Angels Dont Cry escrita por dastysama


Capítulo 44
Capítulo 44 - Não tenha medo de recomeçar




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Eu estava em uma sala branca, totalmente branca, não havia nada lá. Na verdade ela não tinha fim, era só um lugar inteiramente branco, mas eu estava sentada em algo e encostada na parede. Toquei no meu corpo procurando por algum ferimento, mas não havia nenhum... onde estou afinal? Isso é o Inferno ou o Céu?


– Olá Hedvig! – disse alguém do meu lado que me fez dar um grito. Lá estava ele, do jeito que eu o imaginava, velhinho, com uma barba branca comprida. Não se tratava de Papai Noel, claro, era Deus – Que bom vê-la novamente.


– Deus? – eu perguntei mesmo sabendo a resposta.


– Quem você esperava? – ele disse piscando atonitamente apenas se fingindo de desentendido.


– Ninguém, na verdade eu pensei que seria engolida pela escuridão eterna, mas aqui está tudo branco – eu disse analisando o local – Onde eu estou?


– Logo você vai descobrir quando sua mente clarear – ele disse sorrindo – Mas quem diria que eu iria vê-la de novo! Acho que você gosta mesmo daqui, Hedvig.


– Então estou morta de novo? – eu suspirei – Pelo visto eu teria que morrer de qualquer jeito, não é mesmo?


– Não sei, na verdade isso foi uma escolha sua. A vida é cheia de escolhas, algumas pessoas escolhem viver outras simplesmente morrer.


– Eu não sabia que ia morrer – eu disse falando a verdade – Só precisava salvar Bill, não queria que ele morresse por uma burrice minha. Acho que não aprendi nada, cometi os mesmos erros novamente.


– Como eu disse, a vida é cheia de escolhas, às vezes tantas que nos deixam confusos. Muitas pessoas não sabem se devem seguir o caminho dos sonhos ou o caminho do dinheiro, um deles vai te fazer feliz, mas depende de casa um qual caminho escolher.


– Eu seguia o caminho do dinheiro, então percebi que não era o que eu queria, então fui para o caminho dos sonhos, mas fiquei com medo do que encontraria por lá, achei que no caminho do dinheiro eu estaria mais segura, mas eu não seria feliz. Tentei voltar para o outro caminho, mas acho que não deu certo.


– Não? – ele perguntou pasmado – Você salvou Bill! Ele deveria ter morrido, era o destino dele, mas você, Hedvig, que adora se meter onde não é chamada, conseguiu mudar a vida dele colocando a sua em risco. Preferiu morrer por ele a imaginar ele no seu lugar atual. Se isso não é amor, não sei o que é.


– Mas eu o feri, eu rompi com Bill!


– Sim, se analisar bem, poderá ver que fez isso por egoísmo e medo, simplesmente por que achava que ele não teria tempo para você e por que achava que teria outro relacionamento que não deu certo. Bill é famoso, Hedvig, mas ele é humano também, ele tem muitas coisas a se preocupar, mas sempre terá um tempo para as coisas mais importante no ponto de vista dele. Ele conquistou tanta coisa, mas sentia falta do que mais ele não teve na vida: amor.


– Viu, eu fiz tudo errado – eu disse com raiva.


– Mas você pensou nele também, pensou que já que ele preza tanto o amor, ele deveria achar alguém do mesmo ramo que ele. Pensou que se ele tivesse sempre alguém ao seu lado, ele seria mais feliz e você estava certa, mas também estava errada. Com seu jeito simples, você é o mais próximo do que ele já viveu algum dia, você tem tudo que ele quer. Tem uma vida longe de fotógrafos e pessoas o perseguindo, consegue ser forte a maior parte do tempo, tem uma família bastante unida, tem amigos e está aí, correndo atrás de um sonho simples e bonito.


– Ele também tem uma família unida, ele tem Tom e pelo modo que ele fala sua mãe e seu padrasto são ótimos. Além de que o sonho dele já foi simples e bonito, agora é uma realidade.


– Sim, mas ele já sofreu muito, por isso que ele tem Tom, alguém para ele contar sempre que precisar, alguém do mesmo sangue que dividiu a mesma barriga por nove meses. Ambos sofreram muito com a separação dos pais e na escola também quando as pessoas não os aceitavam. Hedvig, os humanos têm a mania de achar que alguém que não haja de modo “normal”, precisa ser banido. Não existe um jeito de ser, de se vestir, de se falar ou de sentir, cada um é único e sabe o melhor para si mesmo. Não existe certo ou errado, cada um sabe que caminho seguir e os outros não deviam se importar com isso.


