Usuário Final escrita por Ishida Kun


Capítulo 30
Escolhas 7:2




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Adam era incapaz de se mover. A Pacificadora estava com o rosto quase colado ao seu, o atravessando com seu olhar vazio, seus olhos de íris brilhantes pareciam dois eclipses solares, perdidos em meio ao preto absoluto do espaço. A máscara de feições humanas era branca como a neve, exibindo pequenas rachaduras, lembranças das possíveis batalhas que enfrentara. As articulações que estavam à mostra no encontro da omoplata com o pescoço eram formadas por algum material escuro, recobrindo uma infinidade de fios.

A respiração de Adam estava silenciosa e pesada, nem o USV conseguia impedir os tremores de seu corpo. Sentia-se tão perdido naqueles olhos escuros, que era como se as sombras o estivessem devorando, engolindo o mundo ao redor de tal forma, que ele nem mesmo sabia onde seus amigos estavam.

Fugir? Como poderia se nem mesmo conseguia desviar o olhar daquela coisa? Se o manual realmente estivesse certo - e ele tinha certeza que estava -, aquele encontro tinha tudo para terminar em desastre.

“Não olhar nos olhos”? Era tarde demais para lembrar da regra.

A Pacificadora esticou o braço para fora do manto que a recobria e como as engrenagens de um relógio antigo, as articulações fizeram um ruído baixo de metal, provando que ela realmente era uma máquina. Seus dedos finos eram delicados como seda e quando Adam os sentiu em seu rosto, uma corrente elétrica percorreu seu corpo, mas a sensação ao invés de lhe transmitir medo, lhe trouxe uma calma sem igual. Em algum lugar de sua mente, aquela máquina o observava de dentro para fora, destrinchando tudo o que ele era, montando e remontando o mesmo quebra-cabeças de memórias.

“Você não é como eles, não é como nenhum outro que encontrei antes. Eu e você somos iguais, Usuário. Existe algo escrito em você, uma escolha que vai definir se você está com eles... ou com a Rede.”

A voz era tão clara que por um momento Adam pensou que fosse ele mesmo repetindo aquelas palavras sussurrantes, tão suaves que o lembravam do ruído que o vento fazia ao passar entre as folhas nas árvores. O que ela queria dizer com aquilo? Que escolha seria essa?

“Cedo ou tarde, você vai me procurar. E eu estarei esperando por você, no lugar onde não existem mais vozes.”

— Fique longe dele, sua vadia! — ordenou Beatriz, quase encostando o cano da arma na cabeça da Pacificadora — Não gosto de outras garotas mexendo no que é meu.

De repente, Adam estava de volta a rua desolada, foi como se tivesse saído de algum tipo de transe. Valéria estava ao seu lado, empunhando um par de submetralhadoras MP5K idênticas, uma arma leve e compacta que combinava muito bem com seu tamanho, enquanto Hector mais a frente, segurava na altura do ombro a escopeta automática HK CAWS e estava tão firme na posição de ataque, que parecia até uma rocha. Não muito longe, Carla estava agachada com o enorme rifle anti-material apoiado num pequeno tripé, àquela distância seria impossível errar. Com a exceção de Beatriz, nenhum dos capacetes mostravam seus rostos, o de Carla era completamente escuro, enquanto o de Hector exibia uma caveira em azul no lugar do rosto e Valéria tinha um emoticon que demonstrava seu estado de espírito.

Naquele momento a Cidade Silenciosa fazia valer o seu nome, a tensão que carregava o ambiente era tanta, que Adam esperava o momento em que os Helldivers soltariam fagulhas elétricas. Por que eles simplesmente não fugiram ou se esconderam? Ele estava ao alcance da máquina assassina, era um caso perdido... Por que se arriscar daquela forma? Ninguém jamais havia vencido uma Pacificadora, estariam dispostos a arriscar as próprias vidas por ele?

Se aquilo fosse um filme ou livro, Adam poderia imaginar uma infinidade de possibilidades que fariam com que ele e os Helldivers sobrevivessem àquele confronto, mas aquilo não era um livro, muito menos um filme, a realidade da Rede era outra e pelo pouco contato que ele teve com aquele mundo, ali não parecia ser a terra dos finais felizes.

