República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 41
Férias - O jantar


Notas iniciais do capítulo

Menininhas lindas da minha vida!
Mais uma vez peço desculpas pela falta de postagem ontem. E espero que este capítulo, ao menos no tamanho, às compensem! rsrs
Um mega obrigada por tudo, sempre!



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Gina estava extremamente nervosa, parada em frente à porta daquela exuberante casa, a qual não havia voltado desde criança.

“Eu não vou arrepiar carreira, eu não vou arrepiar carreira...” Ela pensava em um mantra, condicionada pelo verdadeiro pânico que a consumia. Estralava dos dedos a todo o momento, sem nem perceber.

Ela detestava o novo, na verdade, as surpresas que ele trazia.

Sabia bem o que Ferdinando pretendia fazer aquela noite, e isso a deixava sem ar.

Ficava ainda mais estupefata a se ver na varanda daquela casa, daquele homem que por muito tempo havia tido antipatia, mas que agora, precisava ao menos, tentar conviver.

Era difícil para ela vigiar suas atitudes, sempre tão espontâneas... Mas ela sabia que ali, seria necessário.

Seu coração deu um breve e atordoante pulo, ao ouvir o som da campainha que seu pai tocava.

Uma linda dama, uma que Gina já havia visto várias vezes, sem muito próximo contato, os atendeu.

Ela sabia de tudo que iria acontecer aquele dia. Gina não imaginava isso.

– Bem vindos, meus queridos! Boa noite! – Catarina disse sorridente, ao abrir a porta. Apesar de Amância e Rosinha (suas fiéis empregadas de longa data) serem eficientes, ela mesma queria tomar esta primeira atitude de simpatia.

– Noite, Madama Catarina! - Sr. Pedro tomou a dianteira do diálogo. Estava quase tão sem jeito quanto a filha.

– Ocês podem ir entrando meus queridos, que o Epaminondas já vai descer! – Ela terminou de “escancarar” a porta, observando detalhadamente a moça ruiva que entrava, ao lado de uma senhorita de cabelos róseos. - Muito bem vinda ocê também, minha querida... – Catarina fez questão de frisar a informação á sua real convidada de honra. Gina.

– Bom, onde é que tá o Epanimondas?! – Pedro disse, após realizar uma breve análise na suntuosa casa.

– Ele já deve estar descendo Sr. Pedro!

Aquela voz fez o coração da ruiva gelar, bem como se virar de imediato para o alto da escada, de onde provinha.

Ferdinando observou sua menininha, enfeitiçado. Ela conseguia, aos seus olhos, tornar-se cada dia mais bela.

Também pudera... Gina estava incrível aquela noite, realmente.

Não era detentora de uma grande variedade de vestimentas, e sendo assim, estava utilizando um vestido preto rendado, emprestado de Juliana. Sim, é verdade que existia uma diferença de altura e estatura de ambas, mas tais fatores apenas fizeram com que Gina ficasse ainda mais ‘mulher’ naquela veste, que agora marcava claramente sua diminuta cintura e mostrava ainda mais de suas pernas. Tendo arrancado até mesmo um ‘Que roupa é essa menina?!’ de Sr. Pedro, que só a permitiu sair, após uma enxurrada de argumentos da mãe, que estava babando em ver a filha tão ‘feminina’.

Ferdinando a observava admirado.

Admirado com o belo colo alvo (que trazia, sempre, aquele colar tão deles) exposto, pelo decote em ‘V’, ainda que de maneira tentadoramente casta.
Admirado por como o negro da veste e o alvo da pele destacavam os cabelos e lábios tão rubros que tanto amava.

E admirado, acima de tudo, com o magnífico sorriso que ela havia lançado, assim que seus olhares se encontraram.

Ele suspirou. Aquela noite seria inesquecível.

– Boa noite Sr. Pedro, boa noite Dona Tê. – Ferdinando foi cordial com os futuros sogros, antes de qualquer coisa.

