prometeu!

–Justamente, Karina, você é a minha namorada e eu não quero te ver machucada de novo. Eu tô tentando te proteger de você mesma, e eu vou, sim, pedir ajuda pra sua irmã nisso.

–Eu achei que você estava do meu lado.

–Eu tô, Karina, aliás, todos nós estamos, você que parece estar contra você mesma! Mas eu não vou desistir de você, nunca, mesmo que você pareça ter desistido de você mesma. –sentenciou.