— Boa noite Beatriz — cumprimentou a Pacificadora, quebrando aquele silêncio que parecia ter durado horas. Sua voz era quase um silvo, como um sussurro eletrônico vindo de algum tipo de rádio antigo.

— Eva — respondeu Beatriz, com um aceno de cabeça — Não vamos ter um banho de sangue por aqui, vamos? Você tem ideia do quanto esse tipo de coisa é ruim para os negócios?

— Achei que você soubesse que isso não depende daqueles que não tem escolha — Eva respondeu, se afastou um pouco e virou o rosto levemente para olhar Beatriz — Vi que vocês têm um novo membro na equipe. Resolvi passar para dizer... como vocês falam? Olá?

Beatriz olhou para Adam e sorrindo sarcasticamente, voltou sua atenção para Eva.

— Acho que ele não está interessado na sua amizade, sinto muito. Espero que você não insista nisso — E sorriu, agitando a pistola nas mãos — afinal, quando um garoto diz não ele realmente quer dizer não.

— Suas armas são inúteis contra mim, você sabe. — Eva disse para Beatriz, o corpo começou a falhar como uma TV fora de sintonia, enquanto mais estilhaços pareciam se desprender do capuz.

— Verdade, né? — Beatriz indagou em tom de deboche, em seguida virou a arma para si própria e a olhou, como se fosse uma criança segurando um brinquedo defeituoso, para depois dar de ombros e apontá-la novamente para cabeça da Pacificadora — É uma pena que isso não vai me impedir de usá-las. Os Helldivers não têm medo da morte.

— Você honra seus amigos de maneira louvável. Não se preocupe HeLa, não estou aqui para matar seu novo Link.

— Nunca se sabe... os filmes dizem que não devemos confiar nas máquinas.

— Se quisesse o garoto morto, não estaríamos tendo essa conversa.

Foi então que Adam percebeu que talvez Eva não estivesse sozinha. Da mesma forma que ela parecia piscar entre planos existências diferentes, ele teve a impressão de ver dezenas de outras formas como ela rastejando sobre os carros estacionados, mas a imagem passou tão rápido que ele não sabia se fora real ou não. A única certeza era a de que a Pacificadora não estava mentindo.

Beatriz baixou a arma, sendo seguida por Hector e Carla. Valéria ficou hesitante e por um momento Adam achou que ela não o faria, mas ela cedeu, balançando a cabeça negativamente.

A Pacificadora passou por Adam como se ele fosse invisível, deixando um rastro de cristais enquanto oscilava erroneamente.

— Foi um prazer conhecê-lo, Adam — disse por fim, seguindo seu rumo logo depois.

Quando Eva estava a uma distância considerável, Beatriz a chamou:

— Estamos indo para uma missão de resgate! Uma ajudinha não seria nada mal, o que acha?

Eva virou-se para olhar Beatriz e se ela não fosse uma máquina inexpressiva, Adam poderia ter entendido aquilo como um sorriso sarcástico.

— Até breve, Helldivers.

— Vadia — Beatriz sussurrou e continuou a observando até que ela desaparecesse completamente de vista.

Demorou alguns segundos para que os Helldivers saíssem da posição em que estavam, relaxando os ombros e liberando a postura agressiva, os capacetes voltando a exibir seus rostos.

— Porra! A gente quase morreu! — exclamou Carla, sentando-se no chão — Cacete! Acabamos de ameaçar a Eva!

— Eu acho que não sinto as minhas pernas! — reclamou Hector, se curvando sobre os joelhos e recusando com um aceno a ajuda de Valéria — Elas parecem feitas de borracha! Cara, isso foi demais até pra gente!

— Você parece que viu a morte nos olhos. Como se sente Adam? Tudo bem?