Após cumprimentá-los, deu um beijo no rosto de Juliana, e cumprimentou Zelão, que em algum momento havia entrado, surpreendendo a amada em também ser convidado ao amistoso jantar.

Por último, ainda que tentasse não fazer, Ferdinando observou bestificado, de cima a baixo, a bela ruiva que agora estava a sua frente.

– Boa noite Gina... – O olhar dele era de pura ternura.

O dela também.

O beijo que ele lhe depositou na bochecha delicadamente, só os fez sentir ainda mais saudades do que já estavam.

– Você tá linda menininha... – Ele cochichou, quase inaudivelmente, enquanto dava o casto beijo.

Naquele restante de semana, o sinal novamente, diverso momentos, os havia traído. Ia e voltava, sem esboçar previsões, tornando-se um instrumento de tortura, utilizado nos frágeis corações repletos de saudade.

– Boa noite, Nando... – Ela sorriu docemente, enquanto ele se afastava.

Dona Tê havia sentido algo naqueles olhares ternos, mas ficava nervosa apenas de imaginar tais possibilidades. Só não sabia se por felicidade ou receio.

Então, preferiu manter-se calada.

– Boa noite, Pedro! – Epaminondas desceu a curvilínea escada, rumo à confraternização que logo abaixo acontecia.

Fez questão de tratar Pedro, desde início, como o amigo de sempre.

Agora, independente de interesses, ele realmente gostava da ideia de reatar a amizade.

[...]

O jantar todo correu em um clima totalmente agradável.

Ferdinando havia resolvido ser melhor esperar para fazer os tão importantes comunicado e pedido.

A verdade é que ele não sabia como entrar no assunto, tão delicado.

Catarina sabia de tudo, inclusive dos planos de Nando em pedir Gina em casamento. Havia se assustado de início com tal ideia, mas, como sempre, seu carinho pelo enteado a fez decidir apoiá-lo e tornar-se cúmplice.

Ela percebeu que Ferdinando e Gina trocavam olhares ansiosos e amedrontados. Percebeu também que, se dependesse dos dois, aquilo ainda demoraria certo tempo a acontecer. Não os culpava, podia bem imaginar o nervosismo da situação.

E, sendo assim, resolveu ‘adiantar’ as coisas.

– Esse seu colar é uma belezura Gina... Foi um presente?! – Ela iniciou o assunto olhando para o enteado, como quem dissesse ‘agora é com você’.

Gina gelou. Não sabia muito bem o que responder, sem começar o assunto tão aguardado e temido por ela e o engenheiro.

– Ela disse que foi um presente, e não tira nunca Dona Catarina! – Dona Tê se posicionou, observando a falta de resposta da filha. – Mas eu nunca lhe perguntei filha... De quem foi que você ganhou?!

Gina gelou mais ainda. Juliana percebeu. Ferdinando também.

Agora, a pergunta havia sido clara. E a resposta também deveria ser.
Gina não era de mentir, sabia que diria a verdade, e já se sentia tremer, sem saber a reação que teria de todos ali.

– Fui eu quem dei esse presente à sua filha, Dona Tê. – Ferdinando respondeu direto. Decidido em tirar Gina daquela situação e resolver tudo de uma vez. Pegando qualquer responsabilidade pelo que acontecesse para si.

Pedro encarou o moço, um tanto quanto desentendido e curioso.
Ciumento também é claro.

– E por causa de quê que o rapaz deu esse colar pra minha filha, posso saber?! – Ele não queria parecer grosso, mas sua voz expressava um leve tom de desagrado.

Gina respirou fundo.

Sabia que aquilo deveria ser feito em parceria, e não deixaria tudo cair sobre as costas de Ferdinando.

– Porque a gente tá namorando, pai. – Ela pontuou clara e direta, colocando-se de pé, a beira da mesa.

