Pedro e Karina se deitaram no banco de trás do carro. Karina chorava muito e Pedro a abraçou.

–O Gael sempre foi meu ídolo, sabe, e saber que eu posso não ser filha dele... Ele sempre tratou a mim e a Bia diferente. Mas, o que mais ele faria?! Eu posso ser de outro cara... -ela respirou fundo e continuou. -E se só essa duvida já faz isso, se isso for verdade eu tenho medo de ele não me amar mais... E a Bia, ela sempre foi meu porto seguro, sabe, e se eu for só meia irmã dela, fruto de um erro da nossa mãe... Não vai ser a mesma coisa.

–K, me escuta, eu tenho certeza que nada disso é verdade, mas você precisa ouvir isso deles...

–Eu não consigo Pedro. Se não fizesse diferença, por que meu pai me enganou a vida toda e a Bia mentiu pra mim quando o Lobão falou aquilo? Ai meu Deus, será que o Lobão é meu pai?

–K, ele não era amigo do seu pai? Pode ser que ele só saiba da história... Olha amor, eu sei que nada que eu diga vai fazer você se sentir melhor, mas eu te amo muito e eu vou estar do seu lado. Sempre, minha Esquentadinha.

–Eu também te amo muito, Pê. Eu não sei o que faria agora sem você.

–--*---

Gael entra em casa e corre para o quarto da filha.

–Cadê a K? Eu vou buscar ela.

–Pai, o Pedro já disse que ela tá bem. Dê um tempo pra ela absorver tudo isso...

–Eu preciso ver a minha filha, abraçar ela...

–Eu também pai, mas se formos lá vai ser pior.

–Amor, a Bia tá certa.

João entrou no quarto.

–Tá, eu quero falar com esse garoto, então. -Bianca ligou para Pedro, que saiu do carro pra falar com ela sem ser ouvido.

–Oi, Bia. -Bianca colocou o celular no viva voz.

–Como a K tá?

–Ela chorou até dormir.

–Garoto, cuida bem da minha filha.

–Sogrão, eu já prometi isso pra Bia e prometo pro senhor também.

–Pê, a K te falou alguma coisa? -Pedro respirou fundo, sabia que doeria muito para o sogro e a cunhada ouvir aquilo.

–Ela falou que tem medo de vocês não a amarem da mesma forma se isso for verdade...

–Garoto, trás a minha filha pra casa assim que amanhecer, pra eu dizer pra ela que isso não é verdade.

–Eu vou fazer isso. -ele também falou do Lobão; que ela achava que ele podia ser pai dela.

–Aquele desgraçado! Pedro, obrigado de verdade por ter achado a Karina. -com isso, terminou a ligação.

–Como a Karina pode saber desse cara?

–No exame de grau, ele falou pra ela que ela tinha herdado o talento do pai. Eu respondi que era novidade ele elogiar o meu pai, mas pra ele ficar longe da K. Ele disse que estava falando do pai dela, não do meu.

–Maldito. Você tinha que ter me contado, Bianca!

–Eu sei, tá. Não queria que você brigasse com ele, mas eu o segui até a Khan...

–O QUÊ?!

–Pai, eu precisava saber o que ele queria com a Karina. Eu ouvi ele dizer que podia ser pai da K, e que ia leva-la pra Khan...

–Você se arriscou demais!

–Pai, eu só estava pensando em proteger a K...

–Meus amores, discutir isso não vai resolver. A gente precisa decidir o que vai contar pra K.

–Ela não pode saber que aquele cara pode ser o pai dela. Muito menos que ele violentou a mamãe. -nesse momento, João entra.

–Então, esse cara é um mostro mesmo.

–Ele é, filho, mas ele nunca mais vai chegar nem perto de nenhum dos meus filhos.

–A K não pode saber mesmo. Eu preferia não saber, se tivesse escolha...

–Eu vou falar pra só uma parte da história. Quando a Sara ouviu Ana falar pro René que a Karina não podia ser dele. Que quando eu fui confrontar ela, ela passou mal e descobrimos que ela estava doente e eu resolvi esperar a K nascer pra resolver o que ia fazer. Não vou estar mentindo, só vou esconder uma parte da história.

–Eu odeio mentira, mas nesse caso a ignorância é uma benção.

–Tudo isso por causa da Jade! Eu vou matar aquela garota!

–--*---

Lucrécia estava viajando e Jade estava sozinha em casa. Edgar precisava fazer algo; a obsessão de Lucrécia pela carreira de Jade estava destruindo a menina. Ele gostaria de ser o pai da garota, mas sabia que não era, e, mais importante, sabia quem era. Precisava contar a verdade para Jade. Ele bateu na porta da casa dela, já que não tinha risco de a Lucrécia estar lá.

–Ed, tá tudo bem? Entra.