– Eu não sabia disso sobre Bill, na verdade eu não sei muita coisa sobre ele, acho que ainda preciso de muito tempo para conhecê-lo de verdade. Fiquei tão encantada pelo sorriso dele e pelo modo de sempre estar feliz, que não percebi que por dentro não era isso que ele gostaria de demonstrar.


– Ele tenta mostrar que tudo está bem, que tudo é ótimo na vida dele, mas muitas vezes não é isso. Por isso você está viva Hedvig, por isso que te mandei como suposta “anja da guarda” dele, para mostrar a ele que na vida não tem só coisas ruins. Tanto você quanto ele estavam desacreditando no amor, por que achavam que o mundo era cruel e injusto, mas eram vocês que estavam sendo assim com si mesmos. Para você, foi mais fácil se sentir livre quando estava morta por que os outros não estavam opinando sobre você, mas na vida sempre vai aparecer alguém querendo te tirar do seu verdadeiro caminho. Só que a decisão é sua.


– Eu quero ser artista plástica independente do que acontecer depois – eu disse firmemente – Não importa se eu não for famosa, se eu não for rica, o que eu quero é aquele antigo sonho de viver em uma casa decente, pintando, sempre indo a cafés e vivendo algum romance.


– Então você tem tudo para dar certo – ele disse sorrindo para mim – Sabe, as pessoas vem para cá, pensando que vão direto para o Inferno ou pensando que sou tão mal a ponto de querer que elas vivam de castigos cruéis. Não é verdade, eu simplesmente quero que todos concertem seus erros e vivam felizes, sem se importar com mais nada. Não julgo ninguém por cor, sexo, raça, opção sexual ou qualquer coisa, afinal todos são meus filhos e um pai quer o melhor para eles.


– A felicidade – eu disse também sorrindo esperançosa – O que todos procuram e o que você entrega para nós todos os dias, mas rejeitamos.


– Isso mesmo! Você aprende rápido, Hedvig! Acho que se você olhar bem agora, saiba onde estamos – ele disse meneando a cabeça para um canto do quarto.


Vi que não estávamos mais naquele infinito branco, mas tudo ainda era branco. Tratava-se de um quarto de hospital realmente enorme, Deus e eu estávamos sentados em um armário baixo e do outro lado dava para ver uma cama, onde eu estava deitada totalmente machucada, com bandagem na cabeça e com aparelhos me ajudando na respiração.


Do meu lado, sentando em uma poltrona estava Bill, ele tinha olheiras abaixo dos olhos e parecia cansado. Pelo visto ele andara chorando e isso me deixou triste, não queria vê-lo naquele estado. Ele acaricia calmamente a minha mão onde havia uma agulha com soro.


– Não quero vê-lo assim – eu disse a Deus – O que eu posso fazer?


– Talvez devesse ouvir o que ele tem a dizer.


– Vig... – Bill disse me fazendo olhar para ele novamente – Não morra, por favor, não sei o que aconteceu, só sei que salvou minha vida mais uma vez. Não suportaria saber que preferiu morrer para me ver salvo.


– Eu queria falar para ele que está tudo bem, que ele não precisa se preocupar. Queria dizer que não planejava morrer, mas algumas coisas têm que ser assim.


– Vai desistir tão rápido? – Deus exclamou me olhando pasmado – Acho que você nunca assistiu Grey’s Anatomy, se você ouve aquele bip do aparelho, quer dizer que uma pessoa continua viva. Você não morreu ainda, apenas está em coma.


– Quer dizer que eu posso voltar de novo? Mas isso não é errado, me dar mais uma chance depois de milhões?


– Não estou te dando uma chance, Hedvig, simplesmente não é sua hora de morrer. Como eu disse era a hora dele, não a sua. Quando você se sacrificou no lugar dele, deu a chance de ele viver mais e por pouco, conseguiu salvar sua própria vida.


– Então eu vou voltar – eu disse descendo do armário e caminhando até a cama – Obrigada por me ajudar! Não sei como agradecer!


– Só volte para o seu corpo, viva intensamente, não cometa mais tantos erros e siga o que você acha bom para si mesma independente do que os outros digam. Ah! E não quero mais te ver por aqui, chega de vir para esse lado, só quero vê-la quando for uma velhinha bem faladeira, para me contar tudo que fez de bom na sua vida.


Eu sorri para ele e me virei para Bill, fui até o ouvido dele e sussurrei “Perdoe-me”, ele simplesmente se virou para o meu lado como se me visse ou me ouvisse. Então coloquei minha mão sobre a dele, que estava sobre a minha mão do meu corpo vivo.


– Sim, Bill – eu disse chorando lágrimas que não eram reais, eram feitas da felicidade que vinha de dentro de mim – Eu voltarei para você.


 Dessa vez não fui agarrada pelas sombras, tudo se iluminou e eu sabia que dessa vez tudo ficaria bem.


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