Ferdinando não pode deixar de sorrir em ver novamente a valentia da amada em ação, apesar do susto em vê-la assumir tudo assim, tão de pressa. Posicionou-se de pé também.

Pedro engasgou com o vinho que tomava, fazendo Dona Tê parar um pouco de sorrir pela notícia, para socorrê-lo.

– Como é que é?! – Epaminondas também se colocou de pé, ao lado da sorridente esposa.

Ele estava tão surpreso e contrariado quanto Pedro.

– É isso mesmo que o senhor ouviu meu pai. Eu a Gina estamos meio que namorando, já faz algum tempo. Bem como a Juliana e o Zelão.

O casal de amigos arregalou os olhos.

Ferdinando queria mesmo colocar tudo em pratos limpos.

Epaminondas não sabia muito bem o que pensar, pela revelação dupla do filho. Apenas o observava abismado.

Pedro, que havia se recuperado do engasgue se posicionou a altura de todos. De pé.

– Mas que história é essa seu moleque, de estar ‘meio’ que namorando com a minha filha?! – O tom dele já era de puro desagrado. E sua voz estava alta. Muito alta.

– O senhor não precisa se exaltar seu Pedro, eu faço questão de lhe explicar tudo! – Ferdinando pontuou. – Eu fiz questão de pontuar que estou ‘meio’ que namorando sua filha, justamente porque não acho muito certo dizer que já é namoro, sem ter a autorização do senhor para isso...

Gina observava o pai com a apreensão estampada em sua face.

Pedro voltou a pegar o vinho, e tomar um gole, enquanto formulava uma alguma fala.

Estava tão perplexo quanto o Coronel, que nenhuma reação esboçava do outro lado da mesa.

Ferdinando resolveu prosseguir o esclarecedor monólogo.

– Mas eu não quero pedir a Gina em namoro ao senhor, Seu Pedro... – Ele olhou para a amada, respirou fundo e em uma fração de segundos, resolveu concluir. – Eu quero lhe pedir a mão dela em casamento!

Pedro engasgou ainda mais ferozmente com o vinho.

– Calma pai, calma! – Dona Tê não sabia se socorria o marido batendo-lhe nas costas, ou trocava sorrisos emocionados com Catarina no outro lado da mesa.

– Mas você ficou maluco, seu moleque?! – O coronel precisou se posicionar.

Na realidade, não tinha muito contra Gina, ao menos não agora, que estava reatando a amizade com Falcão. Mas casar?! Assim, do nada?!
Seu filho era realmente um maluco, ele concluía.

– Não meu pai, eu não fiquei! – Ferdinando disse suave e decidido, olhando para o pai. – Eu e a Gina nos amamos, e eu quero fazer tudo conforme manda o figurino! – Ele olhou para a amada, que do outro lado da mesa, o lançava um breve sorriso com a declaração. – Mas pra isso eu quero muito o seu consentimento, Sr. Pedro... – Ele voltou a observar o futuro sogro, que se recuperava do reincidente.

A respiração de todos era de expectativa.

Pedro se posicionou mais ereto do que nunca, ao lado da mesa. Olhou ao fundo dos olhos do corajoso rapaz e o testou com uma clara provocação.

– Mas e se eu não consentir rapaz?! – O olhar dele fez Ferdinando sentir medo desta ser uma prévia resposta, mas ele não desistiria de seu maior desejo, mesmo se fosse.

– Eu sinto muito Sr. Pedro, mas com todo respeito que eu lhe tenho, digo que ELA já aceitou. E, ainda que sentindo uma terrível pena do senhor não acreditar em minhas intenções, que são as melhores desse mundo, eu vou me casar com a sua filha, do mesmo jeito. De qualquer jeito. Porque eu já disse, e repito. – Ferdinando suspirou, e concluiu, mais firme do que nunca. – Eu amo a Gina, Sr. Pedro.

Uma lágrima muito sutil escorreu do olhar de Gina. “Esse um é maluco mesmo!” Ela pensava orgulhosa, observando a maneira como Nando defendia o sentimento de ambos.