–Não, Jade, não tá nada bem. A sua mãe está te levando a cometer erros que não têm volta. Tá na hora de você saber toda a verdade.

–Que verdade?

–Sobre quem é o seu pai.

–Mas, a minha mãe disse...

–Ela mentiu. Bom, quando o René e sua mãe eram mais novos, eles tiveram um caso, e logo sua mãe ficou grávida. Ele fez o DNA e deu negativo, pelo menos era essa história que ela contou pra ele. Eu e sua mãe falsificamos o exame. O René é seu pai e a Barbara é sua irmã.

–Meu Deus, Ed. Vocês dois me enganaram a minha vida toda, é isso?

–Jade, você precisa de ajuda e eles podem te ajudar...

–Depois desse vídeo, eles não vão querer me ver nem pintada.

–Eu falo com eles. Se dá uma chance... -Jade pensou; por mais confusa que estivesse, ela precisava se afastar de Eva.

–Ed, me promete uma coisa. Promete que não vai deixar a minha mãe sozinha?

–Nunca.

Ele, então, bateu na porta do amigo de Ribalta.

–Ed, meu velho, entre. -disse e foram até a sala onde estavam Sara e BB.

–Preciso falar com você, a sós.

–Ed, se não for pessoal sobre você, não tenho segredos com Sara ou BB.

–Acho que a Bárbara deveria saber. É sobre a Jade.

–Olha Ed, eu tento ajudar a Jade, mas ela passou de todo e qualquer limite. -disse a Ruiva.

–Eu sei, por isso que eu vim aqui. A Lucrécia é a culpada de tudo isso. Ela inferniza a menina com a carreira e só a humilha desde que perdeu o papel... Ela fez esse vídeo pra conseguir o maldito papel e um pouco de amor da mãe.

–Todos dessa idade, não sendo um doente, têm concerto. E eu já vi essa menina ajudar os colegas da Ribalta, o Jeff, por exemplo. -afirmou Sara.

–Pois é, mas o que me trouxe aqui não foi o presente, foi o passado. A Lucrécia te enganou. Ela falsificou o DNA e eu ajudei, René, você é, sim, o pai da Jade.

–O QUÊ?! E com que direito ela fez isso?! Escondê-la de mim pra fazer a menina mendigar amor!

–René, meu amor, se acalma.

–Essa é uma medida desesperada da minha parte. Você tem direito de pai e é o único que pode impedir a Lucrécia de fazer isso com a Jade. -BB não podia acreditar no que ouvira.

–Filha, você é mais próxima dela do que nós. Se ela é parte dessa família, vamos ajudar, mesmo despois de tudo o que ela fez. Pega meu carro. Diz que você tem uma atividade do René pra fazer e traga ela pra cá.

–Mas mãe, não é muito precipitado?

–Senta um pouco, minha filha. A Lucrécia pôs uma pessoa perigosa dentro de casa.

–Quem?

–A Eva.

–O quê?

–Escuta, minha filha, ela não vai chegar perto de você. Ela tá na base agora lavando umas privadas e não vai te incomodar, eu juro.

–Eu vou, então.

BB esperava encontrar Jade ensaiando, mas não estava. Então, foi até o QG.

–Por que você fez isso, Jade? Você prometeu!

–Eu não fiz, Ricardo. Me escuta. Ela levantou a blusa e mostrou as marcas de agressão de Eva.

–Quem fez isso com você?!

–A mesma pessoa que soltou esse vídeo: Eva Lacerda.

–Essa mulher serviu com o meu pai...

–Ela é minha madrinha. Ela me deu a ideia de gravar o vídeo e chantagear a Bianca, mas eu não ia postar. Ela postou! Quando eu perguntei por que ela fez isso, ela ameaçou a minha mãe e você... –Cobra, então, a abraçou.

–Vai ficar tudo bem, minha dama. -foi quando BB entrou.

–Jade, eu ouvi tudo, e eu preciso falar com você. Eu sei quem essa mulher é, eu posso te ajudar.

–Eu não quero a sua ajuda. Por que você tá aqui?

–Eu sou sua irmã, deixa eu te ajudar! Temos que fazer um projeto pra aula do meu pai, vamos pra minha casa, por favor. E, Cobra, obrigada por cuidar dela...

–Como assim “irmã”?

–O René é meu pai. –explicou Jade. –Eu não entendo... Você descobriu isso agora? Para de fingir...

–Minha dama, vai com ela, assim sua mãe não desconfia de nada e você fica longe daquela mulher.

–Tá bom, meu vagabundo. –ela o beijou e saiu. Jade foi por medo de Eva, mas estava nervosa. Não sabia como agir ou o que dizer, queria sumir, suas mãos tremiam.