A princípio Adam não respondeu. Ainda estava atordoado demais para raciocinar a respeito do que havia acontecido, realmente achou que fosse morrer, então a resposta seria “sim, eu vi a morte nos olhos e ela é branca”. Ainda não entedia do que aquela tal de Eva estava falando, sobre serem iguais e sobre a escolha que deveria fazer. Como poderia escolher entre a rede e “eles”? Seriam “eles” os Helldivers? Aquilo estava se tornando uma espiral de eventos sem respostas, toda vez que ele achava que havia chego a algum ponto, algo acontecia para provar que ele apenas estava na ponta do iceberg, era frustrante.

— Estou bem, só fiquei atordoado pelo que aconteceu. Achei que ela fosse me matar... e que não existia branco na Rede.

— Por um momento realmente achei que você já era — contou Beatriz — Na verdade, achei que todos nós estávamos ferrados. E não existe branco na Rede, do que você está falando?

— Eu tive um branco quando ela ficou me olhando daquele jeito, a ponto de nem mesmo lembrar o meu nome! — mentiu, sorrindo de leve — Os olhos daquela coisa são piores que os seus! Foi como se ela estivesse vasculhando minha cabeça a procura de alguma coisa.

Beatriz ficou o olhando em silêncio, balançando a cabeça de leve a cada palavra que saía da boca de Adam e assim que ele terminou de falar, ela fez um sinal e se afastou, possivelmente para conversar com Gabriel. Era óbvio que ela não tinha engolido aquilo. Mentalmente, Adam pensou em um novo fato para incluir no seu quadro de anotações: somente ele era capaz de ver a cor branca.

— E provavelmente estava. — disse Valéria, respondendo Adam para não deixa-lo desconfortável com a repentina saída de Beatriz — Não é todo mundo que sobrevive por tanto tempo olhando para uma Pacificadora, ao menos era a Eva. Adam, acho que seu capacete deu defeito, você quer que eu dê uma olhada?

— Sim, obrigado. Vocês a conhecem?

— Ela é a guardiã do setor do Martinez. — respondeu enquanto esticava linhas reluzentes das mãos — Acredita-se que antes do Evento, todos os distritos possuíam uma guardiã, mas a maioria delas pirou. Eva é uma das poucas que ainda retém a consciência e não são apenas máquinas assassinas. Cara, aquele arquivo de memória fez um estrago daqueles...

— No final das contas não há muita diferença entre elas e os Devoradores — completou Hector, se levantando.

— Ei! Você tá me devendo um novato! — Carla já estava perto o bastante para assustar Adam com sua voz arrastada, ela falou baixo, batendo no peito dele com o braço e em seguida apontando o dedo para seu rosto — Arriscamos nosso pescoço por sua causa!

— Posso dever a minha vida aos outros, para você eu não devo nada. — respondeu friamente e se desvencilhou dela, que sorriu sarcasticamente.

Mas Carla tinha razão e essa era a pior parte. Eles poderiam ter corrido para salvar as próprias vidas, mas resolveram ficar e lutar uma batalha que sabiam que jamais venceriam. Por que? Qual o motivo de se arriscar para salvar alguém não confiável?

— Nem esquenta com a pivete aí. Agora você é família, cara. — Hector disse, se aproximando dele. Era a resposta que precisava, mas temia. Como desconfiar de alguém que colocaria a própria vida a prêmio para ajudá-lo?

Adam apenas sorriu, de certa forma aliviado e também envergonhado por desconfiar tanto daquelas pessoas. Talvez estivesse enganado, talvez os Helldivers fossem apenas os jovens arruaceiros que ele imaginava, não haviam planos mirabolantes nem teorias da conspiração, eram apenas pessoas que lutavam noite após noite para salvar o mundo de um inimigo invisível, que tinham como apoio apenas uns aos outros, como uma família. Se antes havia dado a eles o benefício da dúvida, talvez aquilo tivesse sido a certeza que precisava.

As linhas daquele horizonte tortuoso giravam, subindo e descendo e o corpo de Adam afundava no vazio da noite. Dados e códigos brincavam em seu campo de visão, como vaga-lumes numa floresta de concreto. Ele aterrissou com leveza sobre uma caixa de água, contemplando aquela visão momentânea da cidade sem fim, antes de se lançar no ar novamente, saltando de costas para o prédio vizinho. Seu corpo mergulhou nas sombras e ele fechou os olhos, estava flutuando num mar de escuridão e silêncio, tão alto que nem mesmo seus pensamentos conseguiriam alcançá-lo, no topo do mundo ele poderia ser o que quisesse, o senhor de seu próprio universo.