Pedro observou claramente a maneira como a filha admirava o destemido rapaz que o desafiava, por ela.

Não pôde deixar de se sentir, apesar de desafiado, orgulhoso pela coragem e determinação que o moço demonstrava ter por sua filha.

Ele havia passado no teste.

Ferdinando aguardava um retorno, com o coração preso em sua garganta. Esperava de tudo. Desde uma agressão física por parte de Pedro, até uma aprovação de sue ato.

– Seu moleque topetudo! – Pedro iniciou forçando uma voz de braveza, Ferdinando sentiu-se gelar por um momento. - ... Eu fico feliz em saber que tá tão disposto assim pela minha filha... – Ele tornava sua voz pura felicidade, assim como a expressão de alívio do engenheiro, e todos ali em volta.

Exceto tal coronel, que fez questão de se colocar na conversa, antes que o claro consentimento pudesse acontecer.

– Mas calma Nandinho... Eu não acho justo você cobrar uma resposta assim tão rápida de Pedro... Afinal, foi tudo um tanto quanto rápido demais, vocês não acham? – Epaminondas sabia argumentar, e já começava a influenciar até mesmo a resposta de Pedro. – Além do mais, a gente tá falando da única filha dele, uma menina nova ainda, assim como você, meu filho... – Ele se posicionou ao lado do engenheiro. – Eu acho justo vocês esperarem um pouco mais, pelo menos até esse namoro completar um ano... Aí sim, voltem aqui e conversem com o Pedro, quando já tiverem realmente certeza do que querem!

– Mas meu pai nós já temos cer... – Ferdinando já iria contra-argumentar quando Pedro o interrompeu.

– Eu acho que seu pai tá certo filho. – Ela apoiou uma das mãos do ombro de Ferdinando, cruzando com o braço e corpo inclinado a mesa que os separava. – Um casamento é uma coisa muito séria, e não adianta colocar a carroça na frente dos bois, né mesmo!?

Gina observava o ato terno e consciente do pai admirada. Na realidade, este bem era um pensamento que até mesmo ela começava a compartilhar.

Afinal, para eles o mais importante era logo ter tudo confessado às famílias... Pra que a pressa em fazer seu pai se posicionar? Talvez esse tempo o fizesse se acostumar melhor com a situação e ideia.

– Nando... Eu também acho uma boa ideia essa do seu pai... – Ela olhou para o amado, que respeitaria sua posição.

Ferdinando suspirou, e pegou a mão amiga que lhe afagava o ombro.

– Tá certo Sr. Pedro, eu entendo sua posição... Mas então, nas férias do final do ano, a gente pode voltar a falar sobre isso? – Ferdinando queria deixar garantido o ‘quase consentimento’.

– Claro que pode filho, afinal, agora você é o namorado da minha meninota, não é?! – O sorriso de Pedro se abriu.

– Ora essa, e com muito orgulho meu caro! – Ferdinando rodeou a mesa, e deu um terno abraço naquele homem que tanto admirava.

Todos ali, inclusive Epa, haviam percebido o quanto aquilo havia sido o melhor a fazer.

Até mesmo Dona Tê, que não gostava muitos dessas ‘modernidades’ de namoro, entendeu que seria mais fácil se acostumar com a ideia de casamento (anteriormente tão remota) da filha, com essa primeira fase antecedendo.

Após o terno abraço em seu futuro sogro, Ferdinando foi ao encontro de Gina e a abraçou de uma forma extremamente emocionada.

Eles tinham conseguido.

Nem Epaminondas conseguia conter um breve sorriso de emoção.

É verdade que ele não aprovava um casamento entre os dois, mas era apenas pelo fato da pressa desnecessária. Sobre o namoro, ele em nada era contra. Muito pelo contrário, ficava satisfeito em verificar que Pedro Falcão havia permitido, como que comprovando a renovação de confiança em sua família.