BB dirigiu em silêncio por alguns segundos, quando entrou em seu condomínio, ela parou o carro. Ela saiu, mas não destravou a porta de Jade. Deu a volta e se sentou no banco ao lado dela (A Picape possuía banco do passageiro duplo).

Jade não sabia como reagir; passara a vida inteira se perguntando sobre o pai e agora descobrira que ele era seu professor, e que BB, uma das poucas pessoas que mostrava se importar com ela, era sua irmã. Ela fez menção de puxar os cabelos, mas foi impedida pela ruiva.

–Para de se machucar assim. Eu não vou mais deixar.

–Eu nem sei o que dizer. Eu nunca... Como minha mãe pôde me esconder isso...

–Eu não sei. O que eu sei é que eu não entendia porque eu me importava tanto, agora eu sei. Eu sei também que você não teve culpa do vídeo; aquele monstro te usou...

–Não conta nada pra ninguém, eu tenho medo... -BB a abraçou.

–Não precisa, eu tô aqui. Eu não vou contar pra ninguém. Essa mulher é perigosa demais e não vou arriscar ela te machucar, mas vamos dar um jeito de tirar você de perto dela, eu prometo. Agora, vamos entrar.

–Seus pais não me odeiam?

–Não, eles entendem o que acham que você fez e o René é nosso pai. Eu sou nova nessa coisa de irmã mais velha, mas eu vou fazer de tudo, Jade, pra te ajudar. Eu sei que você não é a pessoa má que finge ser.

–Muito obrigada por fazer isso por mim... Ninguém nunca... -ela abraçou a irmã novamente.

–Vai ser diferente agora, tá? -elas saíram do carro. BB passou o braço em volta dos ombros de Jade e a guiou até em casa. De longe, do outro lado do condomínio, Eva observava a cena.

(Eva POV)

Sangue do meu sangue fazendo isso é a escoria! Já não bastava ser criada por aquela mulher... Ai, que nojo dessas meninas!

–--*---

Pedro acordou com a namorada nos braços e a cutucou carinhosamente.

–Amor, acorda...

–Então, não foi um pesadelo?

–Infelizmente, não. Eu sinto muito mesmo, meu amor.

–Eu também.

Eles foram viajaram o tempo todo em silêncio. Pedro parou o arco na frente da casa Duarte. A família esperava Karina ansiosamente na calçada. Pedro deu um abraço apertado na namorada e saiu com o carro.

–Me deixem em paz, por favor. -disse ela subindo e ignorando a todos.

–Karina, nós precisamos conversar.

–É, precisamos Gael, afinal vocês todos mentiram pra mim! Toda minha família! Aliás, nem sei se ainda tenho uma família!

–Karina, eu que te criei.

–Por obrigação! Você sempre preferiu a princesinha!

–Isso não é verdade...

–É sim! Ela sempre teve tudo o que quis, seu carinho e seu apoio no sonho dela... Mas eu entendo, afinal, eu não sou sua filha.

–K, por favor, para com isso. A gente não contou...

–“Pra me proteger” você já falou essa ladainha, Bianca. Me poupe! A verdade é que eu sou o fruto do erro da mamãe, a filha de outro cara, a meia-irmã que não deveria existir!

–K, não é possível...

–Eu não quero desculpas, eu quero saber a verdade. -Gael contou a parte da história que havia planejado.

–Quem é meu pai?

–Eu sou! E sempre vou ser! Quanto ao cara que... Você sabe... Eu não sei quem é.

–Agora me deixem fica sozinha, por favor.

No dia seguinte, Karina não foi para aula e aproveitou que João estava na escola, Bianca e Dandara na Ribalta e Gael na academia, e decidiu sair. Ela caminhou até o último lugar em que pensou que entraria na vida: a Khan.

–Karina, quando um aluno me mostrou o vídeo, sabia que você viria.

–Eu não vim pra ficar de papo, Lobão. Você é o meu pai?

–Olha, Karina, a Ana era longe de ser a santa que o Gael pinta. Acho que ela cansou rápido da vida de mãe de família. Eu fiquei com ela, sim, mas não fui o único. Escuta garota, eu não faço o tipo “pai amoroso”, mas eu posso te transformar numa campeã.

–Eu aceito, Mestre.

–Ótimo. Você começa amanhã, bem cedo. Karina saiu da academia e foi encontrar Pedro na casa dele.

–Oi, amor. Tá melhor?

–Não. Mas, pelo menos, eu sei a verdade. -disse ela. Ela repetiu pra ele a história que o pai havia contado.

–K, eu sei que isso tá sendo horrível, mas dá uma chance pra tua família. Poxa, eles te amam.

–Pedro, não insiste nisso, eu não quero brigar com você.

–Tá bom, Esquentadinha. Vamos ficar aqui abraçadinhos, então.