Mesmo que os outros Helldivers estivessem por perto, Adam sentia-se sozinho, mas de uma forma boa. O vento forte lhe trazia uma sensação de paz, enquanto suas amarras estavam perdidas nas ruas abaixo a liberdade vazava por entre seus dedos como o vento que falava em seus ouvidos, uma voz sussurrante mas poderosa. Desceu silenciosamente sobre um telhado e correu tão rápido, que o mundo se distorceu numa mancha de tinta. A leveza dos pés o tiraram do chão e ele não se importou se era por causa do USV ou do Link que conseguia fazer aquilo, não fazia diferença.

— Dez minutos para o destino — Avisou a AIDA, quebrando momentaneamente o silêncio com sua voz indiferente. Adam a batizara com o nome da inteligência artificial de um game que gostava, onde ela controlava uma espécie de simulador militar de realidade virtual, que fora abandonado e agora era um paraíso para hackers. Caía bem à sua situação atual.

— Obrigado AIDA — agradeceu cordialmente. Valéria havia dito que a IA que acompanhava o USV era única, moldada com base na personalidade de cada Usuário Final e que quanto mais contato tivesse com ela, mais ela aprenderia sobre ele, podendo auxiliá-lo melhor durante as missões.

Deslizou por uma parede, descascando o gesso que a recobria e saltou mais uma vez, um marcador apareceu num prédio à direita, seguido de outro e outro, como num sistema de GPS. Devido ao incidente com as memórias de Herman Vause, Adam e os Helldivers haviam errado o ponto de descida em mais de 10km, o que os obrigou a tomar uma rota alternativa pelos telhados dos prédios.

Um marcador depois e Adam estava sobre o telhado de um complexo de prédio formado por três torres espelhadas, interligadas por passarelas de vidro azulado, o lugar era um dos poucos em que as luzes estavam acesas, as janelas iluminadas deixavam as torres parecendo um tipo de árvore de natal, artística demais para ser compreendida. Pouco tempo depois os Helldivers chegaram e obviamente reclamaram sobre como Adam havia se distanciado deles.

— Não é porque eu disse que os telhados são seguros que você pode sair por aí bancando o amigo da vizinhança! — reclamou Beatriz, passando a mão pelos cabelos.

— Começando a me arrepender seriamente de ter ameaçado a Eva... — resmungou Carla, balançando a cabeça negativamente.

— Carla já chega! Helldivers, são três equipes de reconhecimento que estão lá dentro, recebemos contato de apenas duas, portanto essas serão prioridade — Começou dando as instruções sobre a missão. Fotos dos membros de cada equipe surgiram na interface visual, se agrupando numa pequena pasta a direita, nomeada Crianças Perdidas — É bem possível que fiquemos sem contato com o sistema Horus, então vamos criar as armas e equipamentos antes de entrarmos. Enquanto procuramos as crianças, o Gabriel estará trabalhando numa forma de encontrar o Devorador nível 3 que está desestabilizando o lugar.

— Qual a dificuldade da vez? — perguntou Carla — Nunca é tão fácil assim.

— O prédio está instável, mudando de lugar a intervalos irregulares como se fosse uma reciclagem interna. Assim que entrarmos, o Gabriel vai nos mandar o tempo entre cada mudança. Será importantíssimo que fiquemos juntos no momento da reorganização, ou poderemos nos perder assim como as crianças.

— E você tem alguma ideia de como vamos encontrá-las? — perguntou Adam, tentando não parecer um completo idiota com alguma pergunta não pertinente.

— Temos um sinal bem fraco que algum espertinho conseguiu mandar, a cada mudança ele envia um emoticon diferente... por SMS.

— Alguém ainda usa isso? — perguntou Valéria, prestes a dar risada.

— Não sei, mas o que quer que seja vai salvar a vida deles.