A vontade que Ferdinando sentia de beijar Gina era gigantesca. Mas ele se conteve.

Calma. Esta era a palavra chave para aquele momento.

[...]

Após o memorável acontecimento, todos já se dirigiam à sala de estar, para degustarem um café oferecido pela doce Amância.

– Eu vou lá fora um pouco, com a Juliana, tudo bem pai?! – Gina sabia que os assuntos a partir de então se resumiriam à política, terras e antigas lembranças, entre o amado pai e futuro sogro.

Além do mais, tanto ela quanto a amiga, desejavam ficar um pouco a sós com os, enfim assumidos, namorados.

– Tá certo, mas vocês fiquem aqui pela frente, que esse escuro é meio perigoso... – Pedro alertou olhando fixamente para os rapazes posicionados ao lado das moças. Fazia uma clara expressão de ‘eu já tive a idade de vocês’.

– Claro Sr. Pedro, ficaremos bem próximos a casa, pode deixar! – Ferdinando pontuou, pegando na mão da amada, e se dirigindo porta a fora.

“Minha meninota tá crescida...” Pedro não pôde deixar de pensar emocionado, ao ver o belo casal que sua filha formava com o admirado engenheiro.

[...]

Zelão conduziu Juliana até uma grande árvore, após parabenizarem o sucesso do plano dos amigos no jantar.

Queriam ficar a sós, e deixar os pombinhos assim também.

– Ara que eu não via hora de lhe dar um beijo, frangotinho... – Gina disse dengosa, se aproximando do engenheiro.

– Não menininha, ainda não. – Ele disse sorrindo, colocando o indicador sob o doce biquinho que ela fazia para lhe beijar. – Tem um lugar que eu quero te levar essa noite! – Ele disse sapeca, puxando-a até a lateral da casa, de frente para uma enorme árvore.

– Vamos ver se você ainda é a mesma Gina, apesar do vestidinho de renda. – Ferdinando disse debochado.

Amava provocá-la.

– Ara, mas é claro que sou a Gina! – Ela lhe deu um leve tapa, fingindo cair na provocação. – Mas como assim, o que é pra eu fazer?!

– Eu te desafio a fazer o que agente fazia quando era criança... – Ele olhou para a janela da casa, que ficava colada a um dos troncos.

– Subir na árvore?! – Ela disse desdenhando do desafio. Para ela seria moleza.

– E... Entrar no meu quarto pela janela. – Ferdinando lhe sorriu extremamente sagaz.

Gina deu um sorriso silencioso e o agarrou, serrando os olhos, pela gola da camisa azul-marinho que ele vestia.

– E por que você quer que eu entre no seu quarto, seu porqueira?! – Ela o provocou. Sabia bem o motivo.

– Ara, - Ele olhou obcecado para a atitude mandona dela em agarrá-lo pela roupa. – Só pra poder comemorar juntinho com você, menininha... Sem ninguém pra atrapalhar...

As bochechas rubras mais uma vez traíram Gina.

– Tá certo! Mas a gente sobe, fica uns minutinhos e desce, porque é capaz do pai vir atrás de nós pra eu ir embora... – Ela disse soltando a camisa de Nando, já retirando as sandálias e jogando-as atrás da árvore.

– Combinado! – Ferdinando fingiu cinicamente uma submissão com a voz.
Os dois pareciam novamente duas crianças arteiras, prontas para aprontar.
Gina estava começando a subir primeiro, quando viu Ferdinando a puxar pela canela.

– Menininha, eu acho melhor eu subir na frente... – Ferdinando disse olhando para baixo. Ele estava rubro, ela nunca o havia visto corar daquela maneira.

– Mas porque isso agora?! – Ela olhava contrariada para baixo, tentando entender. Afinal já havia subido um bom tanto.

–Por que você tá de vestido, meu amor... – Ele não pode deixar de sorrir ao final do lembrete.

