Seus passos eram rápidos e o vento frio parecia cortar seu rosto à medida que andava apressado. A noite havia esfriado mais rápida do que Adam poderia imaginar, mas ao menos suas roupas já estavam secas. Um misto de excitação e medo fazia algo se agitar em sua barriga, como borboletas ou pássaros se debatendo em uma gaiola. Durante aquele dia, ele quase não conseguiu trabalhar, sua mente estava dispersa e todos os eventos passados se remexiam para lá e para cá em sua cabeça. Naquela rua escura, voltando para casa ele só conseguia pensar na caixa e no que poderia haver dentro dela. Algo o dizia, fazendo-o ter certeza, de que o que quer que estivesse lá dentro responderia todos os seus questionamentos.

Um homem passou ao seu lado e Adam involuntariamente o acompanhou com os olhos. Um sorriso esticado ia de orelha a orelha e ele não possuía olhos. Não, ele era apenas uma pessoa normal, apenas mais um homem cansado voltando para casa. Uma folha foi arrastada pelo vento e ele ouviu garras estalando em algum lugar. Por um momento, as casas e os prédios do seu bairro eram altos e deformados, escuros como se estivessem cobertos de fuligem e ele quase podia ouvir os sussurros vindos das sombras, onde algo possivelmente o espreitava, esperando pela hora certa para atacar. Seus olhos o traíam em cada curva, cada esquina escondia uma ameaça inexistente, cada sombra era um assassino em potencial. Estava ficando paranoico, enlouquecendo. Ele aguentou bastante até ali, até mais do que achava que seria capaz, mas agora estava em seu limite, o coração apertava por dentro, as batidas ressoavam feito tambores e o peito parecia explodir a qualquer instante.

Quando chegou ao prédio em que morava, se apressou para dentro do hall e subiu as escadas o mais rápido que pode, mesmo assim, o sétimo andar nunca pareceu tão distante. Parou hesitante em frente a porta, segurando com a mão trêmula, a chave na fechadura. Se ele soubesse o que viria a seguir, teria aberto aquela porta? Girou a chave. O apartamento pequeno o qual vivia com a irmã estava escuro e seus olhos prontamente procuraram o objeto que tanto o intrigava. A caixa ainda estava na lata de lixo, da mesma forma que ele a havia largado. “Abra antes de dormir”, dizia na etiqueta branca. Quem poderia ter escrito aquilo e o mais importante, por quê? Pegou a caixa lentamente, como se carregasse uma bomba prestes a explodir, largou a mochila no sofá e se dirigiu ao seu quarto, trancando a porta após entrar. Sentou-se na cama e passou um longo tempo apenas olhando para aquele pedaço de papel pardo em sua frente. Ele realmente queria saber o que havia ali dentro? É claro que queria. Rasgou o papel rapidamente, encontrando uma caixa branca, levemente amassada, onde na lateral havia uma etiqueta com a palavra “ERED” e na parte superior estava escrito “PROJETO USUÁRIO FINAL”. O que poderia significar aquilo? Respirou fundo e abriu-a.

Dentro da caixa havia uma cartela com quatro comprimidos azuis, um livreto, um cabo de dados e o que mais chamou sua atenção, um estranho equipamento eletrônico que mais parecia ter saído de algum filme de ficção científica. O objeto que era preto e lembrava um par de fones de ouvido sem fio, tinha uma pequena antena na ponta de cada suposto fone, acompanhado de alguns detalhes azuis na lateral, onde deveria ser o encaixa da orelha.

Adam ficou analisando aquele objeto por um instante e logo depois pegou o livreto. Seu coração se agitou quando viu seu nome escrito na capa. Era uma espécie de manual de instruções. Folheou rapidamente as páginas e o pouco que seu olhos captaram o deixaram perplexo. De fato, a verdade da qual ele se recusava a acreditar estava agora, impressa em suas mãos. Os dedos trêmulos viraram lentamente a primeira página.

A partir daquele momento não havia mais volta.