Os Helldivers se dirigiram para a entrada da cobertura, uma porta de aço escovado sem maçaneta, e aprontaram os equipamentos e armas assim como Beatriz ordenara. Adam e Beatriz ficaram de frente para a porta, enquanto Valéria, Hector e Carla, ficaram encarregados de cobrir as laterais. AIDA sugeriu que Adam utilizasse a mesma M93R da última missão, pela sua versatilidade e poder de fogo, porém adicionou uma segunda arma caso ele precisasse de uma força mais destrutiva.

— Múltiplas anomalias sistêmicas detectadas — avisou AIDA — Alternando para o modo de combate.

Um desconforto gélido escorregou pelas costas de Adam quando ouviu a voz da IA anunciar aquilo, trazendo à tona lembranças desagradáveis. O capacete, que havia sido reparado por Valéria, deslizou suavemente recobrindo sua cabeça. Tudo se apagou e num milésimo de segundos, se acendeu como uma TV de altíssima resolução, ampliando sua visão de maneira dinâmica, com uma série de indicadores e informativos. Era como observar o HUD de algum tipo de caça experimental do governo.

— Parece um tipo de piada sem graça — Hector comentou enquanto olhava para Adam, se pudesse ver sua expressão por debaixo da caveira azul, diria que estava rindo falsamente.

Um emoticon de coração surgiu no visor de Valéria e Carla apenas ignorou como era de se esperar. Antes que pudesse perguntar do que estavam falando, Beatriz se dirigiu a ele:

— Alice.

— O quê?

— E lá existe um gato que tem um sorriso de lua crescente. Que mancada você não poder ver seu capacete, hein? Tenho certeza que os Devoradores vão adorar saber que eles não são os únicos que gostam de dar risada!

Adam parou um instante olhando para a enigmática expressão de Beatriz, mas sua mente estava além. Mais uma vez aquela história, mais uma “piada sem graça” deixada pela garota morta. Quando aquilo terminaria, quantas surpresas ela ainda deixara para ele descobrir? Ouviu-se um estrondo quando Carla, sem nenhum aviso, botou a porta abaixo, o enorme pedaço de ferro simplesmente subiu e se chocou contra o teto da passagem. Adam já havia visto o bastante para não se surpreender com aquele tipo de coisa.

— A gravidade está invertida — ele disse mais para si mesmo do que para os outros e no mesmo instante uma figura sorridente surgiu da abertura, saltando sobre ele com as garras abertas. Adam foi jogado ao chão e girando o corpo, chutou o Devorador para longe. Antes mesmo que pudesse atirar, os sons dos disparos de Valéria zuniram por ele, estilhaçando o ser sorridente enquanto Carla e Hector haviam se lançado sobre a criatura, as espadas desembainhadas riscaram o ar num movimento sincronizado, decepando um dos braços e incapacitando as pernas e como num passo de dança, Beatriz saltou por cima dos dois, cravando a espada no peito do Devorador, para em seguida arrancá-la num movimento vertical, cortando a criatura ao meio. O “sangue” esguichou para cima como um chafariz grotesco e o corpo escurecido se desmanchou feito uma jarra de cristal quebrada.

Um único golpe. A precisão e coordenação dos movimentos foi perfeita, como um daqueles festivais de ginástica rítmica, onde os corpos se moviam com um só, na mesma intensidade e frequência. Havia um grande motivo pelo qual eles não aceitavam novatos e cada vez mais isso ficava dolorosamente óbvio para Adam.

— Nossa! — exclamou Adam — Vocês são realmente...

— Não temos tempo pra isso novato! Fica esperto!

— Alerta. Múltiplos alvos identificados. Contato iminente.

— Helldivers! — gritou Beatriz — Preparem-se, vamos entrar!

Não importava se ele era apenas um novato, não importava se não aceitavam outros como ele. Se estava ali era por um motivo, de fato não havia tempo para se lamentar sobre como os outros eram mais habilidosos que ele. Apertou as duas semiautomáticas nas mãos e virou-se para a entrada, de onde um som horrível saía.

Era hora de mostrar que merecia estar ali.


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