Gina ficou extremamente envergonhada. Encostou-se no tronco, tentando esconder o máximo possível daquilo que o vestido estava revelando.

– Vem, me da sua mão e eu lhe pego no colo pra descer. – Ferdinando voltou a encará-la, após verificar que ela havia arrumado a posição outrora indiscreta.

Ainda um pouco sem jeito, Gina sorriu aceitando o convite. Inclinou-se, posicionando as mãos nos ombros do engenheiro, que a agarrou pela cintura. Antes de depositá-la por completo no chão, Ferdinando não poderia deixar de provocá-la, sussurrando.

– Mas saiba que eu gostei muita da vista. – Ele disse travesso, sabia que a reação dela seria lhe bater por tal atrevimento. E, sendo assim, antes que ela pudesse fazê-lo, subiu correndo na árvore, se emaranhando pelos galhos.

Foi a vez de Gina provocar.

– Eu com o celular na mão subi mais rápido que você, Nando! – Ela disse com o tom claro de deboche, erguendo o queixo sempre orgulhoso.
Era verdade. Ele nem iria discutir.

Na verdade era assim desde que eram crianças.

– Ora que eu mordo esse seu queixo quando você chegar aqui em cima! – Ele respondeu ameaçando-a.

– Mas isso eu quero ver! – Ela riu e colocou-se novamente a escalar a árvore, enquanto Nando já entrava pela janela.

Quando Gina entrou no quarto, não conseguiu evitar a breve nostalgia que a invadiu.

O local em nada, nem sequer na decoração, havia sido alterado. Ela lembrava-se bem das, não raras, vezes que através da árvore vinha ajudar o sapeca amigo a passar o tempo dos merecidos castigos que seu pai o colocava.

Ferdinando acendeu a luz, iluminando melhor o ambiente, outrora um pouco claro apenas pela lua.

– Nossa... – Gina disse sorrindo, olhando em volta.

Ferdinando já esperava uma reação assim dela. Na verdade, desejava uma reação assim dela.

– Sabia que só outra menina, além das aqui de casa, entrou nesse quarto antes de você, Gina?!

Gina o olhou, contrariada. Será que ele não se lembrava das visitas dela?!
Além disso, quem seria a ‘outra petulante menina'?!

– Ah é doutor? E eu posso saber quem? – Ela tentou fingir não se importar, mas Ferdinando se deliciava com o claro ciúme admitido no termo ‘doutor’.

– Pode sim! – Ele pontuou, abraçando a bicuda ruiva por trás na cintura. – Minha melhor amiga. Uma certa menininha ruiva, que costumava me fazer companhia quando eu ficava de castigo.

Gina não pôde deixar de sorrir nos braços do engenheiro com a terna fala dele.

– Ara, mas então... Não é outra além de mim... – Ela virou delicadamente o rosto de lado, fitando a rosada boca dele.

– Ara, era você então, aquela menina moleca?! – Ela disse sorrindo pela própria brincadeira.
Ela sorriu ainda mais.

Olhou para o chão, completamente feliz pela constatação que viria a confirmar.

– Então eu sou a única menina que já entrou no seu quarto, Nando?!
Ferdinando a virou de frente, segurando em sua cintura.

– A única menina, e agora, única mulher também. – Ele deu um selinho em seus lábios. Mas não foi capaz de cessá-lo.

O beijo, como já era de se esperar, evoluiu.

Mas de uma forma calma, suave e lenta.

A felicidade e saudade deles estavam sendo expressas ali.

Mas o ‘lento’ nunca os arrebatava por muito tempo.

Logo as mãos se tornaram mais fortes em seus afagos, e o beijo repleto de provocações.

Ferdinando levou Gina pela cintura, ainda em um incessante beijo, até o interruptor do quarto.

O escuro os agradava.

Mas quando ele foi direcionar a mão, incerta para apagar a luz, bateu no braço de Gina, fazendo-a derrubar o celular que segurava.

– Desculpe menininha, eu pego pra você... – Ferdinando se abaixou, e não pode deixar de reparar, no nome que aparecia no visor iluminado pelo impacto no chão.

Ele permaneceu agachado, imóvel, apenas olhando para a tela, sem nenhuma reação.

[...]

– Ferdinando, eu to tentando lhe explicar! – Gina falava alto, sem nem se lembrar que estavam lá escondidos.

– Ora essa Gina, você acha que um absurdo desses tem explicação?! Depois de tudo que esse um fez, eu vejo uma mensagem dele no seu celular simplesmente lhe agradecendo seu perdão! – A voz de Nando era de completa ira.

– Mas Ferdinando, eu fui educada assim! Se uma pessoa se arrepende, e pede meu perdão, se eu sinto que é verdadeiro, não tem porque negar... E eu em momento algum nesses últimos meses depois do que aconteceu, vi o Cadu voltar a se quer me olhar, ele deve mesmo ter se arrependido!

– Hahaha – Ferdinando era sarcástico, levando a mão espalmada à cabeça. Estava furioso. – Gina você... Você faça o que quiser tá bem?! Já vi que nem me consultou antes de responder ele, nem havia me contado. O que eu penso não te interessa...

– Eu ia te falar, mas depois, ué... Tinha que ser justo hoje?! – Gina imaginava uma possível reação negativa do engenheiro e não querer facilitar a chance de terem uma discussão, logo naquele dia tão esperado.

O plano dela havia falhado. O acaso foi cruel.

Ferdinando sabia que aquela não era uma noite para brigas.

Estava furioso, é verdade. Mas Gina não tinha culpa. Na verdade, ele nem sabia ao certo de quem realmente era a culpa.

A única coisa que sabia, era não querer perder a noite tão especial por uma bobagem. Uma bobagem sim, pois ela o havia mostrado as mensagens trocadas, por vontade própria, e em nenhuma delas, havia sequer um resquício de amizade das partes. Apenas cordialidade, de ambos.

Ferdinando fechou os olhos, e respirou fundo, tentando permitir a razão lhe voltar à mente conturbada.

– Ferdinando... – Gina se aproximou dele com a voz suave. – Essa sua atitude me ofende. – Apesar de suave, ela foi direta.

Nando abriu os olhos e a encarou.

– Me perdoa Gina... Não era minha intenção. – Apesar da voz ainda com resquícios de rispidez, estava claro que ele tentava acabar com aquele mal entendido.

– Tudo bem. – Ela disse se sentando na cama, apoiando a cabeça nas mãos.

Ferdinando, agora, tinha raiva de si mesmo. Ela estava magoada. Ele percebia isso.

Não era uma noite pra isso. E cabia a ele concertar.

– Vamos esquecer tudo isso, sim menininha?! – Ele se sentou ao lado dela.
Poderiam falar sobre o assunto outro dia. Não precisava, nem deveria ser naquela noite.

Em outra ocasião, Gina negaria o pedido de paz. Ao menos assim, em um primeiro momento. Mas ela não estava disposta a perder aquela noite, tão importante, por orgulho.

– Tá certo frangotinho. – Ela o beijou novamente. Mas foi apenas um selinho.

– Assim não, eu quero fazer as pazes com você de outro jeito. – Ele disse tentador, já sorrindo pelos pensamentos deliciosos que passavam em sua mente.

Ferdinando a empurrou, fazendo-a deitar na cama. Ele se jogou sobre ela, segurando os pulsos dela ao lado da cabeça.

– Eu quero um beijo de verdade... Você não sabe a sau... – Ele foi interrompido pela ruiva.

– ‘A saudade que eu tava de você, menininha...’ – Ela provocou, imitando a corriqueira fala dele.

– Ara, mas você é uma porqueira mesmo! – Ele sorriu sobre ela, com o doce deboche.

– Sou porqueira, mas você bem que morre de saudade de mim... – Ela estava de certa forma, se vingando com as provocações.

Ferdinando admirou o queixo erguido dela.

Convencida, mas sábia. Aquilo era de fato a verdade.

– Mas tava mesmo, e tava mais ainda de morder esse seu queixo teimoso!
Dito isso, ele avançou no queixo dela, a fazendo se arrepiar com as ousadas mordidas que depositava.

O perfume dele, que agora estava tão próximo, se tornava ainda mais intenso e tentador preso também da roupa de cama.

Gina logo se perdeu, e o conduziu pelos dreads até a boca sedenta dela.
Ela o beijou com uma enorme e desesperada vontade. Apertando o bumbum que tanto a instigava... Começou a permiti-lo se encaixar em seu corpo, conforme abria lentamente as pernas sob ele.

Logo, Ferdinando posicionou um de seus joelhos em meio a elas, provocando-a da maneira que sabia agradar.

Ele passou a apertar a cintura dela com uma mão, e a uma das cochas com a outra, não se contendo em colocá-la mais a cima, por baixo do vestido.

O beijo era tentador, as carícias ainda mais.

Gina se sentia ainda mais envolvida, quando se lembrava do tamanho prazer que havia conhecido na ultima vez que estiveram juntos.

Era uma pena não poderem repeti-lo.

Os dois tinham consciência do tempo. Ou nem tanto.

– Gina, você acha que dá tempo da gente brincar igual aquele dia?! – Ferdinando dizia com aquela voz rouca, que tanto a excitava, em um sussurro, enquanto se perdia em beijá-la no pescoço.

Ela nem conseguiu responder, pois logo na sequência, já ouviram bochichos vindos da sala, próxima a porta de entrada.

Gina se levantou em um pulo.

– Eu acho que eles tão saindo, frangotinho!

Ferdinando também se assustou com a constatação dela, não podia falhar com a confiança que Pedro havia lhe dado.

Saíram rapidamente do quarto, e desceram a árvore cúmplice em igual velocidade, sentando-se juntos sob uma árvore próxima a varanda da casa.

Juliana e Zelão não puderam deixar de rir ao ver a velocidade com a qual os dois se acomodaram ali próximo, com uma forçada cara de inocência.

[...]

Na manhã seguinte, a mãe de Gina estava no quarto da moça, recolhendo as roupas a serem lavadas.

– Filha, mas eu ainda não entendi, onde é que sua sandália foi parar?! – Dona Tê dizia perdida.

Gina e Juliana (que já estava ciente da escapulida da amiga noite passada) se entreolhavam assustadas, pensando em alguma desculpa.

– Você foi pro carro do seu pai sem tá com ela no pé?! – a mãe prosseguia com a interrogação.

Gina encontrou a desculpa perfeita.

– Ara mãe, é isso, ela deve ter ficado lá naquela árvore que eu tava sentada com o Nando, quando vocês saíram lá fora, sabe?!

– É verdade Gina, agora eu me lembrei! Você tirou porque estava te apertando, não é?! – Juliana era uma ótima cúmplice.

A ruiva concordou com o argumento da amiga, apenas com a cabeça.

– Ara, mas agora você vai ter que ir lá buscar, pra eu deixar ela lavadinha, antes de vocês voltarem de viagem...

As duas amigas amaram a sugestão. Nada menos.

– Claro, mãe, hoje à tarde eu e a Juliana vamos lá! – Gina mal conseguia esconder o sorriso de animação em poder terminar o que havia interrompido, com o agora namorado, na noite passada.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso amorinhas! Espero que tenham gostado e me desculpem qualquer falha.
Acho que já perceberam que eu tenho uma certa dificuldade em escrever os capítulos em Sta. Fé... Meu ambiente de inspiração maior sempre erá a República s2 hahahaha Vamos voltar?!
Um meeeeega beijo